quarta-feira, 11 de dezembro de 2024

O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões

Congresso deve aprovar pacote fiscal com urgência

O Globo

Parlamentares precisam deixar de lado interesses paroquiais e agir em nome das necessidades do país

Ao priorizar os próprios interesses e postergar a votação das medidas de ajuste fiscal, os parlamentares viram as costas às necessidades urgentes do Brasil. É verdade que as medidas apresentadas pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, são insuficientes para alcançar o equilíbrio desejável das contas públicas e resgatar a credibilidade do governo. Mas isso não significa que não sejam necessárias. É preciso que o Congresso aprove logo o pacote, a tempo de que ele surta efeito já no Orçamento de 2025. É desejável até que aprimore as medidas anunciadas, de modo a impor mais rigor ao controle de gastos. Do contrário, o Legislativo se tornará tão responsável quanto o Executivo pela incúria fiscal que alimenta a inflação, os juros e mina o crescimento da economia.

Vera Magalhães - Governo para nos boxes

O Globo

Além da votação do pacote de gastos, emergência de saúde do presidente compromete reforma ministerial e recomposição para 2026

A emergência médica por que passou Lula contribuiu para trazer ainda mais complexidade a um cenário de fim de ano já bastante desafiador para o governo. Por um lado, a preocupação com a saúde do presidente produz uma espécie de espírito de colaboração, mesmo por parte dos parlamentares até então dispostos a colocar a faca no pescoço do Planalto para votar alguma coisa. Por outro, a ausência do presidente do comando da articulação política faz com que esses mesmos atores desconfiem ainda mais da capacidade dos que assumiram a linha de frente de entregar o que é preciso para que as votações deslanchem: a execução das famosas emendas parlamentares.

No varejo, é essa a ambivalência que reina numa Brasília ainda preocupada em entender a extensão da gravidade do quadro clínico do presidente. A arriscada operação para removê-lo às pressas para se submeter a uma cirurgia na cabeça em plena madrugada não foi nada trivial e suscitou uma série de dúvidas a respeito da maneira como foi conduzido o pós-operatório da queda que Lula sofreu em outubro.

Quem se trumbica não se comunica – Elio Gaspari

O Globo

Sempre que o governo reconhece que tem um problema de comunicação, ele tem um problema, mas não é de comunicação. O velho Chacrinha dizia que “quem não se comunica se trumbica”. Certo, mas quem se trumbica não se comunica, e é esse o problema.

A ekipekonômica e o Planalto fizeram um pacote mal-ajambrado, tentando embrulhar uma vassoura, bananas e uma gaiola, o dólar passou os R$ 6, e o problema estaria na comunicação.

Paulo Pimenta, ministro-chefe da Secom, não é nenhum Washington Olivetto, mas não é dele a responsabilidade pela encrenca. Indo aos fatos.

A ekipekonômika começou a divulgar o pacote plantando notícias de uma tunga sobre o salário-desemprego dos trabalhadores demitidos sem justa causa. Começaram a soprar essa tunga sem ao menos conversar com o ministro do Trabalho, coisa de onipotentes mal-educados. 

Bernardo Mello Franco – Viúvas do talvez

O Globo

País ainda precisa retificar certidões de óbito de 404 vítimas da ditadura

Numa das cenas mais fortes de “Ainda estou aqui”, Eunice Paiva ergue uma certidão de óbito como se fosse um troféu. A ditadura havia matado seu marido em 1971. Ela só conseguiu o documento em 1996, depois de 25 anos de espera.

“O não reconhecimento da morte de Rubens Paiva foi a forma de tortura mais violenta a que eles poderiam submeter nossa família”, disse Eunice, interpretada no filme por Fernanda Torres. Até hoje, centenas de famílias vivem uma angústia parecida.

Ontem o Conselho Nacional de Justiça aprovou resolução que obriga os cartórios a retificarem certidões de óbito de vítimas do regime militar. “Embora nunca tenha havido um pedido formal de desculpas, como deveria ter havido, pelo menos estamos tomando as providências possíveis de reparação moral”, disse o ministro Luís Roberto Barroso.

