quarta-feira, 13 de março de 2024

O que a mídia pensa: Editoriais / Opiniões

Lula mina a confiança no Brasil

O Globo

Ao intervir na Petrobras, presidente corrói credibilidade do mercado e prejudica desenvolvimento

Todo investidor sabe que a Petrobras é uma empresa de capital misto controlada pelo governo (que detém 37% do capital). Tampouco é novidade o presidente da petroleira ser escolhido também pelo governo. E os acionistas têm conhecimento das regras de governança que a protegem do risco de interferência do Palácio do Planalto. Afinal, ter o controle não significa poder fazer o que se quer a qualquer hora, nem mudar a direção dos negócios ao sabor das próprias vontades. Quando a governança enfraquece, a empresa perde valor e, com isso, entra em xeque a credibilidade do mercado de capitais brasileiro. É exatamente o que tem acontecido em razão das atitudes do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Luiz Carlos Azedo - Um comício que marcou a história do Brasil

Correio Braziliense

Era mais útil respeitar as decisões do Congresso e convencer a sociedade de que as reformas eram necessárias, em vez de tentar impô-las, fiando-se no “dispositivo militar”

A memória do ex-presidente João Belchior Marques Goulart (PTB) será lembrada nesta quarta-feira num evento convocado pela Associação Brasileira de Imprensa (ABI), sob a presidência do jornalista Octávio Costa, a propósito dos 60 anos do Comício da Central do Brasil, em 13 de março de 1964. Estarão presentes a viúva do ex-presidente João Goulart, dona Maria Thereza; Clodsmidt Riani Filho, organizador do comício; e o jornalista, professor de literatura e ex-capitão do Exército Ivan Proença, ex-presidente do Conselho Deliberativo da ABI, que pertencera ao chamado “dispositivo militar” de Jango, como oficial de sua confiança nos Dragões da Independência.

Em 1º de abril, após impedir a invasão do Centro Acadêmico Cândido de Oliveira (Caco) da Faculdade Nacional de Direito por um grupo paramilitar de extrema-direita, ao voltar para o Ministério do Exército, Proença foi preso pelos colegas. Jango havia se deslocado para Brasília, o golpe de Estado estava consolidado. Deu errado o famoso “dispositivo” do chefe do Gabinete Militar da Presidência, Argemiro de Assis Brasil, que consistia em promoções e nomeações a comandos importantes de militares supostamente leais ao presidente da República.

Vera Magalhães - Governo acumula crises e perde primeiro trimestre

O Globo

Lula não colheu nada de bom com este começo de ano pautado pelo voluntarismo. Sua popularidade cai um pouco a cada pesquisa

Em 2024, tem sido uma constante a promessa de que a próxima semana será aquela em que o governo Lula fará deslanchar sua agenda para o ano. E, a cada semana, o que se vê é o acréscimo de alguma crise autoalimentada a um portfólio já extenso. O resultado é que o primeiro trimestre já está praticamente perdido, isso num ano cujo calendário já seria atípico, ditado pelas eleições.

Nem Freud explica por que Lula e seus ministros decidiram desperdiçar a boa colheita política e econômica de 2023 e o pior momento vivido por Jair Bolsonaro com polêmicas inúteis, revisão de velhas práticas reprovadas por amplas parcelas da sociedade e recaídas intervencionistas numa economia que vinha crescendo a 3%.

Elio Gaspari - Lula reativa um pesadelo

O Globo

Parece a volta de um pesadelo. Depois de uma desastrada carga de cavalaria em cima da ValeLula avançou sobre a Petrobras e derrubou seu valor de mercado em R$ 55 bilhões. Diante das más notícias, a repórter Malu Gaspar revelou que o presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, mostra uma carta na manga: o anúncio de um “Mar de Oportunidades”, com um programa de investimentos de até R$ 80 bilhões em plataformas, navios-sonda e barcos de apoio.

Tudo isso já aconteceu. Deu na Operação Lava-Jato, com roubalheiras confessadas, dezenas de prisões, a deposição da presidente Dilma Rousseff e um clima de descrença que desembocou na eleição de Jair Bolsonaro em 2018.

Lá atrás, as coisas pareciam simples e fáceis, comprou-se uma refinaria nos Estados Unidos, criaram-se estaleiros virtuais e, no escurinho do Planalto, adotou-se uma “contabilidade criativa” depois chamada de “pedalada”. Deu no que deu. O pesadelo voltou semanas depois da falência da Sete Brasil, a joia que produziria 28 navios-sonda para a Petrobras.

