quarta-feira, 17 de setembro de 2025

O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões

Não deve haver trégua no combate ao crime organizado

Por O Globo

Reação a assassinato de delegado deve ser implacável — e estritamente dentro da lei

Na segunda-feira, o ex-delegado-geral de São Paulo Ruy Ferraz Fontes foi perseguido e alvejado a tiros depois de sair da Prefeitura de Praia Grande (SP), onde era secretário de Administração Pública. A identidade dos assassinos ainda não foi revelada, mas as circunstâncias sugerem o envolvimento do Primeiro Comando da Capital (PCC). Quando chefiava a Delegacia de Roubo a Bancos da Polícia Civil paulista em 2006, Ferraz foi responsável por indiciar toda a cúpula da facção criminosa. Há menos de três semanas, uma força-tarefa incluindo Polícia Federal (PF), Receita Federal e Ministério Público de São Paulo realizou a maior operação de asfixia financeira contra o PCC. A execução no litoral paulista, em via movimentada e horário de grande circulação, foi aparentemente uma reação destinada a chocar a opinião pública e amedrontar quem investiga o crime organizado.

Câmara manda às favas os escrúpulos. Por Vera Magalhães

O Globo

De todos que falham em temas urgentes, o Congresso tem o comportamento mais aviltante

A Operação Carbono Oculto, que revelou a extensão da infiltração do crime organizado na economia formal, parecia ter freado a ousadia da Câmara dos Deputados de seguir adiante com a indefensável PEC da Blindagem. Passados pouco mais de 15 dias, no entanto, os deputados deixam claro que não estão nem aí para essa e outras emergências do país. O que importa, mesmo, é agir em causa própria e garantir à classe política uma salvaguarda de que o restante da sociedade não dispõe.

A nova investida, muito mais convicta, vem noutro momento, em que fica gritante o contraste entre a realidade brasileira e a particular dos blindados: no dia seguinte à execução, no litoral paulista, do ex-delegado-geral de São Paulo Ruy Ferraz Fontes, um dos mais experientes policiais do país em enfrentamento ao PCC, a mais poderosa das facções criminosas brasileiras.

Se não estivessem tão afoitos para levar a cabo seu próprio “salve geral” — que inclui ainda a tentativa de passar a qualquer preço uma anistia aos condenados por tentativa de golpe de Estado —, os deputados, Hugo Motta à frente, poderiam estar empenhados em votar a PEC da Segurança e em pressionar o governo pelo envio imediato do Projeto de Lei antimáfia.

Paes no templo de Silas Malafaia. Por Bernardo Mello Franco

O Globo

Ao bajular pastor bolsonarista, prefeito do Rio volta a rasgar figurino da última campanha

Eduardo Paes não disfarça mais. Está contando os dias para abandonar a prefeitura e se candidatar outra vez ao governo do Rio. O futuro ex-prefeito já garantiu o apoio de Lula e do PT. Agora tenta avançar no campo bolsonarista.

No domingo, Paes foi a um culto na igreja de Silas Malafaia. Subiu ao púlpito e engrenou uma louvação ao pastor. “O Silas Malafaia me ama, gente. Ele ama todo mundo, mas me ama especialmente”, gracejou, depois de se gabar dos “20 anos de amizade” com o anfitrião.

Um cenário sobre as eleições em São Paulo. Por Lu Aiko Otta

Valor Econômico

Eleitos para o Senado podem ter papel decisivo para o país

Tão sazonal quanto as floradas dos ipês na estação seca do cerrado, começou a temporada das especulações pré-eleição em Brasília. Daqui a sete meses, terá lugar a revoada dos ministros e secretários que vão concorrer a algum cargo. Por isso, nos arredores da Praça dos Três Poderes só se pensa no pleito que acontecerá daqui a pouco mais de um ano.

O vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin (PSB), costuma brincar, quando lhe perguntam sobre seus planos para 2026, que há dois ansiosos: os jornalistas e os políticos.

