terça-feira, 27 de setembro de 2022

Hélio Schwartsman - Necessidade de manter coalizão deve fazer prevalecer um Lula pragmático

Folha de S. Paulo

A base tolera muito mais maus-tratos do que os aliados circunstanciais

Candidatos presidenciais com chances reais de vencer evitam detalhar suas propostas de governo. Fazem-no para preservar espaço de negociação. Este ano, porém, devido ao caráter plebiscitário da disputa, os dois principais postulantes estão conseguindo desconversar muito mais do que o normal. Temos só ideias muito vagas do que Lula, o grande favorito, pretende fazer em questões tão vitais como disciplina fiscal e regulamentação do trabalho.

Minha aposta é que prevalecerá o Lula pragmático, com um ou outro aceno para a base à esquerda. Afirmo-o não por possuir poderes mediúnicos, mas por uma questão de cálculo político. Lula viu o que aconteceu com Dilma Rousseff. Sabe que precisará manter uma ampla coalizão no Congresso, e isso num contexto em que os poderes da Presidência foram bastante reduzidos.

Cristina Serra - Nesta eleição, votar com coragem

Folha de S. Paulo

Na rodoviária, o rapaz me faz sentir membro de uma rede secreta de resistência

Chego à rodoviária para comprar uma passagem. O rapaz que me atende mostra o mapa de assentos livres no ônibus e peço a ele: "Aperta o 13". Recebo de volta um belo sorriso. Por alguns segundos, me senti integrante de uma rede secreta de resistência, que compartilha mensagens em código e estabelece uma súbita afinidade silenciosa entre dois estranhos.

Tenho participado, como jornalista e cidadã, de todas as campanhas para presidente desde 1989 e nunca havia percebido, como percebo agora, o medo que faz muita gente se encolher, o temor que aprisiona, intimida, corrói, desagrega, ergue muros, por vezes, definitivos.

Nunca senti a necessidade de declarar preferências eleitorais e considero o voto secreto uma das maiores conquistas das democracias modernas. Mas a neutralidade é opção válida para circunstâncias de normalidade política e institucional. Não é o Brasil de 2022, onde o fascismo açula seus cães de guerra, fardados ou não, armados ou não.

Alvaro Costa e Silva - No cercadinho, Bolsonaro já está reeleito

Folha de S. Paulo

Para os defensores da liberdade, apoiar uma farsa não tem nada de mais

O cercadinho do Alvorada é um exemplo acabado de farsa política. O primeiro a denunciá-la foi um imigrante haitiano, herói anônimo, que em março de 2020 sentenciou: "Bolsonaro, acabou. Você não é presidente mais. Você está espalhando o vírus e vai matar os brasileiros". Quem dera o país o tivesse ouvido na época e não esperado até agora para desalojar a trupe circense que ocupa o palácio.

A área de entrevistas e conversas com apoiadores funcionou como palco para dar visibilidade e manter viva a popularidade do presidente, conquistada nas eleições de 2018, mas que começou a decair desde os primeiros atos do governo e sobretudo ao ter início o combate à pandemia --desastroso e criminoso.

Andrea Jubé - Reta final testa se ataque é melhor defesa

Valor Econômico

Qualitativas mostram eleitor cansado de conflito

A cinco dias das eleições, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o presidente Jair Bolsonaro (PL), que lideram a corrida eleitoral, investem em estratégias distintas para tentar chegar na frente no primeiro turno. Ou liquidar a fatura em rodada única.

Com 51% dos eleitores declarando que não votam nele, segundo levantamento do Ipec divulgado ontem, Bolsonaro dobrou a aposta nos ataques diretos a Lula, no esforço de tentar elevar a rejeição do adversário, que está em 35%, e ressuscitar o sentimento antipetista, que encarnou em 2018.

Na outra ponta, Lula tenta reencarnar o personagem da campanha de 2002, que o alçou à Presidência: “o Lulinha paz e amor voltou com força total”, disse ao apresentador Ratinho, no dia 22 de setembro.

A possibilidade de vencer em primeiro turno estaria ao alcance de Lula, conforme sugerem pesquisas recentes, como o Ipec e o último Datafolha. Mas a proeza depende de uma combinação de fatores, como o sucesso da estratégia do voto útil, associada a uma baixa taxa de abstenção.

Luiz Carlos Azedo - A “sombra de futuro” de Simone Tebet

Correio Braziliense

Mesmo “cristianizada” pelos velhos caciques da legenda, a candidata do MDB será uma liderança natural da chamada terceira via, qualquer que seja o resultado das urnas

A pesquisa Ipec divulgada na noite de segunda-feira (26/9) mostra que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem chances reais de vencer no primeiro turno, com 48% das intenções de voto. O presidente Jair Bolsonaro (PL) aparece com 31%, uma diferença entre os dois é de 17 pontos percentuais. Ciro Gomes (PDT) tem 6% e Simone Tebet (MDB), 5%. A senadora Soraya Thronicke (União Brasil) e o candidato do Novo, Felipe D’Ávila, ficaram com 1%. Os demais candidatos foram citados, mas não alcançam 1% das intenções de voto. Até domingo, teremos chuvas de pesquisas, com diferentes metodologias e resultados contraditórios, porque o ambiente é muito volátil, com um contingente de 11% de eleitores dispostos a mudar de voto.

