quinta-feira, 25 de julho de 2024

O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões

Segurança e meio ambiente são desafios olímpicos

O Globo

Olimpíada de Paris quer afastar o espectro dos atentados e deixar como legado o Sena despoluído

Com 10.500 atletas de 204 países (e a equipe de refugiados), a Olimpíada de Paris, que começa oficialmente amanhã, terá na segurança e no meio ambiente seus maiores desafios. Segurança porque, pela primeira vez, a cerimônia de abertura será realizada fora de um estádio, às margens do Rio Sena, demandando ações mais complexas, além da tarefa óbvia de proteger o público. Meio ambiente porque apenas duas construções foram erguidas do zero — o novo centro aquático e a Vila Olímpica, que ficarão como legado na região deteriorada de Saint-Denis.

De resto, num esforço de sustentabilidade, toda a Olimpíada será realizada em instalações já existentes ou temporárias. Em iniciativa ousada, os organizadores decidiram levar as provas de triatlo e maratona aquática para as águas do próprio Sena, onde o banho estava proibido havia um século.

Maria Cristina Fernandes - A investida contra o devedor contumaz

Valor Econômico

Nenhum projeto simboliza melhor a borra que entope o futuro do Brasil

O fim do recesso legislativo trará à tona nova tentativa de se votar a tipificação do devedor contumaz. Nenhum projeto simboliza melhor a borra que entope o futuro do Brasil. De um lado estão algumas das maiores empresas do país e o Ministério da Fazenda. Do outro, um punhado de empresas que competem por meio da evasão fiscal, parlamentares e dirigentes partidários cooptados.

A resistência a esta tipificação vale-se cada vez mais do poder de barganha dos interessados junto ao Supremo Tribunal Federal. Na defesa de devedores contumazes estão alguns dos maiores escritórios de advocacia do país, alguns dos quais com parentes de ministros e ex-ministros.

A turma da resistência oferece carona ao crime organizado, cada vez mais espraiado na economia, e deixa a pé não apenas políticas públicas desprovidas de bilhões de reais quanto o poder do Estado na garantia de um ambiente de negócios seguro.

Nelson Niero - A disparada do dólar não tem nada a ver com Lula

Valor Econômico

Austeridade fiscal passou longe dos discursos de campanha, e nem sequer foi apresentado uma versão final do plano de governo, para evitar polêmicas

Luiz Inácio Lula da Silva acertou em cheio quando chamou de cretinos os jornalistas de miolo-mole que mentem descaradamente ao dizer que os dólar sobe toda vez que ele abre a boca. O presidente deveria ter dito que correlação não implica em causalidade, para ensinar uma lição a esses ignorantes. Mesmo com indícios fortes, pessoas sensatas e sofisticadas sabem que é uma temeridade fazer esse tipo de alegação. Afinal, quando Lula fala, a única coisa que acontece é que o mundo se abre, se ilumina e se esclarece, como já decretou a filósofa. Simples assim. O dólar não sobe. Nunca.

Merval Pereira - Maduro em transe

O Globo

Maduro foi especialmente malicioso com seus companheiros de esquerda Lula e Gustavo Petro

A política está tão aloprada que o protoditador da Venezuela, Nicolás Maduro, saiu em defesa de Jair Bolsonaro e Donald Trump depois que o presidente brasileiro disse ter se assustado com o “banho de sangue” previsto, em caso de derrota no domingo, por seu antigo aliado.

Ao afirmar que as eleições no Brasil, nos Estados Unidos e na Colômbia não são auditáveis, ao contrário das venezuelanas, Maduro foi especialmente malicioso com seus companheiros de esquerda Lula e Gustavo Petro. Colocou-os ao lado do protótipo do direitista raivoso, Donald Trump.

Tratou especialmente Lula com requintes de maldade, logo ele, que já disse absurdos como “na Venezuela tem democracia até demais”, como se fossem todos do mesmo naipe. Para se defender do comentário de Lula, tocou num ponto nevrálgico, a lisura do sistema brasileiro de votação eletrônica, mesma tecla que Bolsonaro acionou e que deu motivo, em última instância, à tentativa de golpe bolsonarista.

Malu Gaspar - Lula, Maduro e o chá de camomila

O Globo

Nicolás Maduro não gostou de saber que Luiz Inácio Lula da Silva se disse assustado com a ameaça de que uma eventual derrota nas eleições do próximo domingo provocaria um banho de sangue. Pelo jeito, também não achou bom que Lula tenha aproveitado uma entrevista à imprensa internacional para afirmar que o banho tem que ser de voto e que o colega precisa aprender a respeitar o resultado das urnas.

De cima do palanque, Maduro respondeu: “Quem se assustou, que tome um chá de camomila”. E alfinetou: “Temos o melhor sistema eleitoral do mundo, são 16 auditorias. No Brasil, não auditam nenhuma ata”.

