domingo, 19 de outubro de 2025

Opinião do dia – Antonio Gramsci

“Referências ao senso comum e a solidez de suas crenças encontram-se frequentemente em Marx. Contudo, trata-se de referências não à validez do conteúdo de tais crenças, mas sim a sua solidez formal e, consequentemente, à sua imperatividade quando produzem normas de conduta. Aliás, em tais referências, está implícita a afirmação da necessidade de novas crenças populares, isto é, de um novo senso comum e, portanto, de uma nova cultura e de uma nova filosofia, que se enraízem na consciência popular com a mesma solidez e imperatividade das crenças tradicionais."

Antonio Gramsci (1891-1937), Cadernos do Cárcere, 4ª Edição, v,1, p.118. Editora Civilização Brasileira, 2006.

O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões

Sociedade brasileira está afastada dos extremos

Por O Globo

Maior pesquisa já realizada sobre polarização concluiu que apenas 11% monopolizam debate político

À medida que se aproximam as eleições de 2026, o país se encaminha para mais uma disputa polarizada entre candidatos de esquerda e direita, cindidos por posições aparentemente inconciliáveis em temas como aborto, porte de armas, religião ou cotas raciais. Paradoxalmente, a maior parte da população brasileira fica no meio do caminho entre as posições extremas abraçadas pelos dois polos. Essa é a conclusão mais relevante da maior pesquisa sobre a polarização no Brasil, realizada pela Quaest para a ONG More in Common.

Os pesquisadores aplicaram um questionário com quase 200 questões sobre temas que polarizam a sociedade a mais de 10 mil brasileiros com mais de 16 anos. Depois empregaram técnicas estatísticas capazes de classificar a amostra de acordo com a frequência das respostas às diferentes questões e aprofundaram a análise por meio de entrevistas em grupo.

Lula saiu das cordas, por Elio Gaspari

As pesquisas mostram que Lula saiu das cordas e voltou a ser o favorito para a eleição do ano que vem. Isso foi conseguido por dois fatores. O governo impôs uma agenda positiva com a isenção de imposto de renda para o andar de baixo.

O segundo fator foi o delírio trumpista da oposição, com a espetaculosa atividade de multidão desfilando uma gigantesca bandeira dos Estados Unidos na Avenida Paulista no 7 de Setembro.

Trump e suas tarifas não produzem um só emprego no Brasil. Ao associar-se a ele, bolsonaristas como o governador Tarcísio de Freitas atravessaram a rua para escorregar na casca de banana da outra calçada.

A esquerda brasileira era conhecida pela sua capacidade de se dividir. Lula tornou-se seu fator de união. A paixão pelas divisões migrou para a direita. Tarcísio, Caiado e Romeu Zema não se entendem e ninguém sabe porquê. Como se isso fosse pouco, o deputado Eduardo Bolsonaro age como um guerrilheiro avulso.

Lula no divã, por Bernardo Mello Franco

O Globo

Às vésperas de completar 80 anos, Lula parece à procura de um divã. O presidente tem usado atos públicos para expor preocupações que o afligem. Entre as mais citadas, estão a crise da esquerda, o futuro do PT e as razões para disputar o quarto mandato.

O petista tratou dos três assuntos na quinta-feira, em encontro do PCdoB. Ele começou contando que havia penado para gravar um vídeo de incentivo aos socialistas europeus. “Fiquei pensando que mensagem poderia dar para as pessoas que ainda querem ser de esquerda. Não é fácil”, desabafou.

Depois de reconhecer o avanço da extrema direita, Lula admitiu que o campo progressista “não está convencendo”. Por isso, precisaria adotar novas táticas para se reaproximar do eleitorado. “Nós nos distanciamos do povo”, lamentou. “Do jeito que está, não dá. Temos que mudar”, pediu.

Ao tratar da disputa de 2026, o presidente destacou a necessidade de atualizar o próprio discurso. “Eu serei candidato para quê? Para continuar falando de Bolsa Família? É preciso pensar num país maior”, afirmou.

