domingo, 5 de março de 2023

Merval Pereira - Em busca de um pacto

O Globo

Governadores pedem negociação ampla com governo federal e menos submissão orçamentária

A reforma tributária, um dos pilares do projeto reformista do governo Lula, que dependerá de ampla negociação no Congresso, terá um debate muito mais amplo do que apenas o aspecto financeiro, no que depender dos governadores dos sete estados que compõem o Consórcio de Integração Sul e Sudeste (Consud), que se reuniram nos últimos três dias no Rio.

O aspecto político da relação entre os entes federativos (municípios, estados e governo federal) foi destacado por todos os governadores – de São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Espírito Santo, Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná – que desejam uma maior autonomia diante do governo federal e uma relação de menos submissão orçamentária.

Elio Gaspari - Os agrotrogloditas do Sul

O Globo

Se não bastassem os agrotrogloditas da Amazônia, com suas queimadas e ocupações, o agronegócio precisa se defender também dos trogloditas do Sul. Há cerca de uma semana, 200 trabalhadores baianos foram resgatados no município gaúcho de Bento Gonçalves. Contratados para a colheita da uva, viviam em condições degradantes. Expostas, as vinícolas Aurora, Salton e Cooperativa Garibaldi lastimaram o ocorrido e atribuíram a malfeitoria a uma prestadora de serviços. Esse é o protocolo seguido por todas as empresas apanhadas em malfeitorias semelhantes.

Como o negócio do vinho é sensível a exposições constrangedoras, a resposta foi rápida, clara e talvez possa se provar sincera. Estava nesse pé a coisa quando o Centro da Indústria, Comércio e Serviços de Bento Gonçalves resolveu entrar na discussão e saiu-se com o seguinte disparate:

“Há uma larga parcela da população com plenas condições produtivas e que, mesmo assim, encontra-se inativa, sobrevivendo através de um sistema assistencialista que nada tem de salutar para a sociedade.”

O que os doutores quiseram dizer foi o seguinte: programas assistenciais estão drenando o estoque de mão de obra informal, mal paga e, às vezes, aviltada. No século XXI, eles acham que a assistência aos pobres prejudica a economia.

Bernardo Mello Franco – Os diamantes são eternos

O Globo

Escândalo dos diamantes mostra uso do Estado a serviço da família Bolsonaro

Depois das rachadinhas, dos depósitos do Queiroz e dos imóveis comprados com dinheiro vivo, a família Bolsonaro precisa explicar um novo rolo com pedras preciosas.

governo do capitão tentou trazer ilegalmente para o país um kit com colar, anel, relógio e brincos de diamante. As joias foram avaliadas em € 3 milhões, o equivalente a R$ 16,5 milhões no câmbio atual.

O tesouro seria um presente da monarquia da Arábia Saudita para a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro, segundo confirmou o almirante Bento Albuquerque, ex-ministro de Minas e Energia.

Míriam Leitão - Ouro em debate e a aliança dos povos

O Globo

A cadeia do ouro ilegal é um hub de redes criminosas. Governo Lula avança em várias frentes, mas o desafio pode ser ainda mais grave do que se imagina

O ouro está no centro do debate em Brasília. Onde se vá, o tema está pauta. A minuta de uma MP está sendo analisada neste momento no governo. Ela impõe a nota fiscal eletrônica e acaba com o princípio da boa-fé. Esse princípio concede aos vendedores de ouro a presunção de que eles estão dizendo a verdade sobre a origem do ouro, e com isso permite-se a lavagem do crime. O tema está também no STF e houve na ação um lance surpreendente. No Banco Central, houve nova reunião com a indústria da mineração. Chegam amanhã a Brasília líderes dos três povos indígenas mais afetados, Yanomami, Munduruku, Kayapó, para uma série de reuniões com o governo. O Instituto SocioAmbiental (ISA) fez um relatório inédito em que explica, em minúcias, por que o garimpo ilegal cresceu nos últimos anos e mostra o caminho para o país quebrar a cadeia de criminalidade.

Celso Rocha de Barros - PT e seu governo

Folha de S. Paulo

O que está em jogo é a relação do partido com a gestão Lula

Na semana passada, a presidente do PT, deputada Gleisi Hoffmann, criticou o fim dos subsídios aos combustíveis defendido pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad. O risco de personalização do debate era evidente. A disputa entre Gleisi e Haddad pela liderança do PT já dura alguns anos. Mas há mais em jogo do que isso.

Se Gleisi está tentando minar Haddad para se tornar presidenciável, a estratégia é muito, muito arriscada. É difícil imaginar um cenário em que Haddad dê muito errado e Lula eleja seu sucessor em 2026, seja ele, ou ela, quem seja.

Se Haddad cair, há bem mais gente na disputa pelo controle do PT além de Gleisi, a começar pelos governadores do Nordeste. E, se Haddad cair porque o PT o derrubou, Lula só fará o dólar cair se ligar para Joaquim Levy e perguntar se ele tem um primo mais ortodoxo.