A coluna ouviu um integrante do governo que planeja deixar o cargo em abril. Falou do quadro em São Paulo.

Palavra de Bolsonaro tem grau especulativo. Por Fernando Exman

Valor Econômico

Não há garantia de que a palavra do ex-presidente Bolsonaro será mantida até o fim

A perspectiva de que a condenação de Jair Bolsonaro (PL) abre caminho para uma candidatura presidencial do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), gera euforia em setores do mercado e do Centrão. Nesses círculos, a tese é que as circunstâncias levarão Bolsonaro a sentir-se impelido a antecipar a chancela ao aliado e, assim, consolidá-lo como o nome do bolsonarismo e da centro-direita para 2026. Mas alto lá. A hipótese é fundamentada em uma premissa questionável, ou seja, que Bolsonaro cumpre acordos políticos.

PEC da Blindagem escancara a política, sem intermediários, ao crime. Por Maria Cristina Fernandes

Valor Econômico

A PEC visa a blindar parlamentares de processos no STF, que só os julgaria mediante autorização de seus pares, além de incorporar presidentes de partidos ao rol de autoridades que têm foro no Supremo

A aprovação da PEC da Blindagem no mesmo dia em que a Câmara franqueia a liderança da minoria ao deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) é autoexplicativa. A proposta de emenda constitucional visa a blindar parlamentares de processos no Supremo Tribunal Federal, que só os julgaria mediante autorização de seus pares.

Não se espere, porém, que esses pares se disponham a fazê-lo. Blindam o filho do ex-presidente com um cargo de líder para perdoar suas faltas, quando poderiam cassar seu mandato pela mais grave delas, a de traição da pátria. Não bastasse o tarifaço, o deputado endossou a ameaça da porta-voz da Casa Branca, Karoline Leavitt, de uma intervenção militar americana. É ainda mais grave que um líder defenda tamanha afronta.

Vale tudo para blindar deputados investigados e anistiar Bolsonaro. Por Luiz Carlos Azedo

Correio Braziliense

O ambiente é surreal. Enquanto a blindagem era discutida em plenário, a oposição indicou Eduardo Bolsonaro, que vive nos Estados Unidos, como líder da minoria na Câmara

A cena política brasileira nesta terça-feira poderia facilmente ter saído de um roteiro de novela. A Câmara dos Deputados decidiu votar a PEC das Prerrogativas, chamada de PEC da Blindagem, em meio a um ambiente de forte pressão do Supremo Tribunal Federal (STF) e de investigações sobre o mau uso das emendas parlamentares. A iniciativa revela a força de políticos enrolados em desvios de recursos públicos, que se escondem atrás do discurso de conter “avanços” do Judiciário sobre o Congresso. O que está em jogo não é a defesa da democracia, mas, sim, a tentativa de redesenhar as regras para escapar da responsabilização judicial.

A verdadeira motivação da PEC da Blindagem são as investigações a cargo da Controladoria-Geral da União (CGU) e da Polícia Federal para apurar irregularidades graves em emendas Pix, mecanismo que transfere recursos da União diretamente a estados e municípios sem rastreamento. Das 10 cidades que mais receberam recursos de emendas, relatórios apontaram desvios em pelo menos nove, e o ministro Flávio Dino, do STF, determinou o aprofundamento das apurações, com indícios de fraudes que envolvem prefeituras, empreiteiras e parlamentares que direcionaram recursos sem transparência. Trata-se de expor a engrenagem de um dos maiores esquemas de desvio de recursos públicos da história recente.

Onde estão os adultos? Por Cristovam Buarque*

Correio Braziliense

A prisão do ex-presidente e de militares golpistas é um passo histórico, mas insuficiente para garantir a consolidação democrática se os políticos continuarem brincando de política 

Depois da longa história de golpes contra a democracia, é natural que democratas comemorem a condenação de golpistas pela Justiça. Mas o Brasil precisa saber que juízes punem golpistas, mas não constroem democracia. Só políticos podem construí-la, se tiverem maturidade para fazê-la eficiente, justa e respeitada pela população. A indignação dos eleitores é mais indutora de golpes do que as armas de militares. A própria Justiça que prende golpistas, desincentiva a democracia quando, baseada nas leis da política, protege juízes corruptos com aposentadorias precoces no lugar de cadeia.

