segunda-feira, 14 de julho de 2025

O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões

Reação ao tarifaço deve proteger soberania e economia brasileiras

Valor Econômico

A resposta à agressão do presidente Trump deve, na medida do possível, sempre resguardando a nossa soberania, ser calibrada de forma a preservar nossas cadeias de valor

O Brasil é uma economia fechada, e nossas exportações para os Estados Unidos representam menos de 2% do Produto Interno Bruto (PIB). Mas não há  engano: o conflito tarifário desencadeado pelo presidente Donald Trump pode ter repercussões negativas de curto, médio e longo prazos sobre nossa economia.

Por isso, as negociações e eventuais medidas de reciprocidade adotadas pelo Brasil devem ser, ao mesmo tempo, firmes na defesa da soberania nacional, diante da inaceitável carta do presidente dos EUA, Donald Trump, e inteligentes  para resguardar os interesses econômicos do país.

Reportagem publicada pelo Valor nesta sexta (11/7) mostra como, a essa altura, é difícil avaliar o prejuízo potencial ao Brasil. Do ponto de vista macroeconômico, as estimativas dos especialistas são muito amplas. De um lado,  indicam uma perda, em termos de crescimento do PIB, de até 0,3% em 2025 e de até 0,5% em 2026. De outro,  apontam  impacto mais moderado, de 0,05% do PIB em 2026.

STF: Barroso divulga carta sobre tarifaço de Trump e faz defesa da democracia

Guilherme Pimenta / Valor Econômico

O presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Luís Roberto Barroso, divulgou uma carta na noite deste domingo sobre o tarifaço imposto pelo presidente Donald Trump ao Brasil, ao fazer uma longa defesa da democracia brasileira e do Poder Judiciário. Segundo ele, as sanções impostas "por um tradicional parceiro comercial" foram "fundadas em compreensão imprecisa dos fatos ocorridos no país nos últimos anos".

O republicano, ao anunciar a tarifa de 50% sobre os produtos brasileiros importados pelos Estados Unidos, afirmou que o Brasil faz uma "caça às bruxas" ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), que é réu no Supremo, acusado de tentativa de golpe de estado em 2022, quando perdeu as eleições para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

O presidente americano também criticou decisões do Judiciário brasileiro contra big techs. Barroso afirma no início do documento que "cabia ao Executivo e, particularmente, à Diplomacia – não ao Judiciário – conduzir as respostas políticas imediatas, ainda no calor dos acontecimentos".

Passada a reação inicial, pontuou, "considero de meu dever, como chefe do Poder Judiciário, proceder à reconstituição serena dos fatos relevantes da história recente do Brasil e, sobretudo, da atuação do Supremo Tribunal Federal".

O fim dos honorários e o ajuste fiscal sem impostos - Bruno Carazza

Valor Econômico

Advogados públicos têm a receber fundo bilionário da União, e o fazem sem nenhuma transparência

Desde que a discussão sobre os supersalários ganhou manchetes e editorais na imprensa brasileira, muito se tem criticado juízes e membros do Ministério Público por estarem recebendo centenas de milhares de reais a mais do que estabelece a Constituição. Mas eles não estão sós.

Existem outras categorias que também burlam as regras constitucionais e estão ganhando tanto que chegam a provocar inveja dos togados do sistema judiciário.

Depois de uma intensa campanha de lobby, os advogados públicos conseguiram inserir no novo Código de Processo Civil (CPC) um dispositivo que lhes garantem, além do pagamento da remuneração básica, também honorários de sucumbência - uma verba paga pela parte derrotada numa ação judicial, até então restrita aos advogados privados.

BC precisa de socorro para lutar contra as fraudes - Alex Ribeiro

Valor Econômico

A realidade preocupante é que faltam ao Banco Central funcionários em número suficiente e o dinheiro necessário para investir em tecnologia, o que deixa o sistema vulnerável e sob risco de gerar crises bancárias

O delegado de crimes cibernéticos da Polícia Civil de São Paulo, Paulo Barbosa, disse ao repórter do Valor Álvaro Campos que algumas das fintechs envolvidas na fraude que permitiu o roubo de dinheiro em contas de reservas bancárias, que já chega a mais de R$ 1 bilhão, estão em nomes de laranjas, com os reais donos vivendo em outros países.

Isso significa que o Banco Central terá que fazer um saneamento nas instituições de pagamento que fazem parte do ecossistema do Pix, retirando de circulação aquelas que agiram diretamente em práticas criminosas ou que foram negligentes na aplicação dos controles legais.

Mais: será preciso uma revisão completa na regulação de pagamentos, que criou os incentivos errados ao privilegiar a competição em detrimento da segurança do sistema, abrindo flancos.

As lições do tarifaço - Diogo Schelp

O Estado de S. Paulo

Tarcísio demorou para entender o significado da medida de Trump e de suas motivações

Sempre existiu incompatibilidade entre a pretensão de se mostrar um gestor pragmático e o papel de fiel escudeiro de Jair Bolsonaro, mas Tarcísio de Freitas costumava agir como se fosse possível conciliar as duas coisas. Até que, na semana passada, a realidade cobrou o seu preço.

