terça-feira, 20 de setembro de 2022

Pesquisa Ipec: Lula lidera disputa presidencial com 47% dos votos a duas semanas da eleição; Bolsonaro marca 31%

Distância entre candidatos oscilou de 15 para 16 pontos. Ciro soma 7%, e Tebet tem 5%

Por O GLOBO

Rio - A duas semanas das eleições, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) segue à frente em intenções de voto com 47% no primeiro turno. Segundo nova pesquisa do Ipec divulgada nesta segunda-feira pela TV Globo, o presidente Jair Bolsonaro (PL) tem apoio de 31% dos eleitores. O ex-ministro Ciro Gomes (PDT) aparece com 7%, enquanto a senadora Simone Tebet (MDB) tem 5% dos votos.

A distância entre Lula e Bolsonaro, que era de 15 pontos percentuais há uma semana e de 12 pontos há duas, agora está em 16 pontos. O petista oscilou um ponto para cima pela segunda vez, após ficar estagnado entre meados de agosto e o início de setembro com 44% dos votos, o que deve reforçar o investimento de sua campanha na conquista do voto útil na reta final. Já Bolsonaro continuou com o mesmo índice de votos das últimas duas pesquisas.

Tebet também oscilou um ponto para cima, enquanto Ciro permanece com a mesma proporção. Os dois estão tecnicamente empatados dentro da margem de erro, que é de dois pontos, mas seguem distantes dos primeiros colocados, em um momento em que tentam conter os acenos de Lula a seus eleitores.

Vera Magalhães - Restam poucas cartas na manga para Bolsonaro reverter rejeição

O Globo

O que a última pesquisa Ipec mostra é que houve uma leve melhora de Jair Bolsonaro (PL) em vários indicadores até 29 de agosto, mas as ações e o histórico do presidente parecem ter neutralizado, desde então, os muitos esforços para torná-lo competitivo eleitoralmente e reverter sua rejeição.

A estagnação da lenta melhora de Bolsonaro se deu depois do até aqui único debate presidencial de que participaram ele e o líder nas pesquisas, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), no qual o presidente deixou a estratégia de associar o petista à corrupção de lado para atacar mulheres — jornalista e candidatas.

Desde então, outros reveses se apresentaram para a campanha à reeleição do presidente. Aa despeito da redução dos preços dos combustíveis, tão alardeada, se mantém alta a inflação de alimentos.

Bolsonaro apostou tudo no aumento de 50% do Auxílio Brasil e prometeu manter o benefício, mas mandou o Orçamento ao Congresso sem garantir o valor; além disso, outros programas sociais como Farmácia do Povo e Casa Verde e Amarela tiveram cortes de recursos.

Sergio Augusto de Moraes, Alfredo Maciel da Silveira* - 1º ou 2º Turno?

Blog Democracia e Socialismo

As pesquisas eleitorais reconhecidamente têm algum efeito significativo na conduta dos eleitores às vésperas das eleições. Em 2018 isto ficou claro com a migração espontânea das intenções de votos em Marina e Alckmin para os dois primeiros colocados nas pesquisas, Haddad e Bolsonaro, podendo ter beneficiado também a Ciro, então terceiro colocado. 

Nas urnas, conforme o registrado no TSE, Marina e Alckmin a tal ponto “derreteram” que ela foi ultrapassada por Cabo Daciolo, tendo este por sua vez praticamente empatado com Alckmin.

Esse movimento de migração espontânea de votos às vésperas da eleição provavelmente estará operante agora em 2022. Mas há fatos novos. A flagrante ameaça fascista representada por Bolsonaro, tornou-se muito mais ostensiva após os quatro anos da barbárie que vivenciamos. 

Merval Pereira - Voto envergonhado

O Globo

A desorganização estrutural de nossos partidos, está transformando esta eleição presidenciável em geleia geral

A nova pesquisa Ipec trouxe ânimo para a campanha de Lula, renovando as esperanças de ganhar no primeiro turno. Há ainda uma novidade que as pesquisas escondem e pode mudar o resultado: o surgimento do voto envergonhado em Lula. A pesquisa Ipec está se aproximando de constatar que há cerca de 4% de eleitores que declaram voto indeciso ou nulo, mas votam em Lula quando o tablet do pesquisador é deixado em suas mãos para que escolha o candidato sem ser observado.

Um perigo para os lulistas é a abstenção, especialmente por receio da violência. Se Bolsonaro for para o segundo turno com uma diferença menor para Lula que a estimada pelos maiores institutos, como DataFolha e Ipec, será motivo para que alimente a narrativa de que foi montado um esquema para impedir sua vitória. Mais um mês de campanha fará com que Bolsonaro possa alimentar a esperança de virar o resultado.

