quarta-feira, 28 de agosto de 2024

O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões

Eleição municipal não pode ignorar agenda climática

O Globo

Municípios são responsáveis pela ocupação do solo, fator crítico para prevenir efeitos de enchentes ou secas

Os efeitos das mudanças climáticas já fazem parte do dia a dia dos brasileiros há algum tempo. Em maio, o país se comoveu com o drama dos gaúchos ante a devastação sem precedentes causada por chuvas inclementes, que mataram mais de 180 moradores, deixaram cidades submersas, arrasaram a infraestrutura e impuseram prejuízos bilionários. Nos últimos meses, em meio a secas severas e temperaturas abrasadoras, incêndios têm se alastrado, destruindo vegetações e causando transtornos à população. Seria de esperar que tal realidade fizesse das mudanças climáticas um dos principais temas da campanha municipal país afora. Não é o que acontece, porém.

Vera Magalhães - Lula apela ao saudosismo e ignora onda da eleição

O Globo

Presidente adota discurso estatizante gasto e ignora o avanço de Marçal, que mira o Planalto, e não o Anhangabaú

Quem ouviu o discurso do presidente Lula ontem, demonstrando enorme saudosismo em relação aos tempos bons do monopólio da Telebras nas telecomunicações e da Vale estatal, poderia se assustar e achar que inadvertidamente estava de volta aos anos 1990. Se o incauto fosse conferir o ano na internet, teria certeza, ao constatar que o assunto mundial era a volta da banda britânica Oasis.

Mas não. O ano ainda é 2024, o Consenso de Washington citado por Lula e o britpop que consagrou os irmãos Liam e Noel Gallagher fazem pouco sentido para além da nostalgia diante dos rumos da política e da música, e o presidente vai demonstrando notável descolamento da realidade cada vez mais complexa que se apresenta diante de governos e candidatos da esquerda, representada por ele no Brasil.

As dificuldades enfrentadas por candidatos do PT vão além da onda Pablo Marçal (PRTB) em São Paulo. Levantamento do Pulso, do GLOBO, com base na última rodada de pesquisas Quaest, mostra que candidatos do PT largaram atrás mesmo em capitais importantes do Nordeste, região que assegurou a vitória de Lula em 2022.

Zeina Latif - O desejo de sonhar das classes médias e a política

O Globo

O desejo de mudança segue vivo entre as classes médias que querem empreender e prosperar

As experiências de Bolsonaro e de Lula indicam que alimentar a polarização extremista pode até garantir a eleição, mas governabilidade e poder político são outra conversa. O diálogo e a construção de acordos ficam dificultados. Esse é o dilema da política da polarização: as forças que elegem os políticos ao Executivo não são as mesmas que viabilizariam o sucesso de sua gestão e o avanço do país para o desenvolvimento.

Assim, em meio a decepções, a sociedade segue insatisfeita, e essas lideranças mostram-se enfraquecidas.

O comportamento de Lula sugere que ele reconhece sua fraqueza. Exemplo disso foi não ter entrado em campo para defender a Reforma Tributária do IVA no molde proposto pela Fazenda, talvez por entender que sua ação poderia dificultar as negociações ao levantar a poeira da polarização. Bolsonaro, repetidas vezes, criticou a reforma, mas sem eco.

Bernardo Mello Franco – Onde há fumaça

O Globo

Uma nuvem gigantesca de fumaça se espalhou por dez estados e escureceu o céu em diversas capitais. O fenômeno, que se alastrou de Manaus a Porto Alegre, escancarou mais uma crise ambiental: o aumento das queimadas na Amazônia, no Pantanal e em outros biomas brasileiros.

No domingo, Brasília amanheceu encoberta por uma massa de fuligem, e a qualidade do ar foi classificada como péssima. Foi nesse ambiente tóxico que a ministra Marina Silva visitou a sede do Ibama e levantou a hipótese de uma ação orquestrada para incendiar o país. Ou parte dele.

“Do mesmo jeito que nós tivemos o ‘dia do fogo’, há uma forte suspeita de que agora esteja acontecendo de novo”, disse Marina, referindo-se à onda de incêndios no interior de São Paulo. “Tem uma situação atípica, vários municípios queimando ao mesmo tempo. Isso não faz parte da nossa curva de experiência”, alertou.

