quinta-feira, 2 de junho de 2022

Merval Pereira: Questão de prioridades

O Globo

Quando o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira, anunciou que “apertaria” o governo federal para que adotasse uma política de subsídio a fim de tentar reduzir o preço dos combustíveis ao consumidor final, estava dado o sinal de que as prioridades de deputados, e certamente senadores, às vésperas das eleições de outubro são relacionadas a atos populistas que nada têm a ver com políticas públicas ou programas de governo.

Segundo Lira, a medida é “importante, todo mundo está fazendo. Os governos dos países mais avançados estão dando subsídio para a alta dos combustíveis, que é um problema mundial e interfere na vida de qualquer brasileiro”. Ele apenas não lembrou que o governo brasileiro já teve um programa de incentivo ao etanol e, se tivesse seguido em frente, poderíamos hoje ter um combustível menos poluente a preços mais baixos, pois não dependeríamos do preço do barril de petróleo no mercado internacional.

Ao contrário, já poderíamos ter uma produção de etanol que ganharia o mercado internacional. Os carros flex, uma inovação que já estava bastante avançada no Brasil, agora ganham escala internacional na indústria automobilística. O presidente da Toyota apresentará ao presidente Bolsonaro as novidades de sua companhia, entre elas um carro flex, além de um elétrico. Essa nossa defasagem tecnológica num campo em que éramos pioneiros, com abundância de terra para plantar cana-de-açúcar, não é culpa de Bolsonaro, é verdade.

Malu Gaspar: A garantia sou eu

O Globo

Os resultados da última pesquisa Datafolha produziram efeitos importantes sobre a corrida eleitoral. Um deles foi a desorientação do núcleo político de Jair Bolsonaro.

Antes de o levantamento mostrar que, se as eleições fossem hoje, Luiz Inácio Lula da Silva poderia ganhar no primeiro turno, Ciro Nogueira, Arthur Lira e Paulo Guedes marchavam juntos para trocar a direção da Petrobras, estabelecer um teto para o ICMS dos combustíveis e ter uma desculpa para dizer, nos palanques, que fizeram todo o possível para derrubar a inflação.

Nos bastidores, Guedes comemorava a adesão dos chefes do Congresso a sua proposta de lidar com a crise sem ter de recorrer a subsídios do Tesouro. Veio o Datafolha, e o jogo virou. Lira, Nogueira e outros líderes do Centrão agora informam que a estratégia do ministro da Economia está errada e que, se ele continuar nessa toada, acabará ajudando a eleger Lula.

Ao mesmo tempo, Bolsonaro passou a dizer que não vai aos debates no primeiro turno, numa demonstração de que não vê vantagem em se expor à discussão pública sobre o próprio governo. Seria esperado se estivesse na frente nas pesquisas, e não num distante segundo lugar.

Esses movimentos facilitam o jogo para Lula, que se sente à vontade para também não expor a própria proposta. Numa entrevista na terça-feira aos jornalistas Sérgio Stock e Guilherme Macalossi, da Rádio Bandeirantes de Porto Alegre, o petista foi questionado diversas vezes sobre seu plano econômico.

Míriam Leitão: A crise atual numa visão de esquerda

O Globo

Vai custar pelo menos R$ 100 bilhões pagar os atrasados que o governo Bolsonaro está jogando para o ano que vem. É o que acha o economista Nelson Barbosa, que foi ministro do Planejamento e da Fazenda do governo Dilma. Ele define a economia do atual governo como um “show de improviso”. Acredita que o número a ser divulgado nesta quinta-feira, do PIB do primeiro trimestre, será positivo, mas que isso não se sustenta. Barbosa conta que economistas do PT têm se reunido para preparar um plano, e ele participa, mas “não há um cacique”.

— O PIB vem forte hoje e o desemprego caiu. Esse é o lado bom, o copo meio cheio. Mas o copo também está meio vazio porque essa recuperação não tem fôlego. Com a desaceleração da pandemia, a economia finalmente reabriu e o setor de serviços se recupera. Isso só acontece uma vez, você não reabre todo trimestre. Não dá para comemorar porque o resultado não é sustentável.

Na visão dele, em entrevista que me concedeu na Globonews, o choque é externo, mas foi agravado internamente:

— É preciso ter um plano de reconstrução. A covid vai deixar sequelas econômicas e sociais. Do lado da política econômica há um show de improviso. O governo não tinha plano para o pós-covid, nem para lidar com a volatilidade de preços de energia e combustível.

