Eric
Hobsbawm (1917-2012), “Como Mudar o Mundo”, p. 300 – Companhia das Letras, 2011
Política e cultura, segundo uma opção democrática, constitucionalista, reformista, plural.
segunda-feira, 29 de dezembro de 2025
Opinião do dia – Eric Hobsbawm* (Importância da política)
O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões
Alienação parental exige debate com menos ideologia
Por O Globo
Decisão da CCJ da Câmara que revoga lei
poderá criar vazio jurídico. Senadores deveriam corrigir falhas
A Comissão de Constituição e Justiça (CCJ)
da Câmara aprovou antes do recesso parlamentar a extinção da Lei de Alienação
Parental de modo conclusivo, que prescinde da discussão em plenário. É
essencial que o Senado se debruce com mais vagar sobre o tema e promova uma
ampla discussão em busca de um ponto de equilíbrio entre a extinção, como quer
a Câmara, ou a manutenção da situação atual.
O termo “alienação parental” resume as condutas e posturas de casais em separação litigiosa, ou de suas famílias, que usam os filhos para atingir o outro lado no conflito. Entre as práticas condenáveis classificadas pela lei estão: dificultar o contato da criança ou adolescente com pai ou mãe; mudar de endereço sem informar ao outro responsável; criar narrativas falsas para desqualificá-lo; impedir ou dificultar o acesso a informações sobre saúde, escola e outras atividades.
2025: Democracia mostra resiliência em meio à fricção entre Poderes. Por Luiz Carlos Azedo
Correio Braziliense
Tentativa de golpe de 8 de
janeiro de 2023 não prosperou porque não houve adesão do Congresso, chancela do
Judiciário e apoio das Forças Armadas, apesar dos atritos entre Executivo,
Legislativo e Judiciário
Sem grandes ilusões, o Brasil irá às urnas em
2026, provavelmente polarizado entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva,
com sua “economia do afeto”, como diria o historiador Alberto Aggio (A
Construção da Democracia no Brasil 1985-2025, editora Annablume e Fundação
Astrojildo Pereira-FAP), e o candidato apoiado pelo ex-presidente Jair
Bolsonaro, que está convalescendo de uma cirurgia e deve voltar a cumprir pena
em regime fechado.
Segundo as pesquisas, a maioria dos eleitores
está com cansaço, desconfiança e tédio, mas não deixará de votar. Isso não é
pouco: a democracia brasileira hoje não promete felicidade cívica, promete
apenas evitar o pior pelo simples fato de que existe. Essa polarização parece
inexorável, mesmo que as forças de centro-direita consigam remover a
candidatura do senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) e/ou lançar um candidato de
direita que empolgue os eleitores.
Talvez seja pouco para entusiasmar; no mundo em que vivemos, porém, é muito para preservar. Diante desse cenário, nos resta compreender melhor como foi que chegamos até aqui. O ano de 2025 nos deixa em estado de perplexidade. De um lado, o regime democrático não colapsou, graças à Constituição de 1988, apesar de ter sido submetido a choques sucessivos que, em outros momentos de nossa história, teriam resultado em golpes de Estado. De outro, há evidente mal-estar social, fadiga eleitoral e descrença na política como espaço de participação da sociedade e solução dos problemas do país.
Pessoas que respeitam e que corrompem instituições. Por Bruno Carazza
Valor Econômico
Caso do Banco Master confirma que
instituições não são suficientes para preservar a democracia e evitar a
corrupção
Muitos atribuem à força das nossas
instituições a razão por que a democracia brasileira sobreviveu diante da
tentativa de golpe bolsonarista. Segundo essa interpretação, a postura firme do
Supremo Tribunal Federal na reação ao 8 de janeiro e a decisão das Forças
Armadas de não embarcarem na aventura golpista foram fundamentais para o
malogro da séria ameaça autocrática que sofremos.
Quem discorda dessa tese aponta que o desfecho da história seria completamente diferente se Alexandre de Moraes não estivesse na presidência do Tribunal Superior Eleitoral, ou se o general Freire Gomes e o brigadeiro Baptista Júnior tivessem aderido aos planos de Bolsonaro tal qual seu colega, o almirante Almir Garnier Santos.
