sexta-feira, 27 de setembro de 2024

O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões

Espiral de violência na política tem de ser contida

O Globo

Cármen Lúcia foi feliz ao declarar que as agressões durante campanhas ofendem a própria democracia

Não existe dimensão mais alarmante da violência política que o homicídio. Na terça-feira, o candidato a vereador em Nova Iguaçu Joãozinho Fernandes (Avante) foi morto a tiros. Em quatro meses, pelo menos oito candidatos, parentes ou assessores foram assassinados na Baixada Fluminense. Em todo o país, 35 lideranças políticas morreram de janeiro a junho, de acordo com o Observatório da Violência Política e Eleitoral no Brasil, organizado pela Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (Unirio). Na comparação com o último ciclo eleitoral municipal, o registro de ocorrências — de homicídios a agressões ou ameaças — cresceu 9,35%.

Mesmo sem resultar em morte, os casos são preocupantes, como demonstra a campanha degradante para prefeito de São Paulo. Em debate no dia 15 de setembro, o candidato José Luiz Datena (PSDB) respondeu às repetidas provocações de Pablo Marçal (PRTB) desferindo uma cadeirada no oponente. Duas semanas depois, em novo debate, um cinegrafista da equipe de Marçal deu um soco no rosto do publicitário de Ricardo Nunes (MDB). No começo de agosto, o candidato do PSOL à Prefeitura de Teresina, Francinaldo Leão, registrou boletim de ocorrência depois de ter sido agredido com uma cabeçada pelo prefeito Dr. Pessoa (PRD), que busca a reeleição.

Fernando Gabeira - Brasil na ONU: os limites da retórica

O Estado de S. Paulo

Os discursos se sucedem e o tom permanece tranquilo. A burocracia internacional continua enamorada de suas palavras, papéis e documentos

Neste período em Nova York, os discursos dos líderes são o mais interessante na ONU. Cada país escolhe os problemas que preocupam o mundo e alinha algumas propostas para resolvê-los.

Entre outros, o Brasil escolheu o meio ambiente. Num primeiro discurso, Lula da Silva já havia adiantado que os esforços internacionais para combater as mudanças climáticas eram insuficientes.

Até aí nada demais. A própria ONU já admitira que as metas do Acordo de Paris estão ultrapassadas pela realidade. Supor que a temperatura aumentará, acima dos níveis pré-industriais, 1,5 grau até 2030 é uma ilusão, pois esse marco está para ser ultrapassado. Na verdade, o que pode acontecer até o fim do século é um aumento de 3 graus.

Eliane Cantanhêde - O saldo de Lula na ONU

O Estado de S. Paulo

Muita fala sobre Israel e Rússia, do outro lado do mundo, silêncio sobre Venezuela, nas nossas barbas

Ao responder com um sonoro “não”, e em público, no seu discurso de abertura da Assembleia-Geral da ONU, a uma articulação de bastidores entre Brasil e China para uma trégua entre Ucrânia e Rússia, o ucraniano Volodmir Zelenski lançou insinuações graves, provocou um “bate-boca” com o presidente Lula e jogou holofotes nas fragilidades da política externa brasileira.

“Qual o verdadeiro interesse (de China e Brasil)”, indagou Zelenski, sugerindo que os dois países, parceiros da Rússia nos Brics e aliados de Vladimir Putin, um mais explicitamente, outro mais dissimuladamente, na verdade tentam favorecer o regime russo e desconsiderar a condição inegociável da Ucrânia, que não admite abdicar de parte, ou partes, de seu território em nenhuma hipótese.

Vera Magalhães - Sem brilhar na ONU, Lula tem volta tensa

O Globo

Lista de pepinos para presidente descascar inclui cenário eleitoral incerto, incêndios sem resolução e epidemia de endividamento com apostas

O saldo da ida de Lula a Nova York para a tradicional abertura da Assembleia Geral da ONU ficou bem aquém da volta triunfal do ano passado. E, na volta, a lista de pepinos para o presidente encarar aumentou e ganhou enorme complexidade.

