terça-feira, 24 de agosto de 2021

Merval Pereira - Presença inaceitável

O Globo

O afastamento do coronel da Polícia Militar de São Paulo Aleksander Lacerda, que chefiava o Comando de Policiamento do Interior-7, em Sorocaba, por fazer ofensas pesadas a ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) e ao governador de São Paulo, João Doria, e que convocou pelo Facebook seus seguidores para as manifestações de 7 de setembro, foi uma ação acertada, ao mesmo tempo exemplar e prenunciadora de problemas que estão por vir.

A atitude do Comando-Geral da PM de São Paulo é importante para controlar a tentativa de avanço bolsonarista nas polícias militares, que ocorre em vários estados, e reforça o caráter legalista e de respeito à Constituição da corporação. Bolsonaro alimentava, antes mesmo de ser eleito, essa subversão nas forças militares auxiliares, na tentativa de ter uma força armada para apoiar um golpe ou uma rebelião.

Não foi outra, também, a intenção dele ao liberar o porte de armas, proporcionando que em 2020 fossem registradas 180 mil novas armas de fogo na Polícia Federal, um aumento de 90% em relação ao ano anterior. As manifestações de seguidores quando era candidato, nos aeroportos por todo o país, imagens que viralizavam revelando uma força inaudita de sua campanha, eram organizadas por militares da reserva e da ativa, especialmente policiais militares.

Não se imaginava na época, mas desde então esses “organizadores” andavam armados, especialmente depois do atentado que Bolsonaro sofreu em Juiz de Fora. Ao anunciar que estará presente e discursará em Brasília e São Paulo, nas manifestações marcadas para o Dia da Independência, o presidente as endossa, apesar de estarem sendo convocadas a favor do fechamento do Supremo, contra ministros específicos, como Alexandre de Moraes e Luís Roberto Barroso, e também contra o Congresso, que acabou com a pantomima da emenda constitucional a favor do voto impresso. Portanto são manifestações antidemocráticas.

Míriam Leitão - A cena do país em desequilíbrio

O Globo

Os governadores tinham maioria para assinar uma carta contra as ameaças de Jair Bolsonaro à democracia, mas preferiram fazer um movimento estratégico e aceitaram propor uma reunião ao presidente. Na ata do Fórum dos Governadores está claro o que foi discutido e isso, segundo me disse um governador, mostra o isolamento do presidente. Se o encontro acontecer, contudo, Bolsonaro vai aproveitar para reafirmar sua beligerância. Ele está usando a radicalização, que inclui até o pedido de impeachment contra o ministro Alexandre de Moraes, para manter mobilizados os seus apoiadores até a manifestação de 7 de setembro. Bolsonaro quer conflito, convulsão social, por isso os governadores preferiram propor o diálogo.

A economia continua demonstrando cada vez mais desconfiança em relação ao presidente e à gestão econômica. Ontem o Ibovespa caiu em dia de alta nas outras bolsas. O dólar teve mais um dia de volatilidade. A tendência de todos os indicadores mostra a deterioração da confiança, e o mês de agosto marcou esse ponto de virada na percepção do mercado financeiro.

Zuenir Ventura - As causas do desvario

O Globo

Há inúmeras razões que ajudam a explicar os cada vez mais frequentes desatinos de Bolsonaro — a própria índole, o comportamento dos filhos, a variante Delta, o desemprego, a inflação, a crise hídrica, a CPI da Covid, cujo relatório final não deixará de responsabilizá-lo, e, enfim, os 160 processos em que a AGU tem como tarefa defendê-lo.

Isso sem falar na série de derrotas, como a do voto impresso, a prisão de Roberto Jefferson, a operação contra aliados, determinada pela Procuradoria-Geral da República, as seis multas por não usar máscara, os incômodos aliados, como o indescritível Sérgio Reis, e principalmente sua inclusão como investigado no inquérito das fake news, que tramita no STF e tem como relator o ministro Alexandre de Moraes. O objetivo, como se sabe, é apurar se Bolsonaro cometeu crime ao alegar ter indícios fortes de fraudes nas eleições de 2018 — e não apresentá-los.

