terça-feira, 7 de maio de 2024

O que a mídia pensa: Editoriais / Opiniões

Solidariedade a vítimas no RS é exemplo para o país

O Globo

Num Brasil polarizado, é auspicioso que lideranças políticas tenham deixado as desavenças de lado

O desastre que atinge o Rio Grande do Sul exige respostas à altura da tragédia. Com 336 dos 497 municípios gaúchos em estado de calamidade pública, centros urbanos submersos, cidades isoladas, infraestrutura comprometida e milhares de moradores sem água e luz, não pode haver espaço para burocracia ou desentendimentos que dificultem a assistência às vítimas e a reconstrução.

Por isso tem sido comovente o movimento de solidariedade que se espalhou pelo Brasil, com doações e iniciativas de toda sorte para levar alívio à população atingida. Foi também louvável a união de forças dos três Poderes para ajudar os gaúchos. No domingo, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva viajou para o RS numa comitiva que incluiu os presidentes do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), e da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), o ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal, o presidente do Tribunal de Contas da União, Bruno Dantas, o comandante do Exército, general Tomás Paiva, além de vários ministros de Estado.

Merval Pereira - Madonna e a polarização

O Globo

O recado explícito da cantora era outro, a favor das liberdades individuais, marca da sua carreira

Madonna deixou tontas tanto a direita quanto a esquerda brasileiras. A esquerda viu naquela multidão calculada oficialmente em 1,6 milhão de pessoas em Copacabana potenciais eleitores, ao mesmo tempo que vibrou com os arroubos sexuais de Madonna, vendo neles atitudes políticas progressistas que afrontavam os reacionários direitistas que se escandalizaram com a exibição.

A extrema direita viu na exuberância de Madonna um pretexto para atacar seus fãs, considerando-a representante demoníaca, líder de uma seita satânica que existe para destruir os valores do mundo ocidental. O uso do verde e amarelo, mais que uma singela homenagem ao país que tão bem a acolhe há mais de 30 anos, passou a ser o resgate de um símbolo nacional que havia sido sequestrado pela direita bolsonarista. O senador bolsonarista Jorge Seif foi a Copacabana com a mulher. Foi tão criticado que pediu desculpas.

Míriam Leitão - O risco climático está escalando

O Globo

O país precisa se unir em torno dos gaúchos, formular um plano de risco climático, e deter os projetos insensatos

O plano de gestão de risco climático tem que ser dinâmico, porque o clima continuará mudando. É com essa ideia que se trabalha no governo desde o ano passado. O presidente Lula já foi duas vezes ao Rio Grande do Sul, com os seus principais ministros ligados ao assunto, e o governo permanece em reuniões seguidas no gabinete de crise. A emergência é tentar ao máximo mitigar as perdas e as dores dos gaúchos, mas é preciso ir além disso porque o clima continuará superando os cenários. Nada impressiona, contudo, os ruralistas. A Comissão de Constituição e Justiça do Senado colocou em pauta, para amanhã, uma proposta para reduzir a reserva legal na Amazônia com o relatório favorável do senador Marcio Bittar (União-AC).

Luiz Carlos Azedo - Tragédia mobiliza a União em socorro aos gaúchos

Correio Braziliense

Deputados relutam quanto ao redirecionamento de emendas ao Orçamento e o mercado sinaliza que o equilíbrio fiscal deve ser mantido, mesmo com a emergência

Como aconteceu no de 8 de janeiro de 2023, quando o Palácio do Planalto, o Congresso e o Supremo Tribunal Federal (STF) foram invadidos e vandalizados bolsonaristas, que tomaram de assalto a Praça dos Três Poderes, o mundo político se uniu novamente para socorrer o Rio Grande Sul, que registra o maior desastre natural de sua história. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva não somente mobilizou seus ministros como convidou os representantes dos demais Poderes para acompanhá-lo, domingo, num sobrevoo sobre Porto Alegre e outras cidades inundadas pelas águas do Guaíba.

Foi a segunda vez, desde o início da tragédia, que Lula viajou para o Rio Grande do Sul. Desta vez, convidou os presidentes do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), e da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), além da bancada federal gaúcha, para uma reunião com o governador gaúcho Eduardo Leite (PSDB) e o prefeito de Porto Alegre, Sebastião Melo (MDB). O vice-presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Édson Fachin, e o presidente do Tribunal de Contas da União (TCU), Bruno Dantas, também participaram da reunião. No encontro, do qual fez parte o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, houve uma espécie de pacto entre os poderes para socorrer os gaúchos com medidas emergenciais.

Luiz Gonzaga Belluzzo - Deslizes infelizes no país das desigualdades

Valor Econômico

Nada mais trágico para a sociedade brasileira que a perda de reputação do Poder Judiciário

Dia 1º de maio, o site Metrópoles estampou a empolgação do presidente do Tribunal de Justiça de São Paulo. Fernando Antônio Torres Garcia elogiou a proposta do Senado que turbina os salários de magistrados e promotores. Garcia recebeu R$ 87,7 mil líquidos em fevereiro. O teto do funcionalismo público é de R$ 44 mil.