A desorganização estrutural de nossos partidos está transformando esta eleição presidencial numa geleia geral sem sentido que não seja o imediatismo dos interesses políticos. Com a controversa polarização entre o ex-presidente Lula e o presidente Bolsonaro, que indica uma espécie de volta ao passado, esfacelou-se a lógica programática dos partidos, se é que algum dia a maioria deles teve alguma.

Carlos Andreazza - O golpe é o orçamento secreto

O Globo

Provocado pelo trabalho do repórter Breno Pires, li o relatório do TCU sobre a prestação de contas da Presidência da República em 2021. O documento foi aprovado por unanimidade pelos ministros da Corte de contas. Traz a mais completa explicação técnica de por que a emenda do relator, fachada para o orçamento secreto, é multiplamente inconstitucional.

Se já havia razões para declarar a inconstitucionalidade do bicho, com esse parecer o Supremo — se não quiser desrespeitar seu papel na República — tem obrigação de agir imediatamente. Ao listar cada uma das afrontas à Constituição, o relatório oferece fundamentação para que o STF desmonte o verdadeiro golpe.

É urgente. O golpe — aquele rompedor — é o orçamento secreto.

Ao mesmo tempo presidente do Supremo e relatora das ações que questionam o dispositivo, Rosa Weber, diante do ali exposto, não pode esperar eleição. Não há tempo para acomodação política. A emenda do relator mina a impessoalidade e a equidade progressivamente. Agora, em meio à campanha eleitoral, estão em curso empenhos de emendas do orçamento secreto — mais um movimento de imposição autoritária contra a paridade de armas na peleja por votos.

Eliane Cantanhêde - Falta de decoro

O Estado de S. Paulo

Em vez de passar por ‘estadista’, Bolsonaro ratificou sua péssima imagem internacional em Londres

“Errar é humano, repetir o erro é burrice.” Pois o presidente Jair Bolsonaro repetiu no funeral da rainha Elizabeth, em Londres, os mesmos erros que cometeu no bicentenário da Independência, em Brasília e Copacabana. Joga fora, assim, o trunfo de reunir dezenas de apoiadores na capital do Reino Unido, como jogou o de atrair multidões gigantescas no 7 de Setembro.

Além de recursos, agentes e prédios públicos, Bolsonaro usou a festa nacional e o funeral da rainha para fazer campanha e comício. O povo não é bobo, vê e desaprova. O que fica da viagem é a foto, inacreditável, do presidente do Brasil com um sorrisão ao cumprimentar o rei Charles, filho da rainha morta. Rindo no velório? Como se fosse uma festa? É falta de decoro, de compostura, de elegância. De matar de vergonha.

E esse presidente do Brasil pegou o braço do rei, como num abraço de velhos amigos, tomando chope no bar da esquina. Qualquer secretário do Itamaraty, ou aspirante a diplomata de qualquer país, sabe que não se toca em reis e rainhas e não se ri alegremente em velório – aliás, nem de reis nem de plebeus.

Míriam Leitão - Marinha contra o almirante

O Globo

Forças Armadas aceitam indisciplina de ativos se forem bolsonaristas, mas atingem inativo por ter dado opinião contrária ao atual governo

A Marinha puniu com um Processo Administrativo Disciplinar (PAD) o contra-almirante Antonio Nigro por ter me dado uma entrevista na Globonews. Ele é reformado, portanto, não recai sobre ele nada do regramento que cabe aos da ativa ou mesmo aos da reserva remunerada. Mesmo assim, foi convocado a se explicar e teve que responder ao processo. “Não escondo meu constrangimento, porém não me sinto humilhado”, me escreveu ele.

Tudo isso fica mais espantoso se pensarmos nos antecedentes recentes. O Exército permitiu que o general Pazzuello subisse em um palanque eleitoral com o presidente da República e ainda colocou a investigação do caso sob sigilo de 100 anos. Ele era da ativa quando isso aconteceu e pelo Regimento do Exército não poderia ter ido ao evento. O coronel Ricardo Sant’Anna, chefe da Divisão de Sistemas de Segurança Cibernética do Exército, fez postagens com críticas a candidatos, campanha para Bolsonaro e ataque às urnas. Permanece no mesmo posto, segundo o seu Linkedin, e só foi tirado da Comissão de Transparência das Eleições por determinação do ministro Edson Fachin. Perguntado sobre o episódio, o Exército não respondeu até o fechamento desta edição.

Cristina Serra - Nós, sobreviventes do ódio

Folha de S. Paulo

Não haverá sigilo de cem anos para esconder os horrores deste governo

Não vamos esquecer das 685 mil covas abertas como feridas na terra, nem da vida que se esvaiu pela falta de oxigênio que o seu governo não providenciou (e você ainda zombou), nem da dor dos que tiveram que ser amarrados por falta de anestésico nos hospitais.