Carlos Andreazza - Cristo Ipiranga e a fé caloteira

O Globo

Na última quarta-feira, Bolsonaro disse que, “com fé, com vontade, com crença”, o Brasil poderia superar a inflação e o desemprego. No dia seguinte, à Comissão de Relações Exteriores do Senado, Paulo Guedes sapecou — com vontade — o combo chantagem/incompetência e mostrou ao presidente que não existe Cristo Ipiranga, ao mesmo tempo que lembrava ao povo quem será o sacrificado:

— Se precatório não passar, vamos mandar Orçamento de R$ 90 bilhões e vai faltar dinheiro para pagamentos até de salários.

Referia-se, pela ordem, à PEC dos Precatórios, por meio da qual pretende formalizar um calote em credores da União, condição movediça — fonte incerta — que a criatividade liberal encontrou para bancar programa permanente, o novo Bolsa Família; ao Orçamento de 2022, dentro do qual o fiscalista do amanhã finge tentar embutir a conta da reeleição do mito, enquanto, no mundo real, acionado vai o teto de gastos solar, para fora do qual dependuram-se fundos e outros infinitos em que os sócios do Centrão poderão encher seus balões quando lotados os orçamentos secretos; e aos recursos para custear a remuneração do funcionalismo público, despesa obrigatória, mas com que resolveu ser austero, já que, comprometido com os acordos do amortecedor Ciro Nogueira e do trator Arthur Lira, não tem braço para ser valente com gastos discricionários.

Luiz Carlos Azedo - Bolsonaro, agora, politiza o fracasso

Correio Brazilense

A maioria dos ministros se queixa do foco errado. O Palácio do Planalto é uma ‘jaula de cristal’, na qual o presidente da República constrói um mundo só dele

Aos 32 meses de mandato, o presidente Jair Bolsonaro se depara com um cenário mórbido e nebuloso: a “gripezinha” matou 575 mil pessoas, o país tem 14 milhões de desempregados e a inflação pode chegar a 9%, se não houver uma mudança de rumo. Deficit fiscal, insegurança jurídica e instabilidade política formam o tripé que afugenta os investidores. A janela de oportunidade da retomada da economia global está sendo perdida.

Os verdadeiros problemas do país são de natureza objetiva e exigem soluções criativas, exequíveis e amparadas por amplo consenso nacional. Em circunstancias normais, diante da gravidade da pandemia e de suas sequelas, principalmente a iniquidade social, o presidente da República, o Congresso e o Supremo Tribunal Federal (STF) convergiriam suas decisões na direção dessas soluções. Mas não é o que acontece. Estamos na antessala de uma grave crise institucional, fabricada por Bolsonaro.

Seu problema não é falta de governabilidade — conta com o apoio do Centrão no Congresso. É a governança, “a maneira pela qual o poder é exercido na administração dos recursos sociais e econômicos de um país, visando o desenvolvimento, e a capacidade dos governos de planejar, formular e programar políticas e cumprir funções”, segundo o Banco Mundial. São características da boa governança: Estado de direito, transparência, responsabilidade, orientação por consenso, igualdade e inclusividade, efetividade e eficiência e prestação de contas. Essa não é a praia de Bolsonaro.

Ricardo Noblat - Ensaio de golpe avança sob o comando escancarado de Bolsonaro

Blog do Noblat / Metrópoles

Militares da reserva e policiais estão por trás do que possa acontecer

Debite-se desde já na conta do presidente Jair Bolsonaro o que acontecer de arruaça, de violência e de ataques à democracia e às suas instituições nos atos públicos que marcarão o próximo 7 de setembro em Brasília, São Paulo e outras cidades do país.

O general Hamilton Mourão, vice-presidente da República, referiu-se aos atos como “fogo de palha”, algo que parece intenso e importante, mas que acaba rápido, sem causar maiores danos. Tomara que ele esteja certo. Mas se não estiver?

