quinta-feira, 12 de setembro de 2024

O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões

Ao enfrentar incêndios, governo Lula avança pouco sobre anterior

O Globo

PT e Rede, hoje no poder, entraram na gestão Bolsonaro com ação que levou Supremo a agir como Executivo

Os incêndios que se alastram pelas regiões Norte, Centro-Oeste e Sudeste, lançando fumaça sobre 60% do território nacional, despertaram uma reação insólita nas instituições. O Supremo Tribunal Federal (STF) passou por cima do Executivo e, por decisão do ministro Flávio Dino, ordenou o deslocamento de forças policiais e bombeiros militares dos estados não atingidos às regiões afetadas. Por mais meritória que seja a medida — não há dúvida de que o combate ao fogo é urgente —, no ordenamento da democracia brasileira ela não cabe a um juiz do Supremo.

A decisão se torna ainda mais inusitada quando se descobre que foi tomada no contexto de três ações impetradas no Supremo contra o Executivo, ainda na gestão Jair Bolsonaro, cujos autores são o PT, do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, e a Rede Sustentabilidade, da ministra Marina Silva. Ora, tanto Lula quanto Marina, que tanto criticaram a política ambiental do governo anterior, hoje detêm poderes constitucionais para pôr em marcha toda sorte de medida no combate ao fogo. Por que, afinal, seus partidos precisam da ajuda do STF?

Maria Hermínia Tavares - Os paulistanos e a polarização política

Folha de S. Paulo

Levantamento do Datafolha revela que a polarização passa longe dos prováveis eleitores

Virou lugar comum dizer que o Brasil está imerso em polarização política. Dez em dez comentaristas a tomam como fato consumado e a consideram um dos principais problemas a emperrar o bom funcionamento da democracia no país. O termo foi ganhando importância à medida que se tratou de entender a crise política da década passada. E entrou para valer no vocabulário das classes conversadoras com a ascensão de Bolsonaro e a entrada em cena de uma extrema-direita ativa e ruidosa.

A controvérsia sobre o assunto é maior entre os acadêmicos e reproduz a animada discussão em curso nos departamentos de ciência política de universidades norte-americanas. Lá, como cá, há quem considere que se trata de um fenômeno restrito às elites políticas e à ínfima parcela dos cidadãos que acompanham o dia a dia do jogo do poder.

No Brasil, alguns até argumentam que não seria adequado falar em polarização, pois o que se tem de fato é apenas um polo radical de ultradireita, sem equivalente na outra ponta do espectro, onde predomina uma centro-esquerda para lá de moderada.

Ruy Castro -Trabalhar é para otários

Folha de S. Paulo

Nunca se apostou tanto no Brasil. A ilusão do enriquecimento repentino já movimenta R$ 100 bilhões no país

"A riqueza, para o brasileiro, não é o acúmulo penoso de dinheiro poupado graças a muitas horas de trabalho", disse Stefan Zweig. "É algo com que se sonha; tem que vir do céu e no Brasil, a loteria é esse céu. É a esperança quotidiana de milhões. A roda da fortuna gira todos os dias. Nos bares, nas ruas, a bordo e nos trens oferecem-se bilhetes de loteria. Todos os brasileiros os compram com o que sobra do seu salário. A determinada hora vê-se grande multidão diante do local da extração; em todas as residências e casas comerciais estão ligados os rádios; a expectativa do país inteiro se volta para um número. O que lhe falta de cobiça, o brasileiro compensa com esse sonhar cotidiano de um enriquecimento repentino."

Bruno Boghossian – A emergência climática na mesa de Lula

Folha de S. Paulo

Pacote de ideias dos últimos dias contra fogo e seca está na mesa do presidente desde 2022

A usina de ideias do governo funcionou em turno dobrado. Lula disse que vai tirar do papel uma autoridade climática, cobrou financiamento internacional para as florestas, sugeriu a ação de recrutas das Forças Armadas contra as queimadas e prometeu reconstruir a BR-319 para driblar a seca no rio Madeira. O ministro Alexandre Silveira falou em retomar o horário de verão para evitar um racionamento de energia.

A divulgação de planos contra a estiagem e as queimadas indica que o governo sentiu uma pressão para exibir ações mais enfáticas nesta crise ambiental. Os rios secos, a vegetação em chamas e a fumaça nos ares são sinais de que a turma está atrasada. Quase todo o pacote estava na mesa de Lula ao menos desde 2022.