Estão gravadas suas palavras ásperas como pedras: "e daí?", "gripezinha", "não sou coveiro", "país de maricas". Lembraremos sempre que você tentou manipular o suicídio de um voluntário de testes com a vacina, sabotou as máscaras e o isolamento social, mandou cancelar a compra da Coronavac, riu de tudo isso.

Será preciso lembrar do desespero na fila do osso e da carcaça e de quem revira o lixo para comer, enquanto seus generais compram filé, picanha, bacalhau, salmão, camarão, Viagra e próteses penianas.

Alvaro Costa e Silva - Vaca no brejo

Folha de S. Paulo

Após 30 anos pedindo votos, ele ainda não sabe que existem pobres no Brasil

Em política sempre é cedo. Mas, faltando menos de duas semanas para o primeiro turno e com a possibilidade de não haver o segundo, a dúvida é saber qual é o maior desastre: se a campanha da reeleição ou se o desempenho de Bolsonaro nela. Prenuncia-se o fracasso daqueles que tiveram na mão a faca (a máquina estatal) e o queijo (a aliança comprada ao centrão) e estão sendo comidos.

Esqueça os marqueteiros do PL, eles não apitam. Na condução da campanha —em cujos cofres já entraram cerca de R$ 21 milhões, cinco vezes mais do que os gastos declarados em 2018—, há dois bicudos vaidosos que não se beijam. Dois inimigos fraternos, o senador Flávio e o vereador Carlos. O primeiro defende uma estratégia inexequível: exaltar as qualidades de Bolsonaro e seus acertos na Presidência. Uma obra de fantasia, baseada no conceito da suspensão de descrença, impossível de dar certo.

Joel Pinheiro da Fonseca - 'E no segundo turno, vai votar em quem?'

Folha de S. Paulo

Apesar da polarização e dos absurdos dos dois lados, não é uma escolha difícil

Apesar de eu preferir uma terceira via, tudo indica que teremos segundo turno entre Lula e Bolsonaro. Será preciso escolher. Vamos analisar ponto por ponto.

Na educação, houve muito o que criticar no governo Lula. Mas o fato é que milhões de jovens entraram na universidade. Com Bolsonaro, há terra arrasada. Nada foi feito. E não fez porque não quis. Teve todas as chances; no início, em vez de ministério de técnicos, escolheu agradar malucos ideológicos e corruptos.

No meio-ambiente, a mesma coisa: Lula esteve longe de exemplar, mas entregou um governo com desmatamento baixo, situação que começou a piorar a partir de 2012. Com Bolsonaro, novamente é terra devastada, agora literalmente: entrega intencional a interesses predatórios da grilagem e garimpo ilegais. Na Saúde, o feito mais notável de Bolsonaro foi usar o governo para produzir e promover charlatanismo e sabotar esforços de pesquisar e aplicar a vacina contra a Covid.

Hélio Schwartsman - A Multiplicação das igrejas

Folha de S. Paulo

Vantagens tributárias e outras conferidas pelo Estado brasileiro explicam o fenômeno além da fé

Jesus multiplicou os pães, pastores multiplicam as igrejas. Deu em O Globo que, ao longo da última década, foram abertas no Brasil 21 igrejas evangélicas por dia. Em 2013, havia 71.745 instituições desse tipo; em maio de 2022, elas já eram 178.511.

Não duvido de que a fé responda por muito desse movimento, mas questões tributárias e outras vantagens que o Estado brasileiro confere a igrejas, também.

Digo-o com conhecimento de causa, pois já fui o feliz proprietário de uma instituição religiosa. No ano da graça de 2009, num experimento jornalístico, eu e colegas da Folha criamos a Igreja Heliocêntrica do Sagrado EvangÉlio.

Luiz Carlos Azedo - O custo-benefício do funeral de Elizabeth II para Bolsonaro

Correio Braziliense

Ela parecia eterna, principalmente depois de milhões de memes nas redes sociais exaltando sua longevidade. Entretanto, a morte sempre é um fato com grande poder de irradiação

As pesquisas irão dizer se valeu a pena a participação do presidente Jair Bolsonaro (PL) e da primeira-dama Michele no funeral da rainha Elizabeth II, que ganhou conotação de ação eleitoral oportunista. A rigor, seria um gesto de grande cortesia, ainda mais porque é um rito de passagem no qual o rei Charles III, simultaneamente, foi consagrado como seu sucessor.

Mas haveria a desculpa da campanha eleitoral para não ir, que seria perfeitamente aceitável. O brasileiro não é uma estrela ascendente da política internacional, principalmente no Ocidente, nem foi um convidado de honra da família.