Bernardo Mello Franco - Desunião Brasil

O Globo

A disputa pelo comando do União Brasil virou caso de polícia. No fim de fevereiro, o deputado Luciano Bivar foi apeado da presidência da sigla. Perdeu a cadeira para Antônio Rueda, seu antigo aliado e parceiro de negócios.

Ao perceber que seria destronado, Bivar tentou um golpe de última hora. Numa canetada, cancelou a convenção partidária. Até aí, seguiu o manual da baixa política, pródiga em rasteiras, mumunhas e viradas de mesa.

O truque não funcionou, e o confronto ganhou novos ingredientes. As manobras deram lugar a um enredo mais quente, com relato de ameaça de morte, acusação de roubo e até um incêndio suspeito.

O fogo lambeu duas casas de veraneio: a de Rueda e a da irmã dele, atual tesoureira do União. Os imóveis ficam numa praia frequentada pela elite pernambucana. Curiosamente, Bivar é dono de outro lote no mesmo condomínio.

Roberto DaMatta - O ‘você sabe com quem está falando’ à bala

O Globo

Posso sofrer uma reprimenda que chega na forma de advertência sobre minha inferioridade

Estudei sociologicamente o rito autoritário que intitula esta crônica. Conheço-o desde menino e, como costume ou hábito, ele é parte “natural” da minha sociedade. Presenciei situações em que a ausência de reconhecimento de uma autoridade causava embaraço e produzia vergonha.

Volto ao assunto quando, horrorizado, tomo conhecimento do absurdo cruel ocorrido em Vila Valqueire, no Rio de Janeiro, onde um motoboy entregador de refeição levou um tiro por não ter se comportado convenientemente com a esposa de um cliente militar. Foi, sem dúvida, um “você sabe com quem está falando” à bala.

Insisto em que precisamos ter consciência desses hábitos autoritários embutidos em fórmulas habituais que, no discurso político populista, alimentam a proposta de prometer para não cumprir. É preciso realizar uma engenharia política capaz de neutralizar esses costumes aristocráticos, responsáveis por graduações e hierarquias em todos os lugares.

Zeina Latif - A ajuda de fora é bem-vinda, mas insuficiente para a economia brasileira

O Globo

País vive maior estabilidade cambial, mas fôlego desse cenário dependerá de Haddad conseguir segurar a deterioração das contas públicas

O comércio mundial mostra-se resiliente, apesar das turbulências globais e do protecionismo. A guerra comercial entre Estados Unidos e China levou ao aumento da participação de outros países que preencheram as lacunas deixadas — foi o caso do maior embarque da soja brasileira para a China, substituindo o produto norte-americano.

Além disso, a China segue aumentando seu peso nas trocas mundiais. Suas importações e exportações exibem melhor desempenho do que o total no mundo, o que reflete o crescimento do consumo das famílias (7,2% em 2023) em ritmo superior ao do PIB (5,2%), que desacelera.

Em meio aos riscos externos, esse quadro ajuda a blindar o Brasil. O benefício vem também do lado da inflação. Se, de um lado, há sustentação aos preços de commodities, preservando a rentabilidade das exportações, de outro, afastam-se pressões inflacionárias globais.

Fernando Exman - Voluntarismo versus estratégia de governo

Valor Econômico

Lula precisará ter paciência até que cheguem na ponta as medidas adotadas pelo governo para melhorar o ambiente econômico

Os dados da inflação divulgados nessa terça-feira (12) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram como o presidente Lula precisará ter paciência até que cheguem na ponta as medidas adotadas pelo governo para melhorar o ambiente econômico.

Pelo que se vê, com a retomada dos ataques ao presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, e da pressão sobre Petrobras e Vale, não será fácil. Mas um antigo aliado de Luiz Inácio Lula da Silva recorre a uma metáfora para explicar o motivo da necessidade de se ter mais tranquilidade: “Economia é igual chuveiro de água quente”. É porque você gira a torneira, mas demora até que a água quente chegue a quem está tomando banho. A pessoa se molha com água fria por um tempo, antes de receber sobre a cabeça as primeiras gotas que lhe darão mais conforto.

