sábado, 4 de junho de 2022

O que a mídia pensa: Editoriais / Opiniões

Editoriais

É preocupante a politização do Supremo

O Globo

A campanha eleitoral deste ano é marcada por um fato singular: as mentiras do presidente Jair Bolsonaro sobre as urnas eletrônicas e a campanha bolsonarista contra Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e Supremo Tribunal Federal (STF). Com o movimento, Bolsonaro tem uma intenção óbvia, outra menos óbvia. A óbvia é criar pretextos, ainda que falsos, para contestar o resultado em caso de derrota em outubro — e para justificar uma tentativa de golpe, a exemplo do que fez Donald Trump. A menos óbvia é atrair as Cortes superiores à arena política, de modo a enfraquecê-las como instituições independentes.

A situação põe as Cortes diante de um dilema. De um lado, é preciso resistir aos ataques do bolsonarismo à democracia, de outro é preciso cautela para não transformar o Judiciário em campo de batalha política. Infelizmente, é o que tem acontecido, como revelam duas decisões do STF nesta semana, uma do ministro Nunes Marques, a outra do ministro Alexandre de Moraes. Embora não tenham relação aparente, ambas mostram que o clima eleitoral contamina o Supremo.

Opinião do dia | Luiz Werneck Vianna: Eleições

“Nesse sentido, o foco central dos democratas consiste em criar condições para garantir a preservação do calendário eleitoral e se apresentar nas eleições com candidaturas capazes de ampliar nos limites do possível alianças que lhes facultem o sucesso nas urnas, e, mais que isso, por sua envergadura, afastar as eventuais tentativas de impedir a sua conclusão. A aliança entre Lula e Alckmin certamente é um bom começo para esse fim, mas não basta, a gravidade dos riscos a que estamos expostos exige a incorporação de todas as forças vivas da sociedade, dos sindicatos aos movimentos sociais, não podendo faltar as agremiações de estudantes, universitários e secundaristas, fermento sempre presente em nossas lutas libertárias, capazes de evocar em suas manifestações o que fez do Brasil Brasil.”

*Luiz Werneck Vianna, sociólogo, PUC-RJ. “As eleições como forma superior de luta”, Blog Democracia Política e novo Reformismo”, 1/6/2022.

José Eduardo Faria*: O projeto de Nação e o labirinto visto de cima

Estado da Arte - Revista de Cultura, Artes e Ideias

Deixada de lado desde o advento da globalização dos mercados entre o final do século 20 e o início do século 21, período em que a ideia de governo inerente ao Estado keynesiano foi substituída pela ideia de governança subjacente ao Estado liberal, a expressão “projeto de nação” foi recolocada novamente na agenda por duas iniciativas colidentes entre si.

A primeira iniciativa tem origem nos meios militares — mais precisamente, do grupo que apoia o governo Jair Bolsonaro e acredita, de alguma forma, se manterá no poder até 2035. Ela foi tomada pelo Instituto General Villas Bôas, criado pelo grupo do general Eduardo Villas Bôas, que foi o comandante do Exército entre 2015 e 2019, em parceria com o Instituto Federalista e o Instituto Sagres — Políticas e Gestão Estratégica Aplicadas. Com o título Projeto de Nação, coordenado por um general e revisado por três militares, dois embaixadores e dois professores, ele apresenta um cenário prospectivo do país até 2035, a partir de seis perspectivas: “temas estratégicos e incertezas críticas, consultas áugures (especialistas e outros públicos), cenários prospectivos, “cenário foco”, objetivos nacionais (políticos), diretrizes político-estratégicas e óbices”.

A segunda iniciativa foi tomada por dois economistas, Fabio Giambiagi e Ricardo de Menezes Barboza, que aproveitaram a comemoração dos 70 anos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para lançar um livro no qual técnicos de carreira de diferentes áreas decidiram apresentar uma agenda econômica e socioambiental. Com o título Labirinto visto de cima — saídas para o desenvolvimento do Brasil e publicado pela Editora Lux, a obra foi redigida por especialistas que analisaram a transição de uma economia fechada rumo a uma economia mais integrada ao mundo, porém com baixo crescimento ao longo das últimas décadas e incapaz de aproveitar todo seu potencial de desenvolvimento.

Marcus Pestana*: Ideologias e eleições

O ambiente político continua carregado. Fascista, comunista, genocida, ladrão, corrupto, homofóbico, misógino, presidiário são algumas das caracterizações usadas pelos militantes para interagir com adversários. Política não é guerra. Não busca aniquilar inimigos. O ideal é que os navios não sejam queimados e que haja espaço para o diálogo pós-eleitoral. A política é meio e não fim. É ferramenta de construção de consensos.

