O Globo
A estratégia do presidente é velha e
manjada: mobilizar sua artilharia nas redes sociais em direção oposta ao que
interessa da administração pública
Quanto mais conseguir
esconder as verdadeiras questões que afligem os brasileiros, melhor para Jair
Bolsonaro. Sua tática é velha e manjada, mas é sempre usada por governantes em
campanha que não têm o que mostrar. Trata-se do diversionismo, da distração, da
mudança de assunto para confundir e mobilizar o seu eleitor em outro sentido. O
presidente, conhecido pela sua incompetência e sua aversão ao trabalho,
mobiliza sua artilharia nas redes sociais em direção oposta ao que interessa da
administração pública. Por falta de políticas públicas e resultados para
apresentar, Bolsonaro mira os velhos inimigos no STF ou os bons amigos, as suas
celebridades.
Na semana passada, os temas
abordados em perfis e canais da extrema-direita foram as críticas da chef Paola
Carosella a eleitores bolsonaristas, uma suposta preferência do ministro Edson
Fachin por Lula ou o corte da venda de gás boliviano ao Brasil “orquestrada”
para favorecer o PT. A defesa da operação na Vila Cruzeiro ou a tergiversação
sobre o assassinato brutal de Genivaldo de Jesus por policiais rodoviários em
Sergipe também foram combustível usado para tirar a atenção da pauta econômica
(desemprego e inflação) e administrativa. Pauta esta que é zero com viés de
baixa, você sabe. Na semana em curso, a mobilização foi em defesa do sertanejo
Gusttavo Lima.
Estudo das redes da
extrema-direita feito por pesquisadores da Universidade Federal Fluminense
(UFF) e da Universidade Federal do Paraná (UFPR) mostra que Bolsonaro teve mais
de 3 milhões de visualizações no Tik Tok ao comentar que um corte de 30% na
venda do gás boliviano foi um “complô socialista” feito para beneficiar Lula.
No YouTube, Paola Carosella mereceu quase 8 milhões de postagens críticas. No
Twitter, os ataques de Bolsonaro a ministros do STF com assento no Tribunal
Superior Eleitoral ficaram toda a semana passada entre os três temas mais
retuitados e curtidos. O destaque foi para o fato de o presidente do TSE, Edson
Fachin, ter recebido advogados da campanha de Lula. Como se isso representasse
uma preferência eleitoral do magistrado.
No Facebook, Bolsonaro e
sua tropa abusaram da ação policial na Vila Cruzeiro, que resultou em 23
mortes. Sua defesa da operação só não foi maior do que seus ataques à imprensa
que, segundo sua visão deturpada, “defende a bandidagem”. Claro que violência
instiga a extrema-direita, que difunde a orientação em seus círculos alcançando
e mobilizando eleitores desinformados ou conservadores e evangélicos. Outra
questão da semana passada que mobilizou as redes bolsonaristas foi a pesquisa
Datafolha, mostrando uma possível vitória de Lula no primeiro turno. A
abordagem foi obviamente para desacreditar o instituto de pesquisa.