terça-feira, 24 de maio de 2022

Merval Pereira: Rumo ao precipício

O Globo

O ex-governador de São Paulo João Doria tomou uma atitude que já estava madura ao renunciar à candidatura à Presidência da República, mas deveria ter se antecipado à cúpula do PSDB, que agora está às voltas com a pressão interna para que o partido tenha um candidato próprio. Não se trata mais de disputar a Presidência com Lula, Bolsonaro, Ciro Gomes. Trata-se, isso sim, de tentar salvar a própria sigla do desastre anunciado.

Os tucanos, que governaram o país por oito anos e estiveram no segundo turno em todas as eleições, exceto as de 2018, foram devastados pelo fenômeno eleitoral chamado Bolsonaro e não souberam reagir a esse ataque hostil. A saída de Geraldo Alckmim do partido que ajudou a fundar só fortaleceu a percepção dos eleitores que trocaram o PSDB por Bolsonaro de que a social-democracia tucana tem mais a ver com o petismo do que com o liberalismo que eles buscaram nesses anos todos em que a sigla era a única alternativa viável ao PT. Assim como a adesão do ex-juiz Sergio Moro ao governo Bolsonaro reforçou a tese petista de que Moro condenou Lula para facilitar a vitória de Bolsonaro.

Os eleitores do Sul, do Sudeste, do Centro-Oeste que abandonaram Alckmin em 2018 para aderir a Bolsonaro não encontraram motivos para voltar ao ninho tucano, pois o partido, além de criticar e atacar o presidente eleito, teria de ter apresentado uma proposta de governo que atendesse a esse eleitorado, que quer derrotar o PT porque considera Lula e seus camaradas socialistas enrustidos que usam a democracia para destruí-la.

Míriam Leitão: Os satélites do bolsonarismo

O Globo

A crise do PSDB vem da perda dos seus valores fundantes. Vem de muito tempo. Não foi deflagrada pelo episódio da candidatura fracassada de João Dória. Na semana passada, só três deputados da bancada tucana votaram contra a proposta absurda do homescholling, um projeto bolsonarista raiz. Pior do que ser parte do bolsonarismo é ser linha auxiliar da extrema-direita com seu projeto deletério para o Brasil. E é o que muitos integrantes do PSDB passaram a ser nos últimos anos. O que leva o parlamentar de um partido que criou o movimento “Toda criança na escola” a votar numa proposta dessas? É desconhecer a própria origem.

Agora, o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira, que inventou que na grave crise da educação brasileira a urgência mesmo é a escola domiciliar, quer de novo ajudar a campanha de Bolsonaro. Tentará com um golpe tributário baixar a inflação na marra. Lira usará todos os truques, todas as manobras, todo o seu mandonismo para socorrer Bolsonaro, que lhe entregou parte do Orçamento para fazerem juntos as lambanças diárias que os jornais revelam. De que lado ficarão os deputados do partido que entregou ao Brasil a mais sólida e duradoura política anti-inflacionária? Nem importa, porque não são tantos assim, e eles já não votam com os seus valores reais.

Carlos Andreazza: Operação beco sem saída

O Globo

Análise do discurso. Contexto: o presidente que, pranteando por ter de bloquear porções do Orçamento concebido com os associados do consórcio Ciro Nogueira/Arthur Lira/Valdemar Costa Neto, chora a dificuldade para dar reajuste salarial aos servidores.

Falou Bolsonaro, na quinta:

— Apareceu despesa extra essa semana, entre precatórios, Plano Safra e abono. Mais R$ 10 bilhões. De onde virá esse dinheiro? Desse Orçamento. Temos que chegar nos ministérios e cortar R$ 10 bilhões.

Gosto do “apareceu”. Que susto, né? Apareceu, ué. Talvez tenha assumido o cargo ontem, o pobre, herdeiro de uma falência cujos esqueletos na gaveta descobre, tadinho. Só que não — diriam os (mais) jovens.

Aboletado no trono há quase três anos e meio, ao menos sabe que os dinheiros terão de sair do Orçamento. O lance é: que Orçamento? O Orçamento de mentira forjado e operado por gente de verdade. O Orçamento que subestimou — deliberadamente — gastos obrigatórios. Os gestores do Orçamento ficcional sendo os mesmos que administram o realíssimo orçamento secreto — imexível.

