quinta-feira, 19 de janeiro de 2023

Opinião do dia – Theodoro W. Adorno*

"A imagem do líder satisfaz o duplo desejo do seguidor de se submeter à autoridade e de ser ele próprio a autoridade. Isso corresponde a um mundo no qual o controle irracional é exercido, apesar de ter perdido sua convicção interna em função do esclarecimento universal. As pessoas que obedecem aos ditadores sentem que eles são supérfluos. Elas se reconciliam com essa contradição por meio da presunção de que elas próprias são o opressor cruel."

*Theodor Ludwig Wiesengrund-Adorno (1903-1969) foi um filósofo, sociólogo, musicólogo e compositor alemão. É um dos expoentes da chamada Escola de Frankfurt, juntamente com Max Horkheimer, Walter Benjamin, Herbert Marcuse, Jürgen Habermas, entre outros/
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Merval Pereira - Acertando os ponteiros

O Globo

E sensata a reunião do presidente Lula com os comandantes militares

A crise latente entre as Forças Armadas e o governo recém-eleito é consequência da politização dos militares levada a cabo pelo ex-presidente Bolsonaro, com a intenção de que apoiassem o golpe militar que articulava desde mesmo a campanha presidencial de 2018. Mas também do descaso da sociedade e dos políticos em discutir o papel dos militares num governo democrático, dando importância a suas demandas e projetos.

O apoio das Forças Armadas ao golpe de Estado tentado no dia 8 de janeiro não aconteceu de maneira formal, mas setores militares aderiram, participando como ativistas ou facilitadores do vandalismo. Segundo Adriano de Freixo, professor do Instituto de Estudos Estratégicos da Universidade Federal Fluminense, num estudo sobre os militares e o governo Bolsonaro que já abordei aqui na coluna antes dos acontecimentos recentes, as Forças Armadas têm dificuldade para lidar com o controle civil desde quando foi criado o Ministério da Defesa, que deveria ter sido comandado sempre por um civil.

William Waack - Falta respeito

O Estado de S. Paulo

A relação entre Lula e os militares está num ponto crítico

O princípio da autoridade depende do respeito entre quem manda e quem obedece. Inversamente, desconfiança mútua corrói a capacidade de dar ordens e dificulta que sejam cumpridas.

É o ponto em que está no momento a relação entre Lula e os militares.

Os resultados que isto produz estão em Command, mais uma obra monumental de Sir Lawrence Freedman (do clássico Strategy), do King’s College de Londres, que acaba de ser publicada. O foco é entender como a relação entre autoridades civis e militares condiciona decisões de todo tipo, sobretudo em guerras.

“Os que dão as ordens deveriam ter a autoridade que traz o respeito de subordinados”, escreve Freedman. “Autoridade é algo a ser conquistado, não para ser dada como certa – e isso vale para os civis e para os generais.”

Luiz Carlos Azedo - Uma reforma militar será inevitável

Correio Braziliense

Reforma militar pode ganhar apoio da sociedade, principalmente da juventude, em razão dos últimos acontecimentos envolvendo as Forças Armadas

Recém-eleito, com 288 mil votos, o jovem deputado Amom Mandel (Cidadania), de 21 anos, o mais votado no Amazonas para Câmara dos Deputados, antes mesmo de tomar posse, iniciou uma campanha para acabar com o serviço militar obrigatório, um verdadeiro tabu para as Forças Armadas. “Estou preparando um projeto para propor o fim do alistamento militar obrigatório. Qual a sua opinião?” — anunciou no Twitter, a sua principal ferramenta de intervenção política. A proposta provocou 3.567 comentários e teve 1.538 compartilhamentos, o que já é suficiente para se tornar uma causa com ressonância na sociedade e posicionar seu mandato junto à opinião pública.

Maria Hermínia Tavares* - Sem fórmulas fáceis

Folha de S. Paulo

Frente de batalha contra extremistas também é cultural, no plano dos valores

A democracia convive mal com a radicalização política. Por isso, desradicalizar, verbo que arranha os ouvidos, é uma das tantas urgências que o governo e a sociedade brasileira têm diante de si.

Na sequência das imagens panorâmicas do ataque da extrema direita que a TV transmitiu ao vivo, no domingo (8), as emissoras vêm mostrando, a cada dia, os detalhes da destruição. Ela foi gestada pela pregação de Bolsonaro contra as eleições e as instituições democráticas; facilitada pela omissão do governo do Distrito Federal; e executada por indivíduos que se consideram em guerra contra um imaginário perigo comunista, contra o qual pensavam desencadear o golpe final.

Bruno Boghossian - Quem procura acha

Folha de S. Paulo

Vice-procurador que alertou para risco de desinformação sobre urnas foi demitido em 2021

No dia 3 de maio de 2020, Jair Bolsonaro foi à rampa do Palácio do Planalto para saudar uma manifestação a favor de um golpe de Estado. O então presidente foi até o grupo, que pedia uma intervenção militar no país e o fechamento do STF, para fazer um ataque ao tribunal. "Não vamos admitir mais interferência. Acabou a paciência", afirmou.

A Procuradoria-Geral da República não viu problema no episódio daquele domingo. Meses depois do ato, a equipe de Augusto Aras se recusou a abrir uma investigação contra o presidente, com o argumento de que o comportamento de Bolsonaro não representava um "risco real" ao regime democrático.

Thiago Amparo - Bolsonaro, o (quase) fugitivo

Folha de S. Paulo

Biden precisa avaliar se quer bancar custo político cada vez mais elevado de abrigá-lo

Imbróglios convergem para tornar a presença de Jair Bolsonaro em solo estadunidense difícil de engolir para a diplomacia americana.

