terça-feira, 10 de dezembro de 2024

O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões

Queda da tirania de Assad é razão para celebração

O Globo

Mas futuro da Síria, nas mãos de grupos jihadistas, desperta preocupação e traz incerteza à região

A realidade convulsiva do Oriente Médio ganhou novo capítulo com a queda da ditadura da família Assad, que governou a Síria por mais de 50 anos. O exílio de Bashar al-Assad na Rússia marca o fim do regime tirânico iniciado por seu pai, Hafez. Os dois governaram o país na base da repressão e da tortura, financiados por aliados externos. Somente na década passada, mais de 300 mil morreram numa guerra civil sangrenta que opôs milícias e facções religiosas, em que as forças de Assad chegaram a usar armas químicas contra o próprio povo. Com a vitória dos rebeldes, celebrações pelo fim da era Assad despontaram na capital, Damasco, pelo país e pelo mundo. Mas os casos de tiranias recentes também derrubadas no Oriente Médio — como Saddam Hussein no Iraque ou Muammar Gaddafi na Líbia — são suficientes para despertar preocupação com o futuro.

Antonio Lavareda: Quem evitou golpe em 2022 em última instância foram os EUA

Anna Satie / UOL

Para o cientista político Antonio Lavareda, não foi a consciência das Forças Armadas, mas a posição do governo dos Estados Unidos que frustrou os planos golpistas para manter Jair Bolsonaro (PL) no poder em 2022.

Em entrevista ao UOL, o analista disse que os comandantes brasileiros não podem levar o crédito pela manutenção da democracia quando as investigações mostram que eles tinham conhecimento prévio da trama e não fizeram denúncia alguma.

Ele destaca que, durante o processo eleitoral daquele ano, enviados pelo presidente Joe Biden se reuniram com os chefes das Forças Armadas e deixaram claro que o país não apoiaria uma ruptura institucional.

Forças Armadas do Brasil e dos EUA têm ligação histórica

Em pé de guerra - Merval Pereira

O Globo

O ambiente hoje no Congresso é mais favorável a um recrudescimento do sentimento de polarização política que de pacificação, levando a reforma ministerial a ser a única solução para apaziguar os ânimos

A recusa do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Flávio Dino em rever detalhes de sua decisão sobre o pagamento das emendas parlamentares, mudança solicitada pela Advocacia-Geral da União (AGU), fez aumentar o clima de revolta entre os parlamentares, que se recusaram a dar quórum para o início do debate da reforma tributária na Comissão de Constituição e Justiça do Senado.

As prioridades do Congresso não são as mesmas do país — reforma tributária, pacote fiscal, corte de gastos, entre outros. Como está em jogo a disputa para as presidências da Câmara e do Senado, a maior preocupação dos deputados e senadores é agradar aos eleitores — dentro do Congresso, não os nacionais, que os elegem. Há muito pouco tempo para aprovar tudo o que precisa — faltam dez dias para o recesso.

Juros, novo BC e crise política - Míriam Leitão

O Globo 

Conflito entre o Supremo e Congresso sobre as emendas trava votações importantes em uma semana já tensa com a alta maior dos juros

Esta última reunião do Copom do ano e da gestão de Roberto Campos Neto é a mais importante em muito tempo. O Banco Central deve acelerar de novo a alta dos juros. Um grande número de bancos e consultorias projetam uma alta de 0,75 ponto percentual na Selic, para 12%, com algumas apostas chegando a 1 ponto percentual. O clima de país em crise se espalhou entre operadores e dirigentes de instituições financeiras. Desde a última reunião, o dólar subiu de R$ 5,67 para R$ 6,08 e a inflação no acumulado de 12 meses ultrapassou o teto da meta. Com o IPCA a ser divulgado hoje, deve chegar a 4,8%, mesmo número da mediana das previsões do Focus para o ano.

A nova fase da IA – Pedro Doria

O Globo

Os sistemas devem sair trabalhando sem que alguém dê o comando

Na semana passada, Sam Altman se sentou no palco da conferência DealBook, do jornal New York Times. O CEO da OpenAI encarou uma entrevista de pouco mais de meia hora com o jornalista Andrew Ross Sorkin, em que o destaque veio ali pelo meio.