Luiz Carlos Azedo: Doria desiste, mas PSDB continua dividido

Correio Braziliense

O grupo paulista não quer uma candidatura própria, para assim poder abrir o palanque de Rodrigo Garcia em São Paulo, numa tentativa desesperada de viabilizar a reeleição do atual gestor do estado

O ex-governador de São Paulo João Doria jogou a toalha e desistiu da candidatura à Presidência da República, após ser comunicado pela cúpula da legenda que seria candidato de si mesmo. Doria perdeu o apoio do grupo liderado pelo governador Rodrigo Garcia, que o sucedeu, e pelo presidente do PSDB, Bruno Araújo, aliados aos presidentes do Cidadania, Roberto Freire, e do MDB, Baleia Rossi. Se depender dos presidentes dos três partidos, a candidata da chamada terceira via será a senadora Simone Tebet (MS), do MDB.

Doria foi vítima dele mesmo. Rompeu com seu padrinho político, Geraldo Alckmin, que hoje é o vice na chapa do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A aliança de segundo turno que havia feito com o presidente Jair Bolsonaro, em 2018, rompeu-se no começo da pandemia da covid-19, por causa da política de distanciamento social adotada pelo governo paulista para restringir a propagação da doença. Quando o Instituto Butantan, pioneiramente, começou a produzir a vacina chinesa CoronaVac, Doria se tornou o principal adversário de Bolsonaro, cujo negacionismo combateu em entrevistas diárias pela tevê.

Maria Cristina Fernandes: Tucano foi ungido e derrotado por São Paulo

Valor Econômico

Rejeição a Doria no Estado que governou é fenômeno de difícil compreensão

A ascensão vertiginosa de João Doria no PSDB, partido pelo qual passou de prefeito da maior cidade do país a governador do maior Estado em apenas dois anos, iludiu o ex-governador sobre o alcance de suas ambições. Foi derrotado pelo mesmo poder paulista que o consagrou.

A senadora Simone Tebet (MDB-MS) pode vir a ser a grande vitoriosa da desistência, mas ainda precisa passar pela convenção de um partido rachado ao meio que tem na inexistência de uma candidatura uma saída de conciliação.

Duas postulações presidenciais já foram moídas em convenções do MDB, Itamar Franco (1998) e Anthony Garotinho (2006).

Aquele que, desde já, é o maior vitorioso da desistência de Doria é o governador de São Paulo e candidato à reeleição. Rodrigo Garcia foi tornou-se vice de Doria na esteira da aliança com o DEM, partido ao qual o governador era filiado. Com esta aliança, Doria esperava pavimentar sua candidatura presidencial e Garcia, seu caminho para a titularidade no Palácio dos Bandeirantes em 2022.

A rejeição a Doria, resultante de uma liderança que sempre se colocou, ostensivamente, como o principal mentor e beneficiário de sua gestão, era tóxica. Pesquisas internas do PSDB mostravam que, mesmo entre os que aprovavam a gestão, 46% rejeitavam o apoio.

César Felício: Gesto lembra mais capitulação do que estratégia

Valor Econômico

Doria busca não deixar herdeiros com sua retirada

O ex-governador João Doria, do PSDB, se retirou da disputa com um "até breve", o que sinaliza que não pretende se retirar propriamente da política. Deixou claro, entretanto, que está fora da campanha presidencial deste ano, ou seja, não será candidato a vice e nem se propõe a ser um apoiador de ninguém. Irá se contentar, em suas palavras, em seguir como um "observador sereno". Diz que o Brasil precisa de uma alternativa aos extremos- ou seja, é contra um apoio a Lula e Bolsonaro- mas que "o PSDB saberá tomar a melhor decisão".

Não há nenhuma palavra, salvo as protocolares, em apoio ao atual governador de São Paulo e seu sucessor, Rodrigo Garcia. E muito menos qualquer indicação, aí nem mesmo protocolar, em favor da senadora Simone Tebet (MDB-MS). Ele não quer creditar mais ganhos aos maiores ganhadores de sua retirada.

Tanto Simone quanto Garcia são os maiores beneficiários naturais da saída de Doria da disputa. Garcia porque quer ficar desatrelado na disputa nacional, uma vez que não tem possibilidade de se aproximar nem de Lula e nem de Bolsonaro, cada qual com seu afilhado na disputa paulista. Simone porque acredita em uma possibilidade de receber um apoio do PSDB e do Cidadania por gravidade, por WO, na infinita novela das negociações da terceira via.

