segunda-feira, 3 de julho de 2023

Fernando Gabeira - E agora, Jair?

O Globo

Existe uma possibilidade de a direita pós-Bolsonaro aceitar de forma tímida a ideia de proteção ao meio ambiente

A roda rodou, a fila andará. E agora, Jair? É uma questão coletiva: as mudanças num campo político, indiretamente, devem provocar mudanças no campo oposto. Emerge uma nova configuração.

Tenho feito muitas perguntas desde que se tornou previsível o resultado do júri. Algumas talvez até já tenham resposta, como a sucessão pessoal em 2026. Será uma escolha de sangue, um dos filhos de Jair? Será alguém com poder político e aura de administrador?

A direita tomará um novo rumo. Seguirá sendo pautada pelos temas de Bolsonaro? Nas análises anteriores, concluí que a misoginia de Trump e Bolsonaro tinha a base de apoio nas redes sociais. Nos Estados Unidos isso é mais nítido. Campanhas antifeministas precederam a entrada de Trump em cena eleitoral. Coletivos de homens revoltados com a rejeição feminina cresceram, surgiram os incel, coletivos de celibatários involuntários.

O ressentimento com as mulheres atingiu um nível dramático com o culto a Elliot Rodgers, um jovem de 22 anos que matou seis pessoas e lançou um manifesto falando de seu fracasso com as mulheres. Embora não exista uma estrutura tão organizada no Brasil, Bolsonaro intuiu que hostilizar as mulheres era um caminho popular entre um grande número de homens. Acontece que, no Brasil, as mulheres são maioria e definem as eleições. É possível que a direita descubra isso e as trate, pelo menos, com um respeito formal. Já seria algum tipo de mudança.

Miguel de Almeida - Melhor já ir se acostumando

O Globo

O enredo malufista guarda ainda poucos paralelos com o ocaso de Bolsonaro

Se eu postar uma foto de Luan Santana, Gabigol e Paulo Maluf e perguntar quem ali seria um político mal-afamado, o acerto viria por exclusão. Pois bem. Maluf, por anos, foi um miasma a assustar a boa família brasileira. Desalmado como seu descendente Jair, cunhou a clássica frase de espírito bolsonarista:

— Estrupa (sic), mas não mata.

A falta de votos nas urnas e a Justiça o jogaram no ostracismo — e, por vários anos, cumpriu prisão domiciliar. Há pouco devolveu alguns milhões de dólares desviados de uma obra pública paulistana. A quantia roubada dava para construir vários outros túneis e viadutos. Mesmo enredado, com suas digitais sangrentas na cena no crime, negava as suspeitas em ríctus indignado. Mentia sem Rivotril.

Em tempos mais pretéritos, promotores de Justiça avançaram sobre as espertezas de Orestes Quércia. A política da época congelou as investigações. Descobriu-se, para pouco espanto da plateia, que o preço do quilômetro do metrô paulistano era o dobro do cobrado no túnel sob o Canal da Mancha, entre França e Inglaterra. Se levantado o tapete roto, estariam ali as mesmas construtoras logo flagradas nos dutos da Petrobras.

Sepúlveda Pertence: Defensor incansável da democracia

Por Fernanda Alves, Reynaldo Turollo Jr. e Paolla Serra / O Globo

Respeitado nos meios jurídico e político, magistrado teve trajetória marcada pela resistência à ditadura

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), parlamentares e demais autoridades lamentaram a morte do ministro aposentado da Corte Sepúlveda Pertence. O jurista estava internado havia cerca de uma semana no Hospital Sírio Libanês, em Brasília, e sofreu falência múltipla dos órgãos, aos 85 anos.

Lula afirmou que Pertence foi um dos "maiores juristas da história do Brasil" e que foi um privilégio tê-lo como "amigo e advogado".

"Sempre atuou pela defesa da democracia e do Estado de Direito, como advogado e também como ministro do Supremo Tribunal Federal. Por isso, era respeitado por todos. Neste momento de perda, meus sentimentos aos seus familiares, em especial aos seus filhos, aos amigos e admiradores", escreveu o presidente.

