sábado, 11 de junho de 2022

Cristina Serra: Bolsonaro em modo milícia

Folha de S. Paulo

Ele vocifera como arruaceiro, bafeja ódio, insufla violência e prega a subversão da ordem constitucional vigente

Bolsonaro acionou o modo milícia para a campanha eleitoral. Vocifera como arruaceiro, bafeja ódio, insufla violência, prega a subversão da ordem constitucional vigente. É só o começo.

Vai piorar muito, porque o baderneiro do Planalto sabe que tem apoio de parcela fiel da população e de setores da elite. É o suficiente para levá-lo ao segundo turno e o que precisa para tentar tumultuar as eleições. O método é convocar a turba e inflamá-la. Bastará alguém riscar o fósforo.

A cena repulsiva na Associação Comercial do Rio de Janeiro é evidência de apodrecimento social. Vídeo não tem cheiro, mas se tivesse daria para sentir o odor de mofo na sala em que empresários aplaudiram Bolsonaro quando ele incentivou a desobediência ao STF. Alguém da plateia contestou a incitação ao crime? Ninguém. Ouviram-se aplausos de concordância com o estímulo à anarquia institucional.

Alvaro Costa e Silva: Golpistas por todos os lados

Folha de S. Paulo

Nas armadilhas virtuais, com utilização de dados vazados, tudo parece legal e perfeito

O golpe está na moda. Calma, leitor. Não falarei sobre o golpe que, de tão anunciado, até com data e hora marcada, em ataques de fúria que mais parecem faniquitos, está sendo desmoralizado pelo próprio presidente-golpista. Vou tratar de outros trambiques, há na praça um festival deles.

Ainda sendo investigados, alguns causam pânico. Usuários de transporte por aplicativo relatam sentir um forte odor de produtos químicos durante os trajetos. Batizado de golpe do cheiro, a dopagem levaria à perda de consciência. No golpe do delivery, os criminosos utilizam documentos falsos e se cadastram como entregadores —em São Paulo, um jovem foi morto com um tiro na cabeça ao defender a namorada. Nas praias cariocas, o crime é à moda antiga: o esperto usa chapéu e carrega uma caixa de isopor para se disfarçar de ambulante e furtar celulares.

Hélio Schwartsman: A desjudicialização da saúde

Folha de S. Paulo

Pareceu-me acertada a decisão do STJ, com espaço para exceções

Não dá para reclamar da judicialização da saúde no SUS e ao mesmo tempo defendê-la para o setor privado. A lógica que preside a ambos os sistemas é a mesma (e meio socialista ainda por cima): o conjunto dos usuários, seja através de impostos, seja de mensalidades, paga pelos tratamentos que são dispensados a cada paciente. Se um médico prescreve uma terapia ineficaz ou com preços absurdos, a coletividade é prejudicada. No caso do SUS, o dano se materializa em filas e outras carências de recursos; no dos planos, na forma de sinistralidades e aumentos maiores que a inflação.

João Gabriel de Lima*: Tragédia no coração das trevas

O Estado de S. Paulo

Junto com o desmatamento, proliferam crimes de todos os tipos na Amazônia

A notícia do desaparecimento do indigenista brasileiro Bruno Pereira e do jornalista britânico Dom Phillips chegou até mim quando eu desembarcava na Alemanha para um congresso sobre democracia. Havia duas ironias trágicas além dessa. Era o dia 7 de junho, quando se celebra, no Brasil, o Dia da Liberdade de Imprensa. O congresso era no castelo de Hambach, palco de um levante, em 1832, contra um governo que ameaçava, entre outras coisas, o direito à livre expressão.

Viver fora do Brasil e acompanhar as notícias do País trazem, além de angústia, a dimensão de como somos vistos mundo afora. É impossível ficar indiferente às notícias sobre a Amazônia – em especial sobre a questão indígena – de tanto que elas explodem nos noticiários estrangeiros. O desaparecimento de um profissional ligado a vários jornais importantes, como The Guardian e Washington Post, multiplica a visibilidade – na quinta-feira já havia protestos na frente da embaixada brasileira em Londres.

Adriana Fernandes: Ameaçando o TCU

O Estado de S. Paulo

Processo de demonização dos órgãos de controle não tem como ser bom para o País

Foi com indisfarçável sorriso no rosto que o presidente da Comissão Mista do Orçamento, deputado Celso Sabino (União-PA), avisou que o Tribunal de Contas da União (TCU) teria agora as suas próprias contas fiscalizadas pelos integrantes da comissão. 

