terça-feira, 23 de dezembro de 2025

Opinião do dia – Hannah Arendt* (A propaganda totalitária)

“Somente a ralé e a elite podem ser atraídas pelo ímpeto do totalitarismo, as massas têm que ser conquistadas por meio da propaganda. Sob um governo constitucional e havendo liberdade de opinião os movimentos totalitários que lutam pelo poder podem usar o terror somente até certo ponto, como qualquer outo partido, necessitam granjear aderentes e parecer plausíveis aos olhos de um público que ainda não está rigorosamente isolado de todas as outras fontes de informação.”

*Hannah Arendt (1906-1975), “Origens do totalitarismo”, p. 474, Companhia de Bolso, São Paulo, 2020.

O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões

Ultraliberal Milei hesita em adotar o câmbio livre

Por Folha de S. Paulo

Argentina permitirá maior variação do dólar a partir de janeiro, mas governo teme impacto nos preços

Presidente herdou inflação de mais de 200% da esquerda peronista, que a duríssimas penas para a população foi reduzida a cerca de 30%

O Brasil adotou a livre flutuação do câmbio em janeiro de 1999, rompendo com uma longa tradição de controle das cotações do dólar e de outras divisas ante a moeda nacional. Hoje o regime faz parte da rotina econômica do país, mas a decisão foi dificílima na época.

A rigor, nem mesmo foi uma decisão. O governo de Fernando Henrique Cardoso (PSDB) se viu forçado a deixar o preço do dólar variar livremente porque as reservas em moeda forte do Banco Central estavam se esgotando.

O Brasil de todos os escândalos. Por Fernando Gabeira

O Globo

O sigilo de cem anos é sempre o vencedor, pois está na mão do poder e é uma arma que desequilibra o jogo

No passado, creio, um escândalo esperava o outro antes de aparecer. Agora já não se respeita a fila. Eles aparecem a todo instante, se chocam, se encavalam um no outro, a gente precisa escolher o que vai acompanhar.

Quem os segue por dever profissional acaba se tornando graduado em escândalos. Um dos traços mais importantes aparece no caso do Banco Master. É um escândalo, sem dúvida. Mas, logo em seguida a sua aparição, surgem novos, típicos do Brasil: os escândalos do abafa.

No caso do Master, o escândalo foi continuado. Primeiro a explosão, depois a relação com ministros do Supremo e, finalmente, a decretação do sigilo numa tentativa de bloquear seu curso. O Supremo contribuiu com Toffoli, que nesse esporte joga em várias posições: sua mulher já foi sócia de advogados do Master, ele próprio viajou para Lima com um advogado do Master e finalmente assumiu o inquérito e decretou um pesado sigilo.

Quatro perguntas para evitar brigas na ceia. Por Pedro Doria

O Globo

Elas permitem que gente de esquerda e de direita se encontre em muitas concordâncias sem falar de esquerda ou direita. Empatia nasce daí

Alguns de meus colegas na imprensa têm escrito colunas sobre como evitar brigas nas festas de fim de ano. Também acho necessário. Mas, sabe, é exigir um bocado da sociedade brasileira. Pescando, aqui, números da última Quaest: 55% de nós consideram que Lula não deveria sair candidato. É mais que a metade. O presidente sairá candidato, não importa que seja rejeitado. E 60% defendem que nem Jair nem Flávio Bolsonaro devem receber votos. São duas rejeições muito altas. A mesma pesquisa revela que os dois, Lula e Flávio, são favoritos para estar no segundo turno. Mais de metade de nós não quer nenhum — e periga sermos obrigados a escolher um deles. Como não brigar num cenário assim?

A mulher de César. Por Merval Pereira

O Globo

Se os ministros, principalmente Moraes, têm como provar que as denúncias não são verdadeiras, precisam fazê-lo de maneira cabal.

O caso da liquidação do Banco Master ganha contornos cada vez mais graves, envolvendo diversos setores da administração pública, numa demonstração de que a prática do lobby sem regulamentação envenena por dentro o governo. Envolvido especialmente nas controvérsias, o Supremo Tribunal Federal (STF) é o mais afetado pela insegurança jurídica que atitudes individuais de seus ministros geram na sociedade. O ex-controlador do banco, o empresário Daniel Vorcaro, anda com tornozeleira eletrônica e exibe sua influência à medida que se descobrem os desdobramentos do caso.

De sandálias, no rumo da polarização sem fim. Por César Felício

Valor Econômico

Polêmica em comercial comprova resultado de pesquisa que mostra eleitor preso em moldura de 2022

O responsável pela pesquisas Quaest, Felipe Nunes, é um dos principais teóricos da tese de que há um processo de calcificação do eleitorado brasileiro em uma polarização entre lulismo e bolsonarismo semelhante ao que ocorre nos Estados Unidos, sem muito espaço para guinadas no curso da corrida eleitoral.

A mais recente pesquisa divulgada em conjunto com o banco de investimentos Genial, com dados coletados de 11 a 14 de dezembro, alimenta esta tese, adicionando a ela uma outra camada: a sensação entre os pesquisados que se está diante de um fenômeno inevitável.