Confrontar a lei e a ordem está no DNA do presidente da República desde que ele como soldado, à revelia dos seus superiores, foi garimpeiro em Serra Pelada, no Pará. Seu negócio sempre foi ganhar dinheiro, limpo ou sujo, pouco importava.

Por dinheiro, planejou atentados terroristas contra quarteis para forçar o Exército a aumentar o soldo da tropa. Ao seu modo tosco foi um anarco sindicalista sem saber que era, e nem sequer o que era isso. Acabou excluído do Exército por conduta antiética.

É órfão da ditadura de 64 que não se cansa de exaltar, e da tortura a presos. Em abril do ano passado, quando o Brasil já superava a China em número de mortos e de infectados pela Covid-19, ele participou pela primeira vez de atos antidemocráticos.

Eliane Cantanhêde - Como o diabo gosta

O Estado de S. Paulo

Planalto vê 7 de Setembro como divisor de águas; governadores temem armas e invasões.

Há mais entre o céu e a terra do que a vã filosofia, os aviões de carreira e a fumaça dos tanques militares que desfilaram na Praça dos Três Poderes no dia nervoso da votação da cédula de papel no Congresso. O clima é de tensão e preocupação, depois de o presidente Jair Bolsonaro pedir o impeachment do ministro do STF Alexandre de Moraes e resolver se apoderar do nosso 7 de Setembro para transformá-lo num divisor de águas a seu favor.

Bolsonaro passou anos construindo ligações com a milícia. Ao assumir a Presidência, liberou geral as armas para a população civil para deixar as tropas bolsonaristas de prontidão. Depois, minou o comando dos governadores sobre as polícias estaduais, enquanto metia a mão na Polícia Federal. Por fim, rachou as Forças Armadas, ao intervir no Ministério da Defesa e nos comandos de Marinha, Exército e Aeronáutica.

Resultado: o Brasil está como o diabo gosta. Roberto Jefferson, Sérgio Reis, Ottoni de Paula, Daniel Silveira, oficiais baderneiros da PM de São Paulo e adoradores de armas em geral conclamam as tropas para as ruas. Dane-se a Pátria! Dane-se a Nação! O objetivo confesso é endeusar o mito e atiçar a invasão do Supremo e do Congresso, ameaçando ministros e parlamentares.

Rubens Barbosa* - Cá e lá, más fadas há

O Estado de S. Paulo

Nos EUA e no Brasil, populismo autoritário e tentativa de deslegitimar eleições

De retorno dos EUA, não resisto a comentar o cenário doméstico norte-americano no início do governo Biden, em meio à crise da pandemia, e compará-lo com o que se passa no Brasil. Se, no caso do Brasil, uma análise objetiva da situação atual aponta para uma forte preocupação com a evolução dos acontecimentos políticos, econômicos e sociais nos próximos meses e anos, nos EUA a crise apresenta-se mais grave e profunda. Dada sua posição de liderança no mundo, o desdobramento do que acontece nos EUA poderá afetar outros países e mesmo tendências globais.

A divisão da sociedade norte-americana – acentuada nos últimos anos, em especial na campanha política que precedeu a eleição presidencial – está presente nos principais temas em discussão diária nos jornais e na TV. A forma como os EUA saíram do Afeganistão fez aumentar a divisão, com Donald Trump pedindo a renúncia de Joe Biden.

A ameaça à democracia norte-americana é vista como a mais séria desde a guerra civil, em 1861. Sua exteriorização foi concretizada nos acontecimentos de 6 de janeiro, quando o Congresso, em Washington, foi invadido por uma multidão de fanáticos seguidores de Trump, o que começa a ser examinado por uma CPI no Senado. A polarização está presente desde a indicação dos membros republicanos pela presidente do Senado, sob a alegação de que iriam obstruir a busca da verdade sobre o que realmente aconteceu. Trump deu voz à classe média e aos mais pobres das áreas rurais, sobretudo nos Estados do sul, mais conservadores, e ampliou a retórica negacionista que hoje contamina o Partido Republicano. A atitude de negação da ciência e as evidências se estendem desde a recusa à vacinação e ao uso de máscaras, passando pela modificação da legislação eleitoral em 18 Estados para restringir o direito do voto das minorias, sobretudo a negra, até a modificação da regulamentação nas escolas para eliminar as discussões sobre costumes e raça.