Fábio Alves - O piso do desemprego

O Estado de S. Paulo

O mercado de trabalho ganhou relevância para as próximas decisões do Banco Central

A força do mercado de trabalho brasileiro foi um dos principais motivos para o desempenho melhor do que o esperado da economia no primeiro e segundo trimestres deste ano, com a taxa de desemprego no menor nível em dez anos e aumento forte na renda e na geração de postos de trabalho formais.

Na próxima sexta-feira, o IBGE divulga os dados referentes a julho da Pnad Contínua. No trimestre encerrado em junho, a taxa de desocupação caiu para 6,9%, a menor desde junho de 2014. Terá o desemprego no Brasil atingido o seu piso no atual ciclo econômico ou há mais espaço para recuar? Afinal, um mercado de trabalho mais apertado pressiona para cima a inflação, em especial os preços de serviços.

“As mínimas da taxa de desemprego devem ter sido atingidas agora no meio do ano, e (a taxa) deve começar a subir, ainda que timidamente, nos próximos trimestres – em linha com alguma desaceleração da economia”, diz Júlia Gottlieb, economista do Itaú Unibanco. Ela projeta uma taxa de desemprego, com ajuste sazonal, de 7,3% no fim deste ano, subindo levemente para 7,5% em 2025.

“Apesar de algum aumento da taxa de desemprego até o final de 2025, o nível de desocupação seguirá historicamente baixo, indicando um mercado de trabalho ainda resiliente”, explica Júlia.

Segundo ela, a força do mercado de trabalho reflete uma economia que está aquecida, seja pela recuperação pós-pandemia – em especial no setor de serviços, que tipicamente emprega mais –, seja pelas políticas de transferência de renda e pelo ciclo benigno de crédito, que impulsionam a demanda interna por bens e serviços e incentivam as empresas a contratar mais.

Roberto DaMatta - Polarização é ato de má-fé

O Globo

Polarizar é, como tristemente testemunhamos, um modo de esvaziar o outro lado de razão

Temos corpos repartidos em esquerda e direita. Mãos, pés, olhos, narinas, ouvidos, dedos, hemisférios cerebrais, tudo tem um outro polo que não é “reserva” ou “duplicata”, mas complemento. Somos constitucionalmente duplos, e nossa natureza bipolar facilita a automistificação.

Polarizar é parte de nossa natureza. Entretanto ela tem sido usada mais para dividir e condenar que para compreender. Os lados se complementam, mas, na politicagem, o conceito bloqueia a relativização. Passa a ser prova de certezas, quando o que está em jogo são circunstâncias e limites.

Polarização é uma palavra mais apropriada para uma enfermidade em que represento a verdade, enquanto você exprime erro e ignorância. Tudo o que digo traduz boa consciência do mundo e das coisas; ao passo que você é a personificação da má-fé. Estamos afundados nessa dualidade não complementar e destrutiva faz tempo.

Marcelo Godoy - Fazer o ‘M’ de Marcola

O Estado de S. Paulo

Nunca a presença de candidatos ligados ao crime organizado foi tão explícita como nestas eleições

As ligações da criminalidade organizada com a política nunca foram tão extensas como nas eleições deste ano. A Itália, terra da máfia, registra um sentido particular para o verbo “sdoganare”, fazer passar pela alfândega. É aquele que se refere à concessão de legitimidade e respeito a quem antes era um pária ou contra quem o sistema político opunha seus vetos, como os impostos a extremistas e mafiosos.

O acúmulo de casos de candidatos e – pasmem – dirigentes partidários investigados ou condenados por delitos ligados à criminalidade organizada em São Paulo mostra que à miséria da política – povoada por casos de corrupção e pela defesa de privilégios de castas insensíveis às angústias da população –, o eleitor pode acrescentar a desgraça do narcoestado, sdoganando mafiosos por meio do voto.