O “gestor pragmático” descobriu — surpresa! — que as empresas, os agropecuaristas e os trabalhadores de São Paulo, o Estado que ele tem a responsabilidade de governar, serão os mais afetados pelo tarifaço de Donald Trump, a punição coletiva aos brasileiros pela qual a família do seu padrinho vinha trabalhando ativamente.

Sanções para o Brasil “de Lula”, esse era o desejo declarado dos Bolsonaro, a ponto de um deles ter se instalado nos Estados Unidos para realizá-lo.

Trump e o Brasil - Denis Lerrer Rosenfield

O Estado de S. Paulo

O País não pode se curvar a tais mandamentos, seja por dignidade nacional, seja por suas próprias instituições

Agem os Estados politicamente em relação aos outros países, defendendo seus interesses econômicos, seus privilégios e suas posições geopolíticas, seja por meios diplomáticos, seja pela força militar. Não há anjos nesse meio, mas utilizando uma fórmula de Maquiavel, são centauros, metade homens, metade bestas, isto é, entidades racionais e selvagens, fazendo uso da força quando melhor lhes aprouver. Devem, portanto, medir suas palavras – que são modos da ação –, pois delas produzem consequências que podem ou não ser desejáveis. Seguem preceitos de ação que lhes assegurem posições estratégicas, que lhes parecem como defensáveis. Discursos mal colocados e narrativas ideológicas certamente suscitarão reações, frente às quais cada Estado deverá saber como agir. Se não o souber, será refém de suas impropriedades.

Três vias para fazer Trump recuar - Oliver Stuenkel

O Estado de S. Paulo

Incerteza decorrente da ameaça tarifária enfraquece presença americana no Brasil e fortalece a chinesa

A ameaça tarifária de Donald Trump representa o maior desafio da política externa do Brasil desde que Lula voltou ao poder. Tem o potencial de abalar a economia brasileira e a relação bilateral com os EUA, principal fonte de investimento estrangeiro direto no País.

Três fatores complicam qualquer possível resolução. Em primeiro lugar, duas demandas-chave da carta publicada por Trump, escrita em tom altamente ofensivo, não estão sujeitas a negociação com governos estrangeiros e não têm a mínima chance de avançar. Afinal, tanto o julgamento de Bolsonaro quanto os processos contra as plataformas digitais são decisões do Judiciário brasileiro. É impossível saber se assessores de Trump o alertaram de que, no Brasil, o presidente não controla o Judiciário. De qualquer forma, a ênfase na política interna brasileira reflete o estado precário da relação entre as administrações Trump e Lula.

O que aprender com as meninas do Texas – Fernando Gabeira

O Globo

Economia de fato é investir na prevenção. Perdas humanas e a destruição material são um preço muito mais alto

Escrevo sobre o que me impressiona e confesso que não consegui tirar da cabeça essa história das 27 meninas e monitoras que morreram no Rio Guadalupe, no Texas. As enchentes mataram mais de 120 pessoas. As meninas estavam num acampamento, algumas talvez tenham feito sua primeira viagem na vida. Os celulares estavam guardados para que interagissem melhor entre elas e com a natureza. Muitas devem ter morrido sem saber exatamente o que acontecia.

Parece que o Guadalupe enche muito rápido com as tempestades. Um sistema de alarme mais sofisticado poderia ter salvado mais gente. Leio nos jornais americanos que ele foi discutido, mas descartado por economia. Leio também que Trump fez inúmeros cortes de pessoal no serviço de meteorologia. Coisas que não compreendo: como economizar em sistemas de alarme no auge das mudanças climáticas? Como cortar pessoal da meteorologia? Como negar o aquecimento global num país com tanto acesso a informação de qualidade?

Vermelho de ódio – Miguel de Almeida

O Globo

Não lembro ao certo, mas acho que aprendi sobre ódio com Lula. Sob seus discursos, exercitei minha raiva contra o PSDB, contra o ex-presidente Fernando Henrique e vi o Brasil cindido em dois na grotesca oposição Nordeste x Sudeste. Com olhos ensandecidos, ouvi sobre a herança maldita dos tucanos.

Enfim, não sei se agradeço, mas Lula me instruiu no ódio. Não nasci assim, era apenas um rapaz que amava Noel Rosa e Tom Jobim. Com ele, tudo mudou: o ódio passou a ser valor moral. Meu pote de amargura agora é abastecido pela campanha de pobres x ricos. Consumo os posts, os vídeos do “BBB” e reenergizo o coração de negatividade com as mensagens assopradas pelo guru Sidônio. Infelizmente, não fui avisado pela galera do MST para invadir a sede do Itaú-BBA — embora, naquela hora, eu estivesse com o trabalho em atraso.

