quarta-feira, 10 de dezembro de 2025

A conduta do Supremo. Por Elio Gaspari

O Globo

Um freio de arrumação faria bem ao tribunal

Se o ministro Edson Fachin conseguir que seus colegas aceitem se submeter a um código de conduta, terá marcado sua passagem pela presidência do Supremo Tribunal Federal. Não será fácil.

Na semana em que o ministro Gilmar Mendes decidiu blindar os colegas, soube-se que seu colega Dias Toffoli foi ao Peru para assistir à final da Libertadores. Viajou no jatinho de um empresário, na companhia do advogado Augusto de Arruda Botelho, descendente do Barão do Pinhal, contratado por Luiz Antonio Bull, diretor de compliance do Banco Master. Quatro dias depois, o ministro baixou uma ordem de sigilo no processo e determinou que novas investigações devessem passar primeiro por seu crivo.

Agenda de Motta atropela governo e favorece oposição na Câmara. Por Luiz Carlos Azedo

Correio Braziliense

Presidente da Câmara está cada vez mais alinhado aos adversários de Lula, sobretudo ao projeto do Centrão de unificar a oposição em torno de Tarcísio de Freitas

A iniciativa do presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), de pautar simultaneamente a mudança na dosimetria das penas aplicadas aos envolvidos no golpe de 8 de janeiro e os processos de cassação de mandato de Glauber Braga (PSol-RJ), Carla Zambelli (PL-SP), Alexandre Ramagem (PL-RJ) e Eduardo Bolsonaro (PL-SP) produziu mais estresse político em Brasília.

Não apenas porque favorece abertamente a oposição e ameaça impor novas derrotas ao governo Lula, mas também porque revela um método de condução da Câmara que combina improviso, força bruta e ausência de mediação política. O resultado é um presidente fragilizado perante a opinião pública, tentando impor autoridade pelo braço e não pela construção de consensos.

Truculência destoa do pacto pelo PL da dosimetria. Por Maria Cristina Fernandes

Valor Econômico

Retirada de Glauber Braga da mesa pela polícia legislativa contrasta com motim do “8 de janeiro de paletó” e com o clima de acordão que marca o PL da dosimetria

A truculência com a qual o deputado Glauber Braga (Psol-RJ) foi retirado, pela polícia legislativa, da Mesa da Câmara à qual se sentou em protesto contra a inclusão do seu processo de cassação na pauta, destoou do acordo de gabinetes que resultou no PL da dosimetria. Há quatro meses, Motta não avocou a polícia legislativa nem para dissolver o motim que levou os bolsonaristas a ocupar, por 48 horas, a mesa diretora, nem para retirar os jornalistas do plenário, como o fez nesta terça, quando também cortou a transmissão da TV Câmara.

Aquele motim, que visava a pressionar pela votação da anistia do ex-presidente Jair Bolsonaro, desmoralizou o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB). O episódio desta terça terminou de minar sua autoridade. O motim não impediu que, um mês depois, o Supremo Tribunal Federal condenasse os golpistas do 8 de janeiro, a começar pelo ex-presidente. A truculência contra Braga se dá na esteira de um acordo entre gabinetes do Congresso e do STF.

Centrão vira credor de Bolsonaro e se vinga da esquerda. Por César Felício

Valor Econômico

A demora de Motta, em justificar ao plenário o uso da força, coloca dúvidas sobre a sua liderança na demonstração de força dada pelo Centrão

Há um encadeamento de fatos fundamental para se entender o vencedor do jogo que se desenrolou nesta terça-feira no Congresso. A cronologia começou na quarta-feira passada, quando as chances de um impeachment futuro de ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) no Senado viraram fumaça com uma canetada do ministro Gilmar Mendes. Na sexta-feira, o ex-presidente Jair Bolsonaro pulverizou a articulação da cúpula do Centrão em torno de uma candidatura presidencial do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), ao escolher o primogênito senador Flavio Bolsonaro (PL-RJ) como seu candidato em 2026. No domingo, Flavio declarou que sua candidatura tinha “um preço”. Na terça, o presidente da Câmara surpreendeu o Colégio de Líderes ao impor como pauta um combo que tinha como seu item número 1 o projeto da Dosimetria. Com a anuência do PL.

Casos de dois ex-tucanos que assombram Tarcísio. Por Fernando Exman

Valor Econômico

Os passos de Tarcísio estão sendo observados por bolsonaristas e petistas

As experiências de dois ex-pré-candidatos a presidente da República pelo PSDB justificam a cautela do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), em meio às turbulências provocadas pelo anúncio da pré-candidatura à Presidência do senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ). Na dúvida, que se adote uma postura ambígua, da qual a família Bolsonaro não possa reclamar nem os eleitores de direita e centro-direita lamentar.