Igor Gielow: Desistência do tucano abre corrida pelo espólio do PSDB

Folha de S. Paulo

Partido deverá ser linha auxiliar de aliados e focar na disputa em SP neste ano

A implosão da candidatura do ex-governador João Doria (SP) encerra uma era no PSDB, que assistirá agora a uma luta entre seus caciques remanescentes pelo espólio daquele que já foi o partido mais importante do país.

A natureza do embate será central para o futuro da sigla, que nesta eleição tenderá a ver seu papel federal reduzido ao de linha auxiliar de aliados. Se quiser sobreviver, terá de apostar todas as fichas na manutenção de sua fortaleza paulista, que comanda desde 1995 —incluindo dois breves interregnos com vices aliados que assumiram o governo.

Símbolo do estado das coisas é o fato que essa disputa será tocada por Rodrigo Garcia, que construiu toda sua carreira no DEM, antigo PFL, e só entrou no tucanato dentro de um esquema de conveniência após o seu partido entrar em colapso no começo do ano passado.

José Álvaro Moisés*: Desistência de Doria resume colapso da terceira via e crise do sistema partidário

O Estado de S. Paulo

A desistência do ex-governador João Doria de disputar a Presidência da República, mesmo tendo vencido as prévias do PSDB, sugere uma reflexão sobre três questões importantes para a qualidade da democracia brasileira.

A primeira dialoga com o colapso da chamada “terceira via”. Ela não se constituiu em alternativa capaz de confrontar as duas candidaturas vistas como expressão de polarização negativa. Sem se desvencilhar de divisões internas, lutas de facções e de traições, os líderes da terceira via perderam um tempo precioso sem definir os seus objetivos e sem explicar a ideia de que, comprometidos com a reconstrução do País, defendem a democracia das ameaças de um dos polos em disputa. O mote de que se movem por um “bem maior” ficou devendo esforço de persuasão para convencer o eleitor mediano de que estão em jogo não interesses pessoais ou de facções, mas uma coalizão capaz de conectar a democracia com a luta pela retomada da economia, com o enfrentamento das desigualdades e, principalmente, da fome e da miséria que assolam parcelas da população. O debate ficou restrito às cúpulas dos partidos.

Carlos Pereira*: Desistência é potencial desbloqueio para a terceira via

O Estado de S. Paulo.

A desistência do ex-governador João Doria (PSDB) de concorrer à Presidência representa, antes de qualquer coisa, um potencial de desbloqueio para que os partidos da terceira via possam finalmente viabilizar uma candidatura única e alternativa à polarização entre Lula e Bolsonaro.

A despeito de seu governo virtuoso no Estado de São Paulo, a candidatura de Doria paradoxalmente não decolou eleitoralmente, perdendo viabilidade política dentro do seu próprio partido, mesmo tendo sido o legítimo vencedor de inédito processo de primárias para escolha de seu candidato à Presidência. Esta decisão traz dilemas não desprezíveis ao PSDB, que, pela primeira vez desde sua criação, pode vir a deixar de oferecer um candidato à Presidência. Isso significa abrir mão do protagonismo e dos ganhos conferidos pela trajetória majoritária. A partir de agora terá de trilhar trajetória essencialmente legislativa, como um potencial coadjuvante de um majoritário vencedor.

Eliane Cantanhêde: Fim da linha

O Estado de S. Paulo

Depois de implodirem Doria, PSDB e MDB vão queimar Simone Tebet. Em favor de quem?

Fim da candidatura João Doria, fim da candidatura Simone Tebet, fim da terceira via, fim do PSDB, fim do MDB, fim do Cidadania. Fim de uma era. O horizonte é sombrio, enquanto a esquerda faz DR (discute a relação), o centro sofre uma diáspora e setores militares extremistas projetam manter o poder até 2035 – pelo menos.

As cúpulas do PSDB e do MDB terão o mesmo discurso após a renúncia de Doria: não é o fim, é o começo de uma candidatura para valer. Mais um engodo, com o centro pulando ou no barco do ex-presidente Lula ou no colo do presidente Jair Bolsonaro.