Ele é a favor da redução do ICMS sobre alguns bens e serviços, mas dentro de uma reforma tributária:

William Waack: Passado imaginário e futuro distante

O Estado de S. Paulo

A intuição política de Lula e de Bolsonaro domina as respectivas campanhas

Talvez os marqueteiros consigam encontrar a “faísca” para as campanhas, mas Lula e Bolsonaro se dedicaram até aqui à improvisação. As falas dos dois líderes nas pesquisas seguem, por enquanto, aquilo que cada um acha que funciona, e são dirigidas sobretudo aos já convertidos. Obedecem claramente às respectivas intuições.

Curioso notar que dentro das duas campanhas há dúvidas sobre a eficácia das falas de ambos, tidos pelos respectivos seguidores como infalíveis. Os profissionais da política no Centrão queixam-se de que os ímpetos antidemocráticos por parte de Bolsonaro não estão trazendo benefícios eleitorais. Mesmo considerando o fato de que acusar o STF de impedi-lo de governar, e de favorecer o adversário, encontre forte ressonância muito além do bolsonarismo raiz.

Bruno Boghossian: Direita tradicional paga o preço do ciclo de ascensão de populistas

Folha de S. Paulo

Saúde do PSDB mostra o risco que correm os políticos desbancados por nomes como Bolsonaro

A direita tradicional não pensou duas vezes quando as urnas mostraram que ela estaria fora do segundo turno na Colômbia. Ao fim da apuração, o derrotado Fico Gutiérrez anunciou que apoiaria o populista Rodolfo Hernández, numa aliança para derrotar a esquerda. "Não queremos perder o país", argumentou.

Com anos de atraso, os colombianos experimentam um fenômeno que marcou a política de outros países. Perdendo espaço, a direita moderada deu apoio a líderes populistas na esperança de deixar a esquerda longe do poder. Em vez de preservar força, os grupos tradicionais acabaram substituídos como protagonistas em seu campo político.

O comportamento da direita tradicional no Brasil evidencia os riscos desse jogo. Antes da última corrida presidencial, Jair Bolsonaro ocupou territórios eleitorais que pertenciam a partidos como PSDB e DEM. Desesperados, políticos ligados a essas siglas tentaram se agarrar ao candidato radical que tinha chances de vencer a disputa contra a esquerda.

Conrado Hübner Mendes*: O Jair em nós

Folha de S. Paulo

Quando nada acontece, há uma violação de direitos que não estamos vendo

Quem vive na rua em São Paulo sabe que seus pertences de subsistência podem lhe ser retirados à força. Colchões, cobertores, barracas, ração do cachorro, até documento de identidade. Não por ato criminoso comum, mas pelo poder público. O cinismo jurídico chama a operação de "zeladoria urbana", serviço incumbido de podar árvores, limpar bueiros, varrer ruas. No meio da sujeira havia uns humanos.

Funcionários uniformizados e guarda metropolitana, sem mediação da assistência social, sem maiores avisos ou identificação à vista, diante de qualquer resistência, costumam começar pela agressão verbal e terminar com a física. Removidas as pessoas, dão esguichada precária no local, que permanece sujo e mal cheiroso. Limpeza cumprida.

Há muitos registros da violência feitos pela Defensoria Pública de São Paulo, pela Clínica de Direitos Humanos Luiz Gama, da USP, e outras organizações. O padrão histórico continua apesar da tentativa de regulação por decretos municipais que exigem o básico: comunicação prévia, proibição de retirada de pertences pessoais, etc.

Vinicius Torres Freire: Estelionato eleitoral e impostos

Folha de S. Paulo

Congresso prepara medidas eleitoreiras e mudanças improvisadas em impostos. No fim, a conta cai no couro dos pobres de um país que parou de crescer

Até o final da semana, podem aparecer umas contas de dezenas de bilhões de reais para governo federal, estados e municípios. Como e quem vai pagar? No ano que vem a gente pensa nisso. Não importa se aparecer de novo governo estadual ainda mais quebrado, se não houver dinheiro para renda mínima para pobres, se a ciência e as universidades forem de vez para a lata de lixo ou coisa ainda pior.