Contradições do projeto ambiental, por Míriam Leitão

O Globo

O PL da devastação e a exploração de petróleo na Amazônia não combinam com o projeto sustentável do país

O Brasil vive um momento de contradições. A preparação da COP tem trazido avanços, mas a proposta de eliminação de combustíveis fósseis está em retrocesso. No mundo e aqui. A Petrobras espera ter em breve a licença para explorar petróleo na Amazônia. O combate ao desmatamento é a maior parte da nossa contribuição, porém o país vive sob a ameaça do PL da devastação. Tudo o que se conseguiu foi adiar a derrubada dos vetos do presidente Lula a esta lei nefasta. A solução do adiamento foi um alívio no ambientalismo, ainda assim fere a lógica. A questão não é deixar essa derrota para depois que “as visitas forem embora”, ou seja, após a conferência de Belém. É encarar os lobbies empresariais e do agronegócio.

Ninguém quis ver o que aconteceu em Gaza, por Dorrit Harazim

O Globo

Grande jornalismo profissional aceitou que seu papel de testemunha-chave da História fosse bloqueado

Existe uma resolução do Conselho de Segurança da ONU aprovada dez anos atrás que obriga os Estados-membros à proteção de jornalistas durante conflitos armados. Não só porque jornalistas integram a população civil de países, como pela função social específica que desempenham no mundo. Assinada por unanimidade em 27 de maio de 2015, a 2222 especifica que “jornalistas, profissionais de mídia e pessoal associado” na cobertura de guerras não podem ser considerados alvo militar. Outra resolução, bem mais recente (2730, de 2024), aborda especificamente “os princípios da distinção, proporcionalidade e precauções em conflitos armados”, de modo a proteger civis e pessoal humanitário. Contudo, ao longo dos últimos dois anos, até o frágil cessar-fogo instaurado em 10 de outubro, tudo isso e muito mais foi pulverizado pela ação das Forças de Defesa de Israel (FDI) na Faixa de Gaza.

Barroso desengaveta a descriminalização do aborto, por Luiz Carlos Azedo

Correio Braziliense

Na véspera da aposentadoria, ministro votou a favor da descriminalização do aborto voluntário até 3 meses de gestação. O caso estava parado desde 2023; liminar que autorizava enfermeiros realizarem abortos foi derrubada

Prêmio Nobel de Literatura de 2022, recebido aos 82 anos, a escritora francesa Annie Ernaux tinha 23 anos, em 1963, quando engravidou de um relacionamento sem expectativas. Jovem universitária, sua vida virou de ponta-cabeça. Sem contar para a família, que vivia no interior da França, tomou a dramática decisão de fazer um aborto. Seu livro O Acontecimento (Fósforo Editora), relata sua difícil e solitária trajetória em busca de um aborto, que era ilegal na França.

Annie Ernaux levou 30 anos para relatar essa história. “Faz uma semana que comecei esta narrativa, sem nenhuma certeza de continuá-la. Só queria testar meu desejo de escrever sobre isso”, registrou em seu diário. “Se eu não relatar essa experiência até o fim, estarei contribuindo para obscurecer a realidade das mulheres e me acomodando do lado da dominação masculina do mundo”. Houve violência médica e julgamento moral por sua decisão.

Um novo Toffoli no STF, por Eliane Cantanhêde

O Estado de S. Paulo

Toffoli era o típico “bom moço”, cheio de boas intenções e ambições, e o salto estonteante

Numa partida de futebol no Palácio do Jaburu, residência oficial dos vice-presidentes, o presidente Lula, em seu segundo mandato, apontou o dedo para o advogado e deputado Luiz Carlos Sigmaringa Seixas e comunicou: “Você vai ser o próximo ministro do Supremo”. Sig, como era conhecido, não titubeou: “Tá louco, Lula? Eu não estou preparado para isso”. Houve outras investidas, ele nunca aceitou.

José Antônio Dias Toffoli não teve mesma prudência. Vestiu a toga do STF em 2009, aos 41 anos, e aos 50 foi o mais novo presidente da Corte desde o Império. Formado em Direito pela USP, foi advogado, assessor parlamentar e advogado-geral da União (AGU), mas não tinha mestrado nem doutorado, e carregava o fardo de ter levado duas bombas em concursos para a magistratura. Quem não conseguiu ser juiz virou ministro do Supremo.