Demora. E é essa a situação atual do país, acrescenta o interlocutor.

Liste-se, então, algumas medidas já implementadas e que ainda não surtiram total efeito, na visão de integrantes do governo. Uma é o aumento real do salário mínimo. Outra a nova política de preços da Petrobras, que levou a uma maior estabilidade de preços. O Planalto também aposta na retomada de investimentos e, em outra frente, no efeito positivo sobre o consumo que a correção da tabela do Imposto de Renda pode ter.

L. C. Bresser-Pereira - Quanto mais um país se endivida, menos cresce

Valor Econômico

Déficits na conta corrente são sempre maus, mesmo se forem financiados por investimentos diretos

Era uma vez um país que poupava e investia 18% do seu PIB, quando os países que crescem rapidamente e fazem o “catching up” poupam cerca de 30%. Por outro lado, o déficit na conta corrente do país era de 2% do PIB, ou seja, o país gastava mais do arrecadava e sua dívida externa aumentava. “O que fazer?”, pergunta o governo. A solução chega rápido a ouvidos ansiosos: é tomar emprestado e crescer com poupança externa. Dez anos depois, porém, o que aconteceu? A taxa de investimento continuou a mesma e o país continuou a crescer pouco, muito pouco.

O excelente correspondente de Valor em Genebra Assis Moreira apresentou em 29/2 algumas das informações que o Human Development Report 23/24 do Pnud/ONU apresentará nos próximos dias. A história triste é que os países, muito parecidos com a nossa historieta do parágrafo anterior, estão muito endividados e semiestagnados. “De 59 economias em desenvolvimento examinadas, 32 têm notas de crédito classificadas abaixo do grau de ‘não investimento’. Pelo menos 36 estão classificadas como em risco ou em alto risco de endividamento”. Pior: “Entre 22 dos países mais pobres, o pagamento do serviço da dívida representa mais de 20% de sua receita”. E, segundo o FMI, representa 59,1% do PIB desses países.

Nilson Teixeira* - Maior cautela na gestão monetária

Valor Econômico

Ritmo de corte de 25 pontos-base permitiria uma sintonia fina dos juros e uma maior sincronia com o esperado início do ciclo de cortes nos EUA, Reino Unido e zona do euro

A estrutura a termo da taxa de juros de 8 de março embute corte da taxa Selic nas reuniões do Copom de 52 pontos-base (pb) em março, 45 pb em maio, 36 pb em junho, 22 pb em julho e 12 pb em setembro, alcançando 9,43% no fim do ano. Já o relatório Focus da mesma data indica redução de juros de 50 pb por seguidas reuniões, com a taxa Selic alcançando 9% em dezembro.

Alguns participantes do mercado têm defendido um afrouxamento monetário mais acelerado ou, ao menos, por um período mais prolongado. Apesar da recente inflação ao consumidor ligeiramente mais alta, o argumento é de que essa estratégia ainda manteria a taxa Selic em patamar contracionista, sem pressionar a inflação e, portanto, sem trazer riscos relevantes para sua convergência para o centro da meta de 3%.

Lu Aiko Otta - Mais uma sombra sobre o arcabouço

Valor Econômico

Dentro da equipe econômica, a declaração do presidente Lula acendeu sinais de alerta, mesmo se tratando de fala política

Pode parecer estranho, neste momento em que se fala em bloqueio de despesas do Orçamento, mas não é impossível que o governo anuncie, em maio, uma expansão de gastos de R$ 15 bilhões a R$ 20 bilhões. Embora já previsto na lei do arcabouço, é algo que pode se misturar com as reações do governo ao cenário negativo mostrado por recentes pesquisas de opinião.

Se a arrecadação seguir forte como o visto neste início de ano e se for possível projetar, até dezembro, um resultado fiscal melhor do que um déficit de R$ 28 bilhões (o que indicará o cumprimento da meta dentro da margem de tolerância), poderá haver um crédito suplementar ao Orçamento.

São hipóteses bastante otimistas, mas consideradas factíveis por fonte da área técnica. É uma possibilidade válida apenas para este ano.

Marcelo Godoy - O favor de Moraes para o Exército

O Estado de S. Paulo

Decisão de ministro sobre Bolsonaro é alerta para Tarcísio deixar política fora dos quartéis

No dia 7 de março, o ministro Alexandre de Moraes registrou no inquérito das milícias digitais uma decisão inédita na história das Forças Armadas: proibiu a presença de generais e de um ex-presidente em suas solenidades. A decisão do ministro atinge 22 suspeitos de participar da tentativa de golpe contra o resultado das eleições de 2022.