Governadores são fiadores da democracia - *Fernando Luiz Abrucio e André Luis Nogueira da Silva -

O Estado de S. Paulo

Após quase 40 anos da épica campanha das Diretas-já, os governadores se unem novamente para defender a democracia. Enquanto a mobilização de 1984, que uniu políticos de diversas matizes e inúmeros atores sociais, tinha como bandeira o retorno da democracia, o IX Fórum dos Governadores, realizado ontem, visa afiançá-la. O federalismo, tal como o Congresso Nacional e a Suprema Corte, também pode ser visto como uma instituição que pode garantir salvaguardas democráticas.

A criação de freios ao autoritarismo do presidente Bolsonaro tem se tornado cada vez mais importante. Desde o início do mandato, ele demonstrava que seu maior inimigo era a ordem política estabelecida pela Constituição de 1988, seja no campo das políticas públicas, seja por conta de suas estruturas democráticas. Com a eclosão da pandemia, esse ímpeto tornou-se mais forte, e naquela época os governadores de boa parte dos Estados foram fundamentais para evitar que o País mergulhasse numa combinação de negacionismo com ditadura do governo federal.

Vive-se agora no pior momento do bolsonarismo, com a queda da popularidade presidencial e a instauração de uma crise de múltiplas dimensões – econômica, política e social. Novamente será necessário ter os líderes do governo estadual como parceiros do STF e, por enquanto, do Senado para segurar a boiada autoritária.

Cristina Serra - Que Forças Armadas queremos?

Folha de S. Paulo

Trinta anos após fim da ditadura, fardados não acharam seu lugar na democracia

Além de golpistas e vocacionados para o ridículo —como foi demonstrado no desfile de tanques fumacentos e no treinamento em Formosa (GO)—, generais bolsonaristas são também rematados mentirosos. Braga Netto, ministro da Defesa, e Luiz Eduardo Ramos, da Secretaria Geral da Presidência, confirmaram isso mais uma vez em depoimentos na Câmara dos Deputados.

Ambos mentiram ao negar a ditadura instaurada em 1964. O primeiro disse que houve um “regime forte”. “Se houvesse ditadura, talvez muitas pessoas não estariam aqui”. Braga Netto não consegue articular um raciocínio sem que esteja embutida uma ameaça. É um golpista raiz.

Alvaro Costa e Silva - Carnaval de fogo na cultura

Folha de S. Paulo

A debilidade de Mario Frias só não é total na hora de sair em defesa da arte golpista

Ao varejar as redes sociais de Mario Frias e André Porciúncula —o número um e o número dois da Secretaria Especial da Cultura—, o repórter Bolívar Torres fez uma descoberta extraordinária: eles leem. Ou pelo menos cultivam um escritor de estimação, o inglês G. K. Chesterton (1874-1936), que foi apresentado a eles pelo influenciador digital Olavo de Carvalho, uma das cabeças de Hidra do governo Bolsonaro.

Chesterton é um autor carola. Num estilo elegante, escreveu ensaios de apologia ao cristianismo e livros de ficção: o romance cômico “O Homem que Foi Quinta-Feira” e os contos policiais protagonizados pelo padre Brown, um Sherlock Holmes de batina. O que interessa a Frias, ex-galã de “Malhação”, e a Porciúncula, ex-capitão da PM, são as baboseiras, as pérolas de sabedoria do tipo “Há uma beleza mística na simplicidade da vida comum” ou “Se verdadeiramente vale a pena fazer uma coisa, vale a pena fazê-la a todo custo”.

Puro conselheiro Acácio. Mas que explicam o que a dupla anda fazendo na cultura. A todo custo, é preciso destruí-la. A frase de um Bolsonaro ainda candidato à Presidência, após o incêndio do Museu Nacional —“Já está feito, já pegou fogo, quer que eu faça o quê?”—, foi só um trailer do filme de horror a que estamos assistindo.