Não cabe bem à autoimagem dos Estados Unidos de parceiro estratégico do Brasil abrigar, em seu solo, um ex-presidente agitador de um golpe de Estado pior do que a invasão do Capitólio. Com a condenação do vandalismo em Brasília por Rússia e Itália, possíveis locais de asilo para Bolsonaro, o ex-presidente possui agora poucas cartas na manga que não viver na Flórida à custa de empresários brasileiros apoiadores do golpe.

Ruy Castro - Tiros no pé - ou no casco

Folha de S. Paulo

Sem as ferraduras presidenciais, Bolsonaro está com a lei nos calcanhares: todos os quatro

Bolsonaro dá um tiro no pé. Bolsonaro dá outro tiro no pé. Os cinco maiores tiros de Bolsonaro no pé. Os dez maiores tiros de Bolsonaro no pé. Os maiores tiros de Bolsonaro no pé antes, durante ou depois das eleições. Etc. É o que o Google nos dá às palavras "Bolsonaro" e "tiro no pé". Referem-se às inúmeras vezes em que, desde a sua posse, Bolsonaro tentou fulminar as instituições e acabou fuzilando o próprio pé.

O tiro no pé é a consequência de uma aposta. Resulta de um lance alto, que pode dar certo ou não. O sensato seria primeiro calcular as probabilidades. Mas o verdadeiro apostador não faz isto. Ele joga às cegas, certo de que vai ganhar. O 7 de Setembro de 2021, por exemplo, foi um tiro no pé: Bolsonaro tentou o golpe, não encontrou respaldo e, brochíssimo, teve de se humilhar diante do STF.

Vinicius Torres Freire - Bancos na jugular da Americanas

Folha de S. Paulo

Instituições financeiras querem forçar acionistas a entrar com dinheiro e vender ativos

Um representante de um dos bancos que vão tomar um espeto da Americanas diz que "agora, é preciso apertar a empresa e fazer com que seus acionistas maiores assumam responsabilidades, o bastante para que a companhia não fuja com o dinheiro [sic], mas nem tanto, a ponto de que a empresa deixe de ser operacional".

É público que os bancos maiores, pelo menos, querem evitar que a Americanas saque das suas contas bancárias sem supervisão e controle, sem que explique o que vai fazer do dinheiro (a quem vai pagar, se vai, por qual motivo etc.). O BTG Pactual, por exemplo, conseguiu nesta quarta-feira uma decisão judicial provisória nesse sentido.

Celso Ming - Um bom momento para o Brasil

O Estado de S. Paulo

O crescimento do PIB da China de apenas 3% em 2022, o mais baixo desde 1976, levantou apreensões e parece ter acentuado temores com o agravamento da recessão global. Mas é preciso pensar fora dessa caixa e pensar do ponto de vista do Brasil.

A principal causa da desaceleração da segunda usina produtiva mais importante do mundo foi a chamada política “covid zero”, que obrigou a população dos maiores centros do país a permanecer em casa. A menos que ocorra um recrudescimento da pandemia, hoje improvável, essa quebra não vai se repetir neste ano. Ao contrário, não há por que duvidar de que se cumpra a meta do governo Xi, de um crescimento entre 5,0% e 5,5%, número que atenua a perspectiva de recessão global.

Adriana Fernandes - A estratégia de Lula para o salário mínimo

O Estado de S. Paulo

É assim que a banda toca nas negociações sindicais; pede-se sempre mais

O presidente Lula quer aumentar o valor do salário mínimo dos atuais R$ 1.302 para R$ 1.320 a partir de 1.º de maio.

Isso é certo. O presidente deu tempo, no entanto, ao seu ministro da Fazenda, Fernando Haddad, para que sua equipe acompanhe com lupa a evolução dos gastos da Previdência Social, que sofrem impacto na veia com a alta do salário mínimo – já que ele é usado como referência na concessão da maioria dos benefícios.

Lula até queria anunciar na reunião de ontem com sindicalistas que estava no radar do governo a possibilidade desse aumento acontecer no Dia do Trabalhador, a depender da evolução das contas públicas.

O governo decidiu, porém, esperar o monitoramento da área econômica porque não se tem certeza de como será o crescimento vegetativo da folha do INSS depois que o governo Bolsonaro acelerou a concessão de novos benefícios na antessala das eleições presidenciais.

O que a mídia pensa - Editoriais / Opiniões

Instituições têm de punir os golpistas infiltrados no Estado

O Globo

Parlamentares, policiais e militares envolvidos no 8 de janeiro não devem ser protegidos por corporativismo

Não há dúvida de que os Poderes da República reagiram com rapidez, firmeza e união aos ataques golpistas perpetrados por apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro em Brasília no dia 8 de janeiro. Mas a necessária condenação ao terrorismo é o mínimo que se espera das autoridades. É preciso ir além do simples repúdio traduzido em frases de efeito. É fundamental agir para que barbárie semelhante não se repita nem se propague, investigando e punindo não só seus executores, mas também seus financiadores, autores intelectuais e incentivadores. Em particular aqueles que, detentores de mandatos populares conquistados nas urnas, usam as redes sociais para chancelar vândalos que conspiram contra a democracia.

No Congresso Nacional, uma das instituições depredadas pelos golpistas durante a infâmia brasiliense, os presidentes do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), e da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), deram demonstrações inequívocas no apoio à democracia. Precisam agora dizer o que farão em relação aos parlamentares que desonram a Casa com acenos aos vândalos ou disseminam mentiras que confundem a opinião pública e fazem o jogo do golpismo.