Foi nesse contexto que Tarcísio disse na segunda-feira (8), em Diadema (SP), respeitar muito o ex-presidente Jair Bolsonaro. Ele reiterou sua gratidão e lealdade ao ex-mandatário, acrescentando que Flávio, por ser a escolha do pai para representá-lo na eleição presidencial, “vai contar com a gente”. Por outro lado, ressalte-se, ponderou que Flávio se junta agora a um rol mais amplo de outros governadores da oposição que colocaram seus respectivos nomes à disposição para tentar tirar o PT do Palácio do Planalto. E concluiu: está cedo e ainda há tempo de maturação.

Não dá para levar a candidatura de Flávio Bolsonaro a sério, afirma presidente do PT

Por Andrea Jubé e Sofia Aguiar / Valor Econômico

Edinho Silva afirma que filho de ex-presidente errou 'timing' e diz que o PT não vai tirar o foco do governador Tarcísio de Freitas

O presidente nacional do PT, Edinho Silva, afirmou na terça-feira (9) que a pré-candidatura do senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) à Presidência da República não pode ser levada à sério, e ainda ironizou que o potencial adversário na sucessão presidencial errou o “timing” ao já colocá-la em negociação. Edinho afirmou que o PT não vai tirar o foco do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), elogiou o presidente do Banco Central (BC), Gabriel Galípolo, e disse que o vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB) estará no papel que desejar em 2026.

“Eu tenho 40 anos de militância política e nunca vi isso na minha vida”, disse Edinho, ao comentar os recentes movimentos de Flávio. Na sexta-feira (5), o primogênito do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) anunciou que obteve o apoio do pai para se lançar candidato ao Palácio do Planalto. No domingo (7), contudo, disse que tinha um preço para retirar a postulação. Depois, Flávio afirmou que sua candidatura é “irreversível”.

Centrão esnoba Flávio. Por Vera Rosa

O Estado de S. Paulo

Kassab procura Ratinho Jr., Ciro não vê chance em nome bolsonarista e Tarcísio dá apoio tímido

Desde que lançou sua candidatura ao Palácio do Planalto, na sexta-feira, o senador Flávio Bolsonaro (PL) só colheu desconfianças. O movimento serviu para unir o Centrão contra sua entrada no páreo como o principal desafiante do presidente Lula. Mas não foi só isso: o grupo também ampliou a procura de nomes para a disputa de 2026.

A aparente unidade do Centrão não significa que o consórcio de partidos lançará apenas um concorrente ao Planalto. Um personagem de bastidor, no entanto, deve ser observado com lupa nessa história: o presidente do PSD, Gilberto Kassab.

Secretário de Governo da gestão Tarcísio de Freitas, Kassab não foi anteontem ao jantar oferecido por Flávio Bolsonaro a dirigentes do Centrão. Marcos Pereira, que comanda o Republicanos, partido de Tarcísio, também não apareceu por lá.

Como ficam Flávio, Tarcísio e Ratinho na corrida maluca de centrão e direitão até 2026. Por Vinicius Torres Freire

Folha de S. Paulo

Lei permite troca de candidatos até em setembro, mas calendário político é outro

Direitas nem sabem o que fazer da incerteza, mas primeiro trimestre é decisivo

Em tese e de acordo com a lei, partidos podem substituir seus candidatos a presidente no máximo até 20 dias antes da eleição, que é no 4 de outubro de 2026. Na política, o calendário é outro e incerto. Como não se sabe se Flávio Bolsonaro é candidato-bomba ou se vai ser biribinha e estalinho, a incerteza ficou mais extensa.

Centrão e direitão não gostaram da candidatura, menos ainda da rasteira (trata-se aqui de PSDRepublicanosUnião Brasil e Progressistas). Não entendem o que querem os Bolsonaro. Ainda vão começar a discutir o que fazer até para lidar com a incerteza. Não vão se mover por Flávio. Ao contrário.

Em teoria, é possível tirar o chifre da cabeça do jumento até setembro de 2026. Flávio poderia renunciar à candidatura, mas seria preciso que um Tarcísio de Freitas (ou um "x") estivesse candidato por outro partido. Ou que Flávio renunciasse para que Tarcísio (ou "x") passasse a ser o candidato de uma improvável coligação já montada. Parece maluquice, mas pensem no Brasil desde 2016.

Sob suspeita. Por Hélio Schwartsman

Folha de S. Paulo

Desde a Antiguidade, não parecer culpado é preocupação de quem ocupa cargos políticos

Código de ética para magistrados é primeiro passo necessário para melhorar imagem do Judiciário

É batata! Sempre que um juiz é apanhado em situação de promiscuidade com políticos e empresários, algum colunista ou editorialista lembrará o caso de Pompeia, não a avenida paulistana, mas a segunda ou, dependendo da fonte, terceira esposa de Júlio César, cujo envolvimento num rocambolesco escândalo deu origem à expressão "à mulher de César não basta ser honesta; é preciso que pareça honesta".