O Congresso está em fúria legiferante tributária como poucas vezes se viu em período de "esforço concentrado", quando se aprovam baciadas de leis pouco antes de campanhas eleitorais. Tem de tudo, em geral medida aloprada, incompetência e favores —e até mesmo coisa que pode prestar.

Estão em discussão:

Cristiano Romero: Fracasso é obra e não azar

Valor Econômico

Tudo dá errado desde 2011 porque estruturas não são democráticas

Depois de viver momento quase mágico entre 2004 e 2010, o Brasil acumula fracassos há mais de uma década em vários setores da vida nacional. Em 2010, estávamos relativamente felizes porque, depois de muita peleja, tudo indicava que, depois de 25 anos desde o início da Nova República, marco histórico da redemocratização, havíamos conquistado finalmente a estabilidade política e econômica. E mais: começamos a distribuir renda e a diminuir a desigualdade social que nos caracteriza como sociedade desde sempre.

Os pessimistas estavam certos. A estabilização econômica, em 2010, estava incompleta, afinal, há algo de profundamente errado quando o governo paga juro superior a 14% ao ano para se financiar. O governo Lula (PT), depois de surpreender positivamente na área econômica ao longo de seis anos, plantou, nos dois últimos (2009 e 2010), a semente do que, mais tarde, contribuiu para iniciar a desconstrução do modelo macroeconômico que funcionou razoavelmente bem durante 12 anos.

Não se obtém sucesso com sorte e que tal. Também o fracasso não é obra do acaso. O governo Dilma Rousseff deu uma guinada na política econômica da gestão anterior que vinha agradando à maioria da população e, em última instância, foi responsável por eleger e reeleger a então presidente. No rastro da Grande Recessão de 2014-2016, tragédia que nos subtraiu quase 8% do Produto Interno Bruto (PIB) e mais de 10% da renda per capita, além de nos condenar a uma trajetória recuperação lenta e medíocre, originou-se a polarização política e, na sequência, a instabilidade política, capaz de levar muitos a acreditarem que nossa jovem democracia esteja realmente em xeque neste momento.

Maria Cristina Fernandes: Pobres contra Bolsonaro

Valor Econômico

Com ódio, fome e pressa, o Brasil emparedou o bolsonarismo e o deixou sem saída à vista

Os mais pobres declararam oposição ao governante de plantão. Nunca o haviam feito de maneira tão acachapante a esta altura da campanha. Bolsonaro conseguiu ganhar em 2018 sem o voto majoritário deles. Feito inédito. O problema é que, ao aumentar a pobreza do país que governou, o próprio presidente colocou tijolos a mais no muro que agora parece intransponível. Com ódio, fome e pressa, o Brasil emparedou o bolsonarismo. Cedo demais?

Aos números - do Datafolha, que permite a comparação desde 2002, e com a intenção de votos espontânea, a menos poluída de todas. É quando o eleitor, sem pegadinhas e listas por ordem alfabética ou escalafobética, responde de bate pronto em quem vai votar. Nesta última rodada, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem 38% e o presidente Jair Bolsonaro, 22%. Nunca houve, nos últimos 20 anos, uma rodada do instituto que tenha detectado uma intenção de voto espontânea tão polarizada - e tão alta para o líder - a esta altura do campeonato.

O eixo que divide os dois polos é renda. E isso não poderia estar mais claro. Entre aqueles que ganham até dois salários mínimos, Lula vai a 43% e Bolsonaro cai para 15%. Está melhor que em 2018, quando tinha metade disso entre os mais pobres no início de junho. O problema, para Bolsonaro, é que o PT está muito melhor.

Para Aníbal, fala de Lula atrapalha o diálogo

Aliado de Eduardo Leite, ex-presidente do PSDB quer disputar o Senado por SP, mas enfrenta resistência de Rodrigo Garcia

Por Cristiane Agostine / Valor Econômico

SÃO PAULO - Ex-presidente do PSDB, o ex-senador José Aníbal criticou ontem a declaração do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva de que seu partido “acabou”. Aníbal afirmou que a fala de Lula atrapalha qualquer tipo de negociação por apoio de tucanos e reforçou: “Eleição não se ganha de véspera”.

“Quem quer conversar não decreta o fim do seu interlocutor”, disse. “Nem procurou o PSDB para conversar e já diz que o partido acabou. Lula tem que se acautelar. Eleição não se ganha de véspera.”