A morte de Elizabeth II era uma notícia previsível, mas foi inesperada. Ela parecia eterna, principalmente depois de milhares de memes nas redes sociais exaltando sua longevidade. Entretanto, a morte sempre é um fato com grande poder de irradiação e repercussão, apesar da sua previsibilidade, porque só se morre uma vez.

O falecimento concentra e realça todos os acontecimentos de uma vida, emoldurado ainda mais pela longa duração dos funerais, acompanhado em tempo real pela mídia internacional durante 10 dias. Elizabeth II reinou por 70 anos, encabeçando uma monarquia que soube administrar a decadência do Império Britânico e, aliada aos Estados Unidos, manteve sua influência internacional após a descolonização.

Andrea Jubé - Governo não quer a reeleição de Pacheco

Valor Econômico

Planalto vê Supremo blindado pelo Senado

A segunda principal preocupação de uma ala do governo é a sucessão no comando do Senado em fevereiro do ano que vem. A primeira delas é, obviamente, a reeleição do presidente Jair Bolsonaro em outubro. Já a certeza entre integrantes desse grupo de que Arthur Lira será reconduzido para um novo mandado na direção da Câmara é cristalina como a água.

Esta ala governista, que é majoritária, não se conforma com eventual reeleição do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), para mais dois anos no comando da Casa. A avaliação de alguns integrantes do primeiro escalão do time bolsonarista é de que Pacheco “não joga junto” com o Palácio do Planalto, em contraponto ao presidente Arthur Lira, que se tornou um aliado de primeira hora do governo - que em troca, generosamente, viabilizou um “orçamento secreto” de R$ 19 bilhões para 2023.

Pedro Cafardo - Em tempos excepcionais, medidas excepcionais

Valor Econômico

Brasil já foi fulminado por desrespeitar a excepcionalidade

Os mais jovens talvez não tenham consciência do que foi a crise do petróleo dos anos 1970 e do ensinamento que ela deixou ao Brasil. O país vivia os anos do “milagre econômico”, cantado em prosa e verso pela ditadura militar, quando os produtores, unidos na Opep e dominados pelos árabes, fizeram um embargo ao fornecimento a países aliados de Israel na Guerra do Yom Kipur.

A decisão, em 1973, pegou o Ocidente de surpresa. Em cinco meses, a cotação do petróleo, que rastejara por décadas abaixo de US$ 3 o barril, subiu 300%, para US$ 12. O Brasil importava, então, 70% do petróleo que consumia.

Críticos dizem que o país deveria, naquele momento, ter adotado um racionamento do consumo de derivados e lançado programas para substituir a fonte de energia ou aumentar sua produção interna. Foram, é verdade, criados o Proálcool, que viria a ser bem-sucedido muitos anos depois, e os contratos de risco, pelos quais companhias privadas nacionais e estrangeiras assumiam a prospecção de petróleo, até então monopólio da Petrobras. Os resultados dos dois programas, como se previa, não foram imediatos, e o racionamento não foi adotado a tempo.

O que a mídia pensa - Editoriais / Opiniões

Editoriais / Opiniões

Comício infame

O Estado de S. Paulo

Incapaz de sentir compaixão por seus compatriotas, Bolsonaro desrespeita o luto dos britânicos, usa funeral da rainha como palanque e, de quebra, volta a duvidar do sistema eleitoral

A pretexto de atender ao funeral de Estado da rainha Elizabeth II, o presidente Jair Bolsonaro viajou a Londres para fazer comício e produzir imagens para sua campanha pela reeleição. Trata-se de evidente abuso de poder político e econômico, o que impõe a aplicação de uma punição exemplar pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Não satisfeito, Bolsonaro ainda ampliou sua extensa folha corrida de crimes de responsabilidade ao difundir – mais uma vez sem provas – suspeitas sobre a segurança do sistema eleitoral do País, dizendo que, se ele não ganhar a eleição no primeiro turno, é porque “algo de anormal aconteceu no TSE”.

Durante essa rápida e infame passagem pela capital do Reino Unido, Bolsonaro envergonhou a grande maioria dos brasileiros, que decerto ainda guarda na alma um senso de decência. Além de usar recursos públicos para fazer campanha eleitoral, o que é expressamente proibido pela lei, Bolsonaro se fez acompanhar de indivíduos que nada têm a ver com a missão de Estado que lhe cabia desempenhar, mas têm tudo a ver com sua campanha eleitoral. Interessado em transformar a eleição numa “guerra santa”, Bolsonaro levou um líder evangélico e um padre. Já em Londres, Michelle Bolsonaro levou a tiracolo um influenciador digital que aproveitou para fazer propaganda, nas redes sociais, dos produtos usados pela primeira-dama – afinal, diante de um presidente capaz de fazer comício num funeral, que mal há em fazer marketing com o luto?