terça-feira, 22 de fevereiro de 2022

Míriam Leitão: Rui Costa defende um pacto nacional


O Globo

O governador Rui Costa, da Bahia, acha que o PT deveria conversar com economistas de outras visões e com pessoas de todo o arco da sociedade, “porque para colocar o Brasil nos trilhos vai ser preciso a ajuda de muita gente e um pacto de governança”. Ele concorda com o senador Jaques Wagner de que o PT precisa de humildade durante o processo eleitoral e, se ganhar, para governar o Brasil.

— A situação está muito pior do que quando Lula assumiu em 2003. Nós tínhamos naquela época um país mais estável, com ferramentas e possibilidades macroeconômicas muito maiores do que temos hoje. Com imagem e credibilidade no exterior. O cenário interno e internacional era mais favorável. Temos que ter a dimensão do desafio e a noção de que precisamos de muitas pessoas para colocar o Brasil de volta nos trilhos —afirmou. Eu o entrevistei na Globonews.

Perguntei se o PT havia errado ao chamar de “herança maldita” a administração de Fernando Henrique Cardoso. Ele respondeu: “Sem dúvida.” E voltou a falar nos terríveis indicadores de hoje, inflação, desemprego, queda da credibilidade, aumento da pobreza, a fome de volta:

Merval Pereira: Maioria regressiva no STF

O Globo

O presidente Bolsonaro tem dito que sua reeleição neste ano representará uma espécie de “bônus” para os conservadores brasileiros, a possibilidade de nomear mais dois ministros para o Supremo Tribunal Federal (STF). Ele já indicou dois, Nunes Marques e André Mendonça, que já deram mostra de compromissos retrógrados em relação à liberdade de expressão, e teria direito a indicar os sucessores de Rosa Weber e Ricardo Lewandowski. Ambos têm 73 anos e, de acordo com as regras atuais, deixam a Corte em 2023 ao completarem 75.

A movimentação política em torno das nomeações para o Supremo tem repercutido no Congresso, com diversos projetos e emendas constitucionais sendo apresentados. Há na Câmara até uma proposta de emenda constitucional para que se volte à idade máxima de 70 anos para a aposentadoria compulsória de ministros do Supremo, em todos os tribunais superiores e mesmo no Tribunal de Contas da União. A ampliação para 75 anos, aliás, foi feita para impedir que a presidente Dilma pudesse nomear mais ministros durante sua gestão.

Carlos Andreazza: Me embosca que eu gosto

O Globo

O governo tem uma só dimensão: engrenagem a serviço da reeleição. Para isto existe e opera: para que o presidente, sujeito de índole golpista, permaneça no poder. O autocrata vai às urnas — e contra as urnas dispara suspeições. Padrão. Há método nessa atitude. Atacar é a maneira de eletrizar seus radicais. Ataca as urnas eletrônicas para ser competitivo nas urnas eletrônicas; e para que seus extremistas tenham ouvidos treinados ao apito caso a competitividade eleitoral não seja suficiente. Trata-se de um golpista, afinal.

E o golpista vai às urnas. Vai às urnas o autocrata que ministra golpismos desde a cadeira de presidente da República.

Jair Bolsonaro pretende ser, e creio que será, competitivo investindo na sociedade com Ciro Nogueira/Arthur Lira/Valdemar Costa Neto, pactuada no modo como o Orçamento de 2022 foi transformado-transtornado — com Guedes, com tudo — num grande orçamento secreto; e apostando no despertar, iniciada a campanha, do sentimento antilulopetista, rejeição que estaria adormecida. Esses seriam os caminhos para que crescesse até a vitória.

João Bernardo Kappen*: Um trauma legal

O Globo

Há coisas que não devem ser esquecidas para que não sejam repetidas, e há coisas que precisam ser lembradas, como os traumas, para que sejam superadas. Uma delas é que a Constituição brasileira diz que ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado de sentença penal condenatória. Só pode ser considerado culpado quem tem contra si uma sentença penal condenatória definitiva, sem possibilidade de recurso. E quem não tem, é o quê? Inocente. É o que prescreve a Constituição, goste-se ou não. Assim, a tese que se repete por aí de que o ex-presidente Lula não é inocente porque não foi absolvido não passa do desejo pessoal de interferir no processo eleitoral que se avizinha. Ele — como todos os que estão na mesma situação — é inocente justamente porque não tem contra si uma sentença penal condenatória definitiva.

