quarta-feira, 27 de agosto de 2025

O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões

Nomes à mesa no tabuleiro eleitoral

Correio Braziliense

Apesar de a eleição para o Palácio do Planalto estar distante mais de um ano do seu primeiro turno, a corrida eleitoral teve a sua largada nas últimas semanas

Apesar de a eleição para o Palácio do Planalto estar distante mais de um ano do seu primeiro turno, a corrida eleitoral teve a sua largada nas últimas semanas. Enquanto no campo mais à esquerda há uma maior clareza, justamente pela possibilidade de reeleição de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), no âmbito conservador há incertezas sobre quem desafiará o atual chefe do Executivo. Em jogo está o eleitorado alinhado ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), que está inelegível.

Vários nomes se colocam na mesa do tabuleiro — em especial os governadores Tarcísio de Freitas (Republicanos), de São Paulo; Ronaldo Caiado (União), de Goiás; Romeu Zema (Novo), de Minas Gerais; Ratinho Jr. (PSD), do Paraná; Eduardo Leite (PSD), do Rio Grande do Sul —, que convergem para um ponto: o gosto pela polarização. 

Lula e Tarcísio pedem a bola, por Vera Magalhães

O Globo

Presidente deixou claro quem imagina que será seu adversário na urna eletrônica, ao citar nominalmente o governador de SP durante reunião ministerial

O momento do jogo político devolveu a posse de bola a Lula, mas a pergunta que nem seus ministros mais próximos arriscam responder é: ela dura até o apito de final da partida, na eleição?

A recuperação, em certa medida ainda tímida, da popularidade dele se deu muito mais por circunstâncias externas que por sua capacidade de armar o jogo. Essa é uma das razões que impedem haver otimismo exagerado no governo com os números das pesquisas e os próximos lances da política.

A outra variável que explica a sensata moderação no otimismo é a economia. Na reunião ministerial de ontem, marcada por recados duros e claros de Lula, o ministro Fernando Haddad fez uma exposição, já na parte fechada à imprensa, sobre o que espera o Brasil neste fim de ano e em 2026. Deixou clara a preocupação com o efeito dos juros altos por prazo prolongado sobre a atividade econômica.

O risco para o STF em 2026, por Paulo Celso Pereira

O Globo

O perfil dos escolhidos nos próximos anos poderá dominar o Supremo por décadas

Em junho de 2022, a Suprema Corte americana, numa virada histórica, reverteu a decisão Roe vs. Wade, que garantia o direito ao aborto nos Estados Unidos. Um ano depois, novamente por 6 votos a 3, definiu que as universidades americanas não poderiam mais usar a raça dos alunos para selecioná-los. A guinada conservadora da Justiça americana não se deu depois de uma ofensiva parlamentar que tenha levado ao impeachment de seus juízes ou aumentado o número de cadeiras, como prega a receita contemporânea de desconstrução das democracias. Foi obra da fortuna e do método do Partido Republicano em, além de usar sua maioria parlamentar para bloquear uma indicação de Barack Obama, apontar nomes ideologicamente leais e jovens, que ficariam décadas na Corte, onde o cargo é vitalício.

A coisa mais fácil, por Bernardo Mello Franco

O Globo

Ex-presidente deu razões para ser monitorado pela polícia antes de julgamento no STF

O ministro Alexandre de Moraes determinou ontem que a polícia fique de olho em Jair Bolsonaro. O objetivo é evitar que o ex-presidente fuja do país para escapar da provável condenação por tentativa de golpe.

Em ofício ao Supremo, o procurador-geral Paulo Gonet disse que seria “de bom alvitre” reforçar a vigilância sobre o capitão. Moraes considerou a ideia “adequada e necessária” para a aplicação da lei penal.

É preciso haver convergência contra o tarifaço, por Ricardo Patah*

O Globo

É o momento de as entidades sindicais se aproximarem ainda mais das empresas para contribuir com seu desenvolvimento

‘O que é bom para os Estados Unidos é bom para o Brasil.’ Essa visão do nosso país em relação aos Estados Unidos foi formulada no contexto do golpe militar de 1964. O autor da frase, Juracy Magalhães, foi embaixador naquele país e expressou o que se pensava por aqui. Agora, depois do tarifaço de 50%, essa visão provinciana seria uma piada de mau gosto, para dizer o mínimo. Ainda somos uma das economias mais fechadas, representando apenas 1% do comércio mundial. Décima economia e quinto país em extensão territorial no planeta, com uma população de mais de 212 milhões, nunca estivemos tão desiguais e desunidos, como mostram as pesquisas recentes.

IR: Centrão e direita terão que dizer que não querem que ricos paguem imposto, por Míriam Leitão

O Globo

A análise na Câmara do projeto que isenta do Imposto de Renda (IR) quem ganha até R$ 5 mil será uma espécie de hora da verdade. O Centrão e a direita vão ter que dizer que querem que os que têm rendimentos maiores e não são tributados hoje, continuem assim, sem pagar imposto. Quando os partidos, alguns da base do governo, dizem que são contra as compensações e a favor do corte de gastos, eles não estão assumindo exatamente o que estão fazendo.

