Folha de S. Paulo
É hora de arrumar a casa com estabilidade institucional e consistência temporal
Haddad parece ter incorporado a mais
importante lição do excelente primeiro governo Lula: credibilidade importa, e
muito. Sua luta é para zerar o déficit em 2024, em vez de em 2025, como propõem
outros membros do governo.
Do ponto de vista financeiro, não importa
muito se o déficit zera em 2024 ou 2025, mas em termos de recuperação pode
significar muito.
O Brasil, assim como muitos outros países,
está firmemente preso na armadilha da renda média, a situação na qual o
crescimento tira os países da pobreza, mas sucessivos governos não conseguem
criar um Estado desenvolvido. Parte da razão para o nosso subdesenvolvimento é
inconsistência temporal.
Funciona mais ou menos assim: um governo anuncia alguma ação concreta, como um subsídio para uma empresa se instalar numa região. Após a empresa colocar dinheiro na empreitada, o governo "muda de ideia" e retira a benesse, pois a organização já estaria comprometida com o investimento. A falta de confiança em que, no futuro, o governo não vá descumprir acordos firmados hoje vai gerando, ao longo do tempo, redução de investimentos que seriam feitos se as regras fossem respeitadas.