Correio Braziliense
Muitas cidades registraram clima igual ao do
Saara, que varia de 14% aos 20% de umidade. Como Brasília, 10 chegaram a
registrar apenas 7%
“Na planície avermelhada os juazeiros
alargavam duas manchas verdes. Os infelizes tinham caminhado o dia inteiro,
estavam cansados e famintos. Ordinariamente andavam pouco, mas como haviam
repousado bastante na areia do rio seco, a viagem progredira bem três léguas.
Fazia horas que procuravam uma sombra. A folhagem dos juazeiros apareceu longe,
através dos galhos pelados da caatinga rala.
Arrastaram-se para lá, devagar, Sinha Vitória
com o filho mais novo escanchado no quarto e o baú de folha na cabeça, Fabiano
sombrio, cambaio, o aió a tiracolo, a cuia pendurada numa correia presa ao
cinturão, a espingarda de pederneira no ombro. O menino mais velho e a cachorra
Baleia iam atrás.
Os juazeiros aproximaram-se, recuaram,
sumiram-se. O menino mais velho pôs-se a chorar, sentou-se no chão.
— Anda, condenado do diabo, gritou-lhe o
pai.”
Vidas Secas (Editora Record), romance de
Graciliano Ramos, publicado em 1938, de 176 páginas, é uma obra-prima da
literatura brasileira. Retrata a vida miserável de Fabiano e sua família de
retirantes sertanejos obrigada a se deslocar, de tempos em tempos, para áreas
menos castigadas pela seca. São cenas que parecem distantes, principalmente
depois de o canal do Rio São Francisco irrigar boa parte do semiárido do
Nordeste, mas que podem se repetir em regiões inimagináveis, como os igarapés e
várzeas da Amazônia, e áreas alagadas do Pantanal, castigadas pela seca e em
risco de desertificação.