sábado, 26 de julho de 2025

O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões

Israel tem de acabar com catástrofe da fome em Gaza

O Globo

Cenas dantescas de uma população civil esfomeada superam os piores temores da comunidade internacional

Depois de 21 meses de conflito, a fome na Faixa de Gaza chegou a níveis inimagináveis. Nesta semana, aliados históricos de Israel aumentaram a pressão para que a distribuição de mantimentos seja ampla, ininterrupta e eficiente. Na quinta-feira, o presidente francês, Emmanuel Macron, mencionou a fome ao anunciar que reconhecerá o Estado palestino. No início da semana, mais de duas dezenas de países, incluindo Reino Unido, Canadá, Japão e nações da União Europeia (UE), condenaram em nota a “distribuição de ajuda em conta-gotas” e a “matança desumana de civis”. As cenas são dantescas. E, se não tiverem fim, acabarão com o pouco apoio que Israel ainda tem na opinião pública internacional.

A democracia em um mundo fora de controle - Marco Aurélio Nogueira

O Estado de S. Paulo

O planeta está fora de controle. Há erosão na ordem mundial. A recomposição exige a cooperação entre povos, Estados e indivíduos

Uma questão paira sobre as cabeças pensantes: a democracia, tal como a conhecemos desde o século 18 – ou seja, como democracia representativa –, ainda interage bem com o capitalismo dos tempos atuais?

As democracias seguem parâmetros consolidados: liberdade de associação, palavra e escolhas, direitos cívicos, ética pública, cidadãos politicamente educados. Obedecem a um conjunto de regras, que Norberto Bobbio chamava de “regras primárias”, com as quais se define quem está autorizado a tomar decisões coletivas e mediante quais procedimentos. O liberalismo político é sua alma mater.

Que soberania? - Oscar Vilhena Vieira

Folha de S. Paulo

Assim como a sociedade brasileira e suas instituições têm sabido se defender dos ataques da extrema direita, saberão se proteger agora dos traidores da pátria

Nos últimos dias, em face das investidas do presidente norte-americano contra o Poder Judiciário brasileiro, muito tem se falado em soberania no Brasil. Mas de que soberania estamos falando?

A soberania nada mais é do que o poder de um povo de determinar o seu próprio destino, de acordo com suas leis e suas instituições.

Mas este não era o seu sentido original. O conceito de soberania foi incorporado à linguagem jurídica e política no final da idade média, para designar a autoridade absoluta e incontrastável da monarquia sobre seus súditos, em um determinado território. No plano internacional, o termo serviu para indicar a independência de um Estado em relação às demais nações.

Congresso dos caveiras - Alvaro Costa e Silva

Folha de S. Paulo

Além do caos econômico, principal plano da extrema direita para o país é o impeachment de ministros do STF

"Está achando ruim essa composição do Congresso? Então espera a próxima: será pior. E pior, e pior...". Data de 1991 a sentença de Ulysses Guimarães, que ao longo dos anos virou uma questão de honra para deputados e senadores. Poucas coisas deram tão certo no Brasil como o trabalho de desmoralização do Parlamento.

As cenas lamentáveis são rotina, e logo caem no esquecimento, substituídas por outras ainda mais lamentáveis. Na terça (22), um deputado do PL —que atende pela alcunha de Delegado Caveira— exibiu dentro da Câmara uma faixa em apoio a Donald Trump, o presidente dos EUA que ataca o Judiciário brasileiro para impedir o julgamento do golpe de 2022/2023. Da mesma maneira, o réu Jair Bolsonaro ficou à vontade para se comportar, nas escadarias do Congresso, como se fosse uma vedete do teatro rebolado, exibindo a perna com tornozeleira eletrônica.

Os terceiros somos nozes - Carlos Andreazza

O Estado de S. Paulo

Xandão não esclarece nem recua. Não esclarecer é fundamental. Ele amplia – de puxadinho em puxadinho – a falta de parâmetros objetivos sob os quais ordena. Ordena a censura. Prévia. O criador de cautelares transformou a lei penal em massinha de modelar. Terreno imprevisível, permeado de autoritarismo, desde o qual sobretudo ameaça mandar prender. Recuou nada.

Está na hora de soltar as mãos - Pablo Ortellado

O Globo

É preciso discordar dos aliados e dialogar com os adversários

No fim da campanha eleitoral de 2018, viralizou a imagem de duas mãos dadas, com uma rosa ao fundo, ao lado dos dizeres “Ninguém solta a mão de ninguém”. A expressão, diz a lenda, teria origem na experiência dos estudantes da Faculdade de Filosofia da USP, na época da ditadura militar. Quando as luzes do prédio da faculdade eram cortadas, alguém gritava:

— Ninguém solta a mão de ninguém!