Vinicius Torres Freire – O risco de falta de energia

Folha de S. Paulo

Nas hidrelétricas, ainda há água bastante, apesar da seca; o buraco é mais para baixo

Vai faltar energia? Estamos à beira de crises como as de 2021, 2017, 2014? Não é o que dizem os volumes de água nas hidrelétricas e entendidos do assunto. No entanto, o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, diz que um paliativo mínimo, como o horário de verão, já está em debate.

No início de setembro, a quantidade de água para produzir energia nas hidrelétricas do Sudeste/Centro-Oeste (70% da capacidade nacional de produção das hidrelétricas) era a maior desde 2011, com exceção do setembro de 2023, o melhor do século.

Dá para ficar tranquilo? Não. Basta se lembrar da recorrência das crises, em particular depois de 2013, da variação grande e rápida dos níveis dos reservatórios das usinas. Há perspectiva de seca feia até fins deste mês, pelo menos. Enfim, basta notar o agravamento da desgraça do clima.

Dani Rodrik* - Novo trilema ronda a economia mundial

Valor Econômico

É preocupante a possibilidade de que talvez seja impossível combater ao mesmo tempo as mudanças climáticas, impulsionar a classe média nas economias desenvolvidas e reduzir a pobreza global

Em 2000, escrevi um artigo sobre o que chamei de “o trilema político da economia mundial”. Minha afirmação era que as formas avançadas de globalização, o Estado-nação e a política de massa não poderiam coexistir. As sociedades se conformariam com (no máximo) duas das três.

Sugeri que, no longo prazo, seria o Estado-nação que cederia. Mas não sem luta. No curto prazo, a consequência mais provável seria que os governos procurariam reafirmar a soberania nacional para enfrentar os desafios distributivos e de governança impostos pela globalização.

Para minha surpresa, o trilema provou ter pernas longas. Meu livro “A globalização foi longe demais?”, publicado uma década depois, elaborou ainda mais a ideia. O conceito do trilema tornou-se útil de entender a reação contra a hiperglobalização, o Brexit, a ascensão da extrema-direita e o futuro da democracia na Europa, entre outras questões.

Assis Moreira - Impacto da geopolítica na parceria Brasil-Índia

Valor Econômico

Brasil e Índia têm atuações convergentes em várias frentes

No admirável mundo novo da geopolítica de hoje, os negócios entre o Brasil e a Índia poderão ter um impulso, na expectativa em Brasília e Nova Deli.

Em recente palestra na Fundação Dom Cabral, o embaixador brasileiro na Índia, Kenneth Félix Haczynski da Nóbrega, destacou como fatores geopolíticos influenciam as decisões econômico-comerciais indianas. Ou seja, inserir oportunidade concreta de negócios no atual contexto global é um desafio para qualquer relação de comércio e investimento “e com a Índia isso é indispensável, repito, indispensável”.

Maria Cristina Fernandes - Os embates que incendeiam o país

Valor Econômico

Sobram labaredas e falta entendimento sobre a mitigação dos efeitos do aquecimento global

O ar está irrespirável e as campanhas eleitorais seguem ignorando a mitigação da poluição. São Paulo, pior ar do mundo, já é apresentado às mágicas de El Salvador contra a violência sem que se discutam propostas de arborização ou a instituição de uma taxa para a circulação de veículos pelo centro para financiar a mitigação dos efeitos do aquecimento global.

Se há condescendência nas campanhas, sobra rigor quando o poder público corre atrás do prejuízo. É o caso, por exemplo, das cobranças sobre a atuação do Supremo Tribunal Federal contra os incêndios. A implementação de políticas públicas não é função do STF, mas o ministro Flávio Dino agiu mediante provocação (Rede, PT, Psol). O regimento da Corte atribui ao relator do acórdão vencedor a prerrogativa de assegurar seu cumprimento. A reação engloba agronegócio, Congresso e os ministérios convocados às audiências com Dino.

Felipe Salto - Faltam razões para elevar a Selic

O Estado de S. Paulo

A combinação de mercado de trabalho bom, inflação controlada e PIB acima do esperado não enseja elevação dos juros

A taxa de desemprego muito baixa e o crescimento econômico mais elevado que o esperado se combinam com uma inflação controlada. Não há razões para a elevação dos juros, apesar de ser este o cenário mais provável, conforme nossas análises na Warren Investimentos.