Aníbal é um dos tucanos históricos citados por Lula para um possível diálogo em busca de apoio já no primeiro turno da eleição presidencial. Na semana passada, em reunião da coordenação-geral de sua pré-campanha, Lula teria citado nominalmente Aníbal como alguém que pretende procurar para conversar, segundo o relato de participantes.

Com a desistência do ex-governador tucano João Doria de concorrer à Presidência, o PT tenta manter um canal aberto com o PSDB. Dias atrás, o ex-senador tucano Aloysio Nunes declarou voto em Lula já no primeiro turno. A manifestação, em entrevista ao jornal “O Estado de S. Paulo”, ocorreu antes de Doria desistir.

PSDB volta a adiar decisão sobre Tebet

Tucanos marcam reunião um dia antes para pressionar MDB a apoiar seus candidatos a governador

Por Marcelo Ribeiro e Raphael Di Cunto / Valor Econômico

BRASÍLIA - Os dirigentes de PSDB, MDB e Cidadania definiram a próxima quarta-feira como prazo final para que as legendas decidam sobre eventuais alianças estaduais. Os acertos podem ser determinantes para que o PSDB bata o martelo um dia depois sobre o possível embarque na pré-candidatura de Simone Tebet (MDB-MS) à Presidência da República.

O encontro foi marcado pelo presidente do PSDB, Bruno Araújo, após pressão de aliados para que a definição ocorra logo. O PSDB está sem candidato próprio desde que o ex-governador de São Paulo João Doria (PSDB) anunciou na semana passada que desistia de concorrer por não ter apoio na cúpula da sigla.

A reunião para decidir o apoio a Tebet seria na semana passada, foi remarcada para amanhã e agora adiada para quinta-feira, dia 9, às 11h. Secretário-geral do PSDB, o deputado Beto Pereira (MS) afirmou que a indicação hoje é de que o partido declarará apoio a pré-candidatura da emedebista. “Vamos fazer essa manifestação favorável a senadora Simone Tebet e, paralelamente, estamos construindo uma tentativa de união”, afirmou.

Eugênio Bucci*: Amantes tardios

O Estado de S. Paulo

As ‘capas promocionais’ atentam contra os velhos bons costumes da imprensa, mas tomara que compensem.

No domingo, este respeitável matutino chegou aqui em casa com uma sobrecapa publicitária. Você sabe do que estou falando: uma folha de publicidade encobre a primeira página do jornal; no lugar onde deveriam estar as notícias mais importantes do dia, só o que se vê é um anúncio. Vem acontecendo muito isso ultimamente.

Antes, seria impensável. A simples hipótese de que uma propaganda pudesse acarpetar toda a primeira página despertaria a fúria da redação. Fotógrafos, repórteres e editores – sem falar nos contínuos, nos office boys, no pessoal da gráfica e nos donos – se dariam por ofendidos em seu brio profissional. “Onde já se viu?”, eles se aprumariam. “A nossa primeira página não está à venda!”

Agora, é normal. Vira e mexe, ao tirar o exemplar do Estadão do saquinho plástico (azulzinho ou amarelo), a gente dá de cara com essa primeira página não jornalística, uma primeira página mercadológica. Um carimbo, no canto superior esquerdo, com letras vermelhas, maiúsculas e oblíquas, cuida de prevenir o público: “CAPA PROMOCIONAL”. No cabeçalho, até parece uma primeira página comum; lá está o logotipo em azul escuro, ou quase escuro, e lá estão também a data, o ano de fundação do periódico secular e o cavalinho em cinza com o arauto que, no século 19, trombeteava as novidades. Do cabeçalho para baixo, no entanto, é tudo diferente: no lugar das manchetes, a mercadoria domina cada centímetro quadrado.

Roberto Macedo*: Fragmentação política e políticas públicas

O Estado de S. Paulo

Para Marcos Mendes, o atual sistema político-eleitoral é o principal fator por trás do fracasso dessas políticas.

Marcos Mendes é um economista de destaque entre seus pares e tem recebido merecida atenção da mídia, como neste jornal e na Folha de sábado passado, ao lançar outro livro. Tem graduação e mestrado em Economia pela Universidade de Brasília e doutorado na mesma área pela Universidade de São Paulo (USP). É consultor legislativo do Senado Federal – cargo obtido por concurso público –, e tem se afastado para exercer outras atividades da sua área de interesse, finanças públicas. Em 2016, no governo Temer, tornou-se assessor especial do ministro da Fazenda.