E todos se davam as mãos, em autoproteção. Quando a luz retornava, fazia-se uma contagem e, às vezes, um estudante tinha desaparecido. Às vésperas da eleição de 2018, o gesto das mãos dadas representava solidariedade e conforto diante do risco de vitória de Jair Bolsonaro.

Os progressistas unidos, de mãos dadas diante da ameaça autoritária, parecem uma exaltação da solidariedade e da decência ante o arbítrio e a violência, mas são, na verdade, os causadores do que pretendem combater. Para superar a crise política que vivemos, precisamos aprender a escutar os adversários e a ser críticos com os aliados. Em outras palavras, precisaremos soltar as mãos.

Tarifaço pede menos bravata e mais negociação – Carlos Alberto Sardenberg

O Globo

Lula não está interessado em negociar com a Casa Branca. Seu objetivo atual é tirar proveito político-eleitoral

Não, não é um joguinho de truco. Trata-se de uma situação perigosa que ameaça milhares de empresas exportadoras brasileiras, das gigantes às pequenas cooperativas. Quando Lula tentou divertir a plateia amiga (“Se o Trump estiver trucando, vai levar um 6”), ele não atrapalhou a negociação simplesmente porque não há negociação alguma.

De todo modo, o presidente brasileiro não está interessado em negociar com a Casa Branca. Seu objetivo atual é tirar proveito político-eleitoral do enorme erro cometido pelo bolsonarismo com a ajuda do muy amigo Trump.

É urgente cassar o mandato de Eduardo Bolsonaro - Beatriz Rey*

O Globo

Ele está colocando os interesses de sua família e de um governo estrangeiro acima do país que jurou representar

Os próprios parlamentares têm oferecido motivos de sobra para a desmoralização do Legislativo brasileiro. O mais recente é a omissão — ou conivência — de suas lideranças diante da situação de Eduardo Bolsonaro. Deputado federal por São Paulo, Eduardo está fora do país desde 18 de março, nos Estados Unidos. Desde então, deixou de cumprir suas funções parlamentares e, pior, tem atuado ativamente contra os interesses nacionais. Em um Legislativo sério, comprometido com seus ritos e deveres institucionais, Eduardo já teria perdido o mandato.

O rato que ruge - André Gustavo Stumpf

Correio Braziliense

Crise entre Brasil e EUA se assemelha ao enredo de comédia britânica. Brasil é grande demais para tentar fazer a guerra e perder, a única alternativa restante é aguardar, com a calma necessária de bom jogador

O rato que ruge é uma comédia britânica, de 1959, simples e direta. Um país que depende da exportação de vinho para os Estados Unidos subitamente encontra poderoso concorrente. Na Califórnia, surge um produto com nome semelhante e preço mais baixo. Para evitar a falência, este pequeno país declara guerra aos Estados Unidos, com objetivo de ser derrotado e conseguir expressivos ganhos com sua derrota, como ocorreu com o Plano Marshall na Europa ocidental. Ou, com outro exemplo mais recente, o Vietnã.

Ato por 'soberania brasileira' reúne políticos, juristas e movimentos sociais na USP

Por Sérgio Quintella / O Globo

Manifestação na Faculdade de Direito do Largo São Francisco ocorreu na manhã desta sexta (25)

Com slogans como "sem tirania, soberania não se negocia" e "sem anistia", uma série de juristas e movimentos sociais e políticos se reuniu na manhã desta sexta-feira (25) na Faculdade de Direito da USP, no Largo São Francisco, no centro de São Paulo, em ato pela defesa da soberania nacional.

Liderado pelo diretor do curso, Celso Fernandes Campilongo, o evento contou com a presença do presidente do BNDES, Aloisio Mercadante, o presidente do PT, Edinho Silva, e do ex-dsputado e ex-ministro José Dirceu, entre outros.

O encontro ocorre uma semana antes da data prometida para a entrada em vigor do tarifaço imposto pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.

— Tem vários professores de direito internacional por aqui, sabem muito melhor do que eu o quanto o multilateralismo, o respeito à soberania nacional, o respeito aos princípios básicos do direito internacional, estão sendo solapados por esta situação de constrangimento, de ameaça, de abuso de poder de um lado político, mas, juntamente com este poder político, também de um poder econômico. Então, fico felicíssimo de ver esse salão nobre — afirmou Celso Campilongo

O jurista e ex-ministro José Carlos Dias também discursou.

— Unamo-nos na defesa transigente da soberania, da nossa Constituição, da soberania dos direitos humanos, da soberania dos nossos tribunais, da soberania do povo brasileiro que exige ter respeitado seus direitos e não aceitem gerências externas. Nem gerências externas e nem dos maus brasileiros que se reúnem numa família como uma organização criminosa. Nessa família que manda um embaixador entre aspas aos Estados Unidos para representar os interesses americanos e não os interesses brasileiros — afirmou Dias.