A fala de Sabino foi feita em audiência para discutir a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) de 2023 com a presença do secretário especial de Tesouro e Orçamento, Esteves Colnago. Em tom irônico, Sabino afirmou que não existe nenhum recurso público que não seja fiscalizado “apesar de terem criado essa versão de emenda pix”. 

Emenda pix é como foram chamadas as transferências de recursos do Orçamento feitas diretamente aos Estados e municípios, que podem usar a verba como quiserem sem prestação de contas. Esse tipo de emenda parlamentar tem abastecido casos como os cachês altíssimos pagos por cidades muito pobres para cantores sertanejos como revelou reportagem do Estadão.

Marco Antonio Villa: Onde está a saída para a crise?

Revista IstoÉ

Com Jair Bolsonaro, a escória tomou o poder. Será que devemos imputar ao destino o que estamos vivendo? Não creio

Viver no Brasil sob a presidência de Jair Bolsonaro não é tarefa fácil. A cada dia somos surpreendidos por alguma ação que confronta o Estado democrático de Direito, um ataque às instituições, um comentário que quebra o decoro presidencial, uma imagem que desmoraliza a figura presidencial, uma entrevista que pretende transformar a torpeza em qualidade. São sustos e mais sustos e imaginamos que cada um deles não mais se repetirá. Ledo engano. Nos dias posteriores ficamos espantados com mais ações absolutamente distantes do que assistimos como comportamento político ao longo da história republicana.

União de PSDB e MDB tem impasse em 14 estados e no DF

Aliados com Tebet, MDB e PSDB estão separados em mais da metade dos estados

Diante dos impasses, chapa vai constituir um conselho com representantes das duas legendas e do Cidadania, que compõe uma federação com os tucanos

Por Natália Portinari e Camila Zarur / O Globo

BRASÍLIA - Apesar de a pré-candidata do MDB à Presidência, a senadora Simone Tebet (MS), ter conseguido atrair o PSDB para o seu palanque, tucanos e emedebistas terão dificuldades para trilhar o mesmo caminho em pelo menos 15 unidades da federação. Diante dos impasses, a chapa recém-formada, que deverá ter o senador Tasso Jereissati (PSDB-CE) como vice, vai constituir um conselho com representantes das duas legendas e do Cidadania, que compõe uma federação com os tucanos, para buscar alternativas aos nós estaduais e evitar que ele resulte em enfraquecimento e falta de engajamento na candidatura presidencial por parte dos palanques estaduais.

O comando da campanha presidencial quer evitar o risco de os dois partidos constituírem um “palanque oco”, ou seja, unido no plano federal, mas sem apoio na ponta.

O mapeamento é vasto. Há problemas à vista no Amapá, Amazonas, na Bahia, no Distrito Federal, em Goiás, no Mato Grosso do Sul, na Paraíba, no Paraná, em Pernambuco, no Piauí, Rio de Janeiro, assim como em Rondônia, Roraima, Sergipe e Tocantins.

No Rio, MDB e PSDB estão em lados opostos. Enquanto o ex-prefeito de Caxias Washigton Reis (MDB) é cotado para vice de Cláudio Castro (PL), o PSDB deve ter Cesar Maia na chapa de Marcelo Freixo (PSB). Tanto Freixo, aliado de Lula, quanto Castro, apoiado pelo presidente Jair Bolsonaro (PL), não darão palanque a Tebet.

Ascânio Seleme: O julgamento do golpista

O Globo

Se as pesquisas continuarem a apontar vitória de Lula no primeiro turno, Bolsonaro vai antecipar sua tentativa de golpe para o dia 7 de setembro, mas não vai dar certo

Se as pesquisas continuarem mostrando que o crescimento de Lula se consolida, aumentando a possibilidade de vitória já no primeiro turno eleitoral, Jair Bolsonaro vai antecipar sua tentativa de golpe para o dia 7 de setembro. Será uma nova setembrada, como a do ano passado, mas desta vez com mais violência e sem freios. Não tenha dúvida de que o presidente do Brasil vai incentivar a invasão do Supremo Tribunal Federal e do Tribunal Superior Eleitoral. De maneira mais clara e direta do que em 2021. Mas, desde já é bom que ele saiba que não vai dar certo. Pior. Além de errado, vai significar o fim de sua carreira política e muito provavelmente o seu encarceramento.