— A AGI está bastante próxima. Vem, talvez, já no ano que vem — afirmou Altman.

A sigla em inglês quer dizer inteligência artificial geral. Mais frequentemente, é descrita de forma mais simples: aquele momento em que inteligências artificiais igualam ou superam a humana.

Uma pausa dramática se faz necessária. Altman sugeriu que IAs podem superar a inteligência humana brevemente. Talvez no ano que vem.

Síria preocupa o Brasil por razões humanitárias - Luiz Carlos Azedo

Correio Braziliense

Temos uma comunidade de 5 milhões de sírios e libaneses, plenamente integrada e concentrada em São Paulo, Paraná, Minas Gerais e Rio de Janeiro

Depois que rebeldes derrubaram o ditador Bashar al-Assad e tomaram o controle do país, o governo federal decidiu retirar as equipes técnicas e diplomatas que estavam em Damasco, que se deslocaram para o Líbano, onde deverão embarcar para o Brasil num avião da Força Aérea Brasileira (FAB). Cerca de 3,5 mil brasileiros vivem na Síria e foram aconselhados a deixar o país.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva acompanha a situação com cautela, como as demais chancelarias do mundo. Estados Unidos, Turquia, Israel, Rússia e Irã estão envolvidos diretamente na crise síria. A ditadura al-Assad foi implantada logo após a Guerra dos Seis Dias, com apoio da antiga União Soviética, quando a Síria, Egito e Jordânia, entre outros países árabes, foram derrotados por Israel. Durante a guerra civil do Líbano, chegaram a ocupar grande parte do país.

Decisão de Dino enfraquece o Congresso em negociação com governo - César Felício

Valor Econômico

Nos corredores da Câmara, comenta-se que movimento sugere uma aliança tática entre o Judiciário e o Executivo para fragilizar o Legislativo

A decisão do ministro Flávio Dino, do Supremo Tribunal Federal, de manter o cabresto sobre as emendas parlamentares, tomada nesta segunda-feira (9), não surgiu sozinha. Apareceu junto com o crescimento das especulações sobre a abertura de espaço na Esplanada dos Ministérios para acomodar interesses do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG).

Este possível movimento em pinça sugere uma aliança tática entre o Judiciário e o Executivo para fragilizar o Congresso, segundo se comenta nos corredores da Câmara. E essa é uma ofensiva que contou com o efeito surpresa.

Deputados e senadores esperavam um recuo de Dino, depois que o advogado-geral da União, Jorge Messias entrou na semana passada com um pedido de reconsideração de três pontos na deliberação do ministro de condicionar a liberação do pagamento das emendas a critérios de transparência e controle e limites para seu crescimento.

O Congresso entre o currículo e a ficha corrida - Maria Cristina Fernandes

Valor Econômico

Parlamentares esticam a corda com o Supremo ignorando o risco de um desfecho policial

Eram 16h desta segunda-feira quando o senador Marcos Rogério (PL-RO), vice-presidente da Comissão de Constituição e Justiça, abriu a sessão em que seria feita a leitura do relatório do senador Eduardo Braga (MDB-AM) da regulamentação da reforma tributária. Fechou 10 minutos depois, quando o painel registrava presença de seis senadores, sendo dois governistas. Alegou que as deliberações precisam de 14 dos 27 senadores do colegiado, mas a leitura do relatório poderia ter sido feita enquanto o quórum se adensava, mas não havia lideranças governistas para o alerta. Quando o relator chegou, o plenário estava vazio.

Conselhos de um linguista ultraliberal - Pedro Cafardo

Valor Econômico

Não há pilhas de projetos para obrigar o uso da linguagem neutra, mas há para a proibi-la, comenta Caetano Galindo

O professor Caetano W. Galindo, da Universidade Federal do Paraná (UFPR), esteve em São Paulo no fim de outubro para uma conferência na Fapesp. Ao entrar no hotel onde ficou hospedado, pediu ao recepcionista um ferro para passar a camisa.

“Não temos o ferro no quarto, mas podemos emprestá-lo ao senhor”, disse o atendente, em linguagem protocolar e culta. Mas em seguida perguntou: “O senhor também precisa da ‘tauba’?” E logo corrigiu-se: “Desculpe, precisa da tábua?”.