Joel Pinheiro da Fonseca - Os limites da liberdade de expressão

Folha de S. Paulo

Aprendizado com vozes surgidas da revolução tecnológica é enorme, mas há riscos aos valores do Estado de Direito

Em princípio, não há nada de mal em se defender uma ideia, por pior que seja. E a sociedade ganha com a divergência. O problema é que palavras podem levar a ações. E se essas ações levarem a resultados desastrosos (golpe de Estado, mortes na pandemia), há um bom motivo para cercear as palavras que incitam a elas, especialmente se o fazem com mentiras.

Não existe o direito de gritar “bomba!” num avião lotado, e quem o fizer lidará com as consequências. A discussão sobre o que é a “verdade” permite voos filosóficos infinitos, mas um Estado funcional precisa ter critérios práticos que o permitam fazer a distinção no dia a dia, inclusive para enquadrar algum discurso como mentiroso e perigoso.

Há sempre o risco de alargar demais essa categoria, mas nem por isso o Estado pode abrir mão de cercear alguns tipos de uso da linguagem, como, aliás, todos —inclusive os mais liberais— fazem. Assim, me parece um exagero declarar a morte da liberdade de expressão face às recentes decisões de STF e TSE.

Pedro Cafardo - ‘Índice Botafogo’ mostra país rebaixado à Série B

Valor Econômico

Com inflação, negacinismo, desemprego, desindustrialização, estgnação e política ambiental desastrosa, Brasil tornou-se irrelevante sob vários aspectos

Volta e meia, rolam correlações absurdas nas redes sociais. Uma das mais bizarras e maldosas relacionava, anos atrás, o número de filmes feitos pelo ator Nicolas Cage com o número de pessoas vítimas de afogamento em piscinas nos EUA. Um gráfico que viralizou nas redes mostrava as duas curvas caminhando mais ou menos paralelas, embora nada tivesse uma a ver com a outra.

Uma correlação criativa e nada bizarra foi feita pelo documentarista João Moreira Salles, em Live do Valor comandada pela jornalista Daniela Chiaretti. Salles, na prática, lançou o “Índice Botafogo” para avaliar o desempenho do Brasil como país, embora não tenha usado essa expressão.

A tese de Salles, “meio maluca”, segundo ele mesmo, sustenta que nada reflete mais o Brasil que o desempenho do Botafogo de Futebol e Regatas. Assim como o time carioca, o Brasil também teria caído para a Série B no ranking dos países e estaria sob risco de ser rebaixado para a C.

Um momento de glória do Botafogo, diz Salles, foi no fim dos anos 1950 e até 1963. O Brasil, igualmente, viveu um bom momento nessa época em vários setores, com industrialização, cinema novo, “Grande Sertão: Veredas”, bossa nova e construção de Brasília. O Brasil tinha potência e ambição, podia fazer coisas grandes e ganhou duas Copas do Mundo (1958 e 1962) com participação direta de jogadores do Botafogo.

A partir de 1968, observa Salles, o Botafogo deprimiu-se, porque o Brasil também se deprimiu com o endurecimento da ditadura e o AI-5. E o time só foi conquistar um título novamente 21 anos depois, em 1989, ano em que os brasileiros votaram para presidente pela primeira vez após o fim da ditadura. Também foi campeão brasileiro, sua única vez, em 1995, quando o país saboreava a vitória contra a hiperinflação.

Raphael Di Cunto - Trunfos eleitorais abalam reeleição

Valor Econômico

“Posto Ipiranga” ficou tão caro quanto a gasolina

As medidas adotadas pelo presidente para impulsionar sua reeleição estão todas causando o efeito contrário: a gastança para viabilizar um Bolsa Família para chamar de seu cria reações adversas na economia, o discurso inflamado para a militância provoca constantes crises, as privatizações saem a custo alto, o fingimento sobre não existir crise hídrica ameaça desabastecer o país e a reforma que devia promover mais justiça na tributação da renda amplia desigualdades. A consequência das apostas do presidente caminha para ser o inverso do esperado por ele e o afasta do Planalto em 2023.