Bolsonaro deveria aproveitar que está nos Estados Unidos e prestar atenção no que acontece desde quinta-feira no Congresso americano. Um comitê suprapartidário investiga a tentativa de obstrução da diplomação de Joe Biden com a invasão violenta do Capitólio no dia 6 de janeiro do ano passado. Invasão estimulada por Donald Trump, objeto número 1 das investigações. Como uma CPI no Brasil, o comitê não tem poder de Justiça, não podendo mandar prender o golpista frustrado. Mas pode remeter suas conclusões para o Judiciário, que aliás já avisou que vai usar todos os dados e provas coletados para subsidiar uma investigação própria.

O comitê, que fez audiências com diversos envolvidos no episódio, inclusive membros do governo Trump e alguns de seus familiares, como sua filha e genro, já apontou onde o ex-presidente se situava no episódio da invasão do Capitólio. Ele estava “no centro” da tentativa de golpe. Dados novos somam-se a outros já vastamente conhecidos como o discurso que fez incentivando os direitistas que se manifestavam em frente à Casa Branca para marchar sobre o Congresso que naquele momento se reunia para referendar a vitória eleitoral de Biden. O que Trump queria, afirmou o comitê, era impedir pela força que a vontade do povo manifestada em eleição se concretizasse.

Eduardo Affonso: Habitantes de Bolsolândia e Luloverso são birrentos

O Globo

Uma pesquisa recente traz alguns dados interessantes a respeito de quem não vota em Lula nem em Bolsonaro —os nem-nem, outrora conhecidos como isentões e cada vez mais chamados, injustamente, de omissos.

O percentual dos que votaram branco ou nulo em 2018 e avaliam de forma negativa o atual governo é bem mais próximo daquele dos que pensam assim e votaram em Haddad que dos que apertaram o 17 e não o fariam mais.

Questionados sobre o que mais lhes dá medo, quase metade dos nem-nem aponta a continuidade de Bolsonaro, ante um terço para quem o bicho-papão é a volta do PT.

Esses resultados vêm na contramão do que apregoa a militância petista, que substituiu os mantras “É golpe”, “Fora Temer” e “Ele não” por “Quem não é Lula nem Bolsonaro é Bolsonaro”. Pois é: não foi golpe; o Temer ficou; deu ele, sim — e há mais nem-nem antibolsonarista que antilulista.

Pablo Ortellado: Guerras culturais chegam ao IBGE

O Globo

A Justiça do Acre determinou que o IBGE inclua no Censo questões sobre identidade de gênero e orientação sexual. O IBGE respondeu que recorrerá e que, se a decisão de incluir as questões for mantida, terá de adiar mais uma vez o Censo (já adiado em 2020 por causa da pandemia e em 2021 devido à falta de orçamento). O embate jurídico mostra a chegada das guerras culturais ao IBGE.

A inclusão de questões sobre identidade de gênero e orientação sexual é muito carregada politicamente. O termo “gênero” é visto por conservadores cristãos como uma espécie de cavalo de troia criado pelas feministas para destruir a família convencional.

A discussão sobre a adequação do uso da expressão “gênero” nas políticas públicas explodiu em 2014, quando o termo teve de ser retirado do Plano Nacional de Educação. Depois, esteve no centro de controvérsias educacionais promovidas pelo movimento Escola sem Partido. Noutros países, o debate tem marcado vários momentos políticos. Na Colômbia, o uso do termo “gênero” em passagens do acordo de paz com as Farc em 2016 é considerado um dos motivos por que o referendo em apoio ao entendimento foi rejeitado pelos eleitores.

Ricardo Rangel: A retaguarda do atraso

Revista Veja

Na lida com o meio ambiente, o Brasil de Bolsonaro só piorou

Junho é o mês da conscientização ambiental. No dia 5 se comemorou o Dia Mundial do Meio Ambiente. O Dia Nacional da Educação Ambiental foi dia 3. O Dia Mundial dos Oceanos, 8. Dia 13 é o aniversário do primeiro Jardim Botânico do Brasil. E dia 17 é o Dia Mundial de Combate à Desertificação.

Meio ambiente, como se sabe, é tema no qual o Brasil, dono da maior floresta úmida do mundo, se destaca. De acordo com o Imazon, o desmatamento em 2021, de mais de 10000 quilômetros quadrados, foi o maior desde 2008: um crescimento de 29% em relação aos mais de 8000 quilômetros quadrados de 2020 (até então o maior da década). Segundo o Ipam, o desmatamento na Amazônia cresceu 56,6% no governo Bolsonaro. A Amazônia é só o aspecto mais crítico de um problema que alcança todos os biomas do país.

