domingo, 22 de outubro de 2023

O que a mídia pensa: Editoriais / Opiniões

Argentina sob Milei trará risco para o Brasil

O Globo

Força brasileira no mundo depende da estabilidade regional, ameaçada pelo favorito a chegar à Casa Rosada

Uma Argentina em apuros será sempre sinônimo de problema para o Brasil. Os vizinhos são nosso terceiro maior parceiro comercial e principal sócio no Mercosul. Os dois países dividem 1.260 quilômetros de fronteira. Dezenas de milhares de brasileiros vivem lá, dezenas de milhares de argentinos aqui. Laços históricos nos unem. Na geopolítica, a força do Brasil depende da estabilidade da região que lidera. Por isso a eleição presidencial de hoje é a mais preocupante em décadas. O favorito é Javier Milei, do partido A Liberdade Avança, um populista que se define como libertário. Não está descartada a hipótese de que ganhe no primeiro turno.

Luiz Sérgio Henriques* - A política democrática desafia a irrazão

O Estado de S. Paulo

À democracia e aos direitos humanos devem estar submetidas as identidades enrijecidas e extremadas

Pelo que se diz, os antigos soviéticos não foram os únicos adeptos do whataboutism, a técnica de escapar de problemas incômodos embaraçando o oponente com suas próprias contradições, reais ou supostas, mas terão sido mestres nesta arte sofística. A URSS era acusada de não respeitar as liberdades ditas negativas, a autonomia do indivíduo diante da máquina do Estado? O whataboutism consistia em esquivar-se de qualquer resposta concreta e perguntar agressivamente pelas liberdades positivas, as que reforçam o indivíduo social e economicamente, alegadamente em falta nas sociedades ocidentais. O resultado era um interminável diálogo de surdos, que encapsulava de propósito cada participante na sua trincheira e tornava remota, ou nula, a possibilidade de entendimento.

O conflito entre Israel e Palestina traz em si muito desta predisposição ao não diálogo, como se, por exemplo, antes da Nakba, a diáspora palestina de 1948, não pudesse ter havido o Holocausto ou como se admitir que uma das catástrofes equivalesse a cancelar a outra. Perde-se, assim, a ideia da complexidade inerente aos fatos da História, realisticamente sublinhada por um intelectual do peso de Yuval Noah Harari: por mais dolorosa que seja a constatação, uma nação pode ser ao longo do tempo vítima e algoz, perseguida e perseguidora.

Dorrit Harazim - Com olhos em Gaza

O Globo

Guerras não são uma aberração. Apenas expõem um lado da natureza humana mascarado por convenções de civilidade

O mundo está doente, sem muito onde esconder esta dor cortante que se chama guerra. Ela, a guerra dos tempos atuais, gosta de se exibir, de se mostrar na tela de qualquer celular. Ela adentra agora a terceira semana de uma escalada de matanças iniciada pelo grupo terrorista Hamas e respondida por Israel com punição coletiva máxima à vida em Gaza. Esse horror poderia ser pior? Sim, e muito — tanto para nossos compatriotas como para o resto do mundo. Basta imaginar o Brasil e os Estados Unidos ainda em mãos de Jair Bolsonaro e Donald Trump, com ambos encorajando os piores instintos do primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu. A remota eventualidade de o congressista de extrema direita Jim Jordan ocupar a presidência da Câmara dos Representantes americana, atualmente acéfala, já dá calafrios. Se eleito, Jordan se tornaria o terceiro na linha de sucessão, portanto logo atrás de Kamala Harris, em caso de afastamento do presidente Joe Biden por algum motivo. Integrantes do próprio Partido Republicano designam Jordan como “legislador terrorista”, golpista e partidário de uma política de terra arrasada.

