quarta-feira, 23 de janeiro de 2019

Malu Delgado: Mais Brasília, menos Brasil

- Valor Econômico

Sob FHC e sob Lula, alguns conselhos marcaram a história

Exatos 15 dias separam a data de criação do Conselho de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana, em 16 de março de 1964, do golpe militar. Nem mesmo sob a ditadura houve a ousadia de admitir abertamente a extinção do colegiado. Relatos da época comprovam, obviamente, manobras do governo militar para esvaziar e controlar politicamente o conselho que defendia os direitos humanos. Ainda que desidratado, o CDDPH sobreviveu à ditadura. Hoje, após uma luta de quase duas décadas no Congresso, foi transformado, pela Lei 12.986, em Conselho Nacional de Direitos Humanos (CNDH), em 2014, com definições claras sobre a paridade dos membros, mandatos, eleição e, sobretudo, suas atribuições.

Significa dizer que nem com caneta Bic ou Montblanc, caso se queira dar mais glamour à medida, o CNPH poderá ser extinto por decreto presidencial, ainda que Jair Bolsonaro já tenha associado direitos humanos a "politicagem", "bandidagem" e "esterco da vagabundagem". O ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, afeito a bravatas, antecipou a pedido do chefe que "todos os conselhos que existem nos últimos anos" serão revisados pelo atual governo. São centenas de colegiados, alegou o ministro, "todos eles com um volume muito grande de pessoas, o que traz custos para a administração pública".

O pente-fino dos conselhos está em curso e pouco se sabe sobre o assunto, definido a portas fechadas no Palácio do Planalto. É difícil crer, pelas circunstâncias, que o governo vai analisar em profundidade o mérito das atividades por muitos destes colegiados que expõem as disparidades de um Brasil que está a léguas de distância da burocracia do Planalto Central, parafraseando o presidente, que passou a campanha prometendo "Mais Brasil e menos Brasília".

A canetada do primeiro dia de governo, a Medida Provisória 870, extinguiu o Consea, Conselho Nacional de Segurança Alimentar. A atuação do colegiado foi fundamental para que o Brasil passasse a ter uma política nacional de segurança alimentar e nutricional. Políticas públicas implementadas com ajuda do Consea permitiram, por exemplo, que a merenda escolar tivesse 30% de produtos de agricultura familiar. Inclusões produtivas de pequenas comunidades foram impulsionadas.

Hélio Schwartsman: Escândalo precoce

- Folha de S. Paulo

Caso do clã Bolsonaro torna mais realistas as expectativas dos eleitores

Gosto de escândalos de corrupção pelo que eles têm de didático. Até acredito que o padrão ético de indivíduos varie. Há alguns mais comprometidos com a moralidade administrativa, outros menos. Mas isso vale para indivíduos. Se reunirmos sem seleção específica mais do que três dezenas de pessoas, seja num partido, seja num governo, as diferenças individuais tendem a anular-se, e a resultante do grupo vai se aproximar da moralidade média da humanidade.

É um fenômeno que independe de ideologia. Afeta tanto grupos à direita, como o clã Bolsonaro, quanto à esquerda. Assim como o atual presidente foi eleito proclamando-se um arauto da moralidade, os petistas, no final dos anos 90, vendiam-se como incorruptíveis, o que ajudou Lula a vencer o pleito de 2002.

Muitos eleitores acreditaram na suposta pureza do PT porque o partido era o que menos frequentava as listas de agremiações metidas em escândalos. Mas, agora que sabemos como a história termina, é lícito concluir que a aparente correção petista se devia mais à falta de oportunidade para grandes negociatas do que à qualidade intrínseca de seus quadros. De modo análogo, os Bolsonaros passaram os últimos anos abaixo do radar porque só se envolviam nas mutretas típicas do baixo clero legislativo, que não chamam atenção.

Bruno Boghossian: Esqueleto em cova rasa

- Folha de S. Paulo

Relação amigável com milícias abre caminho para segunda crise em 22 dias de governo

A família Bolsonaro nunca fez questão de esconder sua relação amistosa com as milícias. Os integrantes do clã tratavam publicamente esses grupos de policiais e ex-policiais como generosos prestadores de serviços de segurança, ignorando os crimes de extorsão e assassinato cometidos por muitos deles.

Os vínculos não se restringiam aos discursos. Sabe-se agora que Flávio Bolsonaro empregou em seu gabinete duas parentes de um ex-PM suspeito de chefiar uma facção de matadores que agia a serviço de milicianos.

Quase todo político com uma longa trajetória sabe que episódios do passado reaparecem como assombrações. Alguns, bem escondidos, caem no esquecimento. Os esqueletos da família presidencial, porém, parecem estar enterrados em cova rasa.

Até novembro, trabalharam para Flávio na Assembleia Legislativa a mãe e a mulher de Adriano Magalhães da Nóbrega, um ex-capitão do Bope acusado de comandar uma milícia na zona oeste do Rio.

O filho do presidente diz que seu ex-assessor Fabrício Queiroz foi o responsável pelas nomeações.

Se Queiroz tinha carta branca para contratar e demitir, suspeita-se que ele não era um auxiliar qualquer de Flávio. A coisa fica mais esquisita quando se destaca que a mãe de Adriano apareceu num relatório do Coaf por ter repassado R$ 4.600 para a conta do fiel amigo do ex-assessor.

Bernardo Mello Franco: Mais uma na conta do Queiroz

- O Globo

A simpatia da família Bolsonaro pelas milícias já era conhecida. O fato novo é a proximidade de Flávio com o chefão do Escritório do Crime

Primeiro foram os 48 depósitos em dinheiro vivo. Depois, os R$ 7 milhões na conta do motorista. Era difícil imaginar outra notícia capaz de piorar a situação de Flávio Bolsonaro. Aí veio a Operação Os Intocáveis.

