quarta-feira, 15 de maio de 2024

O que a mídia pensa: Editoriais / Opiniões

Medidas de prevenção são essenciais desde já

O Globo

Das 27 capitais brasileiras, 15 não elaboraram Plano de Mudanças Climáticas, inclusive Porto Alegre

A tragédia das chuvas no Sul impõe mudanças urgentes de comportamento do governo. As chuvas que transformaram em pesadelo a vida dos gaúchos demonstram que os efeitos deletérios das mudanças climáticas vieram para ficar. Diante da destruição sem precedentes que atinge 447 dos 497 municípios do Rio Grande do Sul, não é mais possível que gestores adiem planos de contingência e atrasem ações para mitigar os efeitos de catástrofes que tendem a se tornar cada vez mais recorrentes e letais. Medidas necessárias para evitar novas tragédias precisam ser tomadas desde já — e não só no Rio Grande do Sul.

É preocupante que, das 27 capitais brasileiras, 15 ainda não tenham um Plano de Mudanças Climáticas, como noticiou O GLOBO — entre elas Porto Alegre. A cheia histórica que aflige os gaúchos resulta de falhas nos sistemas implantados há décadas para conter as águas do Guaíba. Mesmo que não tivesse sido possível prever a dimensão da catástrofe, várias medidas poderiam ter ajudado a reduzir seu impacto.

Fernando Exman - Lições do Katrina na Semana do Brasil em NY

Valor Econômico

A tragédia do Rio Grande do Sul mudou o rumo da prosa na “Semana do Brasil” em Nova York. O bicentenário das relações bilaterais continua como pano de fundo. Os desafios e as principais oportunidades de negócios entre os dois países permanecem no topo da pauta, por exemplo, do Summit Valor Econômico Brazil-USA desta quarta-feira (15). Mas o atendimento emergencial e a reconstrução do Estado permeiam discursos e conversas de bastidores. Para muitos, é inevitável a comparação com a catástrofe provocada pelo furacão Katrina em Nova Orleans, em 2005. E o Brasil deveria dar atenção à experiência dos americanos.

Já é possível dar um ponto positivo para o Brasil, quanto à articulação federativa que não se deixou prejudicar pela polarização política.

Em Nova Orleans, o ex-presidente George W. Bush foi bastante contestado pela demora em mobilizar a máquina para cuidar da região. E quando o fez, alegam seus críticos, não teria atendido bem seus adversários políticos locais.

Lu Aiko Otta - Recursos externos para socorrer RS

Valor Econômico

Catástrofe das chuvas chegou num momento de fragilidade do Orçamento federal

Os investimentos para a reconstrução do Rio Grande do Sul não cabem no Orçamento federal, por isso a solução pode estar em empréstimos externos. O governo dialoga com organismos multilaterais de crédito em busca de uma solução estrutural para esse e outros eventos de emergência climática, informou à coluna uma fonte da área econômica.

A catástrofe das chuvas chegou num momento de fragilidade do Orçamento federal brasileiro. Demandará mais investimentos num cenário em que a tendência é o desaparecimento do espaço fiscal para esse tipo de despesa.

O problema tem sido tema de alertas de especialistas e técnicos da área econômica há décadas. Agora, caminha para um limite. Sem mudanças, o novo arcabouço fiscal terá uma morte precoce.

Luiz Carlos Azedo - O tempo e o vento, a saga gaúcha continua

Correio Braziliense

O mais importante, em meio à catástrofe física, é o drama humano e a resiliência dos gaúchos diante das adversidades. São Anas, Pedros, Bibianas e Rodrigos

O épico O Tempo e o Vento, obra do escritor gaúcho Erico Verissimo (1905-1975), foi publicado em três volumes: O Continente (1949), O Retrato (1951) e O Arquipélago (1962). A trilogia conta a história do Rio Grande do Sul ao longo de 200 anos, tendo forjado a identidade do povo gaúcho e, ao mesmo tempo, a empatia nacional com o estado. É um dos grandes romances de interpretação do Brasil. Muitos nem de longe ouviram falar no romance, mas sabem quem foram a destemida Ana Terra e um certo capitão Rodrigo Cambará, seja pelo cinema, seja pela teledramaturgia.

Obra de ficção baseada em fatos, teceu o arquétipo dos nossos gaúchos, que são brasileiros por opção, porque também há gaúchos nos pampas do Uruguai e da Argentina, com os mesmos costumes tradicionais. A família Terra Cambará, cuja trajetória protagoniza os três volumes do romance, tece na literatura a história geográfica, cultural e política do Rio Grande do Sul.