Ninguém deve se surpreender. Desde a posse, Jair Bolsonaro fez de tudo para inviabilizar o combate ao desmatamento. Seu ministro Ricardo Salles demitiu 21 dos 27 superintendentes do Ibama, e nomeou gente que nada entendia do assunto. No ICMBio, substituiu os profissionais da área por PMs. Cortou os orçamentos, engessando os órgãos ambientais. Reduziu o número de analistas e fiscais e aumentou a burocracia. Elogiou madeireiros ilegais (“homens de bem”) que haviam incendiado um caminhão-tanque do Ibama. O Brasil aplica hoje o menor número de multas por crimes ambientais em vinte anos, menos da metade do que já foi.

Sérgio C. Buarque*: Desarrumando o tabuleiro

Revista Será? (Penso, logo duvido) – PE.

A definição da candidatura de Simone Tebet à presidência da República (Tasso Jereissati de Vice) pela coligação MDB, PSDB e Cidadania pode provocar uma desarrumação geral no tabuleiro eleitoral até agora dominado pela polarização entre Lula e Bolsonaro. Simone surge como uma novidade num cenário poluído por candidatos que brilham pelos elevados índices de rejeição, cada um alimentando a votação do outro. As pesquisas mostram que a polarização está consolidada, mas também que 42% dos eleitores definiram o voto na ausência de uma candidatura alternativa consistente e viável. Simone pode ser esta alternativa, frente a uma polarização que empobrece o debate da campanha eleitoral, os dois candidatos destilando ódio e ressentimento, o presente destruindo o país (Bolsonaro) e o passado ameaçando o futuro (Lula). 

Não há dúvida que, a poucos meses das eleições, será difícil quebrar a polarização eleitoral a ponto de levar Simone Tebet para o segundo turno. Entretanto, a emergência de um nome novo, pouco conhecido, mas com história e experiência política e administrativa, pode sensibilizar parte importante do eleitorado, que se inclina a votar em Lula porque não vê outra forma de derrotar Bolsonaro, ou opta pelo atual presidente porque repudia o ex-presidente petista. Simone Tebet pode capitalizar este eleitorado da rejeição?  Difícil, mas possível.

Marcus Pestana*: A repetição de erros pelo PT

A frente política “Vamos juntos pelo Brasil”, liderada pelo ex-presidente Lula, publicou para consulta pública o documento “Diretrizes Programáticas”.

De pronto, cabe ressaltar, que a iniciativa de democratizar o debate é extremamente positiva. Todas as candidaturas deviam fazê-lo. A federação PSDB-Cidadania tem também se esforçado para produzir uma dinâmica participativa com a realização do seminário “Um Novo Rumo para o Brasil” e a promoção do “Curso Preparatório para Candidatos, Candidatas e suas assessorias”, que contou com mais de 1500 inscritos.

Um dos traços mais preocupantes na democracia brasileira é a fragilidade dos partidos. Pouquíssimos entre os 32 registrados no TSE têm uma visão e um projeto de país. A maioria se rende ao pragmatismo mais raso.

Dito isto, vamos ao documento. Há uma preocupação da candidatura Lula em tentar atrair o centro. Para isto, não basta colocar Geraldo Alckmin como candidato à vice. Seria necessário um movimento programático, substantivo e não cosmético, em favor de uma nova agenda de desenvolvimento nacional. Isto o documento não oferece, mais revive o passado do que projeta o futuro.

O Que a mídia pensa: Editoriais / Opiniões

Editoriais

Eletrobras de muitos

Folha de S. Paulo

Em marco do plano de privatização, gigante da energia deixa de ter controlador

Com a conclusão da oferta de ações que diluirá a participação da União no capital da Eletrobras, chega-se a um marco do longo processo de desestatização iniciado nos anos 1990. A transferência ao setor privado da empresa responsável por cerca de um terço da geração de energia no país abrirá nova etapa de investimentos no setor.

O processo de venda significa que a União passa a deter cerca de 40% do capital votante (e 36,9% do total), ante 68,6% até então. A oferta em mercado poderá movimentar até R$ 33,7 bilhões ao preço de R$ 42 por ação, avaliando a empresa em cerca de R$ 66 bilhões. A demanda total somou R$ 60 bilhões.

Além de investidores estrangeiros e institucionais domésticos, nessa quantia estão inclusos R$ 6 bilhões oriundos de contas do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) . Estima-se que 370 mil pessoas fizeram compras.