Eliane Cantanhêde: Fatos e sonhos

O Estado de S. Paulo

Em vez de cair, Bolsonaro recupera pontos lentamente e não está fora do segundo turno

No dia seguinte ao Festival da Ovelha, banhistas de Atlântida, no Rio Grande do Sul, divertiam-se fazendo churrasco na areia da praia. Cena inusual, digna de curiosidade e elogio. Mas o dono de uma das barracas reagiu mal, ao ver que a curiosa era de Brasília: “Sai ‘pra’ lá! Vai comer churrasco com o Lula!”

Isso mostra várias coisas: a politização de tudo, a grosseria de certos bolsonaristas, a força do “mito” no Sul e que, se adversários acham que o presidente Jair Bolsonaro já perdeu, estão enganados. Assim como o trumpismo nos EUA, o bolsonarismo está enraizado no Brasil.

Andrea Jubé: Navalha na carne

Valor Econômico

Boulos alerta para ofensiva do governo sobre a periferia

No comício de despedida da campanha de Fernando Haddad no Rio de Janeiro, a cinco dias da votação no segundo turno, o rapper Mano Brown jogou água no chope da festa petista. Ao discursar no palco do evento, ele criticou o distanciamento do PT do eleitor da periferia e a perda de comunicação da legenda com esse eleitorado.

“Se não está conseguindo falar a língua do povo, vai perder mesmo”, alertou. “Partido dos trabalhadores tem que entender o que o povo quer, se não sabe, volta pra base e vai procurar saber. Se falhou, vai ter que pagar mesmo”. E o PT pagou com a derrota para Jair Bolsonaro após quatro vitórias consecutivas nos pleitos presidenciais.

Pedro Cafardo: Com sua licença, uma digressão otimista

Valor Econômico

Como no pós-guerra, “anos dourados” podem suceder a pandemia

A situação atual no mundo e principalmente no Brasil permanece tão assustadora que precisamos pedir licença ou desculpas antecipadas para fazer digressões otimistas sobre o futuro próximo.

Vamos a uma. Quem tem fé pode rezar e quem não tem, torcer para que o período pós-pandemia, ansiosamente esperado, seja semelhante ao pós-Segunda Guerra Mundial. A ômicron ainda atinge todo o planeta e aterroriza o Brasil em razão do estúpido negacionismo governamental. Apesar disso, as gerações atuais, depois de dois ou três sofridos anos da covid-19, talvez tenham a chance de saborear uma reprise dos “Anos Dourados” que sucederam o maior conflito bélico da humanidade, de 1939 a 1945, quando morreram 60 milhões de pessoas.

Hélio Schwartsman: Presidência com menos poderes

Folha de S. Paulo

O que quer que Lula planeje fazer caso eleito sairá caro

O PT e o PSB conseguirão montar uma federação? O Kassab, cujo partido não é de esquerda nem de direita nem de centro, vai apoiar Lula, Bolsonaro ou vai mesmo insistir num candidato próprio? Eu não diria que essas questões sejam desimportantes, mas elas não parecem capazes de alterar muito o "grand jeu", que se encaminha para uma disputa entre Luiz Inácio Lula da Silva e Jair Bolsonaro.

Na verdade, a menos que surjam os tais dos fatos novos, eu nem esperaria grandes mudanças nas pesquisas eleitorais até julho ou agosto, que é quando o eleitor começa a se posicionar mais seriamente em relação à sucessão presidencial e as campanhas efetivamente têm início.

Alvaro Costa e Silva: Candidatos terrivelmente bolsonaristas

Folha de S. Paulo

Além de Bolsonaro, Cláudio Castro tem o apoio dos filhos de Cabral, Garotinho, Picciani e Cunha

O cara, o peixe, o deus da pequena área, o baixinho. Mais de mil gols. Campeão do mundo em 1994, ídolo do Vasco, Flamengo, Barcelona e um dos maiores craques do futebol brasileiro, Romário entrou para a política em 2010. Aí o encanto começou a acabar. Manteve os privilégios dos tempos de jogador paparicado, mas sua imagem ruiu. Hoje, para continuar no jogo, resolveu ele próprio paparicar o poder.