Fernando Exman - Marçal mostra que Bolsonaro é menor que o ‘bolsonarismo’

Valor Econômico

Barulho feito pela candidatura do coach nas ruas, ou melhor, nas redes, fez cair a ficha dos Bolsonaro

O avanço de Pablo Marçal (PRTB) na disputa pela Prefeitura de São Paulo materializa um receio compartilhado por aliados de Jair Bolsonaro (PL) quando o ex-presidente ficou inelegível. “Uma diferença entre Lula e Bolsonaro”, disse certa vez um deles, “é que Lula é maior que o PT, mas o bolsonarismo se tornou maior que Bolsonaro”.

Por “bolsonarismo”, deve-se considerar o fenômeno social, também visto no exterior, baseado em uma bandeira conservadora, antipetista, populista e impulsionada pelas plataformas digitais. Ele é visto como um movimento que vai além do ex-presidente Jair Bolsonaro e, também, dos candidatos que recebem seu apoio formal.

Na visão de influentes políticos de centro, esse tal bolsonarismo estabeleceu-se com um piso de 20% do eleitorado - a parcela da população mais identificada com a ultradireita e que agora, em um ambiente de polarização cristalizada, não tem mais acanhamento em se identificar como tal. E é justamente por isso que não deveria ser surpresa uma candidatura como a do influenciador Pablo Marçal subir na pesquisa Datafolha de 14% para 21%, empatando tecnicamente com Guilherme Boulos (23%) e Ricardo Nunes (19%).

Luiz Carlos Azedo - Marçal desponta no mundo de sombras

 

Correio Braziliense

Ninguém tem a garantia de que a propaganda oficial de rádio e tevê seja suficiente para neutralizar a propaganda enganosa do outsider nas redes sociais

Platão, o filósofo grego autor de A República, quando pensou em demonstrar a cegueira dos homens diante de um mundo de aparências, atribuiu a Sócrates, personagem central do livro, a história conhecida por Mito da Caverna, ao qual já nos referimos em outras colunas, porque tem a ver com momentos recorrentes da nossa política, como agora, no processo eleitoral de São Paulo.

Na fábula de Platão, homens estão presos por argolas no fundo de uma caverna escura. Sempre viveram ali, sem poder olhar para trás, onde um fogo arde, a certa distância, e irradia uma luz que se projeta nas paredes. Veem apenas formas humanas, bruxuleantes. Pensam que é a realidade. Mas veem apenas suas próprias sombras. É o único mundo que conhecem, o mundo sensível, o mundo das aparências.

Elio Gaspari - Pablo Marçal e seu teleférico

O Globo

Suas ideias são velhas e ruins

Pablo Marçal, segundo as pesquisas, é uma novidade na política de São Paulo. Na noite de segunda-feira, o candidato a prefeito foi entrevistado na GloboNews. A primeira pergunta tratava de sua proposta para o sistema de transportes numa cidade onde os ônibus se movem a 16 quilômetros por hora.

Ele respondeu, criticando as promessas do prefeito Ricardo Nunes, prometendo empregos. De transporte mesmo, falou rapidamente de teleféricos. Mais adiante, cobrado, revelou que transportariam os passageiros a 22 quilômetros por hora, em linha reta. Lembrado de que São Paulo é uma cidade plana, não elaborou o tema. Topograficamente, um teleférico paulistano poderia levar os banqueiros da Avenida Paulista às suas casas nos Jardins.

Vinicius Torres Freire – Política em estado de pânico e lamaçal

Folha de S. Paulo

Redes sociais e fúria contra o Estado ineficaz criam país ingovernável e sujeito ao crime

Redes sociais e fúria contra Estado ineficaz criam país ingovernável e sujeito ao crime

Em algumas pesquisas eleitorais qualitativas, a intenção de votar em Pablo Marçal (PRTB) para prefeito de São Paulo aparece como revolta contra governos, "políticos" e pobreza; também como espírito de porco juvenil, um niilismo periférico.

"Quando a gente não pode fazer nada, a gente avacalha. Avacalha e se esculhamba", dizia a personagem central de o "Bandido da Luz Vermelha", filme de 1968 de Rogério Sganzerla (1946-94). Há também identificação com o candidato, uma admiração pela figura que parece ter vindo do nada, do interior, sem capital, formação ou amigos importantes, que se fez na vida como tantos influencers.