Pegadinha do destino aguarda Lula em 2026, por Lu Aiko Otta

Valor Econômico

PLOA de 2026 contará com receitas que podem não ocorrer e há risco de as despesas crescerem acima do orçado

É grande a chance de o governo de Luiz Inácio Lula da Silva chegar ao seu final tendo cumprido as metas fiscais nos quatro anos. O Projeto de Lei Orçamentária Anual (PLOA) de 2026, que será enviado ao Congresso Nacional até a próxima sexta-feira, vai apontar nessa direção. Tudo bonito no papel, mas uma “pegadinha do destino” aguarda Lula pouco depois do início da campanha eleitoral, disse à coluna o diretor-executivo da Instituição Fiscal Independente (IFI), Marcus Pestana.

Do discurso à prática na estratégia de Trump, por Fernando Exman

Valor Econômico

Tarifas são usadas como uma alavanca para atingir objetivos políticos

À espera de um provável recrudescimento das relações entre Brasil e Estados Unidos, pode ser útil a leitura de um discurso feito recentemente pelo secretário de Estado americano, Marco Rubio, durante jantar de gala no “think tank” conservador American Compass. Ocorrida em junho, a fala não repercutiu no Brasil. Mas joga luz sobre a estratégia do governo Donald Trump, suas origens e potenciais consequências. É o novo estilo de vida americano.

Rubio se mostra convencido de que uma das razões pelas quais a história se repete é porque a natureza humana não muda. E uma das características do ser humano é o desejo de pertencimento, o qual evoluiu e se vê representado no conceito de Estado-nação. Isso molda cada vez mais como as decisões geopolíticas são tomadas, argumenta.

O boneco de Bolsonaro, por Marcelo Godoy

O Estado de S. Paulo

Governador troca a pacificação do País por uma prenda que se carrega em uma festa de peão

Ao deixar a Academia Militar de Saint-Cyr, o jovem aspirante Charles de Gaulle foi enviado ao 33.º Regimento de Infantaria, em Arras. Ali foi apresentado ao seu primeiro chefe, o coronel Philippe Pétain. “Demonstrou-me o que valem o dom e a arte de comandar.” Essas são as primeiras páginas das Memórias de Guerra do general De Gaulle.

Não é preciso recontar o que se passou nos anos seguintes com a França e os dois personagens desse parágrafo para reconhecer a coragem moral do general diante da capitulação de Pétain ao inimigo. Seu antigo chefe passaria à história como o traidor de Vichy, artífice de um desastroso armistício militar que submeteu seu país não apenas à servidão estrangeira, mas ao nazifascismo. Quando um líder se desvia de princípios e valores que diz defender, não é o subordinado que se torna desleal ao romper; ele apenas reafirma o que aprendeu na caserna.

Um novo gás ao real, por Fábio Alves

O Estado de S. Paulo

Com a chance de corte de juros nos EUA, voltou o tema sobre qual será o foco dos investidores

Desde que as declarações da semana passada do presidente do Federal Reserve (Fed), Jerome Powell, alimentaram as apostas de um corte dos juros na próxima reunião de política monetária nos Estados Unidos, voltou à tona com toda força um tema que sempre beneficia os mercados emergentes: as operações de “carry trade”, quando os investidores tomam dinheiro emprestado em países com juros baixos para investir nos ativos de países com elevadas taxas de rendimento.

Um mundo em distopia, por Rodrigo Craveiro

Correio Braziliense

Vivemos uma espécie de distopia, uma inversão de valores que me causa estranheza e preocupação

Vivemos uma espécie de distopia, uma inversão de valores que me causa estranheza e preocupação. A maior potência do planeta — ou seria a China? — é governada por um narcisista. Alguém que, apesar de promover uma perseguição sem precedentes aos imigrantes ilegais e travar uma batalha ideológica contra as maiores universidades de seu país, faz uma autocampanha para ganhar o Nobel da Paz. Um chefe de Estado que se orgulha de ter acabado com a guerra entre Israel e Irã, mesmo que tenha mandado seus caças e bombardeios atacarem o território iraniano e ameaçado matar o aiatolá Ali Khamenei. Um presidente que impõe tarifas ao mundo para dobrar-lhe os joelhos e fazer valer seus interesses econômicos; que não se furta em se intrometer em assuntos de outras nações, em uma clara ingerência política e diplomática; e que demite a diretora do próprio Federal Reserve (Banco Central dos EUA), ainda que essa atribuição não seja sua. 

Movimento dos evangélicos desigrejados, por Denise Santana

Correio Braziliense

Ao mesmo tempo em que o Brasil registra o aumento de evangélicos, há um movimento de abandono da comunidade de fé: evangélicos se desligam das igrejas institucionais e optam por cultivar uma fé autônoma

O cenário atual do segmento evangélico mostra pessoas entrando e saindo das igrejas. O Censo Demográfico 2022 sobre religião, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), apontou que o número de evangélicos aumentou no Brasil, chegando a 26,9% da população, somando 47,4 milhões de pessoas. Apesar desse crescimento, existe outra realidade: o abandono da comunidade de fé, em que evangélicos se desligam das igrejas institucionais e optam por cultivar uma fé autônoma. O movimento ficou popularmente conhecido como desigrejados.