A anistia e a Constituição de 1988. Por Renato de Mello Jorge Silveira e Nicolau da Rocha Cavalcanti

O Estado de S. Paulo

A Constituição de 1988 é verdadeiramente fruto de uma anistia. Essa afirmação não está no plano da especulação política

Muito se tem falado, nos últimos tempos, sobre anistia de crimes antidemocráticos nos mais variados tons. Às vezes, ela é apresentada como elemento indispensável à pacificação do País. Outras, como um deboche com a jovem democracia brasileira, a exigir a mais cabal rejeição. Assim como toda a história do Direito Penal, sua trajetória é um pouco mais complexa do que se costuma pensar.

A Constituição de 1988 é verdadeiramente fruto de uma anistia. Essa afirmação não está no plano da especulação política. O mesmo ato – a Emenda Constitucional (EC) 26/1985 – que convocou a Assembleia Nacional Constituinte concedeu “anistia a todos os servidores públicos civis da Administração direta e indireta e militares, punidos por atos de exceção, institucionais ou complementares”. Concedeu, “igualmente, anistia aos autores de crimes políticos ou conexos, e aos dirigentes e representantes de organizações sindicais e estudantis, bem como aos servidores civis ou empregados que hajam sido demitidos ou dispensados por motivação exclusivamente política, com base em outros diplomas legais”.

A improvável aliança para rifar Bolsonaro. Por Vera Rosa

O Estado de S. Paulo

Centrão aceita votar contra anistia ampla, mas quer apoio do PT para se livrar de investigações

É grande a lista de jabutis por trás do projeto de anistia a Jair Bolsonaro. Longe dos holofotes, o Centrão passou as últimas horas costurando uma aliança com o PT e o governo para aprovar a PEC da Blindagem, que cria uma série de empecilhos para a prisão e a abertura de processos contra parlamentares.

Em troca, partidos do grupo – que em público juram fidelidade ao ex-presidente – ofereceram apoio aos petistas para derrotar o PL de Bolsonaro no plenário da Câmara. Traduzindo: o Centrão aceita votar contra a urgência do projeto que prevê anistia ampla, geral e irrestrita a Bolsonaro e aos envolvidos na trama golpista do 8 de Janeiro, mas quer ajuda para se livrar de investigações da Polícia Federal autorizadas pelo STF. O maior temor do bloco, no momento, é em relação aos processos sobre desvio de emendas, que têm alvejado seus integrantes.

Tarcísio de Freitas, entre el perfil tecnocrático y el bolsonarismo. Por Fernando de la Cuadra

El Clarin (Chile)

Después de la condena de Jair Bolsonaro a 27 años y 3 meses de presidio, la extrema derecha busca con suma urgencia un posible candidato que la represente en las próximas elecciones del año que viene. Hasta aquí, quien aparece mejor evaluado en las encuestas políticas es el actual gobernador del Estado de Sao Paulo, Tarcísio de Freitas.

Tarcísio que se había erguido como una alternativa de la derecha conservadora, aunque con un sello tradicional, ha dado en el último periodo un claro giro hacia la ultraderecha, transformándose en uno de los principales articuladores de la “amnistía amplia, general e irrestricta” que vienen levantando los partidarios del bolsonarismo, tanto en el parlamento como en otras instancias del mundo político y social brasileño.

A melhor situação de emprego e salário em décadas e o destino da inflação. Por Vinicius Torres Freire

Folha de S. Paulo

Situação do mercado de trabalho afeta preços, mas menos do que se pensava faz dois anos

Estimativas de desemprego natural e PIB potencial ainda estão descalibradas ou erradas

Uma taxa de desemprego muito baixa pode acabar por aumentar custos de empresas e preços ("tudo mais constante"). Daí, pode contribuir para o aumento persistente de preços, para a inflação. Qual seria a taxa que não faz a inflação acelerar é um debate interminável e depende de contextos.

