Folha de S. Paulo
Melhor cortina de fumaça para ardis é
elogiar a verdade enquanto se manipula a massa
Praticamente tudo relacionado a Bolsonaro
pode, em grande medida, ser descrito pelo campo semântico da falsificação. De
adulteração e armação a tramoia e trapaça, abundam ações ou falas de Bolsonaro
e do seu círculo íntimo para ilustrar cada um dos vocábulos no caminho: ardil,
contrafação, embuste, engano, farsa, fraude, golpe, impostura, logro,
manipulação, tapeação. Procure uma palavra cujo significado seja "atitude
que visa enganar" ou "situação armada para fazer de conta" e
você encontrará um verbete da enciclopédia bolsonarista.
Aparentemente, há um paradoxo entre o que estou sustentando e a extrema valorização bolsonarista do que Adorno chamava o "jargão da autenticidade", o uso da busca pela autenticidade como mera fachada. Bolsonaro foi vendido como um homem autêntico em contraposição aos hipócritas: era o sujeito do "falo, sim, doa a quem doer, sem papas na língua". Disse e fez horrores para se mostrar insubmisso ao politicamente correto, chegando frequentemente ao extremo oposto, o politicamente canalha.