A Proposta de Emenda à Constituição (PEC) do Quinquênio, apresentada pelo presidente do Senado, Rodrigo Pacheco prevê um aumento de 5% a cada cinco anos nos salários de juízes e promotores. Segundo a Consultoria de Orçamento do Senado, o projeto é inconstitucional e pode ter um impacto de R$ 81 bilhões aos cofres públicos entre 2024 até 2026.

Andrea Jubé - Governo reage às chuvas, mas apanha nas redes

Valor Econômico

Mesmo depois de 2018 e 2022, o PT ainda não fez o dever de casa sobre as redes, mas há “esperança”

No fim de semana, dois eventos de grandes magnitudes movimentaram o noticiário, um pelo viés da catástrofe, outro pela euforia. Nas redes sociais, o cruzamento de ambos gerou turbulência política, obrigando o governo federal a travar duas batalhas: desmentir “fake news” no universo digital, e envidar esforços no mundo real para socorrer vítimas dos alagamentos no Sul.

De um lado, o agravamento das enchentes no Rio Grande do Sul comoveu o país. O Lago Guaíba subiu mais de 5 metros, provocando uma inundação sem precedentes em Porto Alegre - a cheia histórica do rio havia marcado 4,77 metros em 1941. Até ontem, havia 85 mortos, 134 desaparecidos, 364 dos 496 municípios gaúchos afetados, 873 mil pessoas atingidas.

Eliane Cantanhêde - A união faz a força

O Estado de S. Paulo

A tragédia no Sul conseguiu, e Madonna ilustrou, o que Lula quis e não fez: união nacional

A tragédia do Rio Grande do Sul, a maior da história do Estado, e o megashow da Madonna em Copacabana, o quinto mais concorrido do planeta, servem como lembrança de algo que há muito anda esquecido, ou desdenhado, no Brasil: a união faz a força de uma nação e a radicalização não leva a nada. Todos os lados se uniram para socorrer o Estado e para ver Madonna.

A crise entre os Poderes sucumbiu ao desastre do Sul, que uniu no mesmo avião e na mesma foto os presidentes Lula, Arthur Lira, da Câmara, e Rodrigo Pacheco, do Senado, além do vice-presidente do STF, Edson Fachin.

Simbologia: acima de ideologias, partidos e interesses, institucionais ou pessoais, está a responsabilidade pública, com Estados, municípios, cidadãos.

Carlos Andreazza - O negócio dos vetos

O Estado de S. Paulo

Transitando de vício em vício, País espera para ver que fim terão os vetos de Lula

Arthur Lira é semipresidencialista convicto. “Há quem defenda, como eu defendo, o regime de semipresidencialismo”, declarou. “O presidencialismo de coalizão não funciona mais, mas precisamos respeitar o modelo que cada governo escolhe.”

Está tudo aí, exposta a confusão conceitual derivada da mentalidade autoritária.

O semipresidencialismo de Lira é o da dinâmica do orçamento secreto – agora sob a fachada das emendas de comissão – sem a participação-concorrência do governo de turno. Não se trata de saudade de Bolsonaro, em que pesem as afinidades.

Saudade do modelo viciado que vigorou sob Bolsonaro, aí sim; aquele em que o parlamentarismo orçamentário do Lirão (quem dera houvesse um Centrão) controlava a corda e a caçamba, com Ciro Nogueira na Casa Civil dando fluência às ordens de pagamento determinadas pelo império alcolúmbrico.

Joel Pinheiro da Fonseca - O fim do debate público?

Folha de S. Paulo

Cada formador de opinião fala quase que unicamente para quem está do mesmo lado

Por mais que os progressistas desejem e sonhem com isso, os quase 50% dos votos válidos para Bolsonaro não desaparecerão tão cedo, e boa parte deles será transferida para algum candidato que tenha o apoio de Bolsonaro. Resta saber se será tão extremista quanto ele ou se será mais moderado.

Independente de quem seja, a própria discussão sobre se é possível alguém próximo de Bolsonaro ser menos extremista do que ele já salientou um fato inescapável: a polarização continuará dando as cartas no debate público. Ou seja, a visão do outro lado como irremediavelmente maléfico —ou, na hipótese mais caridosa, burro— veio para ficar. Qualquer reação que não seja o combate irrestrito a tudo que o outro polo representa é tida por suspeita.

Dora Kramer – Zangado

Folha de S. Paulo

Lula destrata os auxiliares para não assumir o próprio BO da má articulação

Dizem que o presidente Luiz Inácio da Silva não é mais o mesmo. Depende do ponto de referência. A mim soa muito parecido com o figurino pré-Lulinha paz e amor feito sob medida para ultrapassar a barreira de três derrotas e ganhar a eleição de 2002.