Luciano Huck – Ambidestro

O Globo

Não me importa que chamem de 'isentão' quem não se abraça a nenhum dos polos

O psicólogo Adam Grant, uma das vozes contemporâneas mais influentes, aponta a importância de nos mantermos mentalmente flexíveis para lidar com uma realidade cada vez mais complexa. Para ele, o melhor jeito de enfrentar catástrofes climáticas, pandemias, recessões e ataques à democracia é abandonar o quentinho das nossas convicções e a racionalidade binária. Ter coragem para escolher o desconforto. É o mesmo conselho que Toni Morrison, primeira negra a ganhar o Nobel de Literatura, costumava dar aos amigos: olhem menos para o espelho, mais para a janela.

Há anos procuro atuar dessa forma na TV e na minha vida. Peço licença às pessoas, presto atenção, aprendo um bocado e partilho com quem puder. Não me importa que chamem de “isentão” quem não se abraça a nenhum dos polos. Importa, para mim, lembrar que, ao se fechar numa caixinha, “de direita” ou “de esquerda”, a pessoa corre risco de se fechar também para boas ideias que venham da outra. Claro, não é problema se identificar com um lado. Só defendo que na vida, como no futebol, dá para chutar com os dois pés.

Zeina Latif - A recuperação do RS testará nossas competências e valores

O Globo

A reconstrução exigirá grande capacidade de planejamento e de coordenação, bem como execução eficiente. É uma engenharia complexa que envolverá as máquinas públicas das três esferas

Na tragédia, a emoção nos toma. Mas não convém deixá-la turvar o olhar objetivo para suas causas e para o caminho da reconstrução. Apesar dos recordes pluviométricos no Rio Grande do Sul, parece claro que houve falhas na prevenção de desastres.

Há responsabilidade do governo federal. A Constituição, no artigo 21, inciso XVIII, estabelece que “compete à União planejar e promover a defesa permanente contra as calamidades públicas, especialmente as secas e as inundações”.

Ocorrendo a calamidade pública, a Constituição não estabelece a obrigação da União em ações emergenciais, mas seria equivocado não as fazer. Seria penalizar duplamente a população e contrariar os valores de solidariedade da nação.

Vera Magalhães - Lula enfrenta sua própria 'pandemia'


O Globo

É hora de dar poder e caneta àqueles que sempre bateram na tecla de que a emergência climática era uma realidade

Não há dúvida de que a forma como Jair Bolsonaro conduziu o enfrentamento à pandemia de Covid-19 foi fator crucial para sua derrota em 2022. A tragédia no Rio Grande do Sul, mesmo localizada em apenas um estado da federação, representa para o governo Lula 3 um desafio de igual magnitude: definirá a capacidade da administração de responder a uma tragédia e de dar respostas de longo prazo a uma nova realidade nacional e global relacionada à emergência climática.

Na largada, a resposta do governo petista já difere frontalmente daquela dada por Bolsonaro por não minimizar a crise, não negar sua gravidade e não demonstrar falta de empatia com a população. É o que distingue um governo negacionista, como o anterior, daqueles que têm apreço à ciência e reconhecem a agenda ambiental como aspecto central da gestão econômica, e não coisa de “ativista” ou de ONG.

Vera Rosa - Lula e a tragédia que não tem mais fim

O Estado de S. Paulo

Há quem diga que a catástrofe no Rio Grande do Sul é a covid do governo Lula

A decisão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva de anunciar novas medidas de socorro ao Rio Grande do Sul no próprio Estado não foi apenas para ter a seu lado os chefes dos Poderes na viagem. Lula desembarcará hoje em Canoas e, desta vez, quer visitar ao menos um abrigo, em São Leopoldo.

A portas fechadas, o presidente reclamou muito com auxiliares de terem montado para ele uma agenda que o mantinha numa sala, sem contato com as vítimas, nas duas vezes em que esteve no Rio Grande do Sul. Nos últimos dias 2 e 5, Lula sobrevoou regiões alagadas e fez pronunciamentos. Mas medidas de grande impacto, como a suspensão da dívida com a União por três anos e um pacote de R$ 50,9 bilhões, foram divulgadas no Palácio do Planalto.