Do cenário eleitoral bastante desafiador para PT e esquerda à crise ainda não resolvida dos incêndios e queimadas que devastam o Brasil, passando pela demora em detectar a epidemia de endividamento em apostas esportivas que arrasta para a inadimplência os beneficiários do Bolsa Família e os jovens que deveriam ir para a universidade, o presidente se vê diante de crises capazes de mudar os rumos dos dois últimos anos de seu terceiro mandato.

Luiz Carlos Azedo - Pesquisa aponta segundo turno entre Nunes e Boulos, porém…

Correio Braziliense

O Brasil está de olho nas eleições em São Paulo, porque o ocupante da cadeira de prefeito, com o orçamento de R$ 111,8 bilhões, sempre tem projeção nacional

Pesquisa Datafolha divulgada nesta quinta-feira (26) sobre a disputa pela Prefeitura de São Paulo mostra Ricardo Nunes (MDB) com 27% de intenções de votos, Guilherme Boulos (Psol) com 25%, e Pablo Marçal (PRTB) com 21%. O empate técnico entre Nunes e Boulos e a resiliência de Marçal, que manteve o terceiro lugar, deixam a eleição ainda indefinida, segundo as respectivas campanhas. Tabata Amaral (PSB), com 9%, teve ligeira recuperação; e José Luiz Datena (PSDB), manteve-se com 6%. A única certeza é a de que haverá o segundo turno, mas quem deve ficar de fora, com esses resultados, permanece uma indefinição.

O prefeito Ricardo Nunes manteve-se no patamar das duas últimas pesquisas do Datafolha. A pergunta é se este é o seu teto eleitoral, depois de uma arrancada espetacular no início da propaganda eleitoral na tevê. Boulos cedeu um ponto e voltou à posição do começo de setembro, depois de ter chegado a 27% na pesquisa passada. Marçal recuperou-se dos desgastes dos debates, chegando ao patamar em que estava em agosto, depois de cair de 22% para 19% dos votos. Tabata cresceu um ponto percentual e Datena manteve se na mesma. Algumas considerações sobre as eleições em São Paulo.

Marcos Augusto Gonçalves - Brasil arde em banditismo e baixaria

Folha de S. Paulo

Influenciadores vigaristas ostentam riqueza e unem-se ao crime em tempos de incêndios, bets e violência eleitoral

O cenário é desolador. O fogaréu que se alastrou pelo país já seria suficiente para causar desespero e apreensões, do despreparo do governo para enfrentar a catástrofe à intenção dolosa que se verificou na origem dos incêndios, passando pelos imensos danos ambientais e prejuízos à saúde pública em tempos de crise climática.

Temos mais, porém. Para onde se olhe nas mídias e redes sociais, a cena brasileira das últimas semanas tem sido sufocante.

Um cortejo de gente esquisita desfila pelo noticiário com sua ostentação boçal, carrões, iates e aviões. Famosos "somos ricos" em férias gregas, influenciadores vigaristas e subcelebridades variadas, com roupas caras e harmonizações faciais de dar susto em criancinha, são alguns espécimes dessa fauna. Imersos em atmosfera de banditismo "posso tudo", exemplares dessa turma se envolvem com falcatruas, não raro no terreno da jogatina que corre solta no Brasil.

Vinicius Torres Freire - Picolé de chuchu da direita

Folha de S. Paulo

Prefeito tem vantagem pequena sobre adversários, mas daria lavada no segundo turno

Ricardo Nunes (MDB) nunca esteve muito à vista. Mas, em pequenas prestações, foi tomando o poder na cidade de São Paulo e pode ser de fato eleito prefeito. Tem apenas 27% dos votos, na prática empatado com Guilherme Boulos (PSOL), com 25%, e pouco longe de Pablo Marçal (PRTB), com 21%, um delinquente. Mas, em um segundo turno, ganharia de lavada de Boulos e Marçal, diz o Datafolha. Isso se não houver daquelas reviravoltas pândegas na véspera da eleição, cortesia das redes insociáveis.