Para não chover no molhado, vamos tratar da disputa pelo terceiro lugar nas pesquisas, entre Ciro Gomes e Simone Tebet, que é muito importante, mesmo que a eleição não tenha segundo turno. É aí que entra a “sombra do futuro”, um conceito desenvolvido pelos militares britânicos para explicar o comportamento dos soldados ingleses e alemães nas trincheiras da I Guerra Mundial, que durou quatro anos. Começou em 28 de julho de 1914 e terminou em 11 de novembro de 1918, com a vitória da Tríplice Entente, formada por França, Inglaterra e Estados Unidos.

Eliane Cantanhêde – Só com uma hecatombe

O Estado de S. Paulo

Com votos firmes nos dois principais candidatos, não há previsão de guinadas nem surpresas

Na reta final da campanha, cresce a expectativa de vitória do ex-presidente Lula, mas o mais importante é que aumentam as chances de uma decisão já no domingo. Com 52% dos votos válidos no Ipec, Lula pode ter entre 50% e 54%, no intervalo da margem de erro, ou seja, o suficiente para fechar a eleição no primeiro turno, sem necessidade de um segundo.

O recuo de Ciro Gomes, de 7% para 6%, é um indício de que o voto útil pró-Lula, deflagrado por artistas, líderes e tucanos, começou a decantar para o eleitorado e tende a ser decisivo na eleição. É por isso que Ciro, numa demonstração de fraqueza, saiu, nesta segunda-feira, 26, em defesa da própria candidatura. Ele sabe que Caetano Veloso não é o seu único eleitor a aderir ao voto útil...

Merval Pereira - Aposta no escuro

O Globo

Ameaças de Bolsonaro à democracia deixaram em segundo plano a corrupção dos governos petistas, na campanha presidencial

À medida que se aproxima o dia da eleição, fica claro que não há apoio político nem militar para que o presidente Bolsonaro tente um golpe. As pesquisas mostram que hoje o bolsonarismo é resiliente, mas minoritário. O arroubo militar de querer encontrar nas urnas eletrônicas indícios de fraude foi neutralizado pela ação do Tribunal de Contas da União (TCU), que também fará uma auditoria técnica nelas, nos mesmos moldes pretendidos pelos militares.

A briga entre os políticos do Centrão e os assessores palacianos, na maioria militares, mostra que a unidade do apoio à reeleição está se esfacelando na mesma proporção em que cresce a possibilidade de o ex-presidente Lula vencer no primeiro turno, como mostrou a pesquisa do Ipec divulgada ontem. Quando Bolsonaro diz que vencerá no primeiro turno, com 70% dos votos, está desacreditando suas palavras, não as pesquisas. Cada vez menos pessoas acreditam nessa possibilidade.

Míriam Leitão - Emoção em alta no primeiro turno

O Globo

Lula chega à última semana de campanha com chance de vencer no primeiro e Bolsonaro vê crescer a rejeição e com sinais de ter batido no teto

Ipec divulgado ontem trouxe mais uma boa notícia para Lula: Ele ficou mais perto de ganhar no primeiro turno, com 48% dos votos e 52% dos votos válidos. Já Bolsonaro está há quatro semanas parado em 31%. Isso torna mais dramáticos os próximos dias e o grande evento da semana, o debate da TV Globo na quinta-feira. Nunca houve uma eleição como esta, na qual o incumbente disputa a reeleição com tamanha desvantagem. Bolsonaro corre o risco de quebrar dois ineditismos, pode ser o primeiro presidente que perde a disputa à reeleição e ainda no primeiro turno. Qualquer erro de uma das duas campanhas muda o cenário atual. O momento é de extrema tensão nos comitês eleitorais de Lula e Bolsonaro.

O terceiro nas intenções de votos, Ciro Gomes, que ontem fez seu manifesto à Nação para dizer que fica na disputa, está em situação dramática em seu próprio território e sobre isso ele não pode acusar ninguém, a não ser a si mesmo. No Ceará, ele ganhou em 2018 com 40% dos votos válidos, Haddad ficou em segundo lugar com 33%, e Bolsonaro, com 21%. Na pesquisa do Ipec divulgada na semana passada, Lula está com 63% das intenções de voto no Ceará, Bolsonaro, com 18%, e Ciro, com 10%. Seria mais útil para Ciro entender o que o faz perder em seu reduto e ter um desempenho tão abaixo de quatro anos atrás, em vez de acusar os que pedem voto útil. Pedir voto é da natureza do processo democrático, é o que os candidatos fazem. Inclusive ele.

Malu Gaspar - Pesquisas internas de campanhas de Simone e Lula detectam tendência de voto útil

O Globo

Mudança criou na campanha da emedebista a expectativa de que ela termine a corrida eleitoral em terceiro lugar, à frente de Ciro

A pesquisa Ipec ainda não trouxe nenhum movimento relevante de voto útil para Lula – todas as oscilações se deram dentro da margem de erro –, mas os trackings da campanha de Simone Tebet (MDB) começaram a captar uma tendência de migração, especialmente entre os eleitores de Ciro Gomes (PDT).

