quarta-feira, 24 de julho de 2024

O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões

Lula tem de ampliar cobrança a Maduro

O Globo

Reação ao ditador foi tardia, mas correta. Brasil precisa, porém, ser mais veemente ao exigir respeito às urnas

Demorou, mas o presidente Luiz Inácio Lula da Silva enfim reagiu publicamente ao regime ditatorial de Nicolás Maduro na Venezuela. “Fiquei assustado com as declarações de Maduro de que, se perder as eleições, haverá um banho de sangue. Quem perde as eleições toma banho de votos, não de sangue. O Maduro tem que aprender. Quando você ganha, você fica. Quando você perde, você vai embora. Vai embora e se prepara para disputar outra eleição”, afirmou Lula.

Era esse o tom que ele deveria ter adotado desde a volta ao Palácio do Planalto. Ainda que tardia, a mudança de postura é bem-vinda. Mas é crucial que seja aprofundada. Diante das tentativas de barrar a participação de eleitores da oposição no pleito presidencial de domingo, prisões arbitrárias, viradas de mesa de última hora ou indícios de fraudes, o assessor de Assuntos Internacionais da Presidência, Celso Amorim, enviado a Caracas, não poderá se calar. A defesa intransigente da democracia pelo representante de Lula é o que merecem os venezuelanos — e o que exigem os brasileiros.

Vera Magalhães - Governo ensaia correção de rota

O Globo

Depois de deixar Haddad superexposto, Lula modera declarações e indica discurso de menos gastos

Parece ter caído a ficha de Lula de que seu estilo habla y habla do primeiro semestre jogou contra ele próprio e deixou Fernando Haddad superexposto na missão inglória de cumprir a meta fiscal e aumentar a arrecadação de todas as formas, enquanto o resto do governo se negava a conversar sobre o necessário corte de gastos.

O presidente tem adotado tom bem mais cauteloso em suas falas e deixou um pouco de lado — difícil saber se por ora ou em definitivo — os ataques ao presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto.

Também passou a falar que nenhum governo pode gastar mais que aquilo que arrecada, provavelmente convencido diante dos números bastante preocupantes do relatório de despesas e receitas divulgado nesta semana, que orientou o anúncio do congelamento de R$ 15 bilhões do Orçamento, bem recebido pelos agentes econômicos e por analistas.

Elio Gaspari - Ouçam a voz do povo

O Globo

Pesquisa mostra o lado conservador do país

O Instituto da Democracia pôs na rua uma pesquisa que mostrou a superposição de algumas agendas entre os eleitores de Lula e os de Jair Bolsonaro. Com grande felicidade, ela se chama “A cara da democracia no Brasil”. Para cabeças polarizadas, a cara da democracia brasileira não é boa. Nenhum radical, seja de qual credo for, gostará dos resultados do trabalho, compilado pelo pesquisador João Feres Júnior, da Uerj, e mostrado pelo repórter Bernardo Mello.

Um em cada dois eleitores de Lula é contrário às saidinhas de cidadãos encarcerados, e 57% são contrários à proibição de vendas de armas de fogo. Em 2005, o país levou o assunto a referendo, e a restrição foi derrubada por mais de 60% dos votos, mas virou falta de educação lembrar esse resultado. Legalização do aborto? Sessenta e nove por cento são contra.

Bernardo Mello Franco – Duelo paulistano

O Globo

Em ato do PL, prefeito chamou rival de “invasor”, “vagabundo” e “sem-vergonha”. Só faltou fazer o gesto de arminha com os dedos

No ato que lançou Guilherme Boulos à Prefeitura de São Paulo, Lula olhou para o aliado e confidenciou: “Eu me sinto tão candidato quanto ele”.

O presidente nunca escondeu o plano de transformar a eleição paulistana num duelo particular com Jair Bolsonaro. O que impressionou no último sábado foi o peso que ele resolveu dar à disputa.

Lula chegou à convenção com um séquito de oito ministros. Depois de ouvir 12 discursos, pegou o microfone e se dirigiu ao “querido companheiro”.

“Pode estar certo de que estarei com você em todos os momentos”, disse. “Quero que os eleitores saibam que você é o meu candidato. Temos que mostrar quem está com quem”, decretou.

Luiz Carlos Azedo - Um pouco da memória de Dilma não faria mal a Lula

Correio Braziliense

A oposição está voltando à pauta de junho de 2013, com o argumento verdadeiro de que a maioria dos contribuintes paga imposto, mas não vê melhoria na qualidade de vida

Nove entre 10 petistas têm a convicção de que a história do Brasil seria diferente se a ex-presidente Dilma Rousseff desistisse da reeleição e apoiasse a volta de Luiz Inácio Lula da Silva ao poder, nas eleições de 2014. É uma avaliação que se baseia muito mais no papel do indivíduo na história do que no balanço crítico da política que vinha sendo executada pelo governo, cujo colapso econômico viria a ser decisivo para o impeachment da ex-presidente, muito mais do que o escândalo da Petrobras.