Hora de mostrar destreza e paciência, por Lourival Sant’Anna

O Estado de S. Paulo

Cenário atual eleva o valor estratégico do Brasil e oferece oportunidades para o presidente Lula

A reaproximação entre os governos brasileiro e americano continua em curso, embora nada de substancial tenha sido negociado até aqui. O engajamento ocorre em um contexto de mudança do balanço comercial e tecnológico entre EUA e China. E de exacerbação da hostilidade do governo de Donald Trump em relação ao regime venezuelano.

O local escolhido para o encontro de uma hora entre o secretário de Estado Marco Rubio e o chanceler Mauro Vieira revela a dominância da política sobre a crise. Rubio acumula o posto de conselheiro de Segurança Nacional, e portanto tem gabinete também na Casa Branca.

Mudanças climáticas e as obrigações dos Estados, por Celso Lafer

O Estado de S. Paulo

Os compromissos dos Estados em matéria de meio ambiente configuram novas dimensões de responsabilidade jurídica internacional

Estamos às vésperas da COP-30, a realizar-se em Belém. Daí a oportunidade de considerações mais abrangentes sobre as obrigações dos Estados em matéria de mudanças climáticas. Estas foram objeto de circunstanciado parecer consultivo da Corte Internacional de Justiça de 23 de julho. O parecer foi solicitado por resolução da Assembleia Geral da ONU.

O parecer da Corte não é um comando jurídico. É uma vis directiva do que deve ser observado pelos Estados nas suas obrigações em relação às mudanças climáticas. Atende à necessidade de quem a pediu, os membros da ONU, e surgiu da consciência dos riscos das mudanças climáticas. As razões do acatamento do parecer da Corte residem na sua substância. As consequências danosas de seu não acatamento recaem sobre os seus destinatários, a comunidade internacional, pois os danos da mudança climática atingem a todos.

Terras raras não são uma mina de ouro para o Brasil, por Vinicius Torres Freire

Folha de S. Paulo

Negócio pode ter interesse, até por estratégia diplomática, mas é pequeno e difícil

Ideias nacional-desenvolvimentistas de criar valor agregado podem dar em besteira

Terras raras tornaram-se assunto comum. Ficaram famosas por causa do conflito entre China e EUA. Alguns desses elementos químicos servem para fazer superímãs, utilizados em produtos de ponta da tecnologia de informação e da eletroeletrônica, insumos para carros, turbinas eólicas ou equipamento militar. A China domina tecnologias e a cadeia de produção de terras raras. Fabrica mais de 90% dos ímãs do mundo.

O Brasil tem possibilidades interessantes, embora difíceis, nessa área. Há indícios de que disponha de grandes reservas de terras raras. Mas o assunto já começa a render maluquices.

Lula encara o centrão, por Celso Rocha de Barros

Folha de S. Paulo

Recuperado nas pesquisas, promessas de cargo do petista voltaram a ter validade maior

Cresceu a suspeita de que aliados estivessem trabalhando contra o funcionamento do governo

Lula começou a demitir um pessoal do centrão que tinha cargos no governo. É gente que foi indicada por partidos de direita que têm votado contra Lula no Congresso e deve apoiar Tarcísio na eleição do ano que vem.

Era como se, no governo Bolsonaro, houvesse ministros do PC do B que trabalhassem abertamente pela candidatura de Lula em 2022 e, enquanto isso, o PC do B derrotasse todas as propostas de Paulo Guedes no Congresso. Não tinha como durar.

Fisiologismo sem filtro, por Dora Kramer

Folha de S. Paulo

Governo reorganiza a 'base' sob o pantanoso pilar da troca de cargos por apoio à reeleição de Lula

Critério do escambo não autoriza o presidente a desqualificar o Congresso ou a olhar o centrão de cima

O governo começou a demitir bagrinhos para estimular os tubarões a levarem seus cardumes à rede do Palácio do Planalto.

É um jeito de falar sobre o expurgo nos partidos infiéis sem chamar a coisa pelo nome. Não que o princípio esteja errado: quem participa do bônus precisa arcar com o ônus.