O Ministério Público deu um passo importante para desmontar o Escritório do Crime, principal grupo de extermínio em atividade no Rio. A Justiça ordenou a prisão do ex-PM Adriano Magalhães da Nóbrega, apontado como chefe da gangue. Ele conseguiu fugir, mas não apagou os vínculos com o senador eleito.

Como deputado estadual, Flávio propôs uma moção de louvor ao miliciano por sua “dedicação, brilhantismo e galhardia”. “É com sentimento de orgulho e satisfação que presto esta homenagem”, escreveu. Dois anos depois, ele premiou o ex-PM com a Medalha Tiradentes, a maior honraria do Estado.

O reconhecimento não se limitou às palavras. O filho do presidente também empregou a mãe e a mulher do foragido em seu gabinete. As duas ficaram penduradas até dezembro. Quando largaram a boquinha, o deputado já havia sido promovido a senador.

*Idelber Avelar: Aula de Brasil

E eis que se entroncaram, muito antes do que qualquer um poderia imaginar, as duas principais investigações político-policiais do Brasil dos tempos recentes, uma dos últimos meses, a outra das últimas semanas: o enriquecimento ilícito da família Bolsonaro e o assassinato de Marielle Franco.

Como sempre, a coisa começa com o laranja: Queiroz, o inacreditável motorista que movimenta R$ 7 milhões em três anos, mas precisa pegar R$ 40 mil emprestados com o Presidente da República e pagá-los de volta na conta da Primeira-Dama. Acredite quem quiser. Ato contínuo, Queiroz fica doente, desaparece, e se abriga em uma favela de Rio das Pedras, que até a Pedra do Arpoador, do outro lado da cidade, sabe que é dominada por milícias.

Paralelamente, começa a desmoronar o castelo de corrupção de Flavinho Bolsonaro, aquele que ganhou milhões e milhões, em menos de dois anos, com uma lojinha de chocolate – e que já havia movimentado milhões de reais antes de sequer ter qualquer atividade empresarial, só com o salário de Deputado Estadual. E que deposita R$ 96 mil mangos em 48 prestações de R$ 2 mil, em um caixa eletrônico situado em uma das agências bancárias mais tranquilas que há.

Ricardo Noblat: Tal pai, tal filho

- Blog do Noblat |Veja

Aperta o cerco

Quem disse?

“Enquanto o Estado não tiver coragem de adotar a pena de morte, o crime de extermínio, no meu entender, será muito bem-vindo.”

“Tem gente que é favorável à milícia, que é a maneira que eles têm de se ver livres da violência. Naquela região onde a milícia é paga, não tem violência.”

“A milícia nada mais é do que um conjunto de policiais, militares ou não, regidos por uma certa hierarquia e disciplina, buscando, sem dúvida, expurgar do seio da comunidade o que há de pior: os criminosos”.

“[Eu mesmo] gostaria de pagar R$ 20, R$ 30, R$ 40 para não ter o carro furtado na porta de casa, para não correr o risco de ver o filho de um amigo ir para o tráfico, ver um filho empurrado para as drogas.”

Antes de revelar quem disse o quê: milícia é uma organização criminosa formada por policiais e ex-policiais que extorquem dinheiro de moradores em troca de proteção contra bandidos. Muitas vezes, mata ou manda matar.

De volta ao passado: as duas primeiras afirmações foram feitas por Jair Bolsonaro em agosto de 2003 e em fevereiro do ano passado já como candidato a presidente. As duas seguintes por seu filho Flávio como deputado estadual.

Faz-se de conta que as declarações mais explosivas, chocantes e bizarras feitas por Bolsonaro pai foram coisas de um político apenas à caça de votos. De preferência, deveriam ser esquecidas uma vez que ele se elegeu presidente.

O que disse o Bolsonaro, de nome Flávio, ganhou o relevo que não mereceu à época desde que dois milicianos foram alvo, ontem, no Rio, de uma operação policial que investiga extorsões, assassinatos e outros tipos de crimes.

Luiz Carlos Azedo: Seis minutos

- Correio Braziliense / Estado de Minas

“Bolsando procurou desfazer a repercussão internacional negativa gerada por decisões recentes de seu governo sobre o meio ambiente”

O esperado discurso do presidente Jair Bolsonaro em Davos, na Suíça, para um seleto grupo de empresários e políticos, foi uma espécie de copo pela metade, gelado. De um lado, sinalizou o que investidores gostariam de ouvir em termos de direção a ser seguida pelo país; de outro, decepcionou-os por não apresentar propostas concretas de reformas, o que deixou uma impressão de superficialidade. Bolsonaro poderia ter roubado a cena em Davos, diante da ausência de peso-pesados da política mundial, como os presidentes Donald Trump (EUA), Xi Jinping (China), Emmanuel Macron (França), Vladimir Putin (Rússia) e os primeiros-ministros Theresa May (Reino Unido) e Ram Nath Kovind (Índia).

A opção pelo feijão com arroz não deixa de ser positiva, se levarmos em conta, por exemplo, a política externa anunciada no discurso de posse do ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, cuja presença no Fórum Econômico Mundial foi ofuscada pelos ministros Paulo Guedes (Economia) e Sérgio Moro (Justiça). Bolsonaro leu um discurso no qual falou de segurança, preservação ambiental e desenvolvimento, redução de impostos, respeito aos contratos, privatizações, ajuste fiscal, reforma da Organização Mundial de Comércio (OMC).

Para não deixar de lado a retórica da campanha eleitoral, o presidente brasileiro criticou o bolivarianismo e defendeu a propriedade privada, a família e os “verdadeiros direitos humanos”. Anunciou a meta bastante exequível de colocar o Brasil entre os 50 melhores países para se investir e a necessidade de educação voltada aos desafios da “quarta revolução industrial”. Apenas três líderes do chamado G7 participarão da reunião de Davos: o primeiro-ministro do Japão, Shinzo Abe; a chanceler alemã, Angela Merkel; e o premiê italiano, Giuseppe Conte.