Proteção frágil ao BC ameaça a estabilidade. Por Alex Ribeiro
Valor Econômico
Quando as autoridades tergiversam por medo de
serem responsabilizadas, as consequências podem ser sérias
O Banco Central não está acima da lei nem isento de prestar contas de seus atos. Mas as recentes iniciativas do Supremo Tribunal Federal (STF) e do Tribunal de Contas da União (TCU) para apurar o caso do Banco Master, da forma como estão sendo executadas, enfraquecem a autonomia da instituição e deixam o país mais vulnerável a crises bancárias.
Os princípios de supervisão de Basileia, um
acordo internacional que visa assegurar a estabilidade financeira em todo o
mundo, recomendam expressamente que os reguladores e fiscais bancários tenham
proteção legal para evitar que deixem de tomar as decisões necessárias por medo
de sofrer sanções.
A prescrição é clara: os supervisores só devem responder por suas ações nos casos em que agem com dolo ou má-fé. Não devem se sujeitar a punições quando o Judiciário ou órgãos de controle externo consideram que houve algum erro, seja por imperícia técnica ou por negligência.
Juízes afastados, no Chile. Por Carlos Alberto Sardenberg
O Globo
Em dois casos, eles foram destituídos pelo
Senado. No terceiro, por seus próprios colegas de tribunal
Três ministros da Suprema Corte do Chile
foram afastados de seus cargos no curto período entre outubro do ano passado e
dezembro último. Em dois casos, os juízes foram destituídos pelo Senado. No
terceiro caso, a magistrada Angela Vivanco foi afastada pelos seus próprios
colegas de tribunal. As penalidades foram as mesmas: perda do cargo e
inabilitação de cinco anos para exercício de qualquer cargo público.
Os casos foram diferentes, mas com vários pontos de contato. Os parâmetros que se formaram ao longo dos processos ficaram claros: para afastar um magistrado não é necessário provar que ele praticou corrupção (vendendo sentenças, por exemplo), nem que tomou decisões com o objetivo explícito de favorecer parentes ou amigos. Basta a aparência de parcialidade, além da existência de relações familiares ou pessoais impróprias.
São Paulo de mil buracos. Por Miguel de Almeida
O Globo
A degradação urbana não é inevitável, é uma
escolha. A cidade ainda é uma grande ideia do homem, mas, sendo invenção
humana, vem permeada por seu gênio e por seus demônios
O poeta francês Charles Baudelaire desenvolve
o conceito de modernidade a partir das ruas parisienses do século XIX. Ele a
pensava como fusão entre o eterno e o transitório, entre o clássico e o fugaz.
A rapidez das ferrovias, a percepção de proximidade entre as capitais europeias
e os bulevares rasgados pelo Barão Haussmann — tudo isso configura a Paris da
modernidade. É quando surge o flâneur, aquele que vaga com o olhar vadio e
curioso pelas coisas urbanas.
Na contemporaneidade, esse personagem morreu. Na São Paulo do século XXI, quem tenta flanar precisa esconder o celular dos trombadinhas, desviar dos buracos da calçada e fugir de ciclistas que invadem o passeio. Não há olhar vadio possível — apenas olhar vigilante.
O Brasil da Esperança. Por Irapuã Santana O Globo
O Globo
Enquanto o poder se isola, pessoas comuns
usam o brilho da inteligência para resolver o que o Estado ignora
Nos últimos anos, as notícias têm jogado na
nossa frente um Brasil de privilégios, em que alguns são mais iguais que os
outros. São casos que mostram a completa ausência de ética, moralidade e
vergonha por parte de nossas autoridades, de todos os espectros políticos,
revelando que a República, de fato, nunca existiu no país. Mas nossa nação não
é feita apenas disso. Na verdade, nosso povo é feito de luta e solidariedade, e
o dia a dia do Brasil profundo, aquele real, mostra isso.
É nesse Brasil real, longe dos gabinetes de Brasília e dos privilégios de castas, que a verdadeira inovação e a decência florescem. Enquanto o poder se isola, pessoas comuns usam o brilho da inteligência para resolver o que o Estado ignora.