Trump contra o Federal Reserve, por Vinicius Torres Freire

Folha de S. Paulo

EUA ameaçam sanções contra países que regulam ou tributam plataformas sociais

Donald Trump atropela as instituições americanas, públicas ou privadas, como universidades e escritórios de advocacia; ameaça empresas por meio de extorsão, faz o diabo. Pode estar mais perto de mandar no banco central, no Fed.

Seja lá o que se pense a respeito de bancos centrais, o BC americano é um dos motivos principais do crédito, da confiança, no mercado dos títulos da dívida do governo dos Estados Unidos (isto é, dos empréstimos para o governo federal americano).

O Fed é mais do que isso, mas o exemplo é relevante, aqui e agora. Trata-se de um mercado, de uma dívida, de US$ 30 trilhões, o equivalente ao valor de 14 PIBs do Brasil. No limite, um Fed bananeiro pode afetar o crédito do governo e da economia americana.

O uso do sagrado como ferramenta do fascismo, por Luís Sabanay

Folha de S. Paulo

Quando púlpito e palanque se confundem, o adversário vira inimigo da fé e o apoio político assume feição de devoção

, quando nasce de experiências autênticas, é espaço de encontro, escuta e defesa da dignidade humana. Em sua melhor expressão, promove compaixão e convivência. Mas, distorcida para servir a interesses de dominação, perde o sentido original e se converte em barreira ao diálogo. Governos autoritários conhecem esse poder e frequentemente envolvem seus projetos em símbolos e narrativas sagradas, criando um verniz moral que intimida críticas.

religião, como conjunto de crenças, ritos e valores, pode ser fonte de solidariedade ou de opressão. Sua força mobilizadora também a torna vulnerável à manipulação política travestida de legitimidade moral. A história mostra isso: Mussolini Adolf Hitler contaram com líderes religiosos para reforçar discursos nacionalistas como missão divina; no apartheid, interpretações bíblicas seletivas sustentaram a segregação. O enredo é recorrente: constrói-se um inimigo interno, que pode ser o diferente, o inconformado ou o crítico, e eleva-se um líder a guardião de uma ordem sagrada.

Oposição de resultados, por Dora Kramer

Folha de S. Paulo

União Progressista fortalece o centrão e enfraquece Bolsonaro na definição dos rumos da direita

Sobre o cinismo oposicionista da federação denominada União Progressista, dona de ministérios e cargos importantes no governo do PT, muito já se falou e falaremos mais um pouco adiante.

Outro aspecto dessa junção do PP com o União Brasil, contudo, merece atenção. Serão 109 deputados e 14 senadores em via de serem 15, tornando-se a maior bancada do Congresso. Parlamentares em amplíssima maioria identificados com o centrão. Na Câmara, ultrapassam o PL de Jair Bolsonaro que, assim, perde o privilégio daquela condição.

Já comprei pipoca para ver Bolsonaro, por Hélio Schwartsman

Folha de S. Paulo

Julgamento de golpistas no STF é avanço institucional, marca decadência política do ex-presidente, mas não zera sua influência eleitoral

Já comprei pipoca para assistir, a partir da semana que vem, ao julgamento de Jair Bolsonaro e de militares que o apoiavam por tentativa de golpe de Estado. Não há muita dúvida nem sobre o veredicto que será dado à maioria dos réus nem sobre a importância histórica desse juízo.

Um dos erros em série cometidos pelo Brasil foi o de nunca responsabilizar plenamente os militares pelas várias rupturas e viradas de mesa que promoveram ao longo de nossa não tão longa história democrática. Impunidade nessas situações é praticamente um convite à próxima intervenção.

O declínio da democracia americana, por Wilson Gomes

Folha de S. Paulo

Pela primeira vez em oito décadas, no clube das superpotências não resta nem sequer uma democracia funcional

E os Estados Unidos, hein? Durante oito décadas, vendidos como o farol da democracia e a garantia de que regimes baseados em liberdades e direitos poderiam florescer. Hoje, porém, esse capital simbólico se dissolve rapidamente e oferece ao mundo menos um exemplo a seguir do que um modelo a evitar.

Quem diria que, em 2025, apenas cogitar entrar naquele país já significa abrir mão de dez direitos e renunciar a cinco liberdades fundamentais? E que, se conseguir atravessar a fronteira —ou, sendo residente, decidir permanecer—, a pessoa terá de aceitar uma perda substancial em praticamente todos os direitos que lhe conferem as constituições liberal-democráticas.

O sujeito acorda em solo americano e lá se foram alguns de seus direitos individuais, pois o primeiro artigo da nova constituição afirma que Trump é o Estado e é ele quem decide sobre o que se pode falar e qual opinião se deve ter. Seus direitos sociais, inclusive os econômicos, tampouco permanecem intactos, porque é o Estado quem determina com quem se negocia, a que taxas e com quais produtos.