Eles foram proibidos de comparecer a cerimônias, festas ou homenagens no Ministério da Defesa, na Marinha, na Aeronáutica, no Exército e nas PMs. Entre os atingidos estão Bolsonaro e os generais Braga Netto, Paulo Sérgio de Oliveira, Estevam Theophilo e Mário Fernandes. Ou seja, um ex-presidente, dois ex-ministros da Defesa (Oliveira e Braga Netto), um ex-chefe de Operações Terrestres (Theophilo) e outro de Operações Especiais (Fernandes) não podem pisar nos quartéis nem mesmo no Dia do Soldado.

Paulo Delgado* - Trump surfa no caos

O Estado de S. Paulo

O que se passa nos EUA não são acontecimentos políticos, é uma atmosfera de decadência das estruturas que refletem as injustiças sociais 

Não há nada misterioso em política. Nem o extravagante é mais encenação. A linguagem falseadora do político de distorcer dificuldades para agravar sentimentos de aversão visa a mascarar a impossibilidade de falar por todos. Os EUA têm motivos para perceber que a democracia poderá ser derrotada por novas circunstâncias: não tem mais peso suficiente para impedir que o feitiço do desprezo tolerante – que finge aceitar a diferença, mas atrofia a esperança de justiça para todos – evite a demagogia dos feiticeiros da intolerância. Donald Trump é o mais melancólico aproveitador das angústias do povo. Soube projetar sua amargura elitista contra a democracia na alma de gente apavorada com a hostilidade social, política e econômica que não arrefece com mudança de governo.

O que se passa nos EUA não são acontecimentos políticos, é uma atmosfera de decadência das estruturas que refletem as injustiças sociais. Combina o abuso do líder que não abre mão de querer seduzir continuamente o cidadão, misturado aos aspectos polêmicos da agressividade de expressão incitadora da discriminação que domina nossa época. Há no mundo cada vez mais sócios da necessidade de transgredir prestigiando pessoas de mau gosto. Tudo facilitado pela falência da escola, a epidemia de tecnologia, o fim da cultura clássica e erudita, a pressa em usufruir, a regressão do bom gosto vocabular e auditivo, a fala e o ouvido infantis, a ilusão de que a riqueza se distribui naturalmente. Um conformismo social geral de um povo que não sabe se é contra ou a favor, desconhece quem lhe causa sofrimento, aceita que ideias podem ser transportadas por palavrão ou aviões de guerra.

Donald Trump está ensaiando seu retorno ao poder de onde nunca saiu por inteiro. Suas chances de vitória são reais. Ainda que Joe Biden siga sendo o favorito, parte do mundo vislumbra o contrário.

Nicolau da Rocha Cavalcanti* - ‘Non ducor, duco’

O Estado de S. Paulo

Sob pretexto de cuidado com o Brasil, podemos estar reféns de mensagens que distorcem nossa percepção sobre a realidade do País

Não raro, vem um sentimento de indignação e de tristeza a respeito dos rumos do País. Chegam-nos notícias sobre mau uso de recursos públicos, decisões contraditórias do Supremo Tribunal Federal (STF) ou atos do governo federal que nos parecem repetição de erros passados. Tudo isso nos abate. Muitas vezes, nem sequer são notícias propriamente ditas, mas mensagens compartilhadas pelo WhatsApp, cuja origem não sabemos ao certo. No entanto, mesmo sendo pouco confiáveis, elas também afetam nosso estado de ânimo. Não só frustrados. Sentimo-nos enganados, feridos em nossa cidadania.

Depois, esse sentimento reflete-se nas conversas familiares, nos ambientes profissionais, nos círculos sociais. De forma espontânea, acabamos falando de assuntos sobre os quais temos objetivamente pouco conhecimento, mas que nos revoltam internamente. Daí surgem discussões, atritos, novas incompreensões, o que alimenta a frustração. O País com o qual sonhamos está distante não apenas nas decisões de Brasília, mas na própria mesa de jantar ou no grupo dos amigos da faculdade.