A zanga que distribui a torto e a direito agora lembra o personagem criado por Laerte Coutinho para o jornal dos metalúrgicos de São Bernardo do Campo (SP) na década de 1980. João Ferrador, sempre amofinado, cobrava dos patrões condições dignas de trabalho com o bordão "hoje eu não tô bom".

Alvaro Costa e Silva - Madona, vaticínios e boatos

Folha de S. Paulo

Show de Madonna derrubou o vaticínio dos profetas de sofá

Falar mal do Rio é um esporte, já disse alguém. A prática envolve não apenas os odientos, os ressentidos, os invejosos e os críticos acerbos (estes exercendo seu sagrado direito) como os cariocas da gema e os que escolheram viver aqui.

As razões são óbvias e bastantes. É só olhar o governador Cláudio Castro, que no ano eleitoral de 2022 aumentou em 22% os gastos com pessoal e hoje pressiona a União e o STF para conseguir mais dinheiro. Nem a humildade de apresentar-se com o pires na mão ele tem; como um chantagista, ameaça não pagar salários. "Quem mandou a população votar nele?", ouço o leitor perguntar. Como se somente o Rio elegesse maus políticos. Como se isso não fosse uma vocação nacional. A lista de nulidades eleitas é extensa, a começar pelo hoje inelegível.

Roger Cohen - Qual o tamanho do perigo com a ascensão da extrema direita na Europa?

The New York Times / O Estado de S. Paulo

Partidos anti-imigração com raízes fascistas - e um compromisso incerto com a democracia - são agora a corrente principal

Jordan Bardella, 28 anos, é o novo rosto da extrema direita na França. Comedido, de corte limpo e criado nos subúrbios do norte de Paris, ele recheia seus discursos com referências a Victor Hugo e acredita que “nenhum país tem sucesso negando ou tendo vergonha de si mesmo”.

Essa frase, em um comício recente na cidade de Montbéliard, no leste do país, provocou um coro de “Jordan! Jordan!” de uma multidão que havia feito fila por horas para vê-lo. Gritos de “Patrie” - pátria - encheram o salão. A Bardellamania está no ar.

Bardella, filho de imigrantes italianos e que abandonou a faculdade e se filiou ao partido Frente Nacional (agora Reagrupamento Nacional) aos 16 anos, é o protegido de Marine Le Pen, a eterna candidata presidencial francesa de extrema direita. Moderado no tom, se não no conteúdo, ele também é a personificação da normalização - ou banalização - de um partido que já foi visto como uma ameaça quase fascista à República.

Em toda a Europa, a extrema direita está se tornando a direita, na ausência de qualquer mensagem convincente dos partidos conservadores tradicionais. Se “extrema” sugere algo fora do comum, tornou-se um termo errôneo. Os partidos de uma direita anti-imigração não apenas cresceram, mas também viram as barreiras que antes os mantinham afastados desmoronarem à medida que eram absorvidos pelo arco das democracias ocidentais.

Na Itália, a primeira-ministra Giorgia Meloni, que tem raízes políticas em um partido neofascista, agora lidera o governo mais direitista da Itália desde Mussolini. Na Suécia, o governo de centro-direita depende dos Democratas da Suécia, outro partido com origens neonazistas, em rápido crescimento, para sua maioria parlamentar. Na Holanda, Geert Wilders, que chamou os imigrantes marroquinos de “escória”, venceu as eleições nacionais em novembro à frente de seu Partido da Liberdade, e os partidos de centro-direita concordaram em negociar com ele para formar uma coalizão de governo.

Pedro Doria - Moderados?

O Globo

Caiado é um líder com relevância que representa o Centro-Oeste desde a Constituinte. Quem lhe dá relevância é a população de sua terra

Na semana passada, Joel Pinheiro da Fonseca fez uma provocação em sua coluna na Folha de S.Paulo. É possível existir um “bolsonarismo moderado”? Boa parte da repercussão se deu onde costuma ocorrer o debate público hoje: nas redes. Não é um debate sem editor, embora muitos considerem ingenuamente que, nas redes sociais, porque todo mundo publica, todo mundo pode vir a ser lido. Que nada. Há um editor, o algoritmo de inteligência artificial. O caso de como repercutiu a coluna de Joel dá boa mostra de como o algoritmo interfere na conversa que uma sociedade tem sobre o que é de seu interesse.

Mas, antes de tudo, porque também esta coluna pode repercutir nas redes, e porque quem bate boca nas redes mal passa do primeiro parágrafo: não, um bolsonarismo moderado não é possível por definição. É um oximoro, uma contradição em termos. Tendo escrito uma história do Integralismo e, por isso, tendo lido bem mais Plínio Salgado do que é saudável numa vida, dá para afirmar com tranquilidade. O Brasil ideal na cabeça de Jair Bolsonaro é rigorosamente o mesmo ideal de país do líder máximo do movimento fascista brasileiro dos anos 1930.