O critério do fisiologismo sem filtro, porém, não credencia o presidente Lula (PT) a falar sobre o "baixo nível" do Congresso nem autoriza o partido dele a olhar de cima os adesistas do centrão.

A reunião do FMI, por Samuel Pessôa

Folha de S. Paulo

Na reunião do FMI o entendimento foi que os riscos geopolíticos se reduziram

Faltou a percepção de que haverá na próxima década desaceleração importante na economia mundial

Meu amigo e economista-chefe da Asa Investimentos, Fábio Kanczuk, postou no seu Instagram um ótimo sumário da reunião em Washington do FMI.

Na reunião de abril, havia forte pessimismo com a desaceleração da economia mundial com as tarifas de Trump. No entanto, a economia mundial não desacelerou.

De fato, o FMI esperava no final de 2024 que a economia mundial iria crescer 3,2% em 2025. Após as tarifas o FMI reviu para 2,8%, e agora voltou aos 3,2%. Para 2026, espera estabilidade da economia mundial, com crescimento de 3,1%. Assim, não há hoje o pessimismo que havia em abril.

Vento de proa na diplomacia, por Muniz Sodré

Folha de S. Paulo

Toda identidade é uma ilusão que produz efeitos reais, demarcatórios, com eventual papel político num contexto opressivo

Obsessão com marcadores (cor, religião, gênero) é autodefesa regressiva de vozes minoritárias

Para uma parcela atenta da comunidade afro-brasileira, foi auspiciosa a entrega das credenciais do diplomata Silvio Albuquerque como novo embaixador brasileiro ao rei Filipe da Bélgica. Em princípio, uma cerimônia protocolar.

Entretanto, reiteração histórica de meados do século 19, quando o baiano Francisco Jê Acaiaba Montezuma credenciou-se como ministro plenipotenciário (embaixador) junto ao Império Britânico. Um descompasso revelador: foram necessários dois séculos para que um homem negro voltasse a representar o Brasil num país europeu.

Hora de descancelar Carlitos, por Ruy Castro

Folha de S. Paulo

Mostra integral de Chaplin no CCBB de São Paulo não tem uma sessão perdível

Hollywood o enxotou como comunista; mas, se os críticos o esquecem, é mentira que cinema seja uma arte

Imagine um homem que, por metade do século 20, foi um dos três ou quatro gênios de seu tempo –os outros, FreudEinstein, talvez Picasso— e, aos poucos, foi sendo esquecido até se tornar quase ignorado. O artista é Charles Chaplin, criador de Carlitos e de tantos momentos nos filmes que realizou, de 1914 até 1952, e que por si justificariam a invenção do cinema.

A redescoberta da Amazônia, por André Gustavo Stumpf

Correio Braziliense

Belém foi escolhida porque a ONU e o Brasil quiseram destacar a Amazônia como palco central do debate climático

A realização da Conferência do Clima, a COP30, em Belém do Pará, a partir de 10 de novembro próximo significa que o mundo e os brasileiros resolveram descobrir a Amazônia, que sempre foi território encoberto por lendas fantásticas, relatos de grandes contrabandos e descobertas misteriosas de remédios que curam várias doenças. A Amazônia é apenas uma grande floresta que recobre cerca de 50% do território brasileiro e, naturalmente, esconde grandes jazidas de minérios, petróleo, ouro, além da madeira de significativo valor.

Esse vasto território só se tornou brasileiro depois da Independência do Brasil. Até então era português, dirigido diretamente de Lisboa. Os brasileiros do Norte tinham pouco contato com os do Sul. A navegação entre Belém e Lisboa era mais rápida do que a que se dirigia ao Rio de Janeiro. Sob o comado de Francisco Xavier de Mendonça Furtado, irmão do Marquês de Pombal, o território brasileiro foi divido em dois: o do Norte compreendia o Grão Pará e o Maranhão as outras províncias constituíam a colônia do Brasil. Foi ele quem deu nomes de cidades portuguesas a todos os núcleos habitacionais nas margens do Rio Amazonas. Assim, um território e outro tiveram gestões diferentes e problemas únicos.