Wilson Gomes* - Não dê munição ao inimigo

Folha de S. Paulo

A inviabilidade da crítica política é sempre um péssimo sintoma

Em hipótese alguma deve-se dar munição ao inimigo. Embora a metáfora remeta a um contexto de guerra, ninguém envolvido em um conflito armado precisa desse conselho, que em geral se dá para pessoas em outras situações competitivas, alertando-as de que o menor descuido pode ser usado pelo oponente.

Certifique-se de não facilitar o trabalho do inimigo ao fornecer argumentos, falas e exemplos que possam ser usados contra você.

O aviso "não dê munição ao inimigo" está hoje em toda parte, refletindo a ideia geral de que vivemos uma guerra permanente e que o nosso lado não pode expor as próprias fragilidades se não quiser que o inimigo as use para nos atacar. Se você pensa que isso acontece na política, está muito enganado. Fãs de Beyoncé vivem conflitos internos neste momento porque há "beyfãs" falando mal do filme "Renaissance".

Vinicius Torres Freire - O rolo bananeiro na Petrobras

Folha de S. Paulo

Após muita fofoca e politiquice, ainda falta contar o básico da decisão da empresa

O vexame da Petrobras amainou. O que aconteceu, ainda não se sabe, apesar de quatro dias de fofoca rasteira, vazamento talvez criminoso de rumores que influenciam preços, plantação de notícias e guerra de facções no governo a respeito do motivo de a empresa não ter pago dividendos extraordinários.

Ou melhor, do motivo de a maioria governista do Conselho de Administração ter votado contra tal distribuição adicional de lucros.

De novidades relevantes, até agora, tem-se que Fernando Haddad, o ministro da Fazenda, foi chamado ou interveio para racionalizar o sururu, outra vez, e ganhou uma cadeira no Conselho da companhia; que a empresa vai reapresentar contas que baseiem a decisão de pagar ou não os tais dividendos extras.

Não pagar pode ser até uma decisão razoável. A perspectiva, até sexta-feira passada, era que algum extra seria pago, hipótese baseada em apresentação que a direção da Petrobras no final de janeiro, em Nova York, para investidores. Mais sobre isso mais adiante.

Mariliz Pereira Jorge - Prezado Lula

Folha de S. Paulo

Não adianta ignorar traumas profundos, eles voltam para nos perturbar

Presidente, entendo que o senhor prefira fugir de questões desconfortáveis. Todos fazemos isso. É mais fácil ignorar velhas dores do que encará-las. O problema é que traumas profundos permanecem silenciosos até que voltam a nos perturbar como músicas irritantes que grudam no cérebro dias a fio. Foi o que aconteceu nos últimos anos, quando o hino nacional embalou um projeto golpista. Dá para acreditar que falaríamos sobre ditadura na segunda década do século 21?

Veja, eu não era nem nascida em 1964. Quando o Brasil recuperou a democracia, nem entendia o valor da liberdade. Só adulta tomei conhecimento das violações generalizadas, da censura, das perseguições políticas, das torturas e das mortes. Mas há brasileiros que não sabem ou não acreditam nas atrocidades cometidas neste país tão alegre, tão do bem, tão da galera, por pura negligência do Estado, que nunca foi capaz de encarar os esqueletos escondidos na caserna.

Hélio Schwartsman - Ecologia do extremismo

Folha de S. Paulo

Partidos da direita radical da Europa Ocidental são menos tóxicos do que os de outras partes do mundo

O Chega, partido de extrema direita de Portugal, foi o grande vitorioso no pleito do último domingo (10). A sigla saltou de 12 para 48 deputados, quadruplicando sua representação. Deve, porém, ficar fora do governo. É que a coalizão de centro-direita que deverá ser convidada a formar o próximo governo promete excluir os extremistas das negociações. Vamos torcer para que consiga. Extremismo e democracia são duas coisas que não combinam muito bem.

De todo modo, é importante notar que, na ecologia das extremas direitas, a variante que prevalece na Europa Ocidental é menos tóxica que suas congêneres das Américas e do Leste Europeu. O "menos tóxica" aqui está, ao menos para mim, longe de significar aceitável. A pauta dessas legendas é anti-Europa, anti-imigração e anti-Islã. Elas fazem apelos vagos aos "valores tradicionais" e dão pouca ênfase à agenda ambiental, quando não a combatem abertamente.