Elio Gaspari - A CPI expôs a caixa da PRF

O Globo

Sabia-se também que uma polícia rodoviária era usada em operações que resultaram em chacinas, mas a CPI mostrou mais

A Comissão Parlamentar de Inquérito que investigou a ação dos golpistas no 8 de janeiro expôs uma das maiores anomalias do governo de Jair Bolsonaro: o desvirtuamento da Polícia Rodoviária Federal (PRF). Sabia-se que no dia do segundo turno ela foi usada para bloquear eleitores nordestinos, sabia-se também que uma polícia rodoviária era usada em operações que resultaram em chacinas, mas a CPI mostrou mais.

O ex-capitão que prometia acabar com a indústria das multas e mandou desligar radares de rodovias, elevou os gastos com a PRF de R$ 138 milhões para R$ 809 milhões em 2022. A PRF comprou veículos blindados e softwares de vigilância eletrônica.

Uma mesma empresa, Combat Armor, criada em 2019, venceu três pregões e faturou cerca de R$ 33 milhões. Em dois deles, era a única concorrente.

Bernardo Mello Franco – Casos de polícia

O Globo

Novo secretário foi indicado por deputado ligado a miliciano; último escolhido de Cláudio Castro durou 17 dias no cargo

Em três anos, o governador Cláudio Castro nomeou quatro secretários de Polícia Civil. O primeiro foi preso por envolvimento com o jogo do bicho. O segundo se arrastou com status de interino. O terceiro durou apenas 17 dias no cargo. Foi demitido nesta semana, por exigência da Assembleia Legislativa.

José Renato Torres será lembrado por uma confissão involuntária. Questionado sobre a descoberta de mais 58 celulares em presídios de segurança máxima, alegou que os aparelhos eram úteis para “orientar operações”. A frase atesta a debilidade do Estado do Rio diante do crime.

Merval Pereira - Combate à corrupção sob críticas

O Globo

OCDE adverte para retrocessos no combate à corrupção. Financial Times também critica ações do STF que anularam acordo de leniência da Odebrecht

A dúvida sobre o combate à corrupção no Brasil volta a dominar a análise internacional, especialmente depois que a OCDE (Organização para a Cooperação e desenvolvimento Econômico) divulgou um relatório em que chama a atenção para retrocessos que estariam ocorrendo com a desativação das forças-tarefas como a Operação Lava Jato e medidas tomadas pelo Congresso e pelo Supremo Tribunal Federal (STF).

Ao mesmo tempo, o jornal inglês Financial Times publicou ontem um longo artigo de seu correspondente no Brasil, Bryan Harris, afirmando que ações consecutivas do Supremo Tribunal Federal (STF) mostram que há “pouco apetite, ou nenhum” para investigações sobre corrupção envolvendo a classe política.

Luiz Carlos Azedo - "Por una cabeza", as eleições dramáticas na Argentina

Correio Braziliense

"A bipolaridade da política argentina, entre peronistas (centro-esquerda) e liberais (centro-direita), pela primeira vez, desde a redemocratização, em 1983, pode ser quebrada"

"Basta de carreras, se acabó la timba/ Un final reñido, yo no vuelvo a ver/ Pero si algún pingo llega a ser fija el domingo/ Yo me juego entero, ¿qué le voy a hacer?/ Por una cabeza (por una cabeza)/ Todas las locuras (todas las locuras)". O famoso tango de Carlos Gardel (música) e Alfredo La Pera (letra), cujo nome intitula a coluna, é um retrato das paixões políticas na Argentina. Composto em 1935, a música fala de apostador compulsivo em corridas de cavalo que compara seu vício à atração pelas mulheres.

"Chega de corridas, acabaram as apostas/ Não voltarei a ver um final disputado/ Mas se algum cavalo se tornar favorito no domingo/ Jogo tudo que tenho, eu vou fazer o quê? / Por uma cabeça (por uma cabeça) / Todas as loucuras (todas as loucuras)" — é a tradução de uma eleição presidencial eletrizante, que está sendo acompanhada por toda a América Latina e que terá repercussões muito importantes para o Brasil.

