O Globo
Visões divergentes entre Congresso e
governo dificultam entendimento
Lula quer cobrar apoio dos partidos que têm
ministérios. A aparente incongruência de ter ministério num governo e não
apoiá-lo nas matérias que lhe interessam no Congresso explica-se, no caso
brasileiro, pela discrepância entre o que o governo quer e o que os partidos
que supostamente o apoiam querem.
O presidencialismo de coalizão em que se
baseia a governabilidade desde o primeiro mandato de Fernando Henrique Cardoso
foi sendo deformado para virar um simulacro de acordo político. A união do PSDB
com o então PFL foi um escândalo na época, até porque havia a percepção de que,
com o Plano Real, os tucanos não precisavam fazer uma união heterodoxa como essa
para vencer a eleição.
Engano, esclareceu adiante o próprio
Fernando Henrique. Ele sabia que, para governar, precisava do apoio da
centro-direita, unida naquele momento em torno de um PFL fortíssimo no
Congresso e nos estados. Não foi à toa que os tucanos ganharam duas vezes
seguidas no primeiro turno, feito não alcançado por nenhum outro partido até o
momento.
O presidencialismo de coalizão, assim batizado pelo cientista político Sérgio Abranches, seguia então programas de governo e tinha reformas estruturais, como a da Previdência e outras, modernizantes da economia, que necessitavam de apoio do Congresso.