Profeta do pessimismo está um pouco menos pessimista. Por Pedro Cafardo

Valor Econômico

Estimativas de economistas para o cenário do ano foram um pouco mais próximas da realidade

Nos três primeiros anos do governo Lula 3, o Boletim Focus foi um “profeta do pessimismo”. Focus é o relatório publicado semanalmente pelo Banco Central com base em pesquisas sobre as expectativas de instituições financeiras para os principais indicadores macroeconômicos do país.

A pesquisa Focus previa, em dezembro de 2022, um crescimento do PIB de 0,79% em 2023, mas o índice na realidade foi de 3,2%, três vezes maior. Em dezembro de 2023, a previsão para 2024 era de 1,5%, e a expansão atingiu 3,4%, mais que o dobro do previsto. Também houve viés pessimista nos casos de inflação, dólar, superávit comercial, investimentos diretos etc.

Acordo Mercosul e União Europeia. Por Rubens Barbosa

O Estado de S. Paulo

Se a assinatura não ocorrer em janeiro, a paciência estratégica do Mercosul deveria terminar e o grupo deveria informar que as negociações ficam oficialmente encerradas

Depois de 26 anos de negociações, o Acordo de Associação entre o Mercosul e a União Europeia (UE) com o objetivo de ampliar a cooperação entre os dois mercados regionais em três vertentes (política, cooperação e comércio) estava com a assinatura prevista para sábado passado, dia 20. Pela divisão entre os países da UE que exigiram mais medidas protecionistas contra a exportação de produtos agrícolas, o Mercosul aceitou que a assinatura seja adiada para janeiro.

Horizonte perdido. Por Hélio Schwartsman

Folha de S. Paulo

Desencontro temporal entre interesses de governantes e da população torna democracias menos eficientes

Administrações petistas costumam ser pródigas em gastos, o que torna controle da inflação mais custoso

Um dos problemas da democracia é o desencontro temporal. Políticos, que dependem de eleições periódicas para manter-se no poder, pensam e agem em lapsos temporais de quatro anos. Até funciona para algumas coisas, mas não para tudo. Não são poucas as obrigações do poder público que cobram planejamento e execução em horizontes bem mais dilatados.

Fotografias e outros males rendem prejuízo à direita. Por Dora Kramer

Folha de S. Paulo

A imagem do dinheiro de Sóstenes tem o mesmo efeito da foto que derrubou a candidatura de Roseana Sarney

Deputados presos, cassados, fugitivos e envolvidos em desvios integram um pacote de infortúnios para a direita

Em abril de 2002, uma foto de dinheirama apreendida pela Polícia Federal pôs a pique a candidatura à Presidência da então governadora do Maranhão, Roseana Sarney, pelo PFL. Ela subia nas pesquisas, despontava como favorita. A partir do flagrante no escritório do marido, Jorge Murad, seu nome despencou até a inevitável renúncia.

Devassa na política fluminense deixa Flávio Bolsonaro em pânico. Por Alvaro Costa e Silva

Folha de S. Paulo

Um dos alvos da PF é o homem de confiança do filho 01 no governo Castro

Celulares do desembargador que obstruiu a investigação já estão desbloqueados

"Cherchez la femme" é uma expressão popularizada por Alexandre Dumas no romance "Os Moicanos de Paris", de 1854, significando que, para resolver um crime, deve-se procurar a mulher. Menos misógina, "follow the money" (siga o dinheiro) é o resumo do caso Watergate, na década de 1970. Hoje a dica óbvia é quebrar a senha do celular.

O vício de usar o aparelho é tão irresistível que o bandido —seja um pé de chinelo ou um engravatado— sabe que vai se comprometer, produzindo provas contra si mesmo, mas não resiste à compulsão de teclar com os polegares.

Sonhos orçamentários para o ano eleitoral de 2026. Por Aylê-Salassié Filgueiras Quintão

O Orçamento da União, aprovado no Congresso Nacional, neste fim de semana (19.12), para o  Exercício de 2026, projeta  R$ 6,5 trilhões para as despesas do Governo  no ano eleitoral. Este montante corresponde a 50 % do Produto Interno Bruto – valor total de tudo que se produz e consome durante um ano no Brasil: R$12,3 trilhões. Falar em orçamento trilhonário induz o imaginário a viajar  maravilhado pelo ranking das maiores economias do planeta:  o Brasil estaria  caminhando para deixar para trás Alemanha, Japão, França, Reino Unido, Itália, Índia, Rússia e se  aproximando do PIB da China, segunda economia do mundo (US$18 trilhões). 

Uma derrota após a outra. Por Pablo Spinelli

Em 2026 haverá a celebração pela Revolução Americana, aquela que combinou a primeira ruptura colonial com ideias iluministas em prática em um grande arranjo inventivo com sistema de freios e contrapesos e com referências à Roma Republicana. É verdadeiro dizer que houve uma grande massa de excluídos na categoria de cidadãos, mas também o é afirmar que a arquitetura institucional não só abalou o arcabouço do Antigo Regime como serviu de inspiração para o futuro, sendo essa revolução somente substituída pela de 1917, na Rússia.