Reynaldo Turollo Jr.
Em temporada no Brasil para ministrar um
curso no Instituto Brasileiro de Ensino, Desenvolvimento e Pesquisa (IDP), em
Brasília, em homenagem ao ministro aposentado do STF Celso de Mello, o
professor de direito da Universidade de Manchester, na Inglaterra, e conceituado
pesquisador de temas como populismo e democracia, Christopher Thornhill, afirma
que o presidente Jair Bolsonaro busca uma ruptura,
mas não tem tido sucesso devido à solidez das instituições do país. “Sou
otimista”, diz. Numa conversa presencial, ele falou a VEJA sobre as
perspectivas das eleições no país, analisou a participação dos militares no
governo Bolsonaro e explicou como os movimentos antidemocráticos vêm ganhando
tração em vários países, inclusive no Reino Unido e nos Estados Unidos.
Como estudioso dos ataques
que governantes fazem na atualidade contra a democracia, acha um exagero a
análise que muitos setores fazem no Brasil de que Jair Bolsonaro ensaia uma
ruptura institucional? De forma especulativa, pode-se dizer que ele vem
tentando isso. Mas, até o momento, esse esforço não levou a uma suspensão do
processo democrático no Brasil. Bolsonaro tentou realizar algum tipo de ruptura
constitucional, mas a extensão foi limitada até aqui. Não acho que será
bem-sucedido se insistir nesse caminho. E isso tem a ver com a robustez
relativa das instituições do país. Sou um otimista.
Nos últimos tempos, o
presidente vem aumentando o tom das ameaças, na tentativa de minar a confiança
em nosso sistema eleitoral. Mesmo assim, o senhor continua otimista a respeito
da capacidade de as instituições do país resistirem? Não concordo
com a visão apocalíptica que muitas pessoas do seu país têm a respeito do
estado da democracia no Brasil. Ao longo das últimas décadas, ela se
solidificou e, em certos aspectos, se transformou numa democracia extremamente
avançada, cujas estruturas institucionais se desenvolveram além da simples
consolidação constitucional da democracia. São sinais de uma democracia
relativamente robusta. Quando uma democracia nova como a brasileira muda de
direção, como ocorreu na transição do governo de Fernando Henrique Cardoso para
o de Luiz Inácio Lula da Silva, em algum
momento tal processo desencadeia uma reação. E o Bolsonaro foi a reação.
Qual será a reação internacional se o presidente não aceitar o resultado das eleições, em caso de derrota? O Brasil é uma das democracias-chave do mundo. Tem um papel importante não só na América do Sul, mas em todo o Hemisfério Sul. Na hipótese de não aceitarem o resultado das eleições, a reação internacional certamente será de ultraje. Mas acho improvável chegarmos até esse ponto.