Uma aposta ruim - Irapuã Santana

O Globo

Tudo bem que o brasileiro gosta de fazer uma fezinha. Mas recentemente o país registrou salto muito além do histórico nas apostas

Um novo estudo surgiu sobre o desastre que tem ocorrido no Brasil em relação às bets: muita gente tem deixado de estudar por causa do vício em apostas esportivas on-line. Dos apostadores entrevistados na pesquisa O Impacto das Bets 2, da Associação Brasileira de Mantenedoras do Ensino Superior, 34% dizem que precisarão parar de apostar para entrar na faculdade.

Ainda é cedo para servir o café frio a Lula - Lara Mesquita

Folha de S. Paulo

Faltando mais de um ano para a eleição, ninguém deveria se arriscar a vaticinar seu desfecho

Nas últimas semanas, tornou-se comum encontrar articulistas anunciando o fim da era Lula (PT).

Matérias sobre desempenho do governo na aprovação de sua agenda legislativa e sobre as disputas em torno do Orçamento da União corroboraram essa leitura, sugerindo que a carreira eleitoral do presidente estava próxima do fim, que Lula não teria chances de reeleição e, por isso, já seria tratado com certa desconsideração na corte política de Brasília. Chegou-se a dizer que o café do presidente já era servido frio.

Não sei se é ansiedade ou se, nesses casos, fala mais alto a simples aversão ao governo, mas a experiência e a prudência indicam que, faltando mais de um ano para a eleição presidencial, ninguém deveria se arriscar a vaticinar seu desfecho.

'Graças a Deus, o presidente é fraco!' - Marcus André Melo

Folha de S. Paulo

Para parlamentar que não é parte da base, o principal problema da democracia é o poder excessivo dos presidentes

Consistente com minha expectativa, a insatisfação com a democracia, entre eleitores, no Brasil subiu 5 pontos percentuais de um ano para cá (passou de 54% para 59% na nova pesquisa Pew). De 2023 para 2024, a insatisfação havia diminuído. Estamos abaixo de EUA (62%), França (66%), Espanha (69%) e Itália (67%) e acima de Alemanha (39%) e Suécia (25%). As evidências confirmam a importância do hiato vencedores x perdedores (o eleitorado que apoia o incumbente melhora sua avaliação, e vice-versa). Os dados para o Brasil não estão disponíveis, mas em 2024 o hiato era de 25%.

O verdadeiro inimigo do Brasil é a polarização - Lygia Maria

Folha de S. Paulo

Petistas e bolsonaristas tensionam o campo político e desviam o foco dos reais problemas do país com suas peripécias quixotescas

A política brasileira virou a paródia de um romance de cavalaria. Petistas e bolsonaristas se enfrentam a partir da criação de inimigos e paixões imaginárias. São como Dom Quixote, que luta contra moinhos de vento e vê numa camponesa rude, sem nenhum afeto por ele, sua amada e nobre dama Dulcinéia.

Por óbvio, o jogo do poder envolve embates entre opostos, mas a natureza fantasiosa dos objetos em disputa e a incitação ao medo tensionam ainda mais o campo político, desviam o foco dos verdadeiros problemas do país e implicam graves desvios éticos.

A Democracia, os Três Poderes e a Sociedade - Ricardo Marinho*

A crispação inesperada envolvendo Decretos do Poder Executivo (12.499, 12.467 e 12.466) e Decreto Legislativo (176) do Poder Legislativo (Congresso Nacional) pode ter muitas causas imediatas, mas elas não explicam completamente o desastre. Nenhuma dessas medidas possui qualquer condão carismático, como costuma ser dito de forma descuidada. Max Weber (1864-1920) nos ensinou que existem diferentes tipos de carisma. Em tempos de dificuldades para a razão democrática e de ascensão do populismo (como nos recordou a pouco Pierre Rosanvallon estaríamos no seu século), onde as decisões de voto tendem a ser moldadas muito mais por emoções, identificação e proximidade empática (positiva e/ou negativa), as medidas em tela clamam possuir essas adjetivações, juntamente com a liderança, a inteligência e o caráter para aspirar ser a liderança que as adotou em prol do Brasil.

Casta Intocável - Manfredo Oliveira*

O Povo (CE)

A desigualdade persistirá enquanto deixarmos de taxar, adequadamente, o topo da pirâmide subtributada

O anúncio da elevação do Imposto sobre Operações Financeiras foi acompanhado por protestos generalizados e por acusações de que a única preocupação do governo atual é aumentar os tributos. Isso já é costume no Brasil e, como afirma M. Solano, escancara um fato extremamente preocupante: o setor financeiro e alguns segmentos da elite de nosso país continuam a exigir que sejam tratados como uma "casta intocável".

Nossa situação tributária é uma das piores do mundo: enquanto a maioria da população paga impostos, regressivamente, sobre consumo e renda, o grande capital e as operações financeiras, de altíssimo valor, gozam de privilégios escandalosos. Procura-se, através da mídia, convencer a população de que se trata de uma tentativa, por parte do governo, de cobrir gastos descontrolados e de interesses políticos em função das eleições do próximo ano_ mentiras propagadas, justamente, pelos setores interessados em manter seus benefícios. Escondem da população que se trata, acima de tudo, de um problema ético gravíssimo: problema da Justiça Tributária.