A troca de gentilezas pode fazer parecer que houve uma fissura na relação entre Lula e Maduro, como algumas fontes no governo andaram soprando nos bastidores. Os fatos, porém, não autorizam ir tão longe.

Luiz Carlos Azedo - Derrota de Maduro pode repetir a de Pinochet

Correio Braziliense

Maduro recorre a todos os expedientes para conter a oposição, sem sucesso até agora. A tática da oposição venezuelana se parece muito com a da oposição à ditadura chilena

Para manter a fachada de que os venezuelanos vivem num regime democrático como os demais países da América do Sul, o presidente Nícolas Maduro, sob grande pressão internacional, teve que convocar eleições presidenciais na Venezuela. Fez tudo o que pode e o que não poderia para retirar da disputa os adversários, porém, as pesquisas mostram que no próximo domingo pode ser derrotado pelo candidato de oposição Edmundo González Urrutia, o ex-diplomata que lidera a corrida presidencial com mais de 50% das intenções de voto, contra 20% de Maduro. Outros oito candidatos participam do pleito.

William Waack - Assombrações

O Estado de S. Paulo

O Brasil não consegue sair da discussão sobre contas públicas

A principal certeza sobre a questão fiscal e o governo Lula é a de que ela o assombrará até o fim do mandato. E deve se projetar também sobre seu sucessor, não importa quem seja.

A “predominância do fiscal” é uma maldição da qual seu governo não se livra mais até 2026 pelo menos. Significa dizer, do ponto de vista prático e imediato, que boa parte da política brasileira vai girar sobretudo em torno desse tema.

Ela já é uma disputa por migalhas do orçamento público, cada vez mais apertado por decisões políticas de Lula 3 – que estão encolhendo rapidamente seu espaço discricionário. Com ciclos previsíveis em função das datas que o Executivo é obrigado a cumprir, como acaba de acontecer com a apresentação do relatório bimestral de avaliação de receitas e despesas.

Eugênio Bucci - A doença infantil da democracia

O Estado de S. Paulo

O debate público dos nossos dias não se resolve no registro factual ou na retórica do argumento

Por que eleições livres passaram a sufragar candidatos contrários às eleições livres? O que levou regimes baseados em direitos a consagrar lideranças que sabotam direitos?

De poucos anos para cá, essas indagações não saem da ordem do dia. Em 2018, dois professores de Harvard, Daniel Ziblatt e Steven Levitsky, lançaram um livro que interpelava o leitor: Como as Democracias Morrem (Companhia das Letras)? Analisando um período esquisito, com Donald Trump à frente de fake news e de arroubos autoritários, a dupla de autores flagrou o Estado Democrático de Direito carcomido por dentro. O perigo não viria de fora, mas de dentro.

Vladimir Safatle - A normalização da extrema direita já ocorreu

Folha de S. Paulo

Há uma tentativa de recusar que ascensão da ala é um movimento de esgotamento terminal das ilusões da democracia liberal

Na semana passada, Wilson Gomes publicou, nesta Folha, um artigo em que exortava a aceitar a normalização pretensamente inevitável da extrema direita. Chamando as reações a tal processo de "dogmas" animados por alguma forma de cruzada moral contra setores muitas vezes hegemônicos das populações mundiais, o autor julgou por bem lembrar que "se o voto é o meio consagrado pelas democracias para legitimar pretensões políticas" não haveria razão alguma para agir como se a extrema direita não fosse democraticamente legítima. Por fim, não faltou estigmatizar aqueles que falam em "fascismo" ao se referir atualmente a tais correntes.

Esse artigo não é peça isolada, mas representa certa tendência forte entre analistas liberais e conservadores do mundo inteiro. Tal tendência consiste em recusar a tese da ascensão mundial da extrema direita como movimento catastrófico global de consolidação autoritária e de esgotamento terminal das ilusões da democracia liberal.

Lúcia Guimarães - Ataques a Kamala sugerem desespero

Folha de S. Paulo

Capangas de Donald Trump escolheram a nova Geni e começaram a apedrejar vice-presidente

A intensidade dos ataques misóginos e racistas contra Kamala Harris surpreende até os pessimistas observadores da política americana. A eleição, até há dias definida pela idade avançada de dois homens brancos, virou a disputa de um idoso declarado culpado de estuprar uma jornalista contra a filha de um economista jamaicano e de uma cientista indiana que, à época em que foi promotora, colocou vários patifes como Trump na cadeia.

Sem noção de vergonha, sentimento hoje extinto entre a ultradireita, os capangas de Donald Trump e seus simpatizantes da mídia escolheram a nova Geni e começaram a apedrejar a vice-presidente com insultos de cunho sexual e étnico.