Como lidar com a era do baixo crescimento - Martin Wolf

Financial Times / Valor Econômico

Desaceleração do crescimento precisa estar no foco das políticas públicas

Terá chegado ao fim o rápido crescimento econômico dos países de alta renda do mundo? Caso tenha, será que o estouro da bolha em 2007 marcou o ponto de virada? Ou, de outra forma, será que estamos no início de uma nova era de rápido crescimento alimentada pela inteligência artificial (IA)? As respostas a essas perguntas deverão contribuir muito para moldar o futuro de nossas sociedades, uma vez que a estagnação das economias explica, em parte, nossa cizânia política.

Então, o que mostra o histórico e até que ponto ele dependeu de oportunidades irrepetíveis? Aqui, meu foco será o Reino Unido, em sua condição de ser um dos vários países que lutam para recuperar o dinamismo. O Reino Unido, na verdade, tem sido relativamente pouco dinâmico desde a Segunda Guerra. No entanto, segundo o Conference Board, o PIB real per capita no Reino Unido cresceu 277% entre 1950 e 2023. No mesmo período, o PIB real per capita dos Estados Unidos cresceu 299%, o da França, 375%, o da Alemanha, 501% e o do, Japão 1.220%. Os padrões de vida, de forma cumulativa, foram se transformando.

Cirurgia de Lula não foi capaz de conter a pressão política - Maria Cristina Fernandes

Valor Econômico

Problema de saúde do presidente foi precedido e sucedido por desarranjos políticos que ameaçam segundo biênio do governo

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva começou a se queixar de dor de cabeça no início da tarde da segunda-feira. Os sintomas, posteriormente descritos por seu médico, Roberto Kalil Filho, como de “estado gripal”, não o impediram de receber os presidentes da Câmara e do Senado, Arthur Lira (PP-AL) e Rodrigo Pacheco (PSD-MG), no Palácio do Planalto, às 17h.

A reunião, que não estava na agenda, foi convocada em função da trava nas votações do Congresso evidenciada pelo adiamento da leitura do relatório da regulamentação da reforma tributária às 16h na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado. Além de Lula e dos dois parlamentares, participaram o ministro da Casa Civil, Rui Costa, e o ministro da Secretaria de Relações Institucionais, Alexandre Padilha.

Teto da tributária, candidato a ser furado - Lu Aiko Otta

Valor Econômico

Para quem esperava que a reforma reduzisse de forma importante a carga tributária, os sinais que vêm do Congresso não são muito animadores

O Brasil, dizem especialistas, já lidera hoje o ranking do “maior IVA do mundo”. IVA, ou Imposto sobre o Valor Agregado, é o que se pretende adotar no país a partir da reforma tributária. Hoje, os tributos que serão substituídos pelo IVA somam algo como 34%, nas estimativas do governo.

Para quem esperava que a reforma tributária reduzisse de forma importante essa carga, os sinais que vêm do Congresso não são muito animadores. O relatório que o senador Eduardo Braga (MDB-AM) apresentou esta semana para o Projeto de Lei Complementar (PLP) 68/24 aponta para uma alíquota de 28,1% como a necessária para Estados e municípios não terem perda de arrecadação após a reforma.

O milagre de Milei: menos salários, mais aplausos - Guilherme Frizzera*

Correio Braziliense

Perpetua-se um ciclo em que austeridade não resgata economias, mas aprisiona sociedades em um labirinto de desigualdades 

A política econômica de Javier Milei, fundamentada no ultraliberalismo e apresentada sob o rótulo de austeridade, tornou-se o novo experimento de um modelo que há décadas flerta com a eficiência econômica em detrimento do custo social. Embora tenha abandonado a retórica da dolarização, Milei mantém a ênfase em cortes drásticos de gastos públicos e reformas econômicas amplamente elogiadas por mercados e instituições financeiras internacionais. No entanto, as contradições de sua estratégia começam a se impor, com manchetes ressaltando que, "surpreendentemente", a economia argentina continua encolhendo mesmo após a implementação dessas medidas.

Enquanto a pobreza atinge 53% da população e o poder de compra dos salários caiu 10%, o ajuste fiscal é celebrado como sinal de responsabilidade. Clara Mattei, autora de A ordem do capital, argumenta que a austeridade é ideológica, não técnica, pois reforça hierarquias e justifica sacrifícios sociais em nome de um progresso ilusório. Em vez de corrigir desequilíbrios, a austeridade os aprofunda, precarizando serviços e agravando a pobreza, enquanto investidores ganham a curto prazo.