Nunes era meio incógnito. Talvez seja a sua vocação, ainda mais eficaz em um país "polarizado". "Falem de mim, mas não falem nada", deveria ser seu mote. Ainda em agosto, 36% dos paulistanos diziam não conhecer o prefeito ou sabiam dele "só de ouvir falar".

Seus eleitores são os menos animados com a própria escolha. Apenas 40% dizem que Nunes é o "candidato ideal", a menor taxa entre os cinco principais candidatos (outros 60% dizem votar nele por falta de opção). Ou seja, menos de 11% dos paulistanos acham que ele é o "candidato ideal". Não tem tu, vai tu mesmo.

Bruno Boghossian - Divisão na direita mantém eleição aberta

Folha de S. Paulo

Datafolha mostra quadro mais embolado na decisão das vagas no segundo turno

A eleição de São Paulo volta a flertar com um cenário de incerteza que pode manter aberta a disputa pela prefeitura até a hora da votação. A divisão persistente na direita e a campanha morna na esquerda ampliam a probabilidade de manutenção de um quadro embolado na decisão das vagas no segundo turno.

A variação positiva de dois pontos percentuais de Pablo Marçal na nova pesquisa do Datafolha comprova a resistência do influenciador. Os números emprestam algum alívio ao candidato do PRTB, dado o momento de desgaste acumulado por sua campanha agressiva.

Mais que isso, o quadro derruba a hipótese de que um único candidato de direita seria capaz de provar força e arrastar as fichas desse eleitorado ainda no primeiro turno. Com preferências diversas, esses paulistanos escolheram produtos com embalagens distintas: Marçal e o prefeito Ricardo Nunes (MDB).

José de Souza Martins - Os nomes de urna

Valor Econômico

Apelidos com que candidatos se apresentam indicam crise de identidade do brasileiro comum. Propõem uma busca política fora da política

As eleições municipais do dia 6 de outubro nos darão indicações atualizadas do estado do Brasil político, no voto da sociedade local, primeira instância de nossa consciência política.

Nos últimos anos, muita coisa mudou na função do município na estrutura política do país. Ele passou a ser a antessala dos governos dos estados e da própria União. Senadores e deputados federais e estaduais alternam seus mandatos com mandatos municipais, diretamente ou por meio de parentes. O Brasil se municipalizou em seus 5.569 municípios.

Os mandatos locais e regionais, no município e no estado, transformaram-se em instâncias de espera e de passagem, prefeitos e vereadores aspirando a um mandato na escala superior do poder. O município é hoje lugar da política e de pretexto da política.

Andrea Jubé - Sopa de letras e números à mesa do eleitor

Valor Econômico

Em “Vamos comprar um poeta”, romance que “viralizou” no ano passado pelo boca-a-boca, as pessoas não têm nomes, são identificadas por números. Como se no mundo dos algoritmos, nos reduzíssemos aos nossos Certificados de Pessoas Físicas (CPFs).

No livro, a quantidade de números e vírgulas confere status ao “nome”. Em um trecho, a personagem cita “uma das amigas da BB9,2”, a “N7468,1734”, que tem um nome pomposo porque “depois da vírgula, seguem-se quatro algarismos”.

Em um diálogo, a filha pede aos pais que lhe comprem um poeta. O pai reflete e pergunta por que não um artista plástico. A mãe reage: “Nem pensar, fazem muita porcaria, a senhora 5638,2 tem um e despende três a quatro horas por dia a limpar a sujidade que ele faz com as tintas nos objetos brancos”.