Não é novidade. Quem dá uma olhada em redes sociais reconhece essa atitude faz mais de década, com a popularização dos celulares com internet, em torno de 2010, ou com a ascensão e engorda da dita "classe C". Cientistas sociais e estudos variados dos colapsos políticos desde 2013 também já explicaram em parte como uma nova direita e um espírito "antissistema" se valeram das redes. A questão é como sair disso que se tornou um lamaçal.

Mariliz Pereira Jorge - Tabata peita Marçal

Folha de S. Paulo

Candidata aproveita a campanha para desconstruir a imagem de 'menina'

Grandona. Vingadora. Braba. Investigativa. Malvadona. Tabata Amaral (PSB) foi parar nos trending topics do ex-Twitter por causa de mais um vídeo sobre a condenação de Pablo Marçal por desvio de dinheiro de contas bancárias e por supostas ligações com o PCC. A candidata pode não ter subido nas pesquisas o suficiente para se tornar competitiva, mas sua imagem cresceu positivamente entre o público que acompanha a eleição paulistana por uma razão simples: ela é a única que tem peitado Pablo Marçal (PRTB).

É compreensível que Guilherme Boulos (PSOL) e Ricardo Nunes (MDB) tenham optado por manter certa distância de Marçal, como mostra reportagem da Folha. Até agora, são eles os que têm mais a perder e ainda parecem atordoados ao lidar com um adversário que tem pinta de caricatura pelos métodos que usa, mas é uma ameaça real, como escrevi antes dessa reviravolta nas pesquisas.

Bruno Boghossian - As companhias de Marçal

Folha de S. Paulo

Seria ilusão acreditar que presidente do PRTB abriria mão de influência na prefeitura em caso de vitória

Pablo Marçal deve sua candidatura a um sujeito que se vangloria de suas conexões com o crime organizado. Leonardo Avalanche, presidente do PRTB, é um nome desconhecido, mas carrega uma bagagem pesada. Embarcou num avião com suspeitos de integrar o PCC e foi gravado dizendo que ajudou a libertar um chefe da quadrilha.

Avalanche não é uma peça qualquer nessa empreitada eleitoral. Ele tomou o controle do PRTB no início do ano e pavimentou o caminho para Marçal. O próprio ex-coach reconheceu que, sem o acordo com a sigla, não estaria na disputa. "Eu não escolhi o partido. Foi o único que teve para entrar", disse, na GloboNews.

Wilson Gomes - Pablo no circo eleitoral

Folha de S. Paulo

Ele mostra aos eleitores que a política é só uma piada infame

São Paulo virou um circo eleitoral. No centro da arena está um personagem distribuindo currículo para ser o líder político da cidade, fazendo questão, no entanto, de deixar claro que a sua maior qualificação para o cargo é justamente não ser político e achar a política uma palhaçada.

É compreensível que São Paulo admire os bem-sucedidos. É o seu mito fundador. Por isso, o candidato esfrega na cara de todos a sua grana e os indícios de que encontrou um modelo inovador de negócios que lhe deu sucesso e merecimentos. Merece tudo, inclusive o cargo de CEO da cidade mais bem-sucedida do país.

Afinal, ele não está se candidatando a prefeito, mas a chairman da São Paulo S.A., a maior empresa do Brasil, que precisa ser resgatada da mão dessa gente torpe, despreparada e incompetente que são os políticos.

Fernando de la Cuadra* - Pablo Marçal, el convidado de piedra del bolsonarismo

Las próximas elecciones municipales en Brasil a realizarse el día 6 de octubre del presente año, se han convertido en un barómetro para medir el peso del conjunto de las fuerzas políticas del país, pero especialmente para conocer la persistencia de los representantes de la extrema derecha y de las huestes bolsonaristas.

En ese contexto, disputando la alcaldía de la ciudad de São Paulo ha crecido meteóricamente una figura, Pablo Marçal, quien dice representar mejor que nadie los valores y principios del bolsonarismo. Este candidato nos recuerda mucho más el discurso tosco y agresivo del excapitán del pasado (elecciones de 2018) que al actual Jair Bolsonaro, bastante más preocupado en moderar su retórica para cautivar al conjunto de partidos que forman el centrão, bloque que domina ampliamente el Parlamento brasileño. Bolsonaro necesita de estos partidos que controlan el Legislativo para conseguir la ansiada amnistía que le permitiría postularse a las elecciones de 2026.