Vinicius Torres Freire – Jogo de Lula começa agora

Folha de S. Paulo

Lula terá discurso testado por Congresso de direita, inflação e emprego em baixa

O ano político parece por enquanto o ano do futebol brasileiro, que começa com esses campeonatos estaduais, em geral uma várzea. Até agora não houve partidas no Congresso, por exemplo.

Aconteceram apenas amistosos de distribuição de cargos, de resultado inconclusivo. O jogo duro da partilha de poder e dinheiros ainda está para começar. O esquema tático que Luiz Inácio Lula da Silva desenha ou improvisa não foi testado nos campos reais do emprego, da inflação ou do Congresso. Na arena dos juros, o governo está perdendo de muito.

Bruno Boghossian - Lula desaconselha escolha de Lula

Folha de S. Paulo

Na campanha, presidente reconheceu que proximidade com indicados era sinal ruim

Ainda no primeiro turno da eleição, Lula aproveitou uma passagem pela bancada do Jornal Nacional para dar uma alfinetada em nomeações feitas pelo rival Jair Bolsonaro. "Eu não quero amigo em nenhuma instituição", disse o petista. "Quero pessoas competentes, pessoas ilibadas, pessoas republicanas e pessoas que pensem no povo brasileiro."

Naquele momento, Lula tentava apresentar um contraste entre as indicações feitas para órgãos de controle em seus primeiros governos e as escolhas de Bolsonaro para a Procuradoria-Geral da República e a Polícia Federal. Semanas depois, o petista repetiu a lógica ao falar na TV sobre os critérios de indicações para o Supremo Tribunal Federal.

Muniz Sodré* - Ceder ou não à loucura

Folha de S. Paulo

Estabilidade e crescimento dependem também de superar o clima de campanha permanente, insano e improdutivo, instilado por algoritmos

"Não acho que ele [Tarcísio de Freitas] vai ser um cara dentro da loucura que é o bolsonarismo, mas vai ter que ceder muito a ela."

Nesta avaliação de um deputado sobre as tendências de comportamento do governador paulista frente ao governo federal, há sinais relevantes sobre os rumos da política no Brasil. O parlamentar referia-se ao difícil equilíbrio entre moderação e inclinação à direita radical por parte dos governadores que tentam ampliar o diálogo com Lula sem romper com o bolsonarismo.

Celso Ming - Novo aparelhamento da Petrobras

O Estado de S. Paulo

É o próprio PT que está denunciando o risco de novo aparelhamento da Petrobras. Na última quinta-feira, o Estadão revelou que o coordenador-geral da Federação Única dos Petroleiros (FUP), Deyvid Bacelar, alertou a presidente do PT, Gleisi Hoffman, de que o ministro das Minas e Energia, Alexandre Silveira, está indicando políticos suspeitos do Centrão para ocupar cargos no Conselho de Administração da Petrobras.

A questão central é de que o risco de aparelhamento não se limita apenas aos membros do Centrão. É o próprio PT e o novo presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, que vão manobrando de maneira a preencher cargos do conselho com objetivos declaradamente reconhecidos: o de mudar o atual critério de preços dos combustíveis baseado nas cotações internacionais convertidas em reais pela cotação do câmbio do dia; o de conter a distribuição de dividendos, que Gleisi considera “indecentes”; o de reverter a pauta de desinvestimentos da Petrobras; e o de definir novos investimentos da empresa.

Eliane Cantanhêde - As joias da coroa

O Estado de S. Paulo.

As joias de R$ 16,5 milhões, a “simplicidade” e o abuso de poder dos Bolsonaro

Assim como há tempestades perfeitas, há escândalos completos, de cabo a rabo. É exatamente o caso do mimo de R$ 16,5 milhões que a ditadura sanguinária da Arábia Saudita deu para a madame Michelle Bolsonaro, para agradar (ou sei lá o que...) ao maridão dela, o então presidente do Brasil.

Trata-se do enredo rocambolesco de mais um filme de quinta sobre republiquetas de banana, ditadores, mandatários sem noção, mulheres bonitas e ambiciosas, ouro e brilhantes à vontade e uso de instrumentos e agentes públicos. E não poderiam faltar militares de diferentes patentes, fazendo tudo o que seu mestre mandar. “Um manda, o outro obedece”, lembram?

Luiz Carlos Azedo - Fusões partidárias fortalecerão ainda mais o Centrão

Correio Braziliense

Nesse contexto, Lula navega em meio à calmaria que antecede a borrasca. Haverá uma queda de braço entre o governo e a oposição, na qual o Centrão será o fiel da balança

Temos atualmente 28 partidos. Formalmente, o Partido Trabalhista Brasileiro (PTB), com um deputado, requer a fusão com o Patriota (quatro deputados) para formar o partido Mais Brasil. Solidariedade (quatro deputados) pede a incorporação do Partido Republicano da Ordem Social, o PROS (três deputados). O Podemos (12 deputados) solicita a incorporação do Partido Social Cristão, o PSC (seis deputados). Mas a movimentação mais importante é a federação ou fusão do PP (59 deputados) e do União Brasil (47 deputados), que resultará na formação da maior bancada da Câmara, com 106 deputados.