César Felício - Pesquisa mostra Marçal vivo e acende alerta para rivais

Valor Econômico

Nos levantamentos de algumas semanas atrás o apresentador José Luiz Datena (PSDB) estancou sua queda nas pesquisas eleitorais de São Paulo e até ganhou alguns pontos, conforme a sondagem. O marco imediatamente anterior havia sido a cadeirada dada em Pablo Marçal (PRTB) no debate da TV Cultura. No Datafolha desta semana, quem oscilou para cima foi Pablo Marçal e Tabata Amaral (PSB). O grande fato dos últimos dias foi o soco dado por um assessor de Marçal em um assessor do prefeito e candidato à reeleição, Ricardo Nunes (MDB), no debate do Flow, mesma ocasião em que Tabata chamou atenção por falar palavrões ao atender jornalistas.

O lamaçal de agressividade em que a campanha de São Paulo foi atirada, aparentemente, premia os exaltados — a julgar pela pesquisa divulgada nesta quinta-feira (26). Pablo Marçal subiu de 19% para 21% e novamente está em empate estatístico com Guilherme Boulos (Psol), que desceu de 26% para 25%. Nada mudou para Ricardo Nunes, com 27%. No pelotão de baixo, Tabata foi de 8% para 9% e Datena permaneceu com seus 6%.

Hélio Schwartsman - Aposta errada

Folha de S. Paulo

Ausência de boa regulação em relação aos jogos levou aos impactos negativos que vão se acumulando

Não dá para dizer que os dados sobre impactos negativos da legalização dos jogos no Brasil sejam uma surpresa. O potencial viciante das apostas é conhecido desde a Antiguidade e nossos reguladores, como sói acontecer, fizeram tudo errado.

A falha maior foi ter permitido que os meios de comunicação fossem tomados de assalto por propaganda de jogo —e um tipo particularmente enganoso de publicidade, que insinua que as apostas são rota segura para o enriquecimento.

Se milhões de pessoas jogam regularmente, teremos dezenas de milhares de problemas (a prevalência de ludopatas e apostadores compulsivos fica em torno dos 2% e dos 8%, respectivamente).
Daí não se segue a resposta para o dilema seja a reproibição. O fracasso da guerra às drogas e a experiência da Lei Seca nos EUA mostram que esse não é o caminho. Por razões que não cabe aqui discutir, seres humanos gostam de decidir por si mesmos como conduzirão suas vidas.

Flávia Oliveira - O Bolsa Família e as bets

O Globo

É importante que beneficiários não sejam estigmatizados, criminalizados ou prejudicados

O Banco Central (BC), a pedido do senador Omar Aziz (PSD-AM), produziu estudo preliminar sobre o mercado de apostas on-line e jogos de azar no Brasil que é ouro puro. Técnicos de diferentes áreas da autoridade monetária analisaram transferências via Pix para empresas do setor e descobriram volume de R$ 18 bilhões a R$ 21 bilhões depositados a cada mês por brasileiros pessoas físicas. Identificaram 24 milhões de apostadores, 5 milhões deles beneficiários do Bolsa Família, entre titulares e familiares. Ativaram, assim, uma onda de desconfiança que o levantamento não foi capaz de comprovar.

Nas três páginas do estudo, o BC afirma que 17% dos cadastrados no programa oficial de transferência de renda em fins de 2023 apostaram em bets. Somente em agosto, afirma o relatório, enviaram R$ 3 bilhões via Pix a empresas de jogos. Embora o texto não afirme isso, muita gente entendeu que um quinto dos recursos destinados mensalmente pelo governo ao programa tenha ido parar em apostas, em vez de cobrir despesas de subsistência das famílias abaixo da linha da pobreza. Por precipitada, é conclusão equivocada.

Orlando Thomé Cordeiro - Ceticismo, revolta e ressentimento

Correio Braziliense

O que vem sendo prometido nas campanhas eleitorais há décadas não foi cumprido! É claro que essa situação gera um misto de revolta, ceticismo e ressentimento que pode levar ao colapso do sistema democrático

A partir de 1976, o horário eleitoral gratuito ficou restrito à apresentação de uma foto do candidato com a locução em off destacando breves relatos de sua trajetória de vida. Essa regra estava prevista na Lei nº 6.339/76, conhecida como Lei Falcão, em referência ao Ministro da Justiça da ditadura no período do governo Geisel.