Seu livro mais conhecido é Por que é difícil fazer reformas econômicas no Brasil? (Elsevier, 2019). Adotei-o como livro-texto do curso de Economia Brasileira que atualmente leciono na USP. Fui atraído pela pergunta que intitula o livro, pois sei dessa dificuldade, procurando entendê-la e buscar soluções, conforme se depreende de artigos meus neste espaço.

O livro começa examinando a dificuldade de que trata seu título, inclusive internacionalmente, ao abordar exemplos de vários países, como Índia e México. Dedica um capítulo à coesão social, cuja ausência dificulta o processo de reforma, no que examina o caso da Austrália.

George Gurgel de Oliveira*: O Brasil e a escravidão: os desafios históricos continuam atuais

Devemos aproveitar ainda o mês de junho para uma reflexão sobre o presente e o passado da sociedade brasileira em relação à história da escravidão, das condições do processo de libertação em 13 de maio de 1898 e a realidade da população negra hoje no Brasil.

Saber como se desenvolveu e os fundamentos da escravidão no País, assim como o processo de libertação da escravatura até à atualidade, são desafios para avançarmos e superarmos a difícil realidade que vivem os negros ainda hoje no Brasil.

As lutas de libertação e a abolição da escravatura 

A escravidão africana, até meados do século XIX, era um dos fundamentos da vida econômica na América e na Europa. Fazia parte da estrutura das relações políticas, econômicas e sociais; base de acumulação de riqueza dos países da Europa, inclusive da Inglaterra, berço da revolução industrial.  A mão de obra escrava foi o fundamento da economia colonial na América, como as máquinas da primeira revolução industrial foram primordiais no desenvolvimento capitalista, a partir do século XVIII na Europa.

A cultura do racismo nasce como uma maneira de exclusão dos povos africanos da vida e das conquistas da sociedade humana, durante o século XV, deixando marcas profundas até à atualidade. Desde então, a escravidão passou a ser diretamente relacionada aos povos africanos, como uma maldição, a partir de uma visão cultural e religiosa eurocêntrica nas colônias da América, na Europa e no próprio continente africano. O Brasil foi o país de maior concentração de escravos africanos do mundo. Chegou a uma população de 5 milhões deles ao longo de mais de 300 anos em que perdurou a escravidão negra no Brasil.

O escravagismo na América já tinha precedentes no continente e, com a chegada de Cristóvão Colombo, em 1492, iniciou-se um massacre e a escravização destas populações indígenas, em todo o continente americano, inclusive no Brasil, a partir da colonização portuguesa.

Até o inicio do século XIX, os colonizadores portugueses mataram, a cada 100 anos, em torno de 1 milhão de indígenas através de guerras de extermínio, doenças e enfermidades trazidas com a colonização europeia. Dos 4 milhões de índios existentes na chegada de Pedro Álvares Cabral, a população indígena foi reduzida a menos de 1 milhão de pessoas no início do século XIX, quando a família real chegou ao Brasil.

O que a mídia pensa: Editoriais /Opiniões

Editoriais

Lei que impõe teto ao ICMS não passa de demagogia

O Globo

É uma infeliz ironia que o Congresso esteja tão empenhado em votar o Projeto de Lei que impõe um teto ao Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) cobrado de energia e combustíveis, enquanto segue a passo de tartaruga a Proposta de Emenda Constitucional 110 (PEC 110), que estabelece uma reforma tributária abrangente, unificando o mesmo ICMS e outros tributos para criar um imposto dual e equilibrar demandas da União e dos entes federativos.

Para o governo, porém, a extensa negociação que resultou na PEC 110 e daria um passo fundamental para trazer alguma racionalidade ao inferno tributário brasileiro é irrelevante diante da necessidade de tomar qualquer medida demagógica para segurar o preço dos combustíveis, do gás e da luz elétrica. De olho nas eleições de 2 de outubro, o Congresso está prestes a criar mais um remendo injustificável no já convoluto emaranhado de impostos.

Na semana passada, a Câmara aprovou o texto que estabelece um limite de 17% a 18% ao ICMS cobrado de combustíveis, gás, energia elétrica, comunicações e transporte coletivo. De forma atabalhoada, o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), promete levar o projeto direto ao plenário para a votação, enquanto a apreciação da PEC 110 foi adiada ontem de novo na Comissão de Constituição e Justiça.