Galindo, linguista ultraliberal e autor do livro “Latim em pó”, um sucesso de vendas lançado no ano passado, conta que teve vontade de pegar a mão do recepcionista e dizer:

“Não, meu amigo, ‘tauba’ é mais legal. É uma adequação fonética previsível aos padrões da estrutura da língua portuguesa. ‘Tauba’ é palavra nossa, legítima. Tábua é o que é a variedade escolar europeizada, imposta pelas elites brasileiras que se mantiveram em estreito contato com Portugal no século XIX. Elas a trouxeram para o Brasil, a impuseram e depois criaram um sistema de educação para dizer que você não sabe falar a sua própria língua”.

Passo histórico - Eliane Cantanhêde

O Estado de S. Paulo

A comemoração do acordo entre Mercosul e União Europeia (UE) só durou uns poucos dias e a expectativa para que se torne realidade pode consumir muitos meses, ou anos, depois de um quarto de século de pressões, negociações, idas e vindas, muxoxos e caras feias. Na verdade, porém, esse acordo é importantíssimo para os dois blocos, particularmente para o Brasil, e não “apenas” pelo impacto nas importações e exportações em condições camaradas, mas muito além disso.

Mais do que um acordo comercial, trata-se de uma parceria estratégica entre os 27 países europeus e os quatro sulamericanos que envolve redução de tarifas de produtos de diferentes setores, num mercado que passa de 700 milhões de pessoas, mas também um diálogo político e a cooperação em várias áreas que podem impulsionar o crescimento econômico e a competitividade da indústria e da própria agricultura brasileiras.

A comunicação é o mordomo da política - Carlos Andreazza

O Estado de S. Paulo

O governo Lula já identificou o problema. A culpa é da comunicação. Sempre é. Se a cousa não vai bem, ou não tão bem quanto forçaria a propaganda, a responsabilidade tomba sobre o mensageiro. Padrão. Será o máximo concedido à autocrítica. Indisposto – o que comunica mal – a avaliar o que haveria para comunicar. Indisposto – o que comunica mal – a avaliar se haveria tanta coisa (boa) assim para comunicar.

Não é a primeira vez que este governo atribui seus reveses – suas dificuldades – à comunicação. Terá talvez algo a ver com promessas-adiamentos de final de ano. Vai melhorar no que vem. Junto com a nova dieta. Junto com um pacote de corte de gastos que corte gastos. Junto com o BC socialmente sensível de Galípolo.

Mercosul revigorado - Rubens Barbosa

O Estado de S. Paulo

Com a futura assinatura do acordo com a UE, o bloco sul-americano pode iniciar um círculo virtuoso de inserção internacional

A reunião presidencial do Mercosul, em Montevidéu, na semana passada, foi uma das mais importantes desde sua criação em 1991, em função da decisão dos países do Mercosul e da União Europeia (UE) de dar por concluída definitivamente a negociação do acordo de parceria em discussão há 30 anos.

Com a futura assinatura do acordo com a UE, o Mercosul sai do isolamento e pode iniciar um círculo virtuoso de inserção internacional. Foi assinado acordo comercial com o Panamá e iniciadas conversações com os Emirados Árabes Unidos.

Ninguém desce do palanque - Joel Pinheiro da Fonseca

Folha de S. Paulo

A discussão pública nunca para, e é preciso estar sempre contando sua narrativa

Uma das críticas mais inócuas de nossos tempos é dizer que um político "não desceu do palanque" depois que foi eleito. Ela é inócua porque, hoje, o tempo de campanha nunca termina mesmo. É preciso estar sempre contando sua narrativa para impedir que as narrativas dos adversários dominem a discussão pública, que nunca para. O único político que pode se dar ao luxo de descer do palanque é aquele que se aposentou.

Todos nós vivemos na mesma sociedade, mas cada um tem uma percepção parcial e limitada dela, sempre mediada por preferências e projeções. Sua vida hoje está melhor ou pior do que há cinco anos? É até difícil começar a medir uma coisa dessas. Expandir isso para o Brasil inteiro, então, é mais imaginação do que qualquer outra coisa. Dados nos ajudam a montar uma percepção um pouco mais calcada numa realidade objetiva, mas mesmo eles deixam muitas lacunas, podem retratar aspectos contraditórios dessa realidade e simplesmente não alcançam muitas das áreas mais importantes da vida.