Depois de explodir Doria, o grupo tucano que mandou as prévias às favas parte para dinamitar Simone Tebet, do MDB, alegando que ao PSDB não interessa apoiar o nome do MDB, a prioridade é ter um candidato próprio. O gaúcho Eduardo Leite vai se prestar a esse papel?

Rubens Barbosa*: As Forças Armadas e o momento político nacional

O Estado de S. Paulo

Não tenho dúvida de que, se houver qualquer quebra das regras democráticas com o apoio das FA, a reação vinda de fora será imediata.

Um ano após o ataque de apoiadores trumpistas ao Congresso dos EUA, contestando o resultado da eleição que, estimulados pelo então presidente, julgavam fraudada, um general norte-americano publicou artigo no Washington Post manifestando preocupação com o dia seguinte das eleições presidenciais em 2024 e a ameaça de divisão entre os militares, o que poderia pôr em risco a democracia no país.

Não afastando a possibilidade de contestação dos resultados da eleição e de um golpe de Estado, o militar apontou para o risco de confrontação no interior das Forças Armadas (FA) e a eventual quebra da hierarquia para respaldar essa diferente visão. Todos os militares juram respeitar a Constituição, mas numa eleição contestada, com lealdades divididas, alguns poderão seguir as ordens do comandante-em-chefe e outros, o comando trumpista. Como exemplo, mencionou a recusa da Guarda Nacional em acatar pedido do presidente Biden para que todos os seus membros se vacinassem. Com o país muito dividido, as FA e o Congresso deveriam tomar medidas para prevenir qualquer tentativa de insurreição e adotar providências cautelares, observou.

O alerta do militar norte-americano sobre a ameaça à quebra dos valores democráticos nos EUA, a partir de uma ação política das FA, não poderia ser mais atual para o cenário político brasileiro. A descrição feita pelo militar muito se assemelha a uma série de atitudes que colocam as FA brasileiras no centro do debate político nacional.

Antonio Cláudio Mariz de Oliveira*: Liberdade em risco

O Estado de S. Paulo

Contra a ruína da nossa democracia e a destruição das nossas instituições, precisamos resistir aos atentados já em marcha.

Paulo Bomfim, poeta maior, afirmou que amava tanto a liberdade que “gostaria de ter filhos com ela”. Todos nós a amamos, não sabemos bem como defini-la, mas ardorosamente a queremos. Como disse Cecília Meireles: “Liberdade – essa palavra que o sonho humano alimenta, que não há quem explique e ninguém que não entenda”.

Pois é, a liberdade individual é um sentimento, é um estado de espírito antes de ser um conceito. A sua exteriorização se dá pela conduta pessoal, pelas variadas escolhas que surgem no curso da vida, pela manifestação do pensamento, pelo exercício de direitos, pelas opções nos relacionamentos e em tantas outras situações com as quais nos defrontamos. A liberdade, no entanto, é regrada e limitada pela lei, tendo sempre a liberdade alheia como freio para o exercício da liberdade própria.

Hélio Schwartsman: O golpe de Bolsonaro

Folha de S. Paulo

Ele não tem apoio popular para um golpe 'new style'

Bolsonaro vai tentar dar um golpe? Pergunta errada. O presidente já está fazendo o que pode para conturbar e eventualmente desconsiderar o processo eleitoral, o que configuraria uma ruptura constitucional, a mais simples e incontroversa definição de golpe. A indagação cabível, portanto, não é sobre se haverá ou não tentativa, mas sobre as chances de sucesso da empreitada, que me parecem baixas, mas não nulas.

Ao menos nos países mais relevantes, golpes clássicos, daqueles em que generais põem os tanques nas ruas e entronizam alguém próximo à caserna, saíram de moda. Foram substituídos pelos golpes "new style", em que um líder populista chega legitimamente ao poder e, lá instalado, passa a carcomer a democracia de dentro, debilitando as instituições encarregadas de controlá-lo e ampliando a sua capacidade de mando.

Joel Pinheiro da Fonseca: A democracia depende de Lula?

Folha de S. Paulo

Votar no petista no primeiro turno em nada diminuiria as chances de um golpe

Com a desistência de João Doria, as opções vão se afunilando. Não é um bom momento para ser de "terceira via". Ridicularizados por todos os lados, apoiadores de candidatos sem voto. O único motivo para continuar nesse campo é a crença num Brasil melhor. E, mesmo assim, não falta quem tente nos assediar a optar por um dos dois líderes das pesquisas.