Vinicius Torres Freire - Bolsa Família extra no RS é pouco

Folha de S. Paulo

Muita gente deve ficar sem renda do trabalho, em situação parecida com a da pandemia

O governo federal estuda anunciar um Bolsa Família extra para parte das pessoas que foram expulsas de casa pelas enchentes e que já não estejam recebendo o benefício no Rio Grande do Sul. Entre desabrigados (em abrigos de emergência) e desalojados (acolhidos em outras casas), são cerca de 600 mil pessoas.

Em tese, o programa de emergência duraria enquanto as pessoas estivessem sem teto próprio. Além disso, haveria para umas 100 mil pessoas um "Auxílio Recomeço" de talvez R$ 5.000, para gastos em refazimento das casas, que vinha sendo chamado pelo péssimo nome de "voucher". Haverá financiamento extra para o Minha Casa, Minha Vida. Basta? Hum.

Wilson Gomes - A nova onda de fake news

Folha de S. Paulo

No Brasil, estamos vendo esse jogo ser jogado desde 2018

Muitos estão surpresos e indignados com a nova inundação de fake news que se seguiu à tragédia decorrente das chuvas no Rio Grande do Sul. Têm razão na sua indignação, mas não deveriam estar surpresos. O "novo normal", como se diz por aí, é ubi crisis, ibi fake news.

O latim é de brincadeira, mas expressa um fato verdadeiro: onde houver crise —situações em que surgem grandes incertezas e angústias quanto ao presente e ao futuro comum do país e das pessoas— vai haver fake news.

Vemos esse jogo sendo jogado no Brasil desde 2018. Se a crise for política, fake news aparecerão para aumentar o sentimento de incerteza, crispar os ânimos e recrutar militantes e eleitores pelo medo e pelo ódio. Se for de saúde pública, fake news surgirão como uma infecção oportunista em um corpo social já debilitado a fim de disseminar mais confusão, aflição e medo, convenientemente aproveitados para fins políticos.

Hélio Schwartsman - Revolução ortodoxa

Folha de S. Paulo

Afastado o risco de golpe, Supremo precisa voltar a atuar sem recurso a heterodoxias

Nem tão depressa que pareça fuga, nem tão devagar que pareça provocação, a cúpula do Judiciário, mais especificamente o ministro do STF Alexandre de Moraes, vai adotando um tom menos belicoso em relação a Jair Bolsonaro e seus aliados, como mostrou reportagem de José Marques. Vejo essa movimentação com bons olhos. Se a Justiça brasileira quer recobrar ao menos parte da credibilidade de que já gozou, precisa voltar a atuar no modo ortodoxo.

Bruno Boghossian - O mercado da anistia

Folha de S. Paulo

Inelegível, ex-presidente usa força política e máquina partidária em plano para escapar da Justiça

Uma semana depois de entrar na campanha de 2018 como presidenciável, Fernando Haddad ouviu sete vezes a mesma pergunta. Em entrevista à rádio CBN, o petista teve que responder se assinaria um indulto para tirar Lula da prisão caso vencesse a disputa. Sob pressão, ele sentenciou: "Não. A resposta é não".

A suspeita de que um político pode usar o poder conquistado na eleição para ajudar um companheiro com problemas na Justiça costuma ser tóxica. Haddad tentou estabelecer um cordão sanitário para evitar que a questão se tornasse tema de campanha. Numa disputa marcada pelo antipetismo, ele rejeitou uma manobra aberta para liberar o padrinho.

Temer vê oposição ao governo com sede para destruir

Fernanda Perrin e Alexa Salomão / Folha de S. Paulo

Durante evento em NY, Ciro Nogueira afirma que aguarda novo JK no país, citando Caiado e Ratinho Jr. como exemplos, sob aplausos

O ex-presidente Michel Temer (MDB) acusou a oposição no Brasil de não cumprir o seu papel e, em vez disso, ter incorporado a ideia errônea de que, em vez de ajudar o governo por meio de críticas, deve tentar destruí-lo.

A declaração foi dada durante evento do grupo empresarial Lide em Nova York (EUA) nesta terça-feira (14), que reuniu uma série de nomes do setor público e privado brasileiros.

"Vocês sabem que no geral, no sistema democrático, existem a situação e a oposição. A oposição existe para ajudar a governar, é fundamental na democracia", disse. "Ela existe para ajudar a governar e ajuda quando critica, quando observa, quando contesta, quando contraria, quando faz as maiores críticas, não é? Nós temos que acostumar com isso", afirmou.