Câmbio a 6. Choque de juros? – Zeina Latif

O Globo

Diz-se que política monetária tem uma dose de ciência e uma dose de arte. Sem dúvida

O risco de um ambiente macroeconômico mais instável e menos saudável, com alta do dólar, da inflação e dos juros, tem sido há tempos apontado por muitos analistas por conta da gestão das contas públicas.

Para piorar, assiste-se o recrudescimento no humor do mercado e nas expectativas de inflação. Não se trata de mera volatilidade, mas de mudança de patamar dos indicadores.

Esse quadro exigirá maior esforço da política econômica para recuperar a confiança dos agentes econômicos, de modo a fortalecer as “âncoras nominais” da economia, contendo preços, inclusive o câmbio e salários. Explico: se a inflação subiu e pode subir mais, na dúvida, o formador de preços faz mais reajustes. Nesse caso, é necessário um freio de arrumação.

As opções do Copom - Fábio Alves

O Estado de S. Paulo

Diante da piora na percepção do risco fiscal, um erro na política monetária vai abrir uma crise

Em meio à piora nas expectativas de inflação, disparada do dólar e PIB rodando forte com um mercado de trabalho apertado, restam ao Copom duas opções para a sua decisão de hoje: acelerar o ritmo de alta dos juros para 0,75 ponto porcentual, deixando em aberto o que vai fazer na sua próxima reunião, ou antecipar boa parte do orçamento do aperto monetário, ajustando a taxa Selic em 1 ponto e já sinalizando outra alta dessa magnitude na reunião seguinte.

Há argumentos plausíveis para as duas opções. Talvez os diretores do Banco Central acabem votando por uma delas com base na cotação do dólar e no que indicar a curva de juros ao fim do pregão de hoje. Com o dólar acima de R$ 6 e a curva de juros apontando para uma Selic acima de 15,50% no fim do ciclo de aperto, uma decisão do Copom que desagrade ao mercado poderá ter impacto negativo no câmbio, além de desancorar ainda mais as expectativas inflacionárias.

Jogo de 2026 depende da decisão de Lula - Vera Rosa

O Estado de S. Paulo

Dirigentes do PT dizem que presidente é como a Bíblia, que cada um interpreta como quer

A cirurgia sofrida pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva na madrugada de ontem jogou luz sobre a sucessão de 2026 para o Palácio do Planalto. Muito antes de Lula ser submetido à drenagem de um hematoma provocado por hemorragia intracraniana, porém, o assunto já movimentava os bastidores da política e até da economia.

Nem mesmo nas fileiras do PT há certeza de que o presidente concorrerá ao quarto mandato, daqui a dois anos. Além disso, para cada interlocutor ele afirma uma coisa. Tanto é assim que dirigentes do partido produziram há tempos uma frase para definir o seu estilo. Diz o PT que “Lula é como a Bíblia: cada um interpreta como quer”.

Lula convalesce com governo à matroca – Luiz Carlos Azedo

Correio Braziliense

O ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, minimiza as dificuldades do governo com o Congresso e desmentiu rumores sobre reforma ministerial

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, operado na madrugada desta terça-feira, por causa de uma hemorragia intracraniana, convalesce em meio a uma crise com a bancada no Congresso e outra na comunicação do seu governo. Lula sentiu-se mal na segunda-feira à noite e foi submetido a exames médicos que constaram o sangramento, em razão das sequelas do tombo que levou em outubro, ao cair de um banco no banheiro quando cortava as unhas. A cirurgia foi bem-sucedida, e Lula passa bem.

Queixava-se de dores de cabeça desde a semana passada, sem saber que o problema era decorrente do sangramento, que pressionava o cérebro. Transferido para São Paulo e operado às pressas no Hospital Sírio-Libanês, segundo os médicos, o presidente da República está lúcido, se alimenta e fala normalmente, mas continua na unidade de tratamento intensivo (UTI) e não tem previsão de alta antes da próxima semana, quando está prevista sua volta para o Palácio do Alvorada.

Acordão podre das emendas – Vinicius Torres Freire

Folha de S. Paulo

Congresso faz chantagem, governo se vira para driblar decisão do STF, também uma gambiarra

Congresso, Supremo e governo organizam um acordão de Natal que deve nos dar de presente outro pacote de apodrecimento da República. Isto é, outro passo na institucionalização progressiva de espécie de feudalismo orçamentário, parte daquilo que por vezes se chama de "semiparlamentarismo", um exagero para uma degradação para a qual ainda não temos nome melhor. É também mais um aspecto da deterioração fiscal que vai nos levar a alguma crise econômica, social e política.