Polarização sempre houve. Abolicionistas e republicanos contra a Monarquia. Integralistas contra comunistas e ambos contra o Estado Novo. Carlos Lacerda e a UDN contra Vargas, JK e Jango. Arena versus MDB. PSDB e PT na Nova República. O problema é que hoje os espaços de diálogo quase inexistem. A radicalização excessiva é aguçada pela dinâmica das redes sociais e a mobilização de suas bolhas. A sensatez e o equilíbrio não têm audiência. Esquerda e direita são conceitos transformados em xingamentos recíprocos, vazios de qualquer significado substantivo.

Entrevista | José Serra: “Temos sido tímidos”, sobre perda de relevância do PSDB

Um dos fundadores do partido, o senador reconhece que os tucanos não foram 'explícitos' na crítica a Bolsonaro e ainda aposta em uma terceira via

Caio Sartori / Revista Veja

Em tratamento para a doença de Parkinson e passando por alguns dias críticos e outros melhores, o senador José Serra, 80 anos, participa a alguma distância das sacudidas que vêm abalando a posição no cenário político do PSDB, partido que ajudou a fundar em 1988: brigas internas, a escolha de João Doria como candidato à Presidência e sua posterior desistência, a perspectiva de ficar de fora da disputa e até uma aventada fusão com o MDB. Otimista, Serra, pré-candidato a deputado federal, diz que ainda acha possível o consenso em torno de um correligionário na convenção partidária (sem data marcada) e, se não, considera correto o apoio a algum nome que tenha chances de ganhar. Nesta entrevista — feita, a pedido dele, por escrito, em duas etapas —, o senador discorre sobre o momento atual, equívocos do passado (como o de não ter se oposto com mais veemência ao atual governo) e o futuro — torcendo para que não se limite a um embate entre Lula e Jair Bolsonaro.

O que aconteceu para o PSDB deixar de ser considerado uma opção ao PT no cenário nacional? Vou repetir aqui o que Aécio Neves já declarou: a divulgação daquela conversa dele com Joesley Batista, em 2017, foi nociva não apenas para o deputado e sua família, mas para o partido em seu conjunto. Aécio chegou perto de ganhar a eleição de 2014 e tínhamos a expectativa de que a votação seguinte seria o momento da virada. O episódio foi um banho de água fria. Todos sofremos e, sendo muito sincero, perdemos credibilidade junto à população. O que foi uma pena, porque Aécio foi inocentado e a denúncia, arquivada.

Alvaro Costa e Silva: O Destruidor

Folha de S. Paulo

Quem destruiu tudo só pode propor mais e maior destruição

Bolsonaro diz que só deve participar de debates no segundo turno. Nem o mais fanático dos fanáticos da seita ficou surpreso. O presidente, coitadinho, não quer levar "pancada" dos adversários. Esquece que o terceiro colocado nas pesquisas, Ciro Gomes, tem poupado o governo. Só bate em Lula, o líder das intenções de voto. E que Luciano Bivar, da União Brasil, representa um saco de gatos, uma candidatura de mentirinha, uma linha auxiliar do bolsonarismo e do centrão.

É uma estratégia como outra qualquer. FHC e Lula já fizeram isso —e foram elogiados por analistas políticos. Mas, tomada por alguém que se considera o Destruidor, uma espécie de super-herói ungido por Deus, e ainda por cima com histórico de atleta, a decisão revela fraqueza, além de surpreendente franqueza. Para fugir da salutar troca de ideias, Bolsonaro tem preferido as desculpas esfarrapadas ou engolir camarões com cabeça e tudo e se internar em hospitais.

Hélio Schwartsman: O Estado e as artes

Folha de S. Paulo

O desafio do Estado é encontrar uma forma de financiar as artes sem recair em dirigismo

Se a profissão de prostituta é a mais antiga do mundo, a de artista é a segunda mais velha. Desde tempos imemoriais, governantes e pessoas muito ricas financiavam bardos para enaltecer-lhes as glórias. Caio Cílnio Mecenas, uma combinação de político com pessoa podre de rica, conselheiro do imperador Augusto, apoiou tão entusiasmadamente artistas que seu nome gerou a palavra "mecenas".