Dos 28 partidos e federações que concorreram nas eleições passadas, apenas 13 receberão recursos do Fundo Partidário em 2023, 15 não elegeram deputados federais, nem obtiveram votos suficientes para alcançar a chamada cláusula de desempenho. Os partidos que sobreviveram estão canibalizando os demais. As maiores bancadas na Câmara são do PL, de Jair Bolsonaro, com 99 deputados, e da federação PT-PV-PCdoB, com 81 deputados, que protagonizam a polarização entre o governo Lula e a oposição.

Cristovam Buarque* - Combustível: mudança boa

Blog do Noblat / Metrópoles

A decisão do governo Lula deve ser apoiada por aqueles que olham para o futuro

O governo Lula, por meio dos ministros Fernando Haddad e Alexandre Silveira, demonstrou positivo espírito de mudança com a nova regra sobre o preço dos combustíveis. Saiu do populismo de beneficiar aos atuais consumidores, mesmo sacrificando o futuro do país; sinalizou compromisso com equilíbrio fiscal, repetido diversas vezes nas sucessivas falas; apontou a necessidade de reorientação da matriz energética no transporte, da base fóssil para fontes alternativas. Muitos duvidavam que o novo governo teria a coragem política e a lucidez técnica para esta decisão, que não é fácil, porque a democracia padece de horror ao futuro e compulsão por atender aos interesses imediatos dos eleitores.

O que a mídia pensa - Editoriais / Opiniões

Alta na violência contra mulheres desafia autoridades

O Globo

Apesar da legislação moderna e das campanhas para combater e prevenir agressões, os indicadores pioraram

Das agressões verbais aos feminicídios, os casos de violência contra mulheres têm crescido no Brasil. Uma pesquisa do Fórum Brasileiro de Segurança Pública e do Datafolha mostrou que 28,9% das entrevistadas relataram ter sofrido algum tipo de agressão em 2022, o maior percentual já registrado pelo levantamento, iniciado em 2017. No conjunto da população, a cada minuto 35 mulheres foram agredidas no país. O número deveria fazer soar o alarme: algo não tem funcionado nas políticas de proteção.

Não se pode dizer que a sociedade brasileira tenha ficado alheia à violência contra mulheres nas últimas décadas. A legislação foi aperfeiçoada para aumentar a proteção às vítimas, garantir o afastamento de agressores e inibir novos casos. A Lei Maria da Penha foi um marco, assim como a tipificação do crime de feminicídio. Ao mesmo tempo, campanhas de conscientização, como “Chega de fiu-fiu” ou “Não é não”, têm sido recorrentes. Infelizmente, a alta nos casos mostra que o Estado continua falhando em protegê-las.

Poesia | Graziela Melo - Palavras

Palavras!
São diletas
filhas
do tempo,

amigas
da solidão,
reproduzem
as dores
da alma,

os clamores
do coração!!!

Palavras,
as que
causam
espanto,

tristeza
ou
alegria,

as vezes
pronunciadas
à noite

são
desmentidas
de dia!!!

Palavras!
Algumas
as mais
verdadeiras...

outras,
mentiras
corriqueiras,

flácidas,
lânguidas,
derretem
à luz do sol!

Existem
os belos
vocábulos

que soam
aos nossos
ouvidos

como
o canto
de um
rouxinol!!!

Morre a cantora e compositora Sueli Costa, autora de canções eternizadas, aos 79 anos

O Globo

A artista faleceu na última sexta-feira (3), e o velório será neste domingo (5)

Morreu sexta-feira (3), a cantora e compositora carioca Sueli Correa Costa, autora de "Jura secreta", famosa na voz de Simone, e de "20 anos blue", consagrada por Elis Regina. A notícia foi comunicada neste sábado (5), pela sobrinha da artista, a também cantora Fernanda Cunha. Sueli enfrentava um câncer na bexiga há 7 anos, e, internada para um procedimento cirúrgico, sofreu uma parada cardíaca. O velório está marcado para este domingo (5), 11h, no cemitério São João Batista, em Botafogo, Zona Sul do Rio de Janeiro.

Sueli Mesquita parte a quatro meses de festejar 80 anos, de causa não revelada. Nascida numa família de músicos, Sueli teve uma mãe que tocava piano e ministrava aulas de canto coral. Foi nesse ambiente que aprendeu sozinha a tocar violão na adolescência, ao lado dos irmãos (Élcio, Lisieux, Telma e Afrânio). No estilo bossa-nova escreveu aos 18 anos a primeira composição, "Balãozinho".

Nos anos 1960 iniciou a carreira como compositora, enquanto conciliava os estudos na Faculdade de Direito em Juiz de Fora, onde foi criada, até 1969 quando seguiu para o Rio de Janeiro. Neste período, em Juiz de Fora, Sueli Costa compôs e cantou todas as canções da peça "Cancioneiro de Lampião", encenada pelo Grupo Divulgação em 1967. Ela também trabalhou na trilha da peça "Bodas de Sangue", no mesmo ano.