Já a presidente do STF, ministra Rosa Weber, classificou Pertence como um dos mais "brilhantes juristas o país".

"Teve presença marcante e altamente simbólica no dia a dia da Corte ao longo dos anos. Grande defensor da democracia, notável na atuação jurídica em todos os campos a que se dedicou, deixa uma lacuna imensa e grande tristeza no coração de todos nós", disse a ministra.

Marcus André Melo * - Consequências do TSE

Folha de S. Paulo

As consequências do consequencialismo judicial desmedido são visíveis

"Xandão venceu." O tuíte da jornalista Malu Gaspar capta bem o sentimento público quanto à decisão do TSE sobre a inelegibilidade de Bolsonaro. Ele sugere personalização de decisões das cortes superiores –vistas como vendetas– e, mais preocupante, que a decisão tenha sido abertamente consequencialista. É um truísmo afirmar que as decisões de cortes superiores são políticas latu senso. Faço uso aqui da expressão para aquelas que não estão ancoradas estritamente no que está previamente estabelecido em lei –e que visa objetivos outros.

Numa análise positiva, há fatores que explicam o padrão hiperbólico de atuação do STF e, agora, do TSE.

Angela Alonso* - Resumo de junho

Folha de S. Paulo

O aniversário de 2013 é lembrete de que a esquerda não é mais a senhora dos protestos

O aniversário acabou, hora da conta da festa. Junho de 2013 completou 10 anos. De presente, matérias, especiais, entrevistas. O tratamento ao rapazinho ecoou o dispensado quando era recém-nascido.

No parto, ganhou quatro nomes. Um foi "jornadas", em honra a maio de 1968 e à Comuna de Paris, que o afiliou à linhagem da "nova esquerda". Outros padrinhos o batizaram com a tese das expectativas crescentes: satisfeitas as condições de vida, as demandas de rua seriam por qualidade de vida (na síntese lulista: "o povo já tem pão, agora quer manteiga"). Terceira alcunha foi "crise de representação": o protesto seria antissistêmico, de crítica às instituições políticas. E houve quem falasse em sequestro: parida na esquerda, a mobilização teria sido tomada pela direita.

Lygia Maria - A estranha democracia lulista

Folha de S. Paulo

Ao defender ditadura venezuelana, Lula despreza direitos humanos e estimula polarização política

Ao falar sobre a Venezuela, Lula disse que "o conceito de democracia é relativo". Segundo o petista, o governo do ditador Nicolás Maduro é democrático, já que lá há eleições.

O discurso remete a um conceito caro à antropologia. Em oposição à visão evolucionista, que considera que há culturas menos e mais desenvolvidas, o relativismo cultural parte do pressuposto de que não há cultura superior ou inferior. Cada uma tem suas crenças e práticas, que devem ser interpretadas dentro de seus contextos, em vez de julgadas pelos padrões de outras culturas.

Alex Ribeiro - BC quer virar uma corporação financeira

Valor Econômico

Instituição já apresentou ao TCU esboço do modelo da autonomia administrativa seguindo um dos modelos recomendados pelo FMI

Os funcionários, diretores e até o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, estão em uma campanha para combater o esvaziamento da instituição. Querem o reajuste dos salários, acompanhando o que foi concedido a outras carreiras de Estado, como a Receita Federal, e a abertura de um concurso para repor o quadro de pessoal. A solução mais fácil seria simplesmente atender às reivindicações. O melhor, porém, é resolver o problema estrutural: conceder autonomia administrativa e orçamentária ao BC e aprovar uma ampla reforma administrativa para todo o funcionalismo.

O Banco Central apresentou ao Tribunal de Contas da União (TCU) um esboço do modelo da autonomia administrativa, que tornaria a autoridade monetária uma “corporação financeira”, seguindo um dos modelos recomendados pelo Fundo Monetário Internacional (FMI). Para ter autonomia administrativa, seria preciso mudar a Constituição para acabar com a sua subordinação ao Orçamento Geral da União.