O desafio dos Estados modernos é encontrar uma forma de financiar as artes e a cultura em geral sem recair nem em dirigismo estatal nem em favorecimentos. A solução ultraliberal para o problema é simplesmente proibir o poder público de apoiar artistas. Se suas produções não passam pelo crivo do mercado, é porque ninguém está interessado nelas e é melhor mesmo que não existam. Mas eu receio que não seja tão simples. Museus e orquestras sinfônicas, para citar só dois exemplos, são muito pouco rentáveis e dependem de verbas públicas para funcionar. E eu prefiro viver num mundo onde existam o Louvre e a Osesp a em um em que só haja "best-sellers" e "blockbusters".

Oscar Vilhena Vieira*: Pedagogia da subordinação

Folha de S. Paulo

Morte de Genivaldo de Jesus Santos não constitui incidente isolado

morte por tortura de Genivaldo de Jesus Santos não constitui um incidente isolado na relação entre a população negra e as polícias brasileiras. Nos últimos cinco anos, mais de 18 mil pessoas foram mortas pela polícia, sendo 78,9% negras. Muitas com indícios de tortura e sinais de execução.

O que distingue o caso de Genivaldo, portanto, foi a improvisada câmara de gás montada em plena via pública pelos policiais rodoviários federais para torturar uma pessoa acusada de dirigir uma motocicleta sem o uso de capacete.

Como no caso de Cesar Baptista, recentemente submetido à violência por membros da Guarda Civil Metropolitana, no centro da cidade de São Paulo, as câmaras de celular não tiveram a capacidade de inibir a brutalidade por parte de agentes do Estado. Como se a tortura, tradicionalmente praticada às escondidas, estivesse agora autorizada a ocorrer em público, como alerta de que pretos e pobres jamais terão os seus direitos respeitados nesta terra. Difícil não associar esse recrudescimento da violência de Estado à recorrente apologia de torturadores e regimes que torturam pelo presidente e seus apoiadores.

Demétrio Magnoli: A foto da guerra

Folha de S. Paulo

O impacto das notícias não se compara às fotos da Guerra do Vietnã

Cinquenta anos atrás, em 8 de junho de 1972, aviões sul-vietnamitas bombardearam o povoado de Trang Bang, não muito distante de Saigon, que havia sido ocupado por forças do Vietnã do Norte. Usaram napalm, um composto incendiário lançado pela aviação dos EUA contra cidades japonesas na Segunda Guerra Mundial.

Nick Ut, um fotojornalista vietnamita-americano da AP, capturou com sua Leica a foto que definiria a Guerra do Vietnã. Nela, em meio a um grupo de crianças que fugiam aterrorizadas por uma estrada, estava Kim Phuc, 9 anos, a pele em brasa descolando-se de seu corpo.

Na verdade, muitas fotos definiram a tragédia nas selvas da Indochina. Malcolm Browne imortalizou o monge que ateou fogo em si mesmo numa rua de Saigon, em 1963, em protesto contra a perseguição aos budistas. Marc Riboud eternizou a imagem da jovem Jan Rose, uma flor nas mãos, diante das tropas da Guarda Nacional, protestando em frente ao Pentágono, em 1967.

João Gabriel de Lima: A política em tempos de cólera

O Estado de S. Paulo.

Os sentimentos permeiam todas as atividades humanas, e a política não é diferente

A enfermeira parisiense Juliette nasceu quando seus pais eram muito jovens. Ela se recorda de uma infância com pouco dinheiro, poucos presentes e muito barulho – Juliette era bebê e os pais a levavam para as festas altamente animadas da universidade. Ela diz ter crescido cheia de inseguranças. Adulta, indignou-se com a situação política de seu país – e se tornou um exemplo do sentimento que os franceses chamam de “colère”.

Há três anos, o movimento dos “coletes amarelos” eclodiu na França, e Juliette se tornou uma de suas militantes mais entusiasmadas. Ela contou sua história de vida ao cientista político Thomás Zicman de Barros, autor de uma tese original e surpreendente sobre o movimento. Em seu doutorado na França, Zicman de Barros, entrevistado no minipodcast da semana, mergulhou no universo dos “coletes amarelos” e extraiu conclusões que ajudam a explicar a política dos dias de hoje.

Miguel Reale Júnior*: Crueldade

O Estado de S. Paulo

Não será fácil desaprender o mal que se espalhou no espírito de parcela dos brasileiros nos anos do governo Bolsonaro.