Fernando Exman - Dino cutuca o vespeiro do orçamento secreto

Valor Econômico

Placas estão se movendo devagar e silenciosamente. Mas os tremores podem começar a partir de agosto

A aparente calmaria do recesso parlamentar deixou à sombra um tema que, quando recolocado ao sol, movimentará as placas tectônicas existentes entre os três Poderes. A potencial causa do terremoto é o chamado “orçamento secreto”.

Implementado durante o governo Bolsonaro e aparentemente mantido durante a administração Lula, ele permanece no radar do Supremo Tribunal Federal (STF) e será tema de uma audiência de conciliação convocada pelo ministro Flávio Dino para 1º de agosto.

Vera Rosa - O recado do Centrão para Lula

O Estado de S. Paulo

Grupo de Lira diz que petista distribuiu ‘promoção da 25 de Março’ para a direita e aumenta apetite

Centrão já se prepara para cobrar ministérios com mais recursos após as eleições municipais e a disputa no Congresso, quando o governo Lula começará a segunda metade de seu mandato. Convencidos de que elegerão mais prefeitos do que o PT, partidos como o PP do presidente da Câmara, Arthur Lira (AL), vão voltar à carga pelo Ministério da Saúde, que tem um orçamento de R$ 236,74 bilhões neste ano.

Na prática, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva só terá uma “trégua” até a eleição que vai renovar o comando da Câmara e do Senado, em fevereiro de 2025. A partir da nova correlação de forças que sair das urnas e do Congresso, Lula será obrigado a redesenhar a equipe, tirar cargos do PT e dar mais espaço à centro-direita, para garantir a governabilidade.

Zeina Latif - Diferenças há, mas menos do que se imagina

O Globo

São visões mais intervencionistas em ambos os lados. Podem até trazer dinamismo de curto prazo, mas geram menor crescimento de longo prazo

Muitos perguntam sobre o impacto do resultado das eleições nos Estados Unidos. Na gestão da economia, porém, não há por ora razões para acreditar em diferenças acentuadas.

O Executivo nos EUA não tem o mesmo poder de intervenção como no Brasil. O Estado enxuto e os marcos legais menos intervencionistas são fatores que limitam a ação do governo na economia.

É na política externa que o presidente tem maior liberdade de atuação, e aqui a principal agenda do ponto de vista econômico é a relação com a China. Há, porém, mais semelhanças do que diferenças entre os partidos.

Nilson Teixeira - Privilégios estão por todos os lados

Valor Econômico

A elite do setor privado reclama bastante dos impostos excessivos, mas finge não saber que a carga tributária é regressiva no Brasil e que, portanto, os ricos pagam menos impostos do que deveriam

A imprensa tem publicado críticas corretas aos excessivos privilégios angariados de diversas formas pela elite do funcionalismo público, em particular do Poder Judiciário. São muitas as matérias que denunciam os rendimentos dos membros da magistratura federal e estadual, entre outros, muito superiores ao teto constitucional ditado pelos salários de ministros do STF. A concessão desses benefícios é autorizada e, muitas vezes, estimulada pelos órgãos superiores e conselhos do Poder Judiciário, sendo várias dessas vantagens com caráter retroativo e isentas de incidência de imposto de renda.

Martin Wolf - Imigração é essencial e impossível

Financial Times / Valor Econômico

Se a imigração em massa permanecer inaceitável, mas se tornar essencial, a única solução provável são os contratos temporários

Nas democracias ricas, a imigração está alimentando ferrenhas reações hostis. Não é de surpreender. Embora alguns poucos insistam que todos têm o direito de compartilhar a liberdade e prosperidade desses países, muitos de seus concidadãos veem os que tentam entrar em suas fronteiras mais como invasores. De forma similar, o ponto de vista favorável de economistas sobre o lado econômico da questão ignora o fato de que os imigrantes são pessoas cujos descendentes podem passar a morar nesses países de forma permanente. A imigração, portanto, se trata de uma questão de identidade nacional.

Wilson Gomes - O que 2024 nos ensina

Folha de S. Paulo

A ascensão da extrema direita não foi um infeliz acaso ou um pesadelo ocasional

Praticamente não se fala de outra coisa no mundo nos últimos dias, a não ser das eleições americanas. A perspectiva de uma nova vitória de Trump aumenta a angústia em qualquer país democrático. Embora não possamos votar, nada nos impede de cruzar os dedos, compartilhar a aflição, imaginar cenários e projetar consequências.