Bolsonaro procurou desfazer a repercussão internacional negativa gerada por decisões recentes de seu governo sobre o meio ambiente. Durante o discurso, enfatizou que o Brasil é o país que mais preserva o meio ambiente e que o governo quer compatibilizar preservação e biodiversidade com avanço econômico. Disse que a agricultura ocupa somente 9% do território brasileiro, e a pecuária, menos de 20%. “Hoje, 30% do Brasil são florestas. Então, nós damos, sim, exemplo para o mundo. O que pudermos aperfeiçoar, o faremos. Nós pretendemos estar sintonizados com o mundo na busca da diminuição de CO2 e na preservação do meio ambiente”, declarou, após ser questionado pelo fundador e presidente do Fórum, Klaus Schwab. Depois, em reunião com investidores, confirmou que o Brasil permanecerá no Acordo de Paris sobre o clima. Além de destacar a intenção de ampliar a abertura comercial e a integração à economia mundial, Bolsonaro ressaltou a intenção de combater a corrupção, frisando o papel nesse sentido do ex-juiz Sergio Moro, no Ministério da Justiça.

Relações perigosas
No Brasil, porém, o senador Flávio Bolsonaro (PSL-RJ), filho do presidente da República, está na frigideira, por causa do ex-assessor Fabrício Queiroz. Raimunda Veras Magalhães, mãe do ex-capitão do Bope Adriano Magalhães da Nóbrega, aparece em relatório do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) como uma das pessoas que fizeram depósitos para o ex-motorista do então deputado estadual. Ela depositou R$ 4,6 mil na conta de Fabrício, de um salário líquido de R$ 5.124,62 na Alerj.

Rolf Kuntz: Em Davos, o filho do presidente vira tema a ser evitado

Rolf Kuntz e Jamil Chade, O Estado de S.Paulo

Há um enorme elefante branco em Davos: Flávio Bolsonaro. Enquanto o novo governo tenta se apresentar ao mundo e insistir que, sob Jair Bolsonaro, o País vai lutar contra a corrupção, as suspeitas envolvendo seu próprio filho dominam as conversas nos corredores do Fórum Econômico Mundial – aberto nesta terça-feira, 22 – e fazem parte da curiosidade da imprensa estrangeira.

Ao Estado, o ministro da Justiça e Segurança Pública, Sérgio Moro, deixou claro que Davos não era lugar para tratar desses assuntos. Diante de uma pergunta sobre o caso envolvendo Flávio, ele comentou que esse é um tema que “mais adequadamente deveria ser tratado no Brasil”.

Eduardo Bolsonaro, deputado e irmão de Flávio, se recusou a falar do assunto. Questionado pelo Estado, ele apenas respondeu: “Não vou perder meu tempo com isso”. “Flávio já deu entrevista”. Eduardo ainda chamou de “lixo” a informação de que o irmão tenha empregado em seu gabinete na Assembleia Legislativa do Rio (Alerj) a mãe e a mulher do ex-capitão da Polícia Militar Adriano Magalhães da Nóbrega, alvo de um mandado de prisão acusado de comandar uma milícia no Estado. Nóbrega está foragido.

Fontes da delegação brasileira indicaram à reportagem que houve um temor real de que a estreia internacional do novo presidente fosse ofuscada pela primeira crise em seu governo. De fato, desde anteontem, foram diversos os meios de comunicação na Europa e que cobrem o evento que citaram a “sombra” que o caso de Flávio já estava causando na viagem do presidente.

Na única vez que falou com a imprensa desde que chegou a Davos, em um encontro que durou menos de 2 minutos, Jair Bolsonaro não citou Flávio.

Empresários estrangeiros não deixaram de ironizar a situação. “O elefante branco é muito visível”, comentou um dos executivos, pedindo anonimato.

Vera Magalhães: Guedes salva o dia

- O Estado de S.Paulo

Jair Bolsonaro perdeu a chance de fazer história em Davos. O ineditismo de um presidente sul-americano abrir o Fórum Econômico Mundial foi desperdiçado com uma fala mais curta que o mínimo necessário para enunciar alguma plataforma, mais genérica que o necessário para convencer um público tão qualificado e, principalmente, completamente desprovido de senso de liderança e convicção de estadista.

Daí que a reforma da Previdência, o projeto que vai definir o sucesso de sua Presidência, tenha ficado fora da fala. Certamente não foi por falta de tempo, uma vez que o discurso, lido no teleprompter em tom vacilante, teve seis parcos minutos.

Ao deixar de fora o tema que a plateia mais queria ouvir, Bolsonaro passou aos investidores – que pareceu querer atrair enaltecendo nossas belezas naturais – o recado de que vacila quanto a firmar um compromisso com a reforma.

Coube a Paulo Guedes consertar as coisas na palestra que fez depois a investidores, organizada por um banco, em que por 90 minutos detalhou os planos do governo para a economia e assegurou que a mudança no sistema previdenciário será aprovada.

Claro que não se pode comparar a natureza dos dois discursos. Mas dá para pedir ao presidente o tal compromisso e cobrar um plano para reerguer a economia, como, aliás, fez o presidente executivo do fórum, Klaus Schwab, ao tentar espremer algo de concreto de Bolsonaro. A reforma será uma tarefa difícil de levar a cabo. Dizer naquele palco que ela é a prioridade era o recado que Bolsonaro poderia passar.

Monica De Bolle*: Bolsonaro em Davos

- O Estado de S.Paulo

Há ideologia de sobra, apenas não exatamente a que preponderou durante boa parte dos governos petistas

Foram oito minutos e mais um tantinho de perguntas e respostas com o anfitrião Klaus Schwab. Com o cenho fechado e nítido desconforto, o capitão-presidente apresentou-se à elite globalista na montanha durante a abertura da sessão plenária do Fórum Econômico Mundial.