Essa mudança criou na campanha de Simone a expectativa de que ela termine a corrida eleitoral em terceiro lugar, à frente de Ciro. O assunto, porém, é considerado sensível na campanha.

Alguns dos interlocutores da candidata temem que o simples fato de mencionar que a tendência do voto útil está surgindo nos levantamentos internos – os chamados trackings – possa fazer com que as pessoas acreditem que a eleição está definida e apressem o final da disputa votando em Lula ou Bolsonaro já agora.

Carlos Andreazza - Voto útil e cheque em branco

O Globo

'O problema de dar cheque em branco com lastro em conquistas de 20 anos atrás é que aquele Brasil, aquele mundo, não existe mais'

Não há qualquer problema no voto útil em primeiro turno. Se um candidato avalia estar perto de vencer já, por que não pedir o voto de quem pretenderia votar em outro? É do jogo. Se o eleitor, provocado a mudar de posição, refletir sobre o movimento e decidir deixar o candidato com que mais se identifica, terá sido por meio de exercício político que só reforçaria a fibra democrática.

Perde-se tempo com bobagem. Trabalhar por voto útil é tão legítimo quanto ficarem aborrecidos os candidatos cujos votos intencionados se tenta levar. Ninguém é dono de eleitor. E, até o encontro com a urna, não existirá voto. Só intenção. E disputa.

O problema não está em pedir. Mas em pedir voto útil e cheque em branco.

Quem pede voto útil deveria apresentar formas de convencimento que não somente ser a alternativa ao cramulhão. Pode chocar, mas isso não bastará a muitos. São poucos os que elaboram o voto nos termos ideais da militância lulopetista; o que justificaria, porque contra o fascismo, um passe livre.

Há quem simplesmente esteja cansado de Bolsonaro e à procura de alguma previsibilidade. É sentimento mais frequente do que supõe o militante cuja atividade se orienta em criminalizar o voto não puro — aquele não dado sob adesão absoluta. O indivíduo exausto de Bolsonaro, que poderia votar em Lula, poderá votar em Lula mesmo desconfiando — não gostando mesmo — de Lula.

Ipec: Lula tem de 17 pontos de vantagem sobre Bolsonaro


Reta final, voto útil e abstenção podem decidir se haverá ou não 2º turno presidencial

Por Dimitrius Dantas / O Globo

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) lidera a corrida eleitoral nas duas regiões mais populosas do país, o Sudeste e o Nordeste, aponta pesquisa Ipec contratada pela "TV Globo" nesta segunda-feira. A vantagem de Lula no Sudeste, que era de 11 pontos no último levantamento, agora é de 12 pontos. No Nordeste, a vantagem é menor em relação à última pesquisa do instituto, mas ainda é de 39 pontos percentuais.

Lula tem 45% das intenções de voto no Sudeste, segundo o Ipec, contra 33% de Jair Bolsonaro (PL). Já no Nordeste, o petista tem 62% dos votos, enquanto Bolsonaro tem 23%. A liderança de Lula no Sudeste e no Nordeste é o que vem garantindo sua vantagem nas pesquisas, já que a disputa com Bolsonaro é mais acirrada no Sul, onde o presidente tem 38% das intenções de voto contra 35% do petista, e no Norte e Centro-Oeste, onde o Lula tem 42% das intenções de voto contra 36% de Bolsonaro.

Desde o início da campanha, o presidente Lula mantém uma larga vantagem no Nordeste. No Sudeste, entretanto, o petista vem conseguindo gradualmente se distanciar de Bolsonaro nos últimos levantamentos feitos pelo Ipec. Em 29 de agosto, a distância entre os dois era de seis pontos, e agora é de 12 pontos. O movimento ocorre em paralelo à queda de Ciro Gomes (PDT), que tinha 7% das intenções de voto na região, mas agora marca 5%.

O que a mídia pensa - Editoriais / Opiniões

Editoriais / Opiniões

Plataformas têm de disciplinar anúncios de candidatos

O Globo

Mais de 70% da propaganda veiculada no Google no início da campanha era irregular, revela estudo

Passada a eleição de outubro, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) tem o dever de investigar com profundidade e afinco o comportamento das gigantes do mundo digital nas eleições deste ano. Antes do início da campanha, os representantes das grandes plataformas alardearam parcerias com o TSE para evitar o vexame de 2018, quando a internet brasileira se transformou num vale-tudo. Com medo de regulação, prometeram que em 2022 seria diferente. Agora, uma pesquisa do Laboratório de Estudos de Internet e Mídias Sociais (NetLab), da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), demonstrou que esse discurso não passou de conversa fiada.

O alvo da análise foi o Google ou, mais precisamente, a ferramenta lançada pela empresa em junho, em nome da transparência, para permitir acesso a dados sobre anúncios eleitorais veiculados em resultados de busca, anúncios de website e vídeos no YouTube. Para os pesquisadores do NetLab, a sensação descrita no estudo “Irregularidades e Opacidade nos anúncios do Google” é de um “teatro”.