Especialmente em tempos cinzentos, é preciso “ter medo do guarda da esquina, mais do que do general”, como alertou Pedro Aleixo quando da instauração do AI-5. Os subordinados adotam com facilidade o abuso do poder se os desmandos não são reprimidos, mas dados como positivos pelos superiores.

Segundo a teoria da aprendizagem formulada por Gabriel Tarde e, depois, estudada por Sutherland, a conduta delitiva se aprende em associação com as pessoas que a consideram positiva, gerando o convencimento de estar a agir de maneira certa. Mesmo em face de condutas cruéis, os freios inibitórios são anulados em decorrência do aplauso ao comportamento malvado vindo de autoridades.

Seria a crueldade inerente à pessoa humana, cujo primitivismo deve ser burilado pelos limites impostos pelo processo educacional? Ou a malvadeza é aprendida nas relações sociais, de acordo com o meio social no qual se está inserido?

Indo mais a fundo: o mal é inerente ao exercício do poder? Será um ingrediente ou um meio pelo qual obrigatoriamente o titular do poder se manifesta para mantê-lo ou para afirmá-lo? Haveria até mesmo com gosto pelo mal?

Bolívar Lamounier*: Indagações para uma noite de primavera

O Estado de S. Paulo

Preocupa-me chegarmos até lá com dois candidatos portadores de reluzentes credenciais populistas.

Se o próximo presidente for, de fato, um dos dois que lideram as pesquisas, uma coisa é certa: na noite de 2 de outubro nós, a maioria dos brasileiros, estaremos por aí desnorteados, cambaleando como um pobre-diabo atingido no cocuruto por um coice de cavalo.

Esqueçamos, porém, a nobre espécie dos equinos e tentemos entender as coisas através do nosso singelo vernáculo. Suponhamos que fomos atingidos não por um coice, mas por uma reles interrogação. Reles, sucinta e, sobretudo, inusitada para um momento pós-eleitoral. Que raio de interrogação será essa? Ei-la: e daí? E a resposta, igualmente inusitada, será: nada. Nada?! Como nada? Ora, meus caros leitores, nada porque ninguém saberá dizer que diferença fará para nós e para o Brasil o vitorioso ser Luiz Inácio ou Jair Bolsonaro. Algum de vocês imagina que este nosso país letárgico vai subitamente dar um salto de dois metros e aterrar ágil, afável, pacífico e próspero só porque o vencedor foi aquele, e não o outro? Creiam-me: as chances de isso acontecer são iguais num ou noutro caso, e próximas de zero em ambos.

Ascânio Seleme: Mudando de assunto

O Globo

A estratégia do presidente é velha e manjada: mobilizar sua artilharia nas redes sociais em direção oposta ao que interessa da administração pública

Quanto mais conseguir esconder as verdadeiras questões que afligem os brasileiros, melhor para Jair Bolsonaro. Sua tática é velha e manjada, mas é sempre usada por governantes em campanha que não têm o que mostrar. Trata-se do diversionismo, da distração, da mudança de assunto para confundir e mobilizar o seu eleitor em outro sentido. O presidente, conhecido pela sua incompetência e sua aversão ao trabalho, mobiliza sua artilharia nas redes sociais em direção oposta ao que interessa da administração pública. Por falta de políticas públicas e resultados para apresentar, Bolsonaro mira os velhos inimigos no STF ou os bons amigos, as suas celebridades.

Na semana passada, os temas abordados em perfis e canais da extrema-direita foram as críticas da chef Paola Carosella a eleitores bolsonaristas, uma suposta preferência do ministro Edson Fachin por Lula ou o corte da venda de gás boliviano ao Brasil “orquestrada” para favorecer o PT. A defesa da operação na Vila Cruzeiro ou a tergiversação sobre o assassinato brutal de Genivaldo de Jesus por policiais rodoviários em Sergipe também foram combustível usado para tirar a atenção da pauta econômica (desemprego e inflação) e administrativa. Pauta esta que é zero com viés de baixa, você sabe. Na semana em curso, a mobilização foi em defesa do sertanejo Gusttavo Lima.

Estudo das redes da extrema-direita feito por pesquisadores da Universidade Federal Fluminense (UFF) e da Universidade Federal do Paraná (UFPR) mostra que Bolsonaro teve mais de 3 milhões de visualizações no Tik Tok ao comentar que um corte de 30% na venda do gás boliviano foi um “complô socialista” feito para beneficiar Lula. No YouTube, Paola Carosella mereceu quase 8 milhões de postagens críticas. No Twitter, os ataques de Bolsonaro a ministros do STF com assento no Tribunal Superior Eleitoral ficaram toda a semana passada entre os três temas mais retuitados e curtidos. O destaque foi para o fato de o presidente do TSE, Edson Fachin, ter recebido advogados da campanha de Lula. Como se isso representasse uma preferência eleitoral do magistrado.