O discurso conteve algumas mensagens sobre as reformas econômicas, sobre as intenções de abrir a economia brasileira, sobre a necessidade de acabar com o viés ideológico no País, apesar do viés ideológico estar presente, saudável, e viril no Ministério das Relações Exteriores. Houve, também, tentativa de sublinhar os compromissos do Brasil com o meio ambiente, apesar dos sinais contraditórios desde a campanha. Empenhou-se Bolsonaro em afirmar que seu governo pretende compatibilizar a preservação do meio ambiente e o compromisso com a biodiversidade com o avanço econômico, apesar das atitudes já tomadas em relação à demarcação de terras indígenas – de responsabilidade, agora, do Ministério da Agricultura. Contudo, nada disso compõe a real história do discurso de Davos em meio aos escândalos de corrupção que rondam a família do presidente no Brasil. A real história são os ecos do passado, sobretudo de um passado não muito distante.

Disse Bolsonaro que assumiu o Brasil “em uma profunda crise ética, moral, e econômica”, o que é verdade. Seus eleitores depositaram nele a confiança de combater a corrupção e a violência, o que levou o presidente a citar a escolha de Sergio Moro para a pasta da Justiça e da Segurança. Em Davos, Sergio Moro e Paulo Guedes foram apresentados ao mundo como os pilares de sustentação de muitas esperanças. “Tenham certeza de que, até o final do meu mandato, nossa equipe econômica liderada pelo ministro Paulo Guedes nos colocará no ranking dos 50 melhores países para se fazer negócios”. Apesar de algumas melhorias, o Brasil ainda amarga a 109ª posição dentre 190 países de acordo com o índice Doing Business do Banco Mundial. Subir ao menos 59 posições em 4 anos é a tarefa hercúlea que Bolsonaro acaba de dar ao seu superministro perante a comunidade internacional.

Fábio Alves: De olho na popularidade

- O Estado de S.Paulo

Se caso Coaf não mostrar um estrago nas pesquisas, adesão do Congresso é mais provável

Apesar do perfil bem mais conservador de um Congresso bastante renovado, os investidores ainda não estão completamente convencidos de que o grau de adesão dos novos parlamentares à agenda econômica liberal do governo Jair Bolsonaro terá o mesmo apoio esperado para a pauta de costumes, incluindo temas como família e educação.

Essa dúvida passou a pesar mais nos últimos dias com as revelações recentes do episódio das movimentações financeiras atípicas envolvendo o filho do presidente e senador eleito Flávio Bolsonaro e o seu ex-assessor Fabrício Queiroz, apuradas pelo Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf).

Os investidores estão mantendo o sangue frio diante dos últimos acontecimentos envolvendo o filho do presidente e afirmam que estão monitorando a situação. Mas admitem que as próximas pesquisas de popularidade e de aprovação do presidente Bolsonaro devem deflagrar uma reação mais forte nos preços dos ativos.

Para o mercado financeiro, os números da popularidade do presidente devem ditar as expectativas sobre a aprovação de medidas importantes no Congresso, como a reforma da Previdência.

Isso porque uma das perguntas no radar dos investidores é: sem trégua no noticiário de jornais e de emissoras de rádio e TV, como os parlamentares que estão assumindo o mandato vão reagir a novas revelações do caso Coaf e a um eventual desgaste na imagem do governo Bolsonaro?

Reagirão esses parlamentares de maneira diferente do que sempre se observou quando um governo imerso numa crise política tenta aprovar uma medida importante no Congresso, cobrando um preço no batido “toma lá dá cá”?

Merval Pereira: Boas indicações

- O Globo

Bolsonaro assumiu compromissos importantes, que independem do quanto utilizou dos 45 minutos que tinha

Criticar o discurso do presidente Jair Bolsonaro no Fórum Econômico Mundial em Davos pelo tamanho não é uma medida correta. Melhor seria dizer que o presidente brasileiro perdeu a oportunidade para se aprofundar nos temas que realmente importam ali, mas assumiu compromissos importantes, que independem de quanto tempo utilizou dos 45 minutos que tinha.

O discurso de oito minutos foi montado para incentivar os investidores estrangeiros. Falou em reformas, Previdência incluída, em abertura da economia, simplificação da burocracia para melhorar ambiente de negócios, diminuição da carga tributária, abertura para o mundo e ainda se comprometeu com preservação do meio ambiente.

A emoção revelada no início foi indevida, mas Bolsonaro é um estreante em eventos internacionais, não tem nem o carisma nem a popularidade entre os estrangeiros que tinham Fernando Henrique ou Lula. E nem é um orador-ator como seu ídolo Trump. Ao contrário, pelo escândalo de corrupção do governo Lula, e por causa de suas opiniões emitidas durante toda a vida parlamentar, como a defesa da tortura, a imagem do Brasil no exterior nunca esteve tão ruim.

Por isso, fez bem o presidente em assumir compromissos com a redução da emissão de CO2, e a preservação do meio ambiente, depois de ter mantido o Brasil, talvez a contragosto, no Acordo de Paris sobre o clima.

Bolsonaro também defendeu a agropecuária brasileira, o principal fator a impulsionar nossa economia, explicando que, no seu modo de ver, agricultura e meio ambiente devem estar juntos. Caberá ao presidente Bolsonaro mostrar na prática que sua tese é viável. Mas os ambientalistas temem que o agronegócio seja prioritário para o governo.

Míriam Leitão: Oportunidade perdida em Davos

- O Globo

Por Alvaro Gribel (A colunista está de férias.)

O discurso de Bolsonaro em Davos foi o que os economistas chamam de “não evento”. Se o objetivo era impressionar a elite financeira internacional, isso não aconteceu. O presidente brasileiro teve o privilégio de abrir o Fórum, mas, nervoso, falou por apenas seis minutos e meio. A reforma da Previdência não foi citada, apesar de ter defendido o equilíbrio fiscal, a abertura da economia e a redução da carga tributária. A pauta liberal esteve presente, mas dividiu espaço com temas que tem importância apenas para a sua militância, como o valor gasto em campanha e a alegação de que foi “injustamente atacado a todo o tempo”. Bolsonaro disse que pela primeira vez na história do Brasil um presidente “montou uma equipe de ministros qualificados” e que “os críticos têm muito a aprender” com ele. Para quem precisa dar um sinal forte para destravar a confiança dos investidores estrangeiros, ficou a sensação de que a oportunidade foi perdida.