Dino rejeita pedidos do governo e mantém regras para emendas parlamentares

Cézar Feitoza / Folha de S. Paulo

STF criou restrições para emendas, e Congresso ameaça retaliar governo em corte de gastos

O ministro Flávio Dino, do STF (Supremo Tribunal Federal), rejeitou nesta segunda-feira (9) um recurso da AGU (Advocacia-Geral da União) do governo do presidente Lula (PT) que pedia mudanças na decisão do tribunal sobre as emendas parlamentares.

Na decisão, Dino diz que "não há o que reconsiderar" da decisão do plenário do Supremo porque as novas regras estipuladas "derivam diretamente" da Constituição e da Lei de Responsabilidade Fiscal.

As emendas são uma forma pela qual deputados e senadores conseguem enviar dinheiro para obras e projetos em suas bases eleitorais e, com isso, ampliar seu capital político. A prioridade do Congresso tem sido atender seus redutos eleitorais, e não as localidades de maior demanda no país.

Lula no país das maravilhas – Dora Kramer

Folha de S. Paulo

Comunicação só é eficaz quando o público reconhece a boa qualidade do produto

Desde que os índices de popularidade engataram uma linha descendente, o presidente Luiz Inácio da Silva vem insistindo na ideia de que o problema do governo é a comunicação ruim.

Na semana passada, indicou que o talento para "vender" suas realizações será um dos critérios, talvez o primordial, para a reforma ministerial prevista para 2025. Chegou a fazer mea-culpa e chamou a si a tarefa de dialogar mais e melhor com a população.

A esfinge argentina - Alvaro Costa e Silva

Folha de S. Paulo

O capitão deveria ter arranjado uma irmã Igual à do presidente argentino

Você já reparou que agora Bolsonaro vive dando entrevistas? Ao contrário do tempo na Presidência, nenhuma pergunta fica sem resposta —mesmo que esta não faça sentido, seja uma deslavada mentira ou não corresponda ao que foi perguntado. O mais notável é o tratamento destinado aos jornalistas, quase civilizado. Não se pode dizer que o capitão virou uma flor de candura, mas as patadas ficaram no estábulo.

Em recente vídeo gravado para a reunião da internacional direitista em Buenos Aires, mais uma vez se revelou a sua metamorfose espiritual. Humilde, ele culpou a pandemia e a Guerra da Ucrânia (!) pelo fracasso de sua administração e elogiou Javier Milei, que hoje antagoniza com Lula.

Uma loa do Natal - Ricardo José de Azevedo Marinho*

Uma loa do Réveillon

Embora seu título tenha sido traduzido como Um Conto de Natal e não como uma canção ou vilancico natalino, o livro de Charles Dickens (1812-1870) foi escrito em menos de um mês originalmente para pagar dívidas, mas tornou-se um dos maiores clássicos natalinos e é uma obra curta, uma “nouvelle”, como diriam os franceses, que aborda temas universais em torno de histórias que acontecem no Natal. Publicado em 1843 na Inglaterra vitoriana e no preludio da segunda revolução industrial, tem todas as características dos escritos de Dickens, humanidade, dor, pobreza, injustiça e redenção. Embora possa parecer, não é uma ficção apenas para crianças e/ou adolescentes, mas para o público em geral. Li-o quando menino e causou-me uma grande impressão e tornou-me um leitor de Dickens para sempre. Agora que sou mais velho, não desprezo reler suas obras.

Poesia | Poesia | Graziela Melo – Pardos dias

Pardos dias
que se vão
ao longo
do meu viver

O entra
e sai
da agonia,

olhando
a casa
vazia

desde
a noite
ao sol nascer!

Os sons
longínquos
da alma,

exíguos
e já
rarefeitos,

se assemelham
aos tristes
sinos

que badalam
na solidão,

quando o sol
já vai fugindo,

e o céu
se avermelha
antes da
escuridão.