Primeiro dia de 2023. Chovia muito na minha Lima Duarte na Zona da Mata Mineira
onde Lula ganhou com 70% de votos. Chovia tanto que o Rio do Peixe inundou
parte da Vila Cruzeiro e as estradas que ligam a cidade aos distritos ficaram
intransitáveis. Junto com a chuva, aquele friozinho típico das verdes
montanhas.
Agarrada ao cobertor liguei na Globo
admirando feliz o desenrolar de um dia histórico. Confesso certa ansiedade e um
pouco de medo de algo inusitado acontecer vindo das mentes terroristas que
semearam ódio no Brasil em nossos tempos. Mas tudo transcorria num clima de
paz, de alegria e emoção.
Cheiro de povo, cheiro de esperança, cheiro
de solidariedade.
Entrelaçava em minha mente e as vezes se
confundiam as imagens do Rei Pelé quando dedicou seu milésimo gol às crianças e
seu grito universal LOVE e as imagens da multidão na Praça dos Três Poderes e o
ritual da posse de Lula. Agarrada ao zap, trocava mensagens sobre os discursos
históricos que com certeza vou reler e ler para minha prole sempre como marco
de um novo tempo, especialmente, um tempo de paz e prosperidade para todos.
Analisei o discurso do Rodrigo Pacheco,
conciliador, fazendo jus à tradicional vocação mineira.
Cada palavra de Lula no Congresso e o
animado apoio dos presentes me levavam em cada instante a conjugar o verbo
ESPERANÇAR.
Um vídeo-tape assumiu minha mente teimosa
em defender a democracia e os valores socialistas que me acompanham pela vida
inteira. Aquele tapete humano vermelho aquecia minha alma e não resisti e ouvi
a música ”Meu Coração é Vermelho” na linda voz de Fafá de Belém.
O mar de gente na Esplanada nos faz
acreditar na profética frase de Carlos Drummond de Andrade: “Há um cheiro de
mudança no ar”, frase que se tornou um mantra na minha juventude quando
consagramos do Oiapoque ao Chuí o MDB em 1974 para o Congresso Nacional.