Sem discursar, mas presente ao evento, o ex-ministro José Dirceu disse que o Brasil poderia ajudar na negociação com os Estados Unidos, dado o nosso histórico de proximidade a pautas comerciais.

— O Brasil tem déficit na balança comercial com os Estados Unidos. Então, o pano de fundo disso é atacar a democracia e a soberania brasileira, não é a questão comercial. Porque a questão comercial, o Brasil nunca foi um país que teve, com nenhum país do mundo, nenhum grande conflito comercial. O Brasil sempre optou pela negociação cedendo, sabendo negociar. A democracia brasileira é conhecida, competente e uma democracia que sabe buscar o consenso progressivo — afirmou.

O presidente do Partido dos Trabalhadores, Edinho Silva, ressalta que o Brasil não vai se render aos Estados Unidos.

– Se o debate for os nossos minérios raros, as nossas terras raras, que o Brasil tem 25% das reservas de terras raras do mundo, o Brasil também tem que negociar de forma soberana, valorizando aquilo que é nosso, as nossas riquezas. Mas, acima de tudo, que esse debate se faça de forma respeitosa. O Brasil não é um puxadinho dos Estados Unidos, o Brasil não é um quintal dos Estados Unidos.

Veja abaixo o manifesto lido no evento da USP.

Batalha campal - Jamil Chade

O Brasil é, por ora, o centro da disputa que pretende moldar, globalmente, o século XXI

Somos o campo de testes de uma disputa global que tem o potencial de definir um novo mapa do poder nas relações internacionais. Nas últimas duas semanas, a ofensiva do governo de Donald Trump contra o Brasil não ocorreu por uma questão tarifária. Não estão em jogo nem o café nem o suco de laranja. Esses são danos colaterais.

Abalar a estabilidade de um governo democraticamente eleito é o principal objetivo de um movimento que precisa retirar de seu caminho forças progressistas e emergentes para costurar uma nova ordem mundial que perpetue e renove sua posição de força. A autonomia do Brasil, portanto, é intolerável. Inclusive perigosa, caso outros emergentes a usem como modelo. Desmontar a oposição que o País representa aos interesses de Trump cumpre duas funções estratégicas.

Traição e castigo - Aldo Fornazieri

Bolsonaro e seus cúmplices devem ser derrotados não só na Justiça, mas também no terreno político e no campo moral

Chantagistas e traidores. Não há melhor definição para Jair e Eduardo Bolsonaro, entre outros políticos engajados na defesa das tarifas punitivas de Donald Trump. O achaque não é apenas contra setores produtivos: é contra o Brasil, sua soberania e seu povo. O tarifaço desencadeará uma série de consequências econômicas que prejudicarão a vida dos brasileiros como um todo.

Os dicionários costumam definir “chantagem” como o ato de extorquir não só dinheiro, mas também outros benefícios por meio de ameaças, constrangimentos e pressões intimidatórias. É exatamente isso que os bolsonaristas associados a Trump estão fazendo contra o Brasil e seu povo, na tentativa de impedir que a Justiça cumpra seu papel diante das acusações de diversos crimes que pesam sobre o ex-presidente e seus comparsas.

Antidemocrático e antipatriótico - Cláudio Couto

O bolsonarismo revela-se por inteiro

As recentes sanções aplicadas pelo governo de Donald Trump às exportações brasileiras e a algumas de suas principais autoridades do sistema de Justiça, para além dos efeitos econômicos imediatos, tornaram mais claros certos aspectos do bolsonarismo. Embora, para os mais atentos, menos crédulos ou avessos ao cinismo, tais traços fossem óbvios, eram ainda minimizados por muita gente.

Um desses elementos é o caráter embusteiro do patriotismo bolsonaresco. Jair Bolsonaro inúmeras vezes alardeou sua disposição de dar a vida pelo País, contudo, quando surgiu a oportunidade (não de dar a vida, mas de demonstrar alguma preocupação com o Brasil) o que ele e seu filho 03 fizeram foi exatamente o contrário: atuaram para sacrificar a nação em prol de seus próprios interesses. Tão logo Trump publicou a carta aberta a Lula em rede social, anunciando sanções e as justificando pelo inconformismo com o processo no qual Bolsonaro é réu, o filho Eduardo foi rapidamente a público jactar-se pelo sucesso de seu lobby antinacional nos Estados Unidos.