A última edição da pesquisa Focus, do Banco Central, que congrega as expectativas do mercado para a inflação, o PIB, a dívida pública e outras variáveis econômicas relevantes, merece atenção.

A mediana das expectativas para o IPCA, principal indicador para medir a evolução dos preços dos bens e serviços, indica variação de 4,30%, 3,92% e 3,60% ao ano para 2024, 2025 e 2026, respectivamente. Em que pese a inflação prevista para o ano corrente estar mais próxima do teto da meta determinada pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), há uma convergência das projeções para níveis mais próximos de 3,50%, no futuro próximo.

Do lado fiscal, o cenário está longe do mar de rosas, mas não há probabilidade relevante de uma crise ou algo parecido. O déficit primário (receita menos despesa sem contar os juros da dívida) vai diminuir em 2024, em relação a 2023, de R$ 230,2 bilhões para R$ 57,6 bilhões.

José Serra - Pedidos a Galípolo

O Estado de S. Paulo

Que o BC não seja apenas o gestor da Selic, mas que assuma responsabilidades compatíveis com sua importância e abrangência

Estamos em vias de ter um novo presidente do Banco Central (BC) do Brasil, o primeiro indicado pelo atual governo Lula. Logicamente, há um rito a ser percorrido, que envolve sabatina na Comissão de Assuntos Econômicos e o plenário do Senado. Tudo indica que o atual diretor de Política Monetária do banco, Gabriel Galípolo, assumirá a direção de nossa autoridade monetária.

Importante atentar para um fator que pode despertar resistências em alguns segmentos do sistema financeiro, o fato de Galípolo ter uma trajetória profissional marcada pela atuação na interface entre os mercados e a economia real, notadamente na construção da modelagem de financiamento para grandes projetos de concessões e parcerias público-privadas (PPPs).

Certos segmentos “fundamentalistas” do mercado financeiro também torceriam o nariz para os artigos assinados por Galípolo em coautoria com Luiz Gonzaga Belluzzo. Ao contrário, minha opinião é de que assinar um artigo com um economista do calibre de Belluzzo é uma credencial que torna todos os outros atributos menos relevantes.

Celso Ming - Os impactos da Teologia da Prosperidade

O Estado de S. Paulo

Aos poucos, analistas e políticos começam a entender a importância de um movimento relativamente novo e de grande impacto econômico e político no Brasil que leva o nome de Teologia da Prosperidade.

Quem zapeia os programas de TV das igrejas evangélicas logo percebe a frequência que é dada a quadros do tipo “xô pobreza!”, com seguidos depoimentos de gente que estava na pior e começou a prosperar, sempre com as graças do senhor.

São histórias que seguem mais ou menos este roteiro: “Estava largado da mulher, comecei a beber, não tinha onde cair morto, acabei dormindo debaixo da ponte, mas caí em mim, orei para o Senhor, recomecei e dei a volta por cima. Hoje tenho uma empresa com vários empregados, dois carros, estou ficando rico e vou ficar ainda mais...”.

Não é coisa de meia dúzia de casos. São milhares e milhares. As igrejas evangélicas vêm cultivando a versão brasileira para o que, em 1904, o sociólogo alemão Max Weber chamou a atenção em seu livro A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo.

William Waack - Nova onda antissistêmica

O Estado de S. Paulo

A ‘herança’ de Bolsonaro flui para mais um movimento disruptivo, sem agenda clara

Jair Bolsonaro perdeu em boa parte para si mesmo as eleições de 2022 e a julgar pelo que está acontecendo na capital paulista sua figura e influência políticas sofrem acelerado processo de erosão. O curioso é que o potencial de votos “antissistema” em geral e o “de direita” (como se queira chamar isso) em particular aumentou desde a derrota de Bolsonaro.

Em São Paulo o óbvio “herdeiro” é Pablo Marçal. Não importam as diferenças entre cada um, esses personagens de meteórica ascensão trafegam no mesmo “filão”. Asseguram que são capazes de mudar para melhor a vida de cada um “arrebentando” com “isso que está aí”.