Riscos extremos em 2026. Por Diogo Schelp
O Estado de S. Paulo
Grupos trabalham para próxima eleição repetir
o clima de polarização extrema e, mais uma vez, sufocar o espaço do centro
político
O ano que se aproxima promete ser decisivo para algumas apostas arriscadas na política. No Brasil, existe um esforço evidente, à esquerda e à direita, para recriar o clima de polarização extrema que definiu a eleição presidencial de 2022 e desaguou nos eventos de aspiração golpista após a vitória de Lula. O que se quer, para o pleito de 2026, é mais uma vez sufocar o espaço do centro político.
A soberania do povo. Por Denis Lerrer Rosenfield
O Estado de S. Paulo
Se a questão venezuelana chegou ao ponto em que está, isso se deve à própria esquerda, que reconhece em Maduro um líder revolucionário e é conivente com a repressão
O cerco do governo Trump à ditadura de Nicolás Maduro, devendo-se tratar o dito presidente como tirano que é, tem suscitado questões relativas à soberania da Venezuela diante da ameaça de uma potência estrangeira. É como se os problemas desse país se reduzissem a ações intempestivas do presidente Trump, aproveitando-se a esquerda para se arvorar em defensora de um “povo” prestes a ser invadido, algo que caberia num esquema conceitual mecânico de uma esquerda pobre de conceitos. Procura-se passar para baixo do tapete, uma mera sujeira a ser escondida, a brutal repressão do verdadeiro povo venezuelano, submetido à tortura, à fome, à ausência total de liberdades e à violência de um governo revolucionário.
Retrospectiva política 2025. Por Lara Mesquita
Folha de S. Paulo
Chegamos ao final do ano em um cenário
ambíguo após reviravoltas
Verão será de intensas articulações políticas
para a definição das candidaturas nas eleições de 2026
O ano de 2025 foi de reviravoltas políticas
no Brasil. Chegou-se a decretar o fim do governo Lula nos
primeiros meses; com o tarifaço e
a queda
no custo dos alimentos, a popularidade
do presidente voltou a crescer em meados do ano. Chegamos ao final do
ano em um cenário mais ambíguo.
Por um lado, o anúncio da candidatura de Flávio Bolsonaro e a provável retirada do governador de São Paulo da corrida presidencial em 2026 foram vistos como um bom presságio para Lula. Por outro, a aprovação do Orçamento de 2026, com a obrigação de execução de grande parte das emendas no primeiro semestre, e a confirmação de que as derrubadas de vetos presidenciais atingiram patamares históricos pintam um cenário de maior dificuldade para o presidente no último ano de governo.
Saldo positivo. Por Ana Cristina Rosa
Folha de S. Paulo
Fortalecimento do sistema democrático implica
a defesa dos interesses do povo, o que faz da democracia algo incompatível com
o racismo
Neste ano, o STF reconheceu que existe uma
violação sistemática dos direitos fundamentais da população negra no Brasil
Para um ano que começou com um prefeito reeleito democraticamente discursando em favor da "liberdade de expressão em defesa da ditadura militar" durante a posse, 2025 termina com saldo positivo em termos de defesa da democracia no Brasil. A resposta tenaz à "Intentona Bolsonarista" –com a condenação à prisão de 29 dos 31 acusados na trama golpista– demonstra prevalência do respeito à Constituição.
Como explicar crença nos Bolsonaro, vistos como burros? Por Bernardo Carvalho
Folha de S. Paulo
Trabalho de campo em seita de lunáticos, que
deu origem ao conceito de dissonância cognitiva, teve série de falhas
Apesar da circularidade, a teoria ainda ajuda
a explicar o comportamento suicida de quem crê que nunca perde
Leio no site da revista The New Yorker que já não é
possível explicar o bolsonarismo (ou qualquer outra aberração lógica) pela
teoria da dissonância cognitiva, conceito-chave da psicologia social dos anos
1950 e que desde então tem servido para explicar quase tudo o que parece
incompreensível no comportamento humano.
O conceito foi afinado com base na pesquisa sobre uma seita de lunáticos que acreditavam em discos voadores. A recente divulgação do arquivo pessoal de um dos três autores do estudo de 1956, Leon Festinger, revelou entretanto que suas conclusões estavam contaminadas por uma série de falhas e inconsistências do trabalho de campo.