Temer foi mais liberal
“Trago-lhes uma mensagem clara: o Brasil está de volta. E o Brasil que está de volta é um país mais próspero, um país mais aberto, um país de mais oportunidades de investimentos, de comércio, de negócios”. As palavras não são de Bolsonaro, mas do ex-presidente Temer, que iniciou dessa forma seu discurso em Davos no ano passado. Ele também defendeu uma agenda liberal na economia, com abertura comercial, e lembrou as reformas aprovadas em seu curto governo. O ex-presidente aproveitou para citar a melhora em vários indicadores, como a queda dos juros ao mais baixo nível histórico, a redução da inflação e o recorde na balança comercial. O final dos quase 20 minutos de discurso foi dedicado à reforma da Previdência.

Elio Gaspari: De Guerreiro@edu para Bolsonaro

O Globo /Folha de S. Paulo

Senhor presidente, 
Fui empregado do Itamaraty durante 45 anos, seis dos quais como ministro das Relações Exteriores do general João Figueiredo (1979-1985). Ouvi o que o senhor disse em Davos, esperando que o governo da Venezuela “mude rapidamente”. Por cá, tenho ouvido a mesma coisa, pois o presidente Nicolás Maduro arruinou o país. Escrevo-lhe para sugerir que nossa diplomacia trate a crise desse país com quem temos dois mil quilômetros de fronteira seca tirando as meias sem tirar o sapato. Para as pessoas comuns, isso parece impossível, mas no Itamaraty sabemos fazê-lo.

Tenho horror a falar de qualquer coisa, sobretudo de mim. Na Casa corre o chiste segundo o qual eu sou capaz de dormir durante meus próprios discursos. Costumo adormecer os outros mas, mesmo acordado, falo pouco.

Quando sugiro que tiremos a meia sem tirar o sapato, lembro que a hostilidade verbal de seu governo em relação a Nicolás Maduro já foi explicitada. Nossas precauções devem se relacionar com o dia seguinte a uma eventual queda do bolivarianismo. O que advirá? Isso ninguém sabe. Tomara que não aconteça nada e que os venezuelanos resolvam a própria crise.

Em 1965, o Brasil apoiou a intervenção militar americana na República Dominicana, mandou tropas para uma força multilateral de paz e chegou a comandá-la. Mesmo assim, veja a frequência com que se fala das nossas missões militares recentes no Haiti e no Congo. Da República Dominicana, fala-se pouco. O que começou como uma operação destinada a evacuar cidadãos americanos transformou-se numa ocupação, e a tropa brasileira ficou por lá durante 18 meses. Até hoje, a diplomacia americana discute o processo de decisão que levou o presidente Lyndon Johnson a invadir o país. De qualquer forma, a Dominicana fica a dois mil quilômetros das nossas fronteiras.

O Itamaraty tirou a meia sem tirar o sapato em 1982, quando o general argentino Leopoldo Galtieri invadiu as Ilhas Malvinas, ocupada pelos ingleses desde 1833. O general achava que os Estados Unidos ficariam neutros e a primeira-ministra inglesa Margaret Thatcher absorveria o golpe. Não aconteceu uma coisa nem a outra. Se o Brasil apoiasse Galtieri, seria sócio de uma aventura. Se apoiasse a Inglaterra, alimentaria um ressentimento que duraria gerações. Ficamos no fio da navalha, apoiando o direito argentino à posse da ilha e dissociando-nos da invasão. Lembro-me de que o general Figueiredo foi a Washington e disse ao presidente Ronald Reagan que o Brasil não admitiria um ataque ao continente argentino. Ele não ocorreu, até porque não foi necessário.

Flávio empregou parentes de suposto miliciano

Mãe e mulher de Adriano Nóbrega, acusado de comandar milícias, trabalharam na Alerj

Roberta Jansen, Constança Rezende / O Estado de S. Paulo

RIO- Flávio Bolsonaro empregou até novembro em seu gabinete na Alerj a mãe e a mulher do ex-capitão do Bope Adriano da Nóbrega, suspeito de comandar uma das principais milícias do Rio. Acusado por homicídio e expulso da PM, ele está foragido.

O deputado estadual e senador eleito Flávio Bolsonaro (PSL-RJ) empregou em seu gabinete na Assembleia Legislativa do Rio (Alerj) até novembro do ano passado a mãe e a mulher do ex-capitão do Batalhão de Operações Especiais (Bope) da PM Adriano Magalhães da Nóbrega. O ex-policial é acusado de comandar uma das principais milícias do Estado, em Rio das Pedras, comunidade pobre na zona oeste.

Nóbrega, acusado de homicídio e expulso da Policia Militar, teve mandado de prisão expedido na Operação Intocáveis, desencadeada ontem pela Polícia Civil e pelo Ministério Público do Rio, e está foragido. O parlamentar atribuiu a indicação das familiares do ex-PM a seu ex-assessor Fabrício Queiroz, apontado como autor de movimentações suspeitas de R$ 1,2 milhão em 13 meses.

A defesa do ex-servidor confirmou por nota que seu cliente indicou as duas para os cargos. “O sr. Fabrício solicitou a nomeação da esposa e da mãe do sr. Adriano para exercerem atividade de assessoria no gabinete em que trabalhava, uma vez que se solidarizou com a família que passava por grande dificuldade pois à época ele estava injustamente preso, em razão de um auto de resistência que foi, posteriormente, tipificado como homicídio, caso este que já foi julgado e todos os envolvidos devidamente inocentados”, informou a nota pelo advogado de Paulo Márcio Ennes Klein.

