segunda-feira, 29 de dezembro de 2025

A soberania do povo. Por Denis Lerrer Rosenfield

O Estado de S. Paulo

Se a questão venezuelana chegou ao ponto em que está, isso se deve à própria esquerda, que reconhece em Maduro um líder revolucionário e é conivente com a repressão

O cerco do governo Trump à ditadura de Nicolás Maduro, devendo-se tratar o dito presidente como tirano que é, tem suscitado questões relativas à soberania da Venezuela diante da ameaça de uma potência estrangeira. É como se os problemas desse país se reduzissem a ações intempestivas do presidente Trump, aproveitando-se a esquerda para se arvorar em defensora de um “povo” prestes a ser invadido, algo que caberia num esquema conceitual mecânico de uma esquerda pobre de conceitos. Procura-se passar para baixo do tapete, uma mera sujeira a ser escondida, a brutal repressão do verdadeiro povo venezuelano, submetido à tortura, à fome, à ausência total de liberdades e à violência de um governo revolucionário.

Retrospectiva política 2025. Por Lara Mesquita

Folha de S. Paulo

Chegamos ao final do ano em um cenário ambíguo após reviravoltas

Verão será de intensas articulações políticas para a definição das candidaturas nas eleições de 2026

O ano de 2025 foi de reviravoltas políticas no Brasil. Chegou-se a decretar o fim do governo Lula nos primeiros meses; com o tarifaço e a queda no custo dos alimentos, a popularidade do presidente voltou a crescer em meados do ano. Chegamos ao final do ano em um cenário mais ambíguo.

Por um lado, o anúncio da candidatura de Flávio Bolsonaro e a provável retirada do governador de São Paulo da corrida presidencial em 2026 foram vistos como um bom presságio para Lula. Por outro, a aprovação do Orçamento de 2026, com a obrigação de execução de grande parte das emendas no primeiro semestre, e a confirmação de que as derrubadas de vetos presidenciais atingiram patamares históricos pintam um cenário de maior dificuldade para o presidente no último ano de governo.

Saldo positivo. Por Ana Cristina Rosa

Folha de S. Paulo

Fortalecimento do sistema democrático implica a defesa dos interesses do povo, o que faz da democracia algo incompatível com o racismo

Neste ano, o STF reconheceu que existe uma violação sistemática dos direitos fundamentais da população negra no Brasil

Para um ano que começou com um prefeito reeleito democraticamente discursando em favor da "liberdade de expressão em defesa da ditadura militar" durante a posse, 2025 termina com saldo positivo em termos de defesa da democracia no Brasil. A resposta tenaz à "Intentona Bolsonarista" –com a condenação à prisão de 29 dos 31 acusados na trama golpista– demonstra prevalência do respeito à Constituição.

Como explicar crença nos Bolsonaro, vistos como burros? Por Bernardo Carvalho

Folha de S. Paulo

Trabalho de campo em seita de lunáticos, que deu origem ao conceito de dissonância cognitiva, teve série de falhas

Apesar da circularidade, a teoria ainda ajuda a explicar o comportamento suicida de quem crê que nunca perde

Leio no site da revista The New Yorker que já não é possível explicar o bolsonarismo (ou qualquer outra aberração lógica) pela teoria da dissonância cognitiva, conceito-chave da psicologia social dos anos 1950 e que desde então tem servido para explicar quase tudo o que parece incompreensível no comportamento humano.

O conceito foi afinado com base na pesquisa sobre uma seita de lunáticos que acreditavam em discos voadores. A recente divulgação do arquivo pessoal de um dos três autores do estudo de 1956, Leon Festinger, revelou entretanto que suas conclusões estavam contaminadas por uma série de falhas e inconsistências do trabalho de campo.

O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões

Alienação parental exige debate com menos ideologia

Por O Globo

Decisão da CCJ da Câmara que revoga lei poderá criar vazio jurídico. Senadores deveriam corrigir falhas

A Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara aprovou antes do recesso parlamentar a extinção da Lei de Alienação Parental de modo conclusivo, que prescinde da discussão em plenário. É essencial que o Senado se debruce com mais vagar sobre o tema e promova uma ampla discussão em busca de um ponto de equilíbrio entre a extinção, como quer a Câmara, ou a manutenção da situação atual.

O termo “alienação parental” resume as condutas e posturas de casais em separação litigiosa, ou de suas famílias, que usam os filhos para atingir o outro lado no conflito. Entre as práticas condenáveis classificadas pela lei estão: dificultar o contato da criança ou adolescente com pai ou mãe; mudar de endereço sem informar ao outro responsável; criar narrativas falsas para desqualificá-lo; impedir ou dificultar o acesso a informações sobre saúde, escola e outras atividades.

Opinião do dia – Eric Hobsbawm* (Importância da política)

Permitam-me dizer, para concluir, porque escolhi, neste capítulo, concentrar-me em Gramsci como teórico político. Não foi só por ele ser um teórico invulgarmente interessante e admirável. Em, decerto, porque ele oferece uma receita para a forma como os partidos e os Estados devem organizar-se. Como Maquiavel, ele é um teórico de como as sociedades deveriam ser fundadas ou transformadas, não de pormenores constitucionais e muito menos das trivialidades de que se ocupam os jornalistas políticos. Foi porque, entre os teóricos marxistas, foi ele quem percebeu com maior clarividência a importância da política como uma dimensão especial da sociedade e porque ele compreendeu que a política envolve mais do que o poder. Isso é de enorme importância prática, e não menos para os socialistas.”

Eric Hobsbawm (1917-2012), “Como Mudar o Mundo”, p. 300 – Companhia das Letras, 2011

E então que quereis, de Vladimir Maiakovski

 

Música | Chico Buarque & Milton Nascimento - Cálice