Marcos Augusto Gonçalves - O que é o 'aristopopulismo' proposto por guru de vice de Trump

Folha de S. Paulo

Patrick Deneen, amigo acadêmico de J.D. Vance, defende 'populismo aristocrático' como novo regime da era pós-liberal

Amigo e espécie de guru de J.D. Vance, indicado por Trump para concorrer como vice-presidente, o professor católico Patrick Deneen lançou em 2018 o livro "Por que o Liberalismo Fracassou" (Âyiné). Entre elogios e críticas, a obra obteve boa acolhida nos meios acadêmicos e na mídia, com direito a uma recomendação do ex-presidente Barack Obama, que destacou seu interesse para o entendimento dos atuais dilemas da democracia liberal.

No ano passado, Deneen, que dá aula na Universidade de Notre Dame, publicou uma continuação propositiva do livro. Intitula-se "Regime Change: Toward a Postliberal Future" (Mudança de regime: rumo a um futuro pós-liberal).

Maria Hermínia Tavares - Os fiéis e a política

Folha de S. Paulo

Maioria dos evangélicos está distante das posições extremadas dos bolsonaristas raiz

Se o resultado das eleições de 2022 tivesse sido ditado pelos eleitores evangélicos, Jair Bolsonaro estaria no Palácio do Planalto. Afinal, as pesquisas de intenção de voto —e mesmo as que continuaram medindo a preferência dos brasileiros depois de abertas as urnas— confirmam a resistente simpatia que parcela daqueles fiéis nutre pelo ex-capitão.

Somada ao comportamento de parlamentares da chamada bancada evangélica, essa constatação tornou sabedoria convencional afirmar que pentecostais e neopentecostais seriam o arrimo mais entusiasmado do discurso e das iniciativas políticas da extrema direita sobre segurança, educação e normas de conduta privada.

Thiago Amparo - O preço da Sabesp privatizada

Folha de S. Paulo

A exemplo de Berlim, o tempo dirá se o preço de banana compensou ou já nasceu estragado

Com direito a chuva de papel, sorriso estampado e campainha, Tarcísio de Freitas selou a privatização da água dos paulistas, entregando a superavitária Sabesp nas mãos da única empresa que se pôs interessada em atuar como acionista de referência; que ofereceu um valor 20% inferior ao preço do papel atual da companhia; cuja única experiência no setor do saneamento básico é o Amapá e seus 82 mil clientes; e, onde atua mais, no setor de distribuição de energia, foi a pior avaliada entre 29 grandes concessionárias distribuidoras de energia em 2023.

Ruy Castro - Invencível Inês

Folha de S. Paulo

O Brasil deveria fazer da Casa da Morte, em Petrópolis, um lugar para nos lembrar o que é o Estado sem lei

Encerra-se neste domingo (28), no Memorial da Resistência, em São Paulo, a exposição "Mulheres em Luta!", que, desde outubro de 2023, comoveu os visitantes e os apresentou a uma mulher extraordinária: Inês Etienne Romeu (1942-2015). Inês foi militante de uma organização armada contra a ditadura militar. Presa pelos homens de Sérgio Fleury em 1971, foi torturada, estuprada e degradada de todas as formas. Tentou o suicídio quatro vezes no cativeiro e chegou a pesar 30 kg. Mas sobreviveu para descrever seu martírio, quem o infligiu, quando e onde, e ver suas denúncias corroboradas pela investigação. Inês, que conheci no Rio nos anos 1960 antes de tudo isso acontecer, foi a história viva do Brasil.

Bruno Boghossian - A'genialidade' viu a luz do dia

Folha de S. Paulo

Plano tem boa ideia, mas poderia ter evitado certos constrangimentos ao governo

No início do governo, Márcio França tentou fabricar uma notícia em seu Ministério de Portos e Aeroportos. Ele anunciou um plano para vender 15 milhões de passagens aéreas a aposentados, pensionistas, estudantes e servidores a R$ 200 por trecho. Sem modéstia, disse que seria "uma revolução na aviação brasileira".

Depois de vagar por escaninhos por 16 meses, o Voa Brasil foi lançado por outro ministro, com mais recato. O plano foi adiado um punhado de vezes, emagreceu e foi apresentado nesta quarta (24) como um projeto piloto: só para aposentados e com previsão de 3 milhões de bilhetes. Em vez de quatro passagens por pessoa a cada ano, serão duas.

J. B. Pontes - O Risco de Retrocesso

O primeiro dos grandes males do Brasil é a existência de um Congresso Nacional corrupto e descompromissado com os interesses da Nação. A maioria dos atuais parlamentares age somente para a formação e/ou aumento dos seus patrimônios pessoais e para se perpetuar no poder. Estão quase todos aliados ao poder econômico, especialmente o estrangeiro. São eles que realmente estão no comando do País.

E o pior: nada indica que tenhamos condições de mudar esta realidade triste no curto, médio e até no longo prazo. Para isso, o povo precisaria ter consciência da necessidade urgente de esta aliança – Congresso/poder econômico – ser desmontada. Todos estão atuando para sedimentar a volta dos conservadores ao poder em 2026.