Cristina Serra: Telegram e o ataque à democracia

Folha de S. Paulo

Tudo indica que ele será o substituto, piorado, do que foi o WhatsApp em 2018

Reportagem de Marcelo Rocha, publicada nesta Folha, mostra que o aplicativo de mensagens Telegram tem representante legal no Brasil, desde 2015. O empresário russo Palev Durov, um dos fundadores da plataforma, contratou o escritório Araripe & Associados, do Rio de Janeiro, para representá-lo junto ao Instituto Nacional da Propriedade Industrial, órgão do governo federal que faz o registro de marcas no país.

A revelação tira o Telegram da conveniente clandestinidade em que tentou permanecer até agora, ignorando esforços de contato das autoridades do Judiciário brasileiro. Há seis meses o aplicativo não responde a uma determinação do STF para remover publicação de Bolsonaro com ataques às urnas eletrônicas. Também ignora convite do TSE para discutir o combate a mentiras na campanha eleitoral que se aproxima. É como se dissesse: "E daí?".

Luiz Carlos Azedo: Nova “guerra fria” esquenta com escalada da crise ucraniana

Correio Braziliense

A intervenção militar russa em Donets e Luhansk é a antessala de uma guerra entre a Federação Russa e a Ucrânia, ou seja, de uma crise sem precedentes na Europa

O grande herói do trabalho da antiga União Soviética nasceu na última noite de agosto de 1935, quando o mineiro Alexei Stakhanov extraiu 105 toneladas de carvão em seis horas de trabalho. A cota era de sete toneladas. A proeza do jovem operário da mina Irmino, na bacia carbonífera às margens do rio Donets, deu origem ao chamado “stakhanovismo”, um movimento de emulação entre trabalhadores com objetivo de aumentar a produtividade da economia.

Em pleno esforço de industrialização pesada da antiga Rússia e de coletivização forçada do campo (que daria origem à “grande fome” na Ucrânia), o movimento empolgou os mineiros da região e se estendeu a outros ramos da economia. A máquina de propaganda de Joseph Stálin alçou à categoria de heróis comunistas operários e agricultores que se destacaram por bater recordes de produção.

Joel Pinheiro da Fonseca: Nada de apaziguamento agora

Folha de S. Paulo

Entre a União Europeia e uma ditadura expansionista, a escolha não é difícil, mas será pela força

O imperialismo norte-americano é ruim; mas você já viu as alternativas? Nesta segunda-feira (21) tivemos o gostinho de uma delas: o preparo explícito de uma ofensiva russa contra a Ucrânia.

Claro que, hoje em dia, nenhum país admite ter ambições. Não faltaram motivos alegados no discurso agressivo de segunda à noite para reconhecer oficialmente a independência de territórios ucranianos que hoje estão parcialmente nas mãos de grupos separatistas pró-Rússia.

Agora já abriu o terreno para invadir militarmente a Ucrânia. Acusou até o governo ucraniano e as nações ocidentais de patrocinarem terrorismo islâmico.

Mas Putin foi além. Em seu discurso, a Ucrânia nada mais é do que uma criação do Estado russo soviético.

Rubens Barbosa*: Fato novo no cenário internacional

O Estado de S. Paulo

Aliança estratégica, sem limites, entre China e Rússia, pelo peso político e econômico destes países, poderá ser um marco na geopolítica global

No meio da crise entre a Rússia e a Ucrânia, no início de fevereiro, depois de encontro entre Vladimir Putin e Xi Jinping, os governos da Rússia e da China divulgaram um longo comunicado que constitui um fato novo na ordem internacional e no desenvolvimento sustentável global. Neste contexto, ressaltam a emergência de uma nova era, que deveria ser consolidada evitando o estímulo à divisão da comunidade internacional.

Na visão da segunda maior potência global (China) e do segundo país com maior capacidade nuclear (Rússia), a ordem internacional passa por profundas transformações e tornou-se multipolar, com a redistribuição de poder no mundo, o que justificaria uma interação e uma interdependência entre os países, e não o incitamento às contradições e ações unilaterais. Por isso, pedem o reconhecimento desta nova fase, cuja principal referência seriam as Nações Unidas e o Conselho de Segurança da ONU.