Havia a expectativa, dentro e fora do governo, de que o avanço da vacinação e a volta ao quase normal das atividades melhorasse a avaliação do presidente. Não é o que mostram as pesquisas. De 1º de junho, quando 46 milhões de pessoas tinham recebido a primeira dose da vacina, até domingo, quando 122 milhões foram ao menos parcialmente imunizados, a popularidade do presidente manteve-se em baixa.

Segundo a XP/Ipespe, 54% dos brasileiros achavam o governo ruim ou péssimo em 17 de agosto. Eram 50% em junho. O bom ou ótimo caiu de 23% para 20%. O PoderData, do site “Poder 360”, tem oscilações, mas também mostra viés negativo: 52% de ruim/péssimo no começo de junho e 56% na semana passada. Em ambos os casos, a rejeição é recorde hoje.

Maria Cristina Fernandes - Decisão do presidente revela opção por briga com o Judiciário

Valor Econômico

Recuo do presidente nos vetos da LDO coincide com ofensiva redobrada do Judiciário

Como não dava para brigar com todos os Poderes ao mesmo tempo, o presidente Jair Bolsonaro escolheu um, o Judiciário. É isso que explica o recuo nos vetos às emendas de relator e de comissão. A notícia do veto, na sexta-feira, deixara o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), transtornado. Sem os meios de manter controle sobre a fatia orçamentária em que está baseada sua ação política, lhe sobrariam poucas razões para continuar barrando o impeachment.

O recuo não atingiu o fundo eleitoral, que continua vetado, mas o desfecho já estava combinado. Os parlamentares jogaram para R$ 5,7 bilhões o valor do fundo para que o veto presidencial, derrubado, lhes possibilitasse fixá-lo em R$ 4 bilhões. O valor, então, soaria como uma concessão do Congresso quando, na verdade, é o dobro do fundo vigente.

Com o flanco parlamentar contido e a divisão entre governadores, os torpedos de Bolsonaro se voltam não apenas para o Supremo mas para o Judiciário como um todo. A decisão do ministro Alexandre de Moraes de não aceitar a queixa-crime contra o procurador-geral da República, Augusto Aras, foi percebida, em Brasília, como uma tentativa de preservar alguma interlocução com o PGR em seu segundo mandato de maneira a romper a blindagem que hoje protege o presidente. Esta aposta, de uma inflexão de Aras com o objetivo de salvar os rodapés do seu currículo, não tem a aderência de procuradores federais.

Cristian Klein - Pacto de governadores causa revés a Bolsonaro

Valor Econômico

Encontro em defesa da democracia contou com representantes de 25 dos 27 Estados e sugeriu reunião com presidente e chefes dos demais Poderes para abaixar temperatura da crise institucional

Diante do acirramento da crise entre Jair Bolsonaro (sem partido) e o Supremo Tribunal Federal (STF), e com as ameaças de golpe e politização da Polícias Militares feitas pelo presidente, 25 chefes de Executivos estaduais reuniram-se ontem, ou enviaram representantes, ao Fórum Nacional de Governadores, no qual foi sugerida a criação de um pacto pela democracia e de onde saiu um pedido de três reuniões, entre os governadores e os presidentes de Poderes.

A resolução do encontro refletiu uma estratégia cautelosa, diante da necessidade de conciliar diferentes interesses, mas representou simbolicamente um revés para Bolsonaro, uma vez que a iniciativa conseguiu a adesão de governadores alinhados ao Planalto, como Ibaneis Rocha (MDB), do Distrito Federal, e Ronaldo Caiado (DEM), de Goiás. Dos 27 chefes estaduais, apenas dois não compareceram nem se fizeram representar. Em 2018, Bolsonaro foi eleito com o apoio de 15 governadores.