I want you - Luiz Gonzaga Belluzzo e Manfred Back

As declarações de Trump mostram ansiedade e temor pelo fim da hegemonia do dólar

America! America!
God shed his grace on thee
Till selfish gain no longer stain
The banner of the free!
(America the Beautiful)

“Quando ouvi sobre esse grupo dos BRICS, seis países, basicamente, eu os ataquei com muita, muita força. E se algum dia eles realmente se formarem de modo significativo, isso acabará muito rapidamente… Nunca podemos deixar ninguém brincar conosco.” Palavras de Donald Trump. Segundo a Reuters, o presidente dos Estados Unidos também disse estar comprometido com a preservação do status global do dólar como moeda de reserva e prometeu nunca permitir a criação de uma alternativa digital pelo Banco Central norte-americano. A galhofa que farfalhou na cabeça dos atacadistas da Rua 25 de Março juntou-se à acusação aos produtos eletrônicos vendidos sem nota da Galeria Pagé, no Centro da capital paulista. Também sobraram ameaças ao Pix.

A permanência da pobreza - Cristovam Buarque

O ciclo da escassez só será rompido com uma mudança de visão

Um dos maiores erros do século XX, além da criação da bomba atômica, foi vincular o tema da pobreza à economia, como se a tragédia fosse apenas problema de renda, e não questão de fundo moral e de gestão pública. A escravidão só foi derrotada quando passou a provocar horror e indignação entre os não escravizados. Por ser apenas falta de renda, a permanência da pobreza não causa indignação moral, apenas incômodo passageiro, o que faz aceitável a existência de pessoas famintas, crianças sem escolas de qualidade, famílias morando na rua ou em casas sem saneamento. Perde-se naturalmente impulso político para a superação do que é visto como crise, e não como tragédia.

As ameaças de Trump ao mundo globalizado - Marcus Pestana

Vamos retomar de onde paramos na última semana? Representaria Trump o fim da globalização? Quais serão as consequências se acordamos no dia primeiro de agosto com tarifas de 50% sobre os produtos brasileiros importados pelos EUA?

Parece-me essencial separar o que há de jogo político e ideológico nesta história da esfera objetiva dos interesses e objetivos econômicos.

Achar que tudo que estamos vivendo - às vezes mais parece mistura de realismo fantástico com uma ópera bufa - é fruto apenas de um personagem inusitado, imprevisível, exótico, destemperado, grosseiro, mentiroso, ousado, autoritário, me parece no mínimo superficial e equivocado. Embora Donald Trump mereça cada um desses adjetivos.

Basta de pauta-bomba - Adriana Fernandes

Folha de S. Paulo

Até os mais acostumados com os lobbies no Congresso estão perplexos diante da voracidade atual

É preciso dar um basta aos projetos que representam uma bomba para as finanças públicas. Na maioria das vezes, são aprovados pelo Congresso, com ou sem apoio do governo, sempre que o foco dos acontecimentos no país está voltado para outros temas que prendem a atenção da população em geral e da mídia.

Enquanto o país ainda assimilava o anúncio pelo presidente Donald Trump da sobretaxa de 50% dos produtos brasileiros, os deputados resolveram aprovar projeto de lei que cria uma bomba fiscal de R$ 37,5 bilhões para a União ao ampliar indenizações por defeitos na construção de imóveis financiados pelo antigo SFH.

Fome em Gaza - Hélio Schwartsman

Folha de S. Paulo

É inaceitável que Israel use comida como arma contra o Hamas; solução estável para guerra passa pelo fim de governo Netanyahu

As imagens de palestinos definhando falam por si. Não há justificativa moral para permitir que crianças morram de fome. Pouco importa que tenha sido o Hamas que deflagrou o atual ciclo de violência com os ataques de 7 de outubro de 2023, as forças israelenses que controlam as fronteiras de Gaza têm a obrigação de assegurar que comida chegue aos civis.

E teriam vários outros deveres estabelecidos em leis de guerra que vêm sistematicamente descumprindo. Ao fazê-lo cometem delitos de guerra e quase certamente também crimes contra a humanidade. Quanto à acusação de genocídio, fico com a sabedoria dos juízes de Nuremberg.

Trump, segundo um cientista - Demétrio Magnoli

Folha de S. Paulo

Diagnóstico preciso veio de um bioquímico, não de um sociólogo ou historiador: Thomas Sudhof

"A meta do governo Trump é destruir e, no fim, substituir a elite nos EUA." O diagnóstico emanou de um bioquímico, não de um sociólogo ou historiador: Thomas Sudhof, de Stanford, Nobel de Medicina em 2013. A frase, precisa, surgiu como resposta a uma pergunta sobre os ataques da Casa Branca às universidades, em entrevista a Der Spiegel.

Sudhof avalia que, no horizonte mais extenso, o resultado do conflito dependerá da sobrevivência do Estado de Direito nos EUA. "Se o império da lei for permanentemente afetado, a ciência será profundamente enfraquecida a longo prazo."