Bruno Carazza* - Entrar para a política deveria ter um preço

Valor Econômico

Função pública exige o máximo de transparência sobre fontes de rendas e negócios de quem a exerce

A política oferece incontáveis benefícios para aqueles que conseguem passar pelo apertado funil eleitoral, em meio a dezenas de partidos e a centenas ou milhares de candidatos, em pleitos realizados em Estados muito grandes ou populosos, que exigem campanhas geralmente milionárias.

Uma vez eleitos, políticos contam com uma estrutura de pessoal que lhes permite contratar dezenas de assessores, além de verbas de gabinete para cobrir despesas com passagens aéreas, aluguel de veículos e combustíveis, material gráfico e impulsionamento de postagens nas redes sociais.

Maria Cristina Fernandes - A responsabilidade de Lula no pós-bolsonarismo

Valor Econômico

Nos próximos oito anos, o Brasil tem a chance de baixar a temperatura da política

Pode ter sido coincidência, mas o presidente Luiz Inácio Lula da Silva escolheu o dia em que o Tribunal Superior Eleitoral determinou a inelegibilidade do ex-presidente Jair Bolsonaro para visitar o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite.

Sugere mais do que uma tentativa de se desvencilhar do desfecho e circunscrevê-lo a um fato do Judiciário, como mais tarde diria. Ali parecia estar um ideal de futuro. Um presidente da República, acompanhado da primeira-dama, Janja da Silva, sendo recebido pelo principal governador do PSDB, acompanhado de seu marido, Thalis Bolzan. É como se o Brasil pudesse entrar numa máquina do tempo e voltar à era da polarização, agora entre o PT e um PSDB democrático e moderno.

Só que não. O PSDB elegeu três governadores - além de Leite, Raquel Lyra (PE) e Eduardo Riedel (MS) -, mas de tão espremido pelo bolsonarismo, nem candidato à Presidência da República conseguiu ter em 2022. A repetir o vexame de 2018, quando o atual vice-presidente Geraldo Alckmin não chegou a 5% dos votos, preferiu indicar a senadora Mara Gabrilli (SP) para vice da então senadora do MDB, hoje ministra do Planejamento, Simone Tebet, para obter uma votação ainda menor.

Entrevista | José Álvaro Moisés: ‘Bolsonarismo já levou dois golpes neste ano’

Lucas Ferraz / Valor Econômico

Para José Álvaro Moisés, condenação é um “indicativo”, apesar das fragilidades, de que a “democracia está funcionando”

Para o cientista político José Álvaro Moisés, professor sênior do Instituto de Estudos Avançados (IEA) da Universidade de São Paulo (USP), a condenação de Jair Bolsonaro (PL) na Justiça Eleitoral é um “indicativo”, apesar das fragilidades, de que a “democracia está funcionando”.

Moisés conta ter se surpreendido, ao longo do processo nas últimas semanas, com a falta de manifestação ou atos de políticos bolsonaristas em apoio ao ex-presidente. O bolsonarismo, afirmou ao Valor, terá um dilema a enfrentar com a decisão.

A seguir os principais pontos da entrevista:

Felipe Moura Brasil - Lula perdeu seu maior cabo eleitoral

O Estado de S. Paulo

Presidente se beneficiou da sujeira tucana e bolsonarista

Aécio Neves havia perdido para Dilma Rousseff a eleição de 2014 quando os escândalos do tucano vieram à tona, mas seu amigo Gilmar Mendes, até então o mais poderoso dos lavajatistas, voltou-se contra a força-tarefa que antes legitimava, seja apontando a cleptocracia em curso, seja anulando a posse de Lula na Casa Civil. “O nosso causídico é foda”, celebrou o também tucano Aloysio Nunes quando o ministro do STF tomou decisão favorável a Paulo Preto, apontado como operador do PSDB. Em uma série de processos, Aécio foi igualmente salvo pelo “nosso causídico”.