O ano de 2024 não é como outro qualquer. Muitos ainda não perceberam, mas este é o ano que confirma que a ascensão da extrema direita não foi um infeliz acaso, um pesadelo ocasional, ou o resultado de uma conjunção astral passageira. Para a política, essa constatação é significativa, pois o avanço do radicalismo de direita é um pesadelo para qualquer democrata.

Deirdre Nansen McCloskey - Ela vencerá em novembro

Folha de S. Paulo

Se Trump tivesse moderado o tom e falado como um adulto, talvez tivesse chegado a novembro com uma liderança esmagadora

Pode apostar. Kamala Harris, vice-presidente dos Estados Unidos e a recomendação do presidente Joe Biden ao anunciar sua saída de cena na semana passada, será candidata pelo Partido Democrata e liquidará Donald Trump na eleição em novembro.

Graças a Deus.

Trump já foi condenado por diversos crimes, o que ele interpreta como perseguição política. Não é. Ele é um criminoso, nem tanto na linha em que Lula é ou como Jair Bolsonaro queria ser. O pior crime de Trump foi tentar derrubar uma eleição usando violência. É a principal tática no manual fascista ou comunista — 6 de janeiro no meu país, 8 de janeiro no seu.

Mariliz Pereira Jorge - Kamala zerou no bingo conservador

Folha de S. Paulo

Sem filhos, afrodescendente e solteira até os 49, vice passou a ser alvo de ataques da direita

Kamala Harris não tem filhos, logo não deveria ser presidente. Este argumento será usado se a atual vice de Joe Biden for confirmada como candidata democrata. Assim que seu nome passou a ser endossado por figuras importantes do partido, a direita começou atacar sua capacidade por ela não ser mãe.

Pelos quesitos ultraconservadores, Kamala zerou no bingo. Afrodescendente, filha de imigrantes, criada pela mãe, uma ativista de direitos humanos, não tem filhos biológicos, foi solteira até os 49 anos. Para completar a tragédia do sonho da família americana, Kamala se casou com o advogado Doug Emhoff, que, por sua vez, deu uma pausa na carreira. Ou seja, virou dono de casa, para o desespero dos machos provedores e das "tradwives" (esposas tradicionais), que juram que submissão está na moda.

Bruno Boghossian - Além de Biden

Folha de S. Paulo

Vice embarca em discurso de continuidade, mas terá que vender algo além de um retrospecto

Kamala Harris abriu de maneira idêntica os três discursos que fez até agora como provável candidata à Casa Branca. A vice-presidente enalteceu o legado de Joe Biden, descreveu o governo do qual faz parte como um dos mais importantes da história e assumiu a inevitável bandeira da continuidade para disputar esta eleição.

Partido Democrata precisava desesperadamente de um candidato que não fosse Biden para enfrentar Donald Trump. Kamala larga como uma candidata de situação que tem a vantagem de não ser um político de 81 anos cuja capacidade de liderança é alvo de questionamentos. Para vencer, ela terá que ir muito além.

Hélio Schwartsman - Caricaturas eleitorais

Folha de S. Paulo

Ao retratar adversários da forma mais negativa possível, candidatos contribuem para a polarização

La Rochefoucauld dizia que a opinião que nosso inimigo tem de nós está mais perto da verdade do que a nossa própria. Penso que a frase encerra muito de verdade, mas receio que ela colapse em situações específicas, como a de campanhas eleitorais. Aí, candidatos exageram tanto ao pintar seus adversários de forma desabonadora que acabam criando caricaturas que guardam pouca correspondência com a realidade.

Paul Krugman - A tentativa cínica de Trump de colocar imigrantes contra negros para obter votos

The New York Times / Folha de S. Paulo

Discurso do ex-presidente de que imigrantes estão tirando empregos dos negros não tem respaldo nos dados

Obviamente, as principais notícias políticas dos Estados Unidos nos últimos dias vieram do Partido Democrata. Mas antes que a Convenção Nacional Republicana da semana passada desapareça de vista, deixe-me focar em um assunto do lado do Partido Republicano que pode, dado tudo o que tem acontecido, ter passado despercebido: a retórica MAGA (Make America Great Again —Vamos Fazer a América Grande Novamente—, slogan dos trumpistas) sobre imigração, que já era feia, ficou ainda mais feia.

Até agora, a maioria dos slogans anti-imigração vindos de Donald Trump e sua campanha envolvia alegações falsas de que estamos vivenciando uma onda de crimes cometidos por migrantes.

Cada vez mais, no entanto, Trump e seus apoiadores começaram a argumentar que os imigrantes estão roubando empregos dos norte-americanos —especificamente, a acusação de que os imigrantes estão causando danos terríveis aos meios de subsistência dos trabalhadores negros.