Segundo a Assembleia Legislativa do Rio, a mulher do ex-capitão, Danielle Mendonça da Costa Nóbrega, trabalhou no gabinete de Flávio de 6 de setembro de 2007 até 14 de novembro do ano passado. Já a mãe de Nóbrega, Raimunda Veras Magalhães, esteve lotada no mesmo gabinete de 11 de maio de 2016 até 14 de novembro de 2018. Ambas recebiam salário mensal de R$ 6.490,35. Raimunda é citada no relatório do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) feito na Operação Furna da Onça, que investiga corrupção no Legislativo fluminense. Raimunda repassou R$ 4.600 para a conta de Queiroz.

Flávio contratou mãe de miliciano

Por Alessandra Saraiva e Rafael Rosas | Valor Econômico

RIO - O senador eleito Flávio Bolsonaro (PSL) voltou a ser alvo de denúncias que questionam nomeações feitas para seu gabinete, quando foi deputado estadual no Rio de Janeiro. O assessor Fabrício Queiroz teria nomeado parentes - a mulher e a mãe - do capitão da Polícia Militar Adriano Magalhães da Nóbrega, supostamente ligadas a uma milícia. O policial teve ontem a prisão preventiva decretada no âmbito da operação "Os Intocáveis", deflagrada pelo Ministério Público do Rio e o Grupo de Atuação Especial no Combate ao Crime Organizado (Gaeco), com o objetivo de desarticular a milícia que atua em Rio das Pedras, na zona oeste do Rio. Nóbrega está foragido.

Parentes de suspeito de integrar milícia trabalharam em gabinete de Flávio
O senador eleito Flávio Bolsonaro (PSL) voltou a ser alvo de denúncias que questionam nomeações feitas por ele em seu gabinete na época em que era deputado estadual no Rio. Mais uma vez o assessor Fabrício Queiroz está no centro das nomeações, que agora envolvem parentes do ex-policial militar Adriano Magalhães da Nóbrega. Ele teve ontem a prisão preventiva decretada no âmbito da operação "Os Intocáveis", deflagrada pelo Ministério Público do Rio e pelo Grupo de Atuação Especial no Combate ao Crime Organizado (Gaeco) com o objetivo de desarticular a milícia que atua em Rio das Pedras, na zona oeste da cidade. Nóbrega está foragido.

Adriano, que foi capitão do Batalhão de Operações Especiais (Bope), é apontado como um dos integrantes do Escritório do Crime, grupo apontado como responsável por diversas execuções no Rio na última década. Segundo o MP, não está descartada a ligação de acusados na operação de ontem no assassinato da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes. Em entrevista ao "Jornal Nacional", o deputado federal eleito Marcelo Freixo (Psol) disse que não se pode garantir que os presos ontem tenham relação com o caso Marielle, uma vez que a investigação do assassinato da vereadora está a cargo de Delegacia de Homicídios e não da Gaeco. Adriano foi expulso da PM em 2014, por fazer serviço de segurança a um contraventor.

Flávio empregou parentes de suspeito de comandar milícia

Flávio Bolsonaro empregou mãe e mulher de ex-PM do Rio suspeito de chefiar milícia

Raimunda Magalhães está entre os ex-servidores com movimentações bancárias em investigação

Ana Luiza Albuquerque, Italo Nogueira e Júlia Barbon | Folha de S. Paulo

RIO DE JANEIRO- O deputado estadual e senador eleito Flávio Bolsonaro (PSL-RJ) empregou até novembro do ano passado em seu gabinete na Assembleia Legislativa a mãe e a mulher de um ex-policial militar suspeito de comandar milícias no Rio de Janeiro.

O ex-capitão da PM Adriano Magalhães da Nóbrega, 42, está foragido e é um dos 13 alvos de uma operação deflagrada nesta terça-feira (22) pelo Ministério Público para prender suspeitos de chefiar milícias que atuam nas comunidades como de Rio das Pedras e Muzema, na zona oeste da cidade do Rio de Janeiro.

A mãe do ex-PM, Raimunda Veras Magalhães, e a mulher dele, Danielle Mendonça da Costa da Nóbrega, deixaram o gabinete de Flávio, a pedido, no mesmo dia, em 13 de novembro. Elas ocupavam um mesmo cargo e ganhavam R$ 6.490,35 mensais cada. A informação foi antecipada pela TV Globo.

Raimunda é um dos ex-servidores de Flávio citados em relatório do Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras) que identificou movimentações financeiras atípicas de seu ex-assessor Fabrício Queiroz. Ela repassou R$ 4.600 para a conta de Queiroz.

Queiroz é policial militar aposentado e amigo há mais de 30 anos do presidente Jair Bolsonaro, que o indicou para a vaga no gabinete do filho.

À época da revelação do relatório, em dezembro do ano passado, a reportagem procurou a ex-assessora em endereços relacionados ao seu nome, mas não conseguiu localizá-la.

Raimunda é sócia de um restaurante no Rio Comprido, zona norte do Rio, localizado em frente a uma agência do Itaú na qual foram realizados 18 depósitos em espécie para Queiroz de janeiro de 2016 a janeiro de 2017. No total, o montante depositado chegou a cerca de R$ 92 mil. Nóbrega é sócio de outro restaurante na mesma rua.

Em nota, a assessoria do senador eleito disse que Raimunda foi contratada por indicação de Queiroz, que supervisionava o seu trabalho, e que não pode ser responsabilizado por atos que desconhece.

Já a defesa de Queiroz, que confirmou a indicação, afirmou que “repudia veementemente qualquer tentativa de vincular seu nome a milícia” e que “a divulgação de dados sigilosos obtidos de forma ilegal constitui verdadeira violação aos direitos básicos do cidadão”.

Segundo o advogado Paulo Klein, Queiroz conheceu Nóbrega quando trabalharam juntos no 18° Batalhão da Polícia Militar e não sabia do suposto envolvimento com milícias.