Vozes imperativas vêm do lado petista, decretando que esta eleição é um plebiscito sobre a democracia. "Quem não votar em Lula já no primeiro turno não liga para a democracia". E não são só militantes do PT ecoando esse discurso. Há pessoas de centro e até liberais.

O argumento dos que defendem voto em Lula "pela democracia" é o seguinte: Bolsonaro é um autoritário disposto a dar um golpe se perder. Lula é o favorito para vencer nas urnas. No entanto, se essa vitória se der em segundo turno, aumentam as chances de Bolsonaro conseguir arregimentar sua base e as Forças Armadas para dar o golpe.

Cristina Serra: Milícias invadem a floresta

Folha de S. Paulo

Não há o que celebrar diante da violência que os yanomamis voltam a enfrentar

Este 25 de maio assinala os 30 anos da homologação da Terra Indígena Yanomami, em Roraima. Sob forte pressão internacional e às vésperas da realização da Conferência da ONU sobre Meio Ambiente, a Eco-92, no Rio de Janeiro, o então presidente Collor garantiu o território aos yanomamis, acossados por uma "corrida do ouro", nos anos 1980, que quase os levou ao extermínio.

A data deveria ser motivo de comemoração porque foi também um marco na mudança da relação do Estado brasileiro com os povos indígenas, a partir da Constituição de 1988. Mas não há o que celebrar diante da violência que a etnia volta a enfrentar, em inédita intensidade.

Andrea Jubé: Space-X lança satélites brasileiros ao espaço

Valor Econômico

Satélite é sistema de “inteligência”, não de “vigilância”

Cinco dias após a reunião de Elon Musk, homem mais rico do mundo, com o presidente Jair Bolsonaro, ministros, autoridades militares, e empresários brasileiros, a Space-X -- empresa de desenvolvimento e lançamento de foguetes do bilionário -- lançará ao espaço dois satélites-radar de sensoriamento remoto (SRR), que integram o Projeto Lessônia, da Força Aérea Brasileira (FAB).

O acontecimento não tem ligação direta com o “início de namoro” do governo brasileiro com o bilionário, na expressão utilizada por Bolsonaro, porque a escolha de um foguete da Space-X para o lançamento partiu da fabricante dos satélites, a finlandesa Iceye.

Em contrapartida, não se pode minimizar o esforço conjunto de autoridades militares e civis dos governos brasileiro e finlandês para viabilizar o lançamento já nesta quarta-feira.

Daniela Chiaretti: Biodiversidade: o tema que pode implodir tudo

Valor Econômico

Os impasses na negociação internacional sobre biodiversidade parecem longe de serem dissolvidos

Há cheiro de Copenhague no ar. Com o perdão aos dinamarqueses, a expressão é usada em negociações ambientais internacionais quando o caldo está com jeito de querer entornar. A referência é o fiasco da COP15, a conferência climática das Nações Unidas que ocorreu em Copenhague, em 2009, e onde se tinha a expectativa de o mundo conseguir fechar um acordo de proteção ao clima. Deu tudo errado e a história daquele inverno é conhecida - por sorte e com muito trabalho, o Acordo de Paris surgiu na França, seis anos depois. Pois as rodadas internacionais que preparam a conferência de Kunming, na China, só exibiram até agora desacordo entre as delegações das mais de 190 nações que tentam se acertar em torno a uma agenda global de proteção à biodiversidade. Não está dando certo.

A pandemia não ajudou, claro. A última reunião de negociação presencial sobre este tema foi em fevereiro de 2020, em Roma. Depois se tentou avançar com reuniões virtuais, mas só quem conseguia ouvir algo eram os delegados de países ricos com computadores e internet decentes - os dos países pobres e megadiversos participavam em modo randômico. As negociações retomaram fisicamente em Genebra, em março. Avançaram milimetricamente.

Mirtes Cordeiro*: Escola domiciliar… o Congresso em seu mundo de fantasia

  • Por que fazer uma emenda à Constituição se apenas 7,7% dos gestores municipais deixaram de cumprir o preceito constitucional? Convém saber que apenas 14% dos deputados federais votaram contra a emenda.

O Brasil vem enfrentando graves problemas relacionados à educação pública que atende cerca de 47 milhões de alunos no ensino básico, a partir dos quatro anos de idade.