Ao Valor, Renato Casagrande (PSB), do Espírito Santo, comemorou: “Conseguimos uma unidade de todos em torno da defesa da democracia. Isso foi importante. Não conseguiríamos em outros temas, mas neste conseguimos. Foi uma vitória”. O governador classificou a reunião como “equilibrada” e “ponderada”. “Porque nós não avançamos num processo de enfrentamento e, sim, reafirmamos um pacto em defesa da democracia, da necessidade do respeito à Constituição e às normas legais, da harmonia e da independência dos Poderes, mas também nos colocamos como instrumento do diálogo e da pacificação entre as instituições brasileiras”, disse.

Pacheco diz que Brasil precisa de presidente

Presidente do Senado pode deve decidir sobre candidatura presidencial até fevereiro

Por André Guilherme Vieira / Valor Econômico

SÃO PAULO - Em evento empresarial em São Paulo onde foi tratado como presidenciável, o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), demarcou distância em relação ao presidente Jair Bolsonaro e voltou a sinalizar contra o pedido de impeachment apresentado contra o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes.

Falando para uma plateia de 150 empresários da construção civil de São Paulo, durante convenção sobre mercado imobiliário realizada ontem pelo Secovi, Pacheco disse que “amor à pátria não é vestir uma camisa verde-amarela e empunhar uma bandeira. É trabalhar duro pela estabilidade do País”. Segundo Pacheco, “da firmeza do Senado Federal ninguém pode duvidar”.

 “Não admitimos nenhum tipo de retrocesso ao Estado de direito e à democracia no nosso país. Não há outro mecanismo para se ter ordem e progresso no país que não seja em ambiente democrático”, completou.

Indagado, durante o evento, se será candidato a presidente, Pacheco esquivou-se. “O Brasil não precisa de candidatos. Precisa de presidente. E de presidente que tenha compromisso com o Brasil e possa unir o Brasil. Meu compromisso é com a estabilidade do país, de modo que não me permito tratar de 2022, sob pena de ser um fator de instabilidade. As eleições serão discutidas no momento certo e aí eu, como político de um Estado com a tradição que tem Minas Gerais, me posicionarei no momento oportuno”.

O que a mídia pensa - Editoriais / Opiniões

EDITORIAIS

A convocação do golpe

O Estado de S. Paulo

O objetivo das manifestações de 7 de setembro não é manifestar apoio a Jair Bolsonaro. É para invadir o STF e o Congresso.

Como os próprios organizadores têm alertado, o objetivo das manifestações bolsonaristas previstas para o dia 7 de setembro não é manifestar apoio ao presidente Jair Bolsonaro. A convocação não é para expressar determinada posição política – defender, por exemplo, a aprovação da reforma administrativa ou do novo Imposto de Renda –, e sim para invadir o Supremo Tribunal Federal (STF) e o Congresso.

“Vamos entregá-los (STF e Congresso) às Forças Armadas, para que adotem as providências cabíveis”, disse um dos organizadores, que se apresenta como coronel Azim, em vídeo que circula nas redes sociais.

“Ninguém pode ir a Brasília simplesmente para passear, balançar bandeirinhas, tampouco ficar somente acampado”, advertiu o coronel Azim. No vídeo, menciona-se que a ação do dia 7 de setembro está sendo coordenada por alguns militares da reserva, com experiência em formar grupamentos de pessoas. “Vamos juntos adentrarmos no STF e no Congresso”, disse.

Segundo os organizadores, os manifestantes bolsonaristas não admitem que lhes impeçam de entrar no STF e no Congresso. “Iremos organizados e queremos entrar na paz, mas, caso haja reações, nós vamos ter que enfrentar, mesmo com a força. O que tiver lá para nos impedir nós poderemos atropelá-lo”, avisou o tal coronel Azim.

Em nenhum país civilizado, esse tipo de convocação é considerado “manifestação de pensamento” ou “expressão de opinião política”. Trata-se não apenas de incitação à violência contra as instituições – o que já configura crime –, mas de convocação para o golpe. Os organizadores estão dizendo abertamente que querem fechar o Supremo e o Congresso, entregando-os às Forças Armadas.