Paul Krugman* - Tráfico sexual, mentiras e imigração

Folha de S. Paulo

Houve uma mudança palpável na retórica republicana, afastando-se dos ataques à economia e em direção a advertências sobre imigrantes

Na última quinta-feira, Katie Britt, senadora do Alabama, deu uma resposta em nome dos Republicanos ao discurso do Estado da União. Sua performance exagerada foi amplamente zombada; isso é aceitável para programas de TV noturnos, mas eu não vou me juntar a esse coro.

O que eu quero fazer é focar no ponto central dos comentários de Britt, uma história profundamente enganosa sobre tráfico de pessoas que ela usou para atacar o Presidente Biden.

O uso da história - que acabou envolvendo eventos no México lá atrás, quando George W. Bush era presidente - não foi tecnicamente uma mentira, já que ela não disse explicitamente que aconteceu nos Estados Unidos durante o mandato de Biden. No entanto, ela disse: "Não ficaríamos bem com isso acontecendo em um país do terceiro mundo. Este é os Estados Unidos da América, e já passou da hora de agirmos como tal. A crise na fronteira do Presidente Biden é uma vergonha."

Isso é uma clara tentativa de enganar — o equivalente moral a uma mentira — e a redação cuidadosa sugere que ela sabia que estava sendo enganosa e queria uma saída caso alguém a desafiasse.

Cláudio Carraly* - Uma noite que não existiu – Que pena!

Era uma noite daquelas que parecem destinadas a conversas profundas, no qual as ideias fluem como o vinho nas taças, o bar estava agitado, mas nossa mesa, embalada por risadas e diálogos, era uma ilha de intensa reflexão. Quatro mulheres extraordinárias - Simone de Beauvoir, Angela Davis, Patrícia Galvão a Pagu e Rosa Luxemburgo - se encontravam para compartilhar suas visões sobre o mundo, Simone, com seu ar intelectual e um leve toque de ironia, iniciou a conversa. "Meninas, nesta noite, podemos esquecer por um momento as amarras sociais que nos cercam, vamos explorar os confins da liberdade e da existência feminina."

Angela, com sua expressão firme e penetrante, concordou, "Simone, você sempre traz uma perspectiva única, mas não podemos esquecer que a luta pela liberdade é também a luta por justiça social, que se estende além das barreiras de gênero." 

Pagu, sempre irreverente, interveio com uma risada. "Angela, minha cara, você tem toda razão, mas, convenhamos, a revolução precisa ser vivida com paixão e prazer, afinal, como eu já disse uma vez, 'é proibido proibir'."

Fundação Astrojildo Pereira lança segundo volume sobre a história do PCB


Livro reconstitui a trajetória do Partidão na luta contra a ditadura e na formação da frente democrática que redemocratizou o Brasil

Um evento imperdível para quem milita, simpatiza, e quer saber mais sobre a história do nosso Cidadania: na próxima quinta, dia 14, na Taberna da Glória, os queridos companheiros Roberto Percinoto e Eumano Silva fazem um lançamento compartilhado com sessão de autógrafos de dois livros que são verdadeiros documentos. 

Percinoto, secretário-geral do Cidadania RJ, conta sua trajetória de lutas, que se mistura com a do partido, em “Uma vida bem vivida do campo para a cidade”. Já o jornalista Eumano, escreveu o segundo volume de “Longa jornada até a democracia”, que faz parte do projeto de reconstituição da história do PCB. 

Vale muito a pena conferir!!!

O livro-reportagem “Longa jornada até a democracia – Volume II” conta a história do Partido Comunista Brasileiro (PCB) no enfrentamento à ditadura e na redemocratização do país. Lastreada em documentos oficiais inéditos, entrevistas, reportagens e farto material bibliográfico, a obra editada pela Fundação Astrojildo Pereira recompõe a trajetória do Partidão – apelido do PCB – de 1967 até 1992.

Escrito pelo jornalista Eumano Silva, o livro reproduz o clima sombrio da Guerra Fria, com relatos minuciosos sobre a vida clandestina de dirigentes e militantes, fugas, prisões, torturas, mortes e desaparecimentos de comunistas. O roteiro de histórias entrelaça personagens que parecem saídos dos romances policiais, como espiões e informantes infiltrados pela repressão nas organizações de esquerda. Mostra também o trabalho silencioso, e essencial para o partido, de caseiros, motoristas e distribuidores de jornais.