No Brasil de 2023, muita gente acreditava que essa taxa seria de algo perto de 8% —há quem acredite nisso até agora.

A taxa de desemprego em julho foi de 5,6%, muito menor. O rendimento médio do trabalho ("salário") está crescendo a 3,8% ao ano, em termos reais —além da inflação. A proporção da população em idade de trabalhar que está ocupada é a maior desde que há dados oficiais comparáveis (2012). A situação deve ser a melhor desde sempre.

Mas a taxa de inflação cai, embora lentamente. É verdade que o IPCA é empurrado para baixo pela valorização do real, pois o dólar cai no mundo inteiro, agora em ritmo um tanto maior aqui no Brasil por causa da taxa de juros muito alta, para não mencionar outras mãozinhas da economia mundial.

Nos EUA, a liberdade de expressão morre duas vezes. Por Rui Tavares

Folha de S. Paulo

Assassinato político pode ser pretexto para virada repressiva

Há quem divida a ética entre deontologia e consequencialismo —coisas que são moralmente erradas por princípio e coisas que são moralmente erradas porque as suas consequências são más. Para mim, a violência política, e em particular o assassinato de adversários políticos, é moralmente errada por ambas as razões e deve ser publicamente denunciada.

Não me desvio deste ponto de partida, mesmo se discordo e me causam repugnância as opiniões da vítima do assassinato. Diria mais: sobretudo nessas situações. A pedagogia de cada um de nós é mais necessária e eficaz junto da nossa família política e quando a vítima é da família política a que nos opomos.

A belicosa defesa da paz. Por Dora Kramer

Folha de S. Paulo

Os porta-vozes da anistia se contradizem ao adotar retórica agressiva em prol de uma conciliação

Os defensores de anistia aos golpistas condenados pelo Supremo Tribunal Federal falam genericamente em página virada e pacificação.

No entanto, não se ouve deles palavra sobre compromissos reais com a aludida paz. Pedem perdão, mas não fornecessem contrapartida alguma. Ao contrário: seus porta-vozes recorrem a discursos radicalizados e belicosos, produzindo uma inequívoca contradição nos próprios termos.

Democracia brasileira não será a mesma após o 11 de setembro. Por Wilson Gomes

Folha de S. Paulo

Julgamento rompe lógica de ela ser apenas um intervalo entre golpes e ditaduras

Levou uma vida para acontecer; a geração do meu pai não pôde ver algo assim

Quase metade do país, pelo menos neste momento, não consegue perceber o alcance histórico do que ocorreu no Supremo Tribunal Federal no último 11 de setembro . Há muita raiva política no ar, há a convicção disseminada de que se tratou de mais uma batalha na guerra entre dois lados e uma enorme vontade de revanche. Triste, mas natural: nas atuais circunstâncias políticas do país, dificilmente as coisas poderiam ser vistas de outro modo.

Mas a percepção pública não pode obscurecer os fatos. E o fato fundamental é que 11 de setembro de 2025, cedo ou tarde, entrará para a memória nacional como um dos dias mais decisivos da curta e intermitente história da nossa democracia.

Netanyahu está acabando com Israel. Por Hélio Schwartsman

Folha de S. Paulo

Ofensiva terrestre contra Gaza trará mais mortes e sofrimento para palestinos e desgastará ainda mais imagem do Estado judeu

Israel deslanchou sua ofensiva militar terrestre contra a Faixa de Gaza. Veremos nas próximas horas e dias muito mais sofrimento, mortes e crimes de guerra e contra a humanidade. E o ataque não fará avançar os interesses do Estado de Israel. Pelo contrário, trará prejuízos.

Basta lembrar que os profissionais da guerra, isto é, o Estado-Maior das Forças Armadas de Israel, eram terminantemente contra a ofensiva, que viam como desgastante para as tropas e perigosa para os reféns.