Polos políticos concentram rejeição. Por Dora Kramer

Folha de S. Paulo

Lula e família Bolsonaro são campeões no ranking dos reprovados pela população, aponta o Datafolha

Candidatos menos conhecidos podem crescer, desde que se mostrem melhores que os famosos ao eleitor

Projeções de voto a nove meses da eleição obviamente não retratam o que sairá das urnas. As medidas de rejeição, contudo, dão uma pista. Mostram como o eleitorado vê os presumidos pretendentes.

olhar captado pelo Datafolha não é nada bom para os nomes mais representativos das torcidas em disputa nas duas últimas eleições. O presidente Lula (PT) e os Bolsonaros (todos do PL) lideram o ranking dos rejeitados.

Quem quer blindagem agora é o STF; e o país escolhe campeões, não princípios. Por Wilson Gomes

Folha de S. Paulo

Câmara fecha o cerco contra investigações e Gilmar dificulta reação do Senado

E continuamos dando aval para que o nosso lado ultrapasse limites

Nas últimas semanas, dois movimentos distintos, mas intimamente relacionados na percepção pública, reposicionaram o equilíbrio de forças entre Congresso e Supremo. Primeiro, a Câmara aprovou a chamada PEC da Blindagem, que dificulta a abertura de processos criminais e a prisão de parlamentares, exigindo autorização prévia das Casas Legislativas e reforçando o foro privilegiado.

Mais recentemente, o ministro Gilmar Mendes, em decisão monocrática, suspendeu trechos da Lei do Impeachment e restringiu a legitimidade para pedir o impedimento de ministros do STF, agora concentrada na Procuradoria-Geral da República, além de elevar o quórum no Senado para esse tipo de processo.

Tarcísio, a modernidade de papelão. Por Ricardo Queiroz Pinheiro

Há algo que me irrita profundamente no debate público: a naturalidade com que se vende Tarcísio de Freitas como novidade. A facilidade com que se atribui a ele a imagem de gestor moderno, técnico, quase redentor. Não que eu tenha qualquer ilusão com os pruridos da mídia liberal e com os profissionais da higienização do discurso. Mas a coreografia em torno de Tarcísio é explícita e caricata demais: uma operação de marketing político que depende de amnésia coletiva e da viralização da cartilha liberal. A falta de memória reposiciona a continuidade da “Ponte para o Futuro — Parte 2” como se ela não tivesse mostrado seu esgotamento e falência na vida cotidiana, e como se o país não tivesse aprendido o preço de um Estado reduzido ao papel de fiador de interesses privados.

O que hoje se chama de modernização não passa da atualização de uma engrenagem antiga. Mas ela não retorna idêntica. A gestão Tarcísio em São Paulo deixa isso evidente. Ela vem acelerada pela ansiedade do capitalismo pós-crise de 2008 — esse período descrito pelo filósofo italiano Franco “Bifo” Berardi, referência central da crítica à aceleração, como o momento em que o sistema “sobrevive como uma boca aberta que mastiga o presente”. A aceleração imediatista — exaustiva, saturada, incapaz de planejar — deu nova vida ao patrimonialismo brasileiro: agora com jargão corporativo, linguagem de compliance, consultorias onipresentes e fundos de investimento ditando prioridades. A lógica é devorar o Estado, não estruturá-lo — fingir um Estado mínimo só para maximizar o domínio de quem se serve dele.

O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões

Projeto no Senado melhora e equilibra lei do impeachment

Por Folha de S. Paulo

Relatório dispensa espírito de autoproteção do ministro Gilmar Mendes e eleva barreira da petição popular

Projeto limita ações demagógicas sem retirar dos brasileiros e seus representantes o direito de pleitear cassação de altas autoridades

O abuso cometido pelo ministro Gilmar Mendes na liminar que retirou de cidadãos e de seus representantes eleitos o direito de propor a expulsão da corte de ministros por crime de responsabilidade pode ter deflagrado uma reação virtuosa no Congresso Nacional. Parlamentares se mobilizam para modernizar a lei do impeachment, de 1950.

Está marcada para esta quarta-feira (10) na Comissão de Constituição e Justiça do Senado a apreciação do texto do relator Weverton Rocha (PDT-MA), que apresenta inovações na legislação que tipifica os crimes de responsabilidade e dispõe sobre seus aspectos processuais.

Opinião do dia - Antonio Gramsci* (Partido Político)

"Será necessária a ação política (em sentido estrito) para que se possa falar de "partido político"? Pode-se observar que no mundo moderno, em muitos países, os partidos orgânicos e fundamentais, por necessidade de luta ou por alguma outra razão, dividiram-se em frações, cada uma das quais assume o nome de partido e, inclusive, de partido independente. Por isso, muitas vezes o Estado-Maior intelectual do partido orgânico não pertence a nenhuma dessas frações, mas opera como se fosse uma força dirigente em si mesma, superior aos partidos e às vezes reconhecida como tal pelo público. Esta função pode ser estudada com maior precisão se se parte do ponto de vista de que de um jornal (ou um grupo de jornais), uma revista (ou um grupo de revistas) são também "partidos", "frações de partido" ou "funções de determinados partidos",

*Antonio Gramsci (1891-1937), Cadernos do Cárcere, V. 3, p. 349, Civilização Brasileira, 2007