Ainda segundo seu advogado, Queiroz solicitou a nomeação da mulher e da mãe do colega para o gabinete de Flávio Bolsonaro porque a família passava por dificuldades financeiras.

Para a defesa, Nóbrega estava "injustamente preso" em razão de um auto de resistência posteriormente tipificado como homicídio.

Nóbrega foi denunciado pelo Ministério Público acusado de participar da tentativa de assassinato do pecuarista Rogério Mesquita, em razão da disputa pelo espólio do bicheiro Waldomir Paes Garcia, o Maninho. Apenas um envolvido foi condenado no caso —outro policial militar.

A relação de Nóbrega com o jogo do bicho o levou a ser demitido da corporação. Em processo administrativo disciplinar, foi considerado culpado da acusação de atuar como segurança de José Luiz de Barros Lopes, o "Zé Personal", contraventor da máfia dos Caça-Níqueis.

Queiroz é investigado sob suspeita de participar de um esquema de lavagem de dinheiro e ocultação de bens. O Coaf identificou uma movimentação atípica de R$ 1,2 milhão em sua conta bancária em 2016 e 2017.

O alerta se deve não só ao volume, mas também à forma com que as operações eram feitas. No período, Queiroz realizou saques uma vez a cada dois dias em valores elevados, sempre após depósitos de quantias semelhantes.

Flávio Bolsonaro não é formalmente investigado no caso na esfera criminal, mas sim na área cível, que apura improbidade administrativa. A suspeita é de que Queiroz fosse o responsável por recolher parte do salário de servidores com finalidade ainda não esclarecida. O senador eleito nega a prática.

A investigação do caso está suspensa após liminar do ministro Luiz Fux, do Supremo Tribunal Federal.

HOMENAGEM
Flávio Bolsonaro homenageou o ex-policial Nóbrega duas vezes na Assembleia do Rio. Em 2003, propôs uma moção de louvor por desenvolver sua função com "dedicação, brilhantismo e galhardia".

"Imbuído de espírito comunitário, o que sempre pautou sua vida profissional, atua no cumprimento do seu dever de policial militar no atendimento ao cidadão", escreveu.

Gabinete de Flávio empregou mãe e mulher de chefe do crime

Flávio Bolsonaro empregou parentes de ex-PM foragido a quem deu prêmio na Alerj

Bruno Abbud, Igor Mello e Vera Araújo | O Globo


Até novembro de 2018, a mãe e a mulher de Adriano da Nóbrega, ex-PM apontado como chefe do Escritório do Crime, eram funcionárias do gabinete do deputado estadual e senador eleito Flávio Bolsonaro (PSL-RJ). Ele ainda mantém empregados quatro servidores citados em relatório de movimentações suspeitas. O gabinete do deputado estadual e senador eleito Flávio Bolsonaro (PSLRJ) empregou até novembro do ano passado a mãe e a mulher do ex-capitão do Bope Adriano Magalhães da Nóbrega, considerado pelo Ministério Público do Rio como o homem-forte do Escritório do Crime, organização suspeita do assassinato de Marielle Franco. Adriano foi alvo de um mandado de prisão ontem e está foragido, acusado há mais de uma década por envolvimento em homicídios.

Adriano e outro integrante da quadrilha, o major da PM Ronald Paulo Alves Pereira, foram homenageados por Flávio na Assembleia Legislativa do Rio (Alerj), em 2003 e 2004, respectivamente. Adriano é amigo de Fabrício Queiroz, ex-assessor de Flávio, investigado sob suspeita de recolher parte dos salários de funcionários do político. Teria sido Queiroz — amigo do presidente Jair Bolsonaro desde os anos 1980 — o responsável pelas indicações dos familiares de Adriano.

A mãe de Adriano, Raimunda Veras Magalhães, e a mulher, Danielle Mendonça da Costa da Nóbrega, ocuparam cargos no gabinete de Flávio Bolsonaro. Elas tinham salários de R$ 6.490,35. Segundo o Diário Oficial do Estado, ambas foram exoneradas a pedido no dia 13 de novembro de 2018. O GLOBO revelou a existência do Escritório do Crime em agosto de 2018.

Ex-integrante do Bope, Adriano se formou no curso de operações especiais da PM em 2000. Ele foi preso na operação “Dedo de Deus”, de 2011, desencadeada para combater o jogo do bicho no Rio. À época, era capitão da PM. Ele foi expulso da corporação em 2014.

Estreia internacional: Editorial | Folha de S. Paulo

Bolsonaro corrige bravatas, mas não aproveita o tempo para explicitar plataforma de reformas

Foi satisfatória, embora sucinta demais, a primeira fala do presidente Jair Bolsonaro (PSL) fora do Brasil. No principal auditório do Fórum Econômico Mundial, em Davos (Suíça), o mandatário vestiu bem o figurino protocolar e, diante de potenciais investidores, privilegiou a sua agenda em prol dos negócios.

Tratou também de corrigir algumas bravatas infelizes que haviam surgido na retórica presidencial e em manifestações do núcleo ideológico ao seu redor. O compromisso com a preservação ambiental talvez seja a mais alvissareira dessas mensagens reparadoras.

Ao lembrar seus espectadores de que o Brasil utiliza parcela minoritária de seu território para atividades agropecuárias que ajudam a alimentar o planeta, Bolsonaro afirmou ser perfeitamente possível o país avançar na conciliação de objetivos ecológicos e produtivos.

A confirmação, pelo próprio presidente após o discurso, de que o país permanecerá no Acordo de Paris —pacto pelo controle dos gases que favorecem o aquecimento planetário— reforçou o recado.

Para quem flerta com um ideário estapafúrdio e incoerente chamado antiglobalismo, a simples presença benfazeja no palco coruscante do “globalismo”, além dos votos por um mundo de paz, liberdade e democracia, constitui um alívio.