O Supremo definiu umas regras razoáveis para a elaboração de emendas parlamentares ao Orçamento federal. Muito melhores do que as regras definidas pelo Congresso faz pouco, que apenas passam um óleo de peroba na cara de pau da farra antirrepublicana e antieconômica com dinheiros públicos. É aquela lei para inglês ver, que fingia atender a exigências do STF, do ministro Flávio Dino.

Lula precisa de Lula - Bruno Boghossian

Folha de S. Paulo

Ausência parcial traz o lembrete de uma dependência acentuada e da chantagem direta feita pelo Congresso

A cirurgia que deve tirar Lula de campo até a próxima semana exibe sintomas agudos de deformações conhecidas do governo e das relações de poder no país. A internação do presidente não oferece um grande risco político imediato, mas expõe anomalias institucionais e fragilidades domésticas da gestão petista.

A concentração da autoridade política nas mãos de Lula é a marca mais cantada deste mandato. Não é uma grande deformação para os padrões do presidencialismo brasileiro, mas essa característica condicionou toda a estrutura do poder a uma dependência acentuada da porta para dentro e da porta para fora.

A coincidência da internação com a corrida acelerada para a aprovação do ajuste fiscal mostra o quanto Lula precisa de Lula. Ainda que o presidente esteja disposto a despachar do hospital, o momento politicamente delicado é um lembrete de que parte da influência do petista está ancorada em seus gestos públicos e conversas reservadas em Brasília.

Fúria, narcisismo e ofensas: o estranho mundo dos comentários - Wilson Gomes

Folha de S. Paulo

Informação e análise, em vez de servirem de esclarecimento, viram combustível para raiva

Há uma máxima destes novos tempos cuja inobservância inevitavelmente aumenta a taxa de infelicidade de quem ganha a vida publicando em jornais, revistas ou qualquer veículo de informação online: não leia os comentários. É um princípio que há quase 25 anos tenta ajudar aqueles que se dedicam a análises, críticas ou, simplesmente, como se diz hoje, à produção de conteúdos para consumo digital, a preservar algum contentamento e autoestima.

Essa máxima vale para qualquer assunto, mas especialmente para os que frequentemente dividem opiniões: futebol, política, religião, moral, celebridades ou até se um desconhecido deveria ceder seu lugar na janela do avião. Em resumo, a quase tudo, pois no verão de 2024 não há coisa que se ame mais do que odiar.

Encontrando a esperança na era do ressentimento - Paul Krugman

The New York Times / Folha de S. Paulo

Como o otimismo de 2000 deu lugar à raiva nos tempos atuais

Esta é minha última coluna para o The New York Times, onde comecei a publicar minhas opiniões em janeiro de 2000. Estou me aposentando do Times, não do mundo, então ainda expressarei minhas opiniões em outros lugares. Mas esta parece uma boa ocasião para refletir sobre o que mudou nesses últimos 25 anos.

O que me impressiona, olhando para trás, é como muitas pessoas, tanto nos EUA quanto em grande parte do mundo ocidental, eram otimistas naquela época e até que ponto esse otimismo foi substituído por raiva e ressentimento.

E não estou falando apenas de integrantes da classe trabalhadora que se sentem traídos pelas elites; algumas das pessoas mais irritadas e ressentidas nos Estados Unidos agora —pessoas que parecem muito almejar ter muita influência com o governo Trump que está por vir— são bilionários que não se sentem suficientemente admirados.

É difícil transmitir o quão bem a maioria dos norte-americanos se sentia em 1999 e no início de 2000. As pesquisas mostravam um nível de satisfação com a direção do país que parece surreal nos padrões atuais. Minha percepção sobre o que aconteceu na eleição de 2000 foi que muitos americanos consideraram a paz e a prosperidade como garantidas, então votaram no cara que parecia ser mais divertido de se conviver.

Na Europa, também, as coisas pareciam estar indo bem. Em particular, a introdução do euro em 1999 foi amplamente saudada como um passo em direção a uma maior integração política e econômica —em direção a um Estados Unidos da Europa, se preferir. Alguns de nós, norte-americanos, tínhamos precauções, mas inicialmente elas não eram amplamente compartilhadas.