Merval Pereira - Influência reduzida

O Globo

Nunes não deve a Bolsonaro a liderança que recuperou em São Paulo, muito menos a vitória fácil contra seus adversários num provável segundo turno

As pesquisas Quaest sobre as eleições municipais no Rio e em São Paulo deixaram claro que o ex-presidente Bolsonaro não tem conseguido impor seus candidatos nas duas principais capitais do país. Em São Paulo, a situação fica mais explícita, pois ele errou ao praticamente deixar de lado a candidatura do prefeito Ricardo Nunes depois que o ex-coach Pablo Marçal surgiu como adversário surpresa.

A pesquisa de ontem mostra não apenas que Nunes recuperou popularidade depois da propaganda eleitoral no rádio e televisão, como Marçal está à frente de Boulos mesmo depois da briga política com o clã Bolsonaro e de ser barrado no palanque da Paulista. O resultado, ainda empate técnico entre os três candidatos, não se deve a nenhuma ação de Bolsonaro a favor de Nunes, muito menos de Marçal.

Míriam Leitão - Emergência permanente

O Globo

Diante da situação dramática, o governo agora coloca em prática medidas importantes que estavam sendo discutidas há algum tempo

As medidas têm a marca da urgência, mas todas parecem sempre insuficientes e atrasadas, porque a crise climática se espalha pelo Brasil com uma gravidade jamais vista. Fogo, fumaça, seca. Os terríveis cenários e insistentes alertas dos cientistas se concretizam antes do que era previsto. O governo baixou uma medida provisória criando o estatuto jurídico da emergência climática. A partir dessa MP passa a existir a figura da emergência permanente para todos os municípios e localidades vulneráveis aos extremos climáticos, me disse a ministra Marina Silva.

Luiz Carlos Azedo - Chile quer rever anistia de golpistas

Correio Braziliense

Segundo dados oficiais, 3.216 pessoas foram assassinadas, 1.400 pessoas desapareceram; um total de 40 mil pessoas foram presas e torturadas

presidente do Chile, Gabriel Boric, anunciou que pretende revogar a lei de anistia aos crimes contra a humanidade cometidos durante a ditadura Pinochet, entre 1973 e 1990. Sua decisão coincide com as comemorações de 51 anos do golpe de Estado que derrubou o governo democrático de Salvador Allende, em 11 de setembro de 1973, e colocou Augusto Pinochet no poder. Sua decisão com certeza terá repercussões no Brasil, que precisam ser levadas em consideração, porque não faltam os que desejam fazer a mesma coisa por aqui.

Um projeto de lei apresentado pela então presidente Michelle Bachelet, em 2014, dorme nos bastidores do Congresso chileno. Exclui da anistia, indulto e prescrição em relação aos crimes contra a humanidade cometidos por agentes do Estado ou com sua autorização — ou seja, os torturadores e seus comandantes.

Cláudio Carraly* - Desvendando os Segredos do Tempo: O que a física revela sobre nossa percepção do universo

A física moderna, com suas teorias complexas e desafiadoras, questiona profundamente nossa percepção do tempo como algo linear e imutável. Por meio de teorias como a Relatividade e a Mecânica Quântica, surge a intrigante ideia de que o tempo pode não ser o que parece. Teoria da Relatividade Especial, Einstein propôs que o tempo não é absoluto, mas relativo ao movimento do observador. Isso significa que o tempo passa mais devagar para objetos em movimento rápido em relação a um observador em repouso.

Essa dilatação do tempo foi comprovada experimentalmente e tem implicações profundas para nossa compreensão do universo. Astronautas que viajam em alta velocidade no espaço experimentam o tempo de maneira mais lenta em comparação às pessoas na Terra. Se um astronauta viajar a velocidades próximas à da luz e retornar, ele terá envelhecido menos do que seus colegas que permaneceram na Terra.

A Teoria da Relatividade Geral, também de Einstein, vai além ao afirmar que a gravidade afeta o tempo. A presença de massa e energia curva o espaço-tempo, distorcendo o ritmo em que o tempo passa em diferentes regiões. Essa curvatura explica fenômenos como a dilatação temporal gravitacional e o desvio para o vermelho no espectro de luz em campos gravitacionais fortes. Relógios próximos à superfície da Terra, onde a gravidade é mais forte, marcam o tempo mais lentamente do que relógios em órbita, onde a gravidade é mais fraca. Isso é considerado nos sistemas de GPS para garantir precisão.