As limitações dessa lei só foram revogadas em 1984, quando se liberou a propaganda eleitoral na televisão. E em 1997, foi sancionada a Lei nº 9.504, que passou a regular a propaganda eleitoral no Brasil até os dias atuais. Desde então, passamos por sete eleições gerais e seis, no âmbito municipal.

No último dia 30, começou o horário eleitoral gratuito em todo o país para a eleição municipal que ocorrerá em 6 de outubro. Durante uma semana, resolvi fazer um exercício: zapear os canais de TV para verificar o que estava sendo veiculado em alguns municípios na disputa pelas prefeituras e fazer uma comparação com propagandas de eleições realizadas há algumas décadas disponíveis no YouTube.

Por mais de 30 anos, praticamente todas as candidaturas têm colocado como prioridades os mesmos temas: saúde, educação, segurança, geração de emprego, transporte e, mais recentemente, meio ambiente. Para cada um deles, as narrativas e propostas apresentadas tiveram pouquíssima variação nesse período. 

Ivan Alves Filho* - Carta aberta aos democratas e humanistas

“Em outros tempos, o Céu estava tão próximo da Terra que bastaria estender a mão para colher um pedaço do Firmamento e se alimentar com ele”. (De uma lenda mursi, da África Negra)

“É preciso voltar aos passos que foram dados, para os repetir e para traçar caminhos novos ao lado deles. É preciso recomeçar a viagem. Sempre. O viajante volta já”(José Saramago)

I

Tenho para mim que o Brasil precisa urgentemente de um projeto de nação, de uma opção democrática ao que vem se desenrolando sob os nossos olhos desde a redemocratização, em 1985, e que acabou nos frustrando em alguma medida. Sair do fim do túnel, antes que seja tarde demais. Eis o que implica, a meu ver, trilhar por um espaço de convergência. Este foi o campo encarnado pela chapa JK - Jango em 1955, que um militar legalista como o Marechal Teixeira Lott defendeu com coragem exemplar. E também foi o campo das Reformas de Base e do ministro San Tiago Dantas no início da década de 60. Ou ainda de Tancredo Neves e seu Colégio Eleitoral, de Itamar Franco e seu Plano Real e, também, de Eduardo Campos, morto tão prematuramente.

Ou seja, chegou o momento de superar essa polarização que assola o país. Não existe autoritarismo de direita ou autoritarismo de esquerda. O que existe é autoritarismo. Não existe corrupção de direita ou corrupção de esquerda. O que existe é corrupção. E a corrupção está para a economia como a tortura para a política: ela mata, tenho reiterado isso. A linha de demarcação política se dá entre Civilização e Barbárie.

Bernardo Mello Franco - Viver por escrito: o país e a política na obra de Armando Freitas Filho

O Globo

Devorador de jornais, um dos maiores poetas brasileiros usava noticiário como matéria-prima e envelheceu sem perder a capacidade de se indignar

No início dos anos 1950, Armando Freitas Filho surpreendeu o pai com um pedido inusitado. Queria que Carlos Lacerda fosse seu padrinho de crisma. O fundador da Tribuna da Imprensa já havia trocado o comunismo pelo direitismo. Tempos depois, o menino faria o caminho inverso. “Eu o imitava em sentido contrário e passei a ler a Última Hora, de Samuel Wainer. Meus pais conservadores não me recriminavam”, recordava.

Quando lançou o primeiro livro, “Palavra” (1963), o jovem poeta já se identificava como militante de esquerda. No ano seguinte, o golpe interromperia os sonhos de sua geração. “Tomei um nojo dos militares por 21 anos”, recordou, em ensaio publicado em “Só Prosa” (2022).

Ao longo da ditadura, os poemas de Armando ecoaram o clima pesado no país. Em “Sociedade Anônima” (1970), ele desafiou a censura ao retratar a repressão: “Pressões e prisões/ pessoas perdidas protestam,/ o povo pulsa no asfalto:/ pop — população palpita e explode/ punhos de pólvora e pânico, no ar”.