No Facebook, Bolsonaro e sua tropa abusaram da ação policial na Vila Cruzeiro, que resultou em 23 mortes. Sua defesa da operação só não foi maior do que seus ataques à imprensa que, segundo sua visão deturpada, “defende a bandidagem”. Claro que violência instiga a extrema-direita, que difunde a orientação em seus círculos alcançando e mobilizando eleitores desinformados ou conservadores e evangélicos. Outra questão da semana passada que mobilizou as redes bolsonaristas foi a pesquisa Datafolha, mostrando uma possível vitória de Lula no primeiro turno. A abordagem foi obviamente para desacreditar o instituto de pesquisa.

Pablo Ortellado: Briga entre pop e sertanejo faz mal à cultura

O Globo

A semana foi marcada pela troca de acusações entre progressistas da música pop e conservadores do sertanejo. De um lado, conservadores atacaram os projetos culturais financiados pela Lei Rouanet. De outro, progressistas criticaram as contratações de shows com dispensa de licitação pelas prefeituras. Dos dois lados proliferaram acusações de imoralidade e ilicitude. O resultado da contenda é o descrédito generalizado ao financiamento público à cultura.

A polêmica começou com um vídeo curto que circulou nos meios bolsonaristas. O clipe mostrava trecho de um show da dupla Zé Neto & Cristiano na cidade de Sorriso, em Mato Grosso, em que Zé Neto dizia:

— Nós somos artistas que não dependemos de Lei Rouanet. O nosso cachê quem paga é o povo. A gente não precisa fazer tatuagem no toba para mostrar se a gente está bem ou não.

A menção à tatuagem íntima era uma referência à cantora Anitta.

A crítica à Lei Rouanet é um velho tópico do bolsonarismo. A lei de incentivo cultural foi criada no governo Collor. Por meio dela, produtores inscrevem projetos, os submetem à análise técnica do governo federal, e depois empresas podem financiá-los, abatendo o valor do Imposto de Renda devido. Os projetos precisam atender a critérios técnicos estabelecidos pelo governo, e quem decide qual é financiado ou não são as empresas, que promovem assim suas marcas.

Carlos Alberto Sardenberg: Brasil poderia ocupar o lugar da China?

O Globo

Aqui vai só um exemplo de que como foi uma tortura o tipo de confinamento imposto aos moradores de Xangai. Ou de como a política de Covid Zero faz com que muita gente grande reveja a disposição de investir na China.

História contada de fonte segura: numa fábrica de mais de 5 mil funcionários aparece um caso de Covid-19. No mesmo dia, todos os empregados são convocados a comparecer à empresa. E todos ficam ali confinados por sete dias. Isso mesmo, todo mundo na fábrica, de chefões a operários. Passados os sete dias, e não se verificando nenhum outro caso de Covid-19, todos são dispensados, mas com a ordem de permanecer em casa por sete semanas.

O lockdown de sete semanas foi imposto a toda a população de Xangai. “Imposto” não é modo de expressão. Repararam nas imagens, da semana passada, de moradores festejando a suspensão do confinamento? Viram como se animavam no trabalho de levantar as barricadas?

Eduardo Affonso: Não se pode falar nada, tudo ofende

O Globo

Programa jornalístico (hipotético) de televisão. Quatro homens e uma mulher estão a postos para discutir violência sexista. O diálogo se dá entre Carol e Marcelo (nomes fictícios). Na volta do intervalo, Marcelo toma a iniciativa.

— A gente dá uns escorregões às vezes, né?, e a gente tem que lembrar pra não dar um escorregão, e há pouco cê usou uma palavra que a gente não usa mais...

— Supimpa? Lambisgoia? Entrementes? Sirigaita?

— Não, uma palavra racista: denegrir.

— Mas denegrir é tão racista quanto amarelar, ficar vermelho de raiva ou dar um branco...

— Não, Carol. Qualquer palavra ou expressão que associe a cor preta a algo negativo toca num ponto sensível e contribui para a perpetuação do racismo.

Poesia | Ascenso Ferreira: Sertão

 

Música | Mariana Aydar: Lamento Sertanejo