O discurso de Bolsonaro no figurino de Davos: Editorial | O Globo

Presidente faz pronunciamento curto, objetivo e trata de temas de interesse dos investidores externos

Na primeira viagem internacional, há 20 dias da posse, o presidente Jair Bolsonaro mostrou um perfil distante daquele candidato radical da campanha, e assumiu posições diferentes de teses ultranacionalistas defendidas por ministros seus.

Foi um discurso curto, objetivo, sobre temas da agenda dos investidores estrangeiros: reformas, meio ambiente, corrupção, respeito aos contratos, combate à burocracia, também para melhorar o ambiente de negócios e assim por diante.

Não poderia ser diferente. Davos, nos Alpes suíços, onde ocorre anualmente o Fórum Econômico Mundial, é forte símbolo da globalização, tão combatida pelo nacional-populismo do presidente Trump e pela ultradireita europeia.

O que não impede que Trump, impossibilitado de ir ao encontro devido ao shut down da administração americana, tenha despachado para a Suíça o secretário de Estado Mike Pompeo, para representá-lo. Davos não pode mesmo deixar de ser considerado por qualquer país sério.

Dois passos para o crescimento: Editorial | O Estado de S. Paulo

O presidente Jair Bolsonaro tentou apresentar em Davos um Brasil atraente para o investidor estrangeiro, mas o primeiro atrativo, em condições normais, é a perspectiva de expansão dos negócios. Essa perspectiva depende hoje, em primeiro lugar, do programa de ajustes e de reformas. Sem avanço na reforma da Previdência, nem o modesto crescimento econômico previsto para este ano e para próximo está garantido. Esse prosaico detalhe foi lembrado por um experiente analista do Fundo Monetário Internacional (FMI), Gian Maria Milesi-Ferretti, numa entrevista coletiva sobre as novas projeções para a economia global. Segundo as novas estimativas, o Brasil cresceu 1,3% em 2018 e deve crescer 2,5% neste ano e 2,2% no próximo.

Projeções são condicionadas por pressupostos, e um dos mais importantes, neste caso, é a execução normal dos programas de arrumação das contas públicas e, especialmente, de modernização do sistema de aposentadorias e pensões. Os grandes investidores participantes do Fórum Econômico Mundial sabem disso. As palavras de Milesi-Ferretti, diretor adjunto do Departamento Econômico do FMI, apenas adicionam um sinal de alerta às novas estimativas de expansão do Brasil.

Mesmo sem a advertência, os números projetados para o Brasil pelos técnicos do FMI justificam pouco otimismo. Indicam apenas um desempenho melhor que o dos anos anteriores, mas nem de longe uma nova fase de prosperidade. Mostram basicamente uma recuperação cíclica, depois de uma funda recessão. Na melhor hipótese, o País poderá retomar o nível de atividade anterior à crise, eliminando a ociosidade criada nos últimos anos. Atingir um patamar superior será mais complicado.

O desafio imediato para o novo governo, portanto, é consolidar a recuperação. O controle das finanças públicas, incluída a reforma da Previdência, é condição para qualquer lance mais ambicioso. Para conduzir o País a um novo patamar de atividade será preciso a capacidade produtiva e, como consequência, o potencial de crescimento econômico.

Menos ajuda do exterior para recuperação da economia: Editoria | Valor Econômico

Se o governo brasileiro ainda precisava de aviso quanto à instabilidade do cenário mundial neste ano, as análises divulgadas na segunda-feira pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) não poderiam ser mais claras. A mensagem tornada pública em Davos, no Fórum Econômico Mundial, é cristalina: a economia do mundo está em desaceleração. O que significa um desafio para os novos governantes do país na medida em que essa tendência pode prejudicar o ritmo de crescimento das exportações brasileiras, tornando ainda mais lento o processo de retomada do ritmo de atividades.

O FMI revisou para baixo - novamente - a projeção para a expansão econômica global. A estimativa agora passou a ser de 3,5% em 2019 e de 3,6% no próximo ano. Nos dois casos, são índices inferiores ao que o FMI calcula que o mundo cresceu no ano passado. São reduções pequenas mas indicam uma tendência de desaquecimento global.

As causas da desaceleração econômica que se desenha são muitas, variando de país para país ou de região para região. Mas não há dúvidas que as incertezas provocadas pelas disputas comerciais entre os Estados Unidos e a China pesam muito negativamente nesse panorama, como se vê inclusive pelas oscilações bastante significativas observadas nos últimos meses nos mercados financeiro e de commodities. Também com grande influência desfavorável são as dúvidas em relação às perspectivas da China continuar se expandindo economicamente em ritmo semelhante aos dos últimos anos.

Em ambos os casos - problemas comerciais entre as duas maiores economias do planeta e economia chinesa - não se vê perspectiva unânime entre os especialistas de solução a curto prazo. A China é um dos maiores receios. O crescimento de 6,6% em 2018 é o menor desde os anos 1990. E deve cair para 6,2% neste ano, prevê o FMI, o que reforça a fragilidade do país, principal parceiro comercial do Brasil.

Murilo Mendes: O Filho do Século

Nunca mais andarei de bicicleta
Nem conversarei no portão
Com meninas de cabelos cacheados
Adeus valsa "Danúbio Azul"
Adeus tardes preguiçosas
Adeus cheiros do mundo sambas
Adeus puro amor
Atirei ao fogo a medalhinha da Virgem
Não tenho forças para gritar um grande grito
Cairei no chão do século vinte
Aguardem-me lá fora
As multidões famintas justiceiras
Sujeitos com gases venenosos
É a hora das barricadas
É a hora da fuzilamento, da raiva maior
Os vivos pedem vingança
Os mortos minerais vegetais pedem vingança
É a hora do protesto geral
É a hora dos vôos destruidores
É a hora das barricadas, dos fuzilamentos
Fomes desejos ânsias sonhos perdidos,
Misérias de todos os países uni-vos
Fogem a galope os anjos-aviões
Carregando o cálice da esperança
Tempo espaço firmes porque me abandonastes.