Jair Bolsonaro, ao contrário, havia acabado de vencer Fernando Haddad em 2018 quando o funcionalismo fantasma de sua família veio à tona, o que levou o então presidente a trair o discurso de campanha, sancionando medidas desejadas pelo PT, como a criação do juiz de garantias – ou “emenda Freixo” – e outros jabutis inseridos no pacote anticrime, como restrições à prisão preventiva e à delação premiada.

Denis Lerrer Rosenfield* - Corsários e mercenários

O Estado de S. Paulo

Independentemente de qual grupo emerja vencedor dentro da elite dominante russa, o caráter monolítico de seu governo se esfacelou

Piratas eram aventureiros que viviam do saque e do assalto de embarcações, normalmente carregadas de riquezas, como o ouro explorado pelos espanhóis em suas colônias americanas. Distinguiam-se, porém, dos corsários na medida em que estes agiam sob a cobertura da Coroa de um país, prestando-lhe serviços e fornecendo-lhe uma parte dos seus butins. Um dos mais famosos foi Sir Francis Drake a serviço da rainha Elisabeth I, tendo sido, precisamente por isso, agraciado com o título de “sir”. Constituíam uma espécie de armada dentro da Armada, respondendo diretamente à rainha. Tinham o reconhecimento régio.

Mercenários são, em terra, descendentes dos corsários, reportando-se diretamente ao presidente de um Estado, compartilhando com ele dos benefícios dos sucessos militares. Yevgeny Prighozhin é, nesse sentido, o corsário de Putin, respondendo até recentemente diretamente a ele, tendo, inclusive, independência, e não subserviência às Forças Armadas tradicionais. Um Exército dentro do Exército, com seus tentáculos se estendendo até a África, além da presença marcante na invasão russa à Ucrânia. Tudo indica, no entanto, que a criatura se voltou contra o criador.

O que a mídia pensa - Editoriais / Opiniões

Inelegibilidade põe em xeque o extremismo de direita

Valor Econômico

Há a certeza de punição a todos que tramarem o fim da democracia

Inelegível por 8 anos, o ex-presidente Jair Bolsonaro tem ainda 15 processos a sua espera no Tribunal Superior Eleitoral. Até certo ponto, o ex-presidente está certo em afirmar que foi julgado pelo “conjunto da obra”, contida em um fragmento - a coleção de mentiras contra as urnas eletrônicas, a sugestão antecipada de que não aceitaria seus resultados, durante encontro com embaixadores estrangeiros em Brasília no 18 de julho de 2022. O relator, ministro Benedito Gonçalves, resumiu os motivos para a condenação por abuso de poder político e uso indevido dos meios de comunicação: “mentiras atrozes” sobre a Justiça Eleitoral que, somadas à “narrativa imaginária de fraudes”, conduziram a um “flerte perigoso com o golpismo”.

Bolsonaro terá agora de enfrentar várias batalhas como cidadão comum - após 30 anos, não exerce cargo eletivo que possa servir de escudo contra graves acusações de ilegalidades, agressões à democracia e uma atuação criminosa durante a pandemia. De um lado, lutará para não ser preso e de outro, para tentar manter-se como o principal líder da direita no país, escolhendo seu “sucessor” nas urnas. É possível que esses desafios excedam sua capacidade política e intelectual e ele caminhe com para o ostracismo.

Apesar de ter um eleitorado cativo relevante, o poder de Bolsonaro mobilizá-lo será declinante sem as alavancas do Estado nas mãos. O bolsonarismo, como tal, carece de substância. Há conservadores de todos os matizes que apoiaram o ex-capitão, amalgamados pelo anti-petismo. A chama que poderá inspirá-los, a mesma que poderá dar calor a pretensões de Bolsonaro, serão os desacertos do governo Lula.

Graziela Melo - Bruxas e cinderelas

Tristes sonhos

me fustigam

por

longas

noites

      a  fio...

lembranças

de

desditas

já passadas!

Temores

de

horizonte

mais sombrio!!!

Belos

sonhos

me acalentam

olhando eu

as estrelas!!!

Noites

curtas,

noites

belas

bruxas feias

cinderelas

doce embalo

que

viví!!!

São

momentos

fragmentos

recolhidos

de

desejos

que sentí...