Os indicadores estão aí para comprovar a ineficiência no processo de ensino aprendizagem, gerenciado por sistemas educacionais municipais e estaduais agregados e viciados às políticas eleitorais populistas e demagógicas ora vigentes no país, com recursos via de regra desviados de suas funções e professores com formação precária e mal pagos, embora cercados por órgãos fiscalizadores, a começar pelos conselhos do FUNDEB municipais e estaduais, tribunais de contas.

Não bastasse o descaso com a educação das crianças, adolescentes e jovens, que já vem de longe, o Congresso Nacional aprovou uma Emenda à Constituição, ou seja, uma PEC, em 27 de abril deste ano, “que livra de punição os gestores estaduais e municipais que não cumpriram o mínimo constitucional em investimento em educação em 2020 e 2021, em razão da pandemia”. (G1)

A Constituição estabelece que estados, o Distrito Federal e municípios devem aplicar, no mínimo, 25% da receita resultante de impostos na manutenção e desenvolvimento do ensino.

Aylê-Salassié Filgueiras Quintão*: Os sem pátria: Wir sind Ilegal überall

À sombra da invasão da Ucrânia pela Rússia, teve início, na Suíça, o Fórum Econômico Mundial de Davos, reunindo lideranças políticas, empresariais e intelectuais do mundo, entre elas cinquenta chefes de Estado. A recuperação econômica da Ucrânia - ainda em fase de destruição - é um dos principais temas a serem abordados. 

Mas, não fica explicito a intenção de discutir uma solução para o reassentamento dos quatro milhões de civis vitimados pela ação militar russa, e refugiados nos países vizinhos. 

A necessidade da discussão de uma   política de emigração para o planeta torna, a cada dia, mais premente. Aumenta a olhos vistos o fluxo de pessoas, sem eira nem beira, com raízes culturais distintas em movimento pelo mundo. Cerca de 175 milhões de pessoas vivem fora das regiões de origem. Em sua maioria, são civis expulsos por guerras fratricidas nos próprios países. A questão é, portanto, emergente, e faz aflorar aspectos ainda pouco conhecidos.  Em terra estranha, e no processo de adaptação domiciliar, esses imigrantes geram problemas inesperados e graves para aqueles que os acolhem solidariamente. 

Neste texto, vamos esticar um pouco a corda mas, na verdade, não precisamos ir muito longe, porque os problemas da imigração começam a bater nas costas do Brasil.  O Paraguai vem registrando um número pouco comum de imigrantes alemães. Às margens do rio Paraná, consideradas as terras mais férteis do país foram instalados núcleos de imigrantes alemães chamados de Hohenau, Obligado e Bella Vista, reconhecidos por todos como “As Colônias Unidas”. 

O que a mídia pensa: Editoriais / Opiniões

Editoriais

Ação entre amigos

O Estado de S. Paulo

Compra superfaturada de caminhões de lixo é o mais novo capítulo dessa singular parceria entre Bolsonaro e o Centrão. O que pensa o procurador-geral da República?

A conjunção de um presidente incapaz, uma grei de parlamentares oportunistas e um procurador-geral da República que não demonstra ter gana para cumprir o papel que a Constituição lhe reserva criou esse ambiente singular no qual vultosos recursos do Orçamento são usurpados à luz do dia para financiar ambições estranhas ao interesse público praticamente sem reação. Poucas vezes em nossa história republicana foi tão fácil para uma plêiade de políticos indignos de seus mandatos malversar recursos públicos. Vedações legais, imperativos morais ou espírito público parecem meros detalhes incapazes de fazê-los perder algumas horas de sono que sejam.

O jornalismo profissional e independente tem feito a parte que lhe cabe para a construção de uma sociedade democrática, vale dizer, uma sociedade informada, livre e participativa. Nos últimos três anos e meio, só o Estadão revelou mais escândalos de corrupção do que o governo que se jacta de ter “acabado com a corrupção” em Brasília teria coragem de admitir. A rigor, antes mesmo de Jair Bolsonaro tomar posse como presidente da República este jornal já havia revelado ao País o esquema das “rachadinhas”, lançando luz sobre as suspeitas de peculato, lavagem de dinheiro e enriquecimento ilícito que recaem sobre o filho mais velho do presidente, o senador Flávio Bolsonaro, e o “faz-tudo” do clã, o notório Fabrício Queiroz.