Sergio Amaral*: Conflagrações exigem nova política externa

O Estado de S. Paulo

Num mundo como o de hoje, não é mais possível estabelecer uma fronteira nítida entre o que é interno e o que é internacional

Os temas de política externa raramente recebem destaque em campanhas eleitorais, inclusive para presidente da República. Isso é em parte compreensível. País de dimensões continentais, seus conflitos de fronteira foram, em sua maioria, negociados pelo Barão do Rio Branco. As grandes conflagrações mundiais não chegaram a semear discórdia entre nós. Desta vez, no entanto, poderá ser diferente. Os equívocos cometidos e as oportunidades perdidas pela diplomacia das trevas que se instalou no País nos primeiros anos do atual governo demandam um amplo debate para entender os desafios, delinear correções e novos rumos. As próximas eleições serão uma oportunidade para isso.

Cristovam Buarque*: Chuva e escola

Correio Braziliense

A chuva provocou a tragédia, mas não foi culpada por ela. O que aconteceu em Petrópolis, semana passada, tem responsáveis claros: o descaso com o uso do solo urbano e a irresponsabilidade na aplicação dos recursos públicos pelos atuais dirigentes; a permanência da pobreza, apesar da riqueza nacional. Não se sabia o dia e a hora, nem a quantidade de chuva, mas sabia-se que, mais dia menos dia, em Petrópolis ou em outra cidade, dezenas de pessoas, inclusive crianças, seriam soterradas. A dor dessas famílias já vinha sendo construída. 

Anos depois de anos, governantes impuseram um desenvolvimento cujos resultados são distribuídos, provocando emigração em massa, que incha as cidades grandes, despreza a regulamentação do solo urbano, usado de maneira temerária, porque a forma mais simples de resolver falta de moradia é construindo casas em lugares onde, mais dia menos dia, serão vitimadas pela chuva. Não é por falta de aviso, a cada ano temos mais de uma tragédia desse tipo em alguma cidade do Brasil. Nossos dirigentes não cuidam do problema. Fecham os olhos ao que já aconteceu e certamente voltará a acontecer.

O que a mídia pensa: Editoriais / Opiniões

EDITORIAIS

Senado faz bem em priorizar PEC da reforma tributária

O Globo

O calendário eleitoral não deveria ser pretexto para adiar a agenda de reformas urgentes para modernizar a economia brasileira. Por isso fez bem o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), ao se comprometer com a votação do texto sobre a mudança da estrutura tributária — barafunda injusta, bizarra e freio ao crescimento. A Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 110, relatada pelo senador Roberto Rocha (PSDB-MA), deverá ser avaliada ainda nesta semana pela Comissão de Constituição e Justiça (CCJ). Assim que estiver aprovada na CCJ, Pacheco prometeu levá-la imediatamente ao plenário.

O relator apresentou sua proposta no ano passado. A nova versão que deverá ser examinada na CCJ ainda não veio a público. Se o texto não tiver sido alterado de modo substantivo, trata-se da melhor chance de o Brasil avançar na questão. Por dois motivos: ataca a complexidade da estrutura tributária e elimina impostos cumulativos.

O texto original propõe um Imposto sobre Valor Agregado (IVA) fundindo vários impostos. A diferença em relação às propostas do tipo é a criação de um sistema dual. Uma parte dos tributos ficaria com a União, a outra com estados e municípios. Ao estabelecer uma legislação nacional para o ICMS e determinar a cobrança no lugar de destino, não mais na origem, a mudança daria fim à guerra fiscal que distorce as decisões de investimento e alocação de recursos.

Poesia| Graziela Melo: A dor III

Perto

de mim

mora

uma dor!

 

Triste,

sombria,

solitária!!!

 

As vezes

ela toca

a campanhinha

de

minha alma!

 

Entreabro

a porta, apenas,

mas ela

sem cerimonia

enfia os dedos,

entra

e se instala!

 

E canta

e me encanta

e me embala!!!

 

Fico em

silêncio...

 

Mas ela chora

ela fala!

 

Triste,

minha alma

ouve,

sofre

e cala!!!!