Nas primárias eleitorais, os três candidatos mais bem colocados mostraram que a eleição pode ser decidida por uma margem muito próxima, cabeça a cabeça. É uma disputa entre um outsider, o histriônico Javier Milei, que se diz anarcoliberal; uma candidata de direita liberal, a ex-ministra da Segurança Patricia Bullrich, que empunha a bandeira da lei e da ordem; e um político de centro, o ministro da Economia, Sergio Massa, que representa o atual governo, mas não assume o legado do presidente peronista Alberto Fernández.

Míriam Leitão - Argentina: dois passados trágicos e um futuro opaco

O Globo

Os argentinos começam a decidir hoje nas urnas o seu destino econômico e político, tendo à frente dias incertos

A Argentina e o Brasil viveram dois passados trágicos. A ditadura e a hiperinflação. Nós vencemos a hiperinflação há 29 anos. Para eles isso está presente no peso diário de carregar sacolas de dinheiro para fazer compras. Na política, parte da Argentina está disposta a hipotecar seu futuro a um candidato que defende o ideário da ditadura, tem uma motosserra na mão, propostas econômicas exóticas, e habilidade nas mídias digitais. O Brasil fez a mesma aposta em 2018 e viveu quatro anos de ultraje. A Argentina está presa a esses dois passados e tem pela frente um futuro de total “incertidumbre”.

Marcos Azambuja, que foi embaixador em Buenos Aires, entre 1992 e 1997, é autor de frases brilhantes que definem situações. Ele disse ao “Valor” de sexta-feira: “Milei representa a radicalização de direita. É perigoso acreditar no que ele diz, mas também é perigoso não acreditar”. À coluna, ele explicou o pensamento.

Eliane Cantanhêde - A nossa guerra contra o crime organizado

O Estado de S. Paulo

O Brasil também está em guerra, mas contra o crime organizado. E está perdendo feio

Se a guerra de Israel amontoa corpos de crianças e os bombardeios continuam na Ucrânia (apesar do crescente desinteresse internacional), o crime organizado vai vencendo a guerra urbana brasileira, infiltrado nas instituições, nas polícias e agora até em quartéis do Exército Brasileiro. A sociedade está espremida entre o medo de criminosos e a descrença no Estado, cruel com uns, conivente com outros. “Quem pode pode...”

Como em Israel, Gaza e Ucrânia, os cidadãos comuns brasileiros são vítimas inocentes e a lista de crianças cresce, não só por ação de traficantes, milicianos e ladrões, mas também por tiros da própria polícia e da guerra entre organizações criminosas, como os quatro médicos à beira da praia, tomando uma cervejinha.

Rolf Kuntz - Lula, saúde fiscal e crescimento

O Estado de S. Paulo

Sem um sério e crível esforço de contenção, a dívida pública brasileira continuará impondo custos altos ao Tesouro, prejudicando a atração de capitais e limitando a baixa de juros

Desemprego em queda e inflação na meta favorecem o governo, mas o presidente Luiz Inácio Lula da Silva terá de batalhar para estimular produção e consumo e, na hipótese mais otimista, conter os gastos federais e controlar a dívida pública. Dinheiro curto, endividamento alto e juros impagáveis ainda forçam as famílias a comprar com moderação. No varejo do dia a dia, o volume vendido em agosto foi 0,2% menor que o de julho. O acumulado em oito meses foi 1,6% maior que o de um ano antes, mas o avanço é inseguro e oscilante. Estimulada pelo governo, a renegociação de dívidas deve dar algum alívio aos consumidores, mas sem alterar sensivelmente as perspectivas, por enquanto modestas, de avanço da economia. Para o presidente e seus principais ministros, a agenda continua desafiadora.

Lourival Sant ‘Anna - Portas fechadas para a paz

O Estado de S. Paulo

A desilusão palestina levou a um niilismo cuja expressão mais violenta é o terrorismo

Israel está prestes a iniciar uma longa e sangrenta invasão de Gaza. E a criar novos fatos consumados nesse conflito de 75 anos. O cenário leva a duas perguntas. A sociedade israelense está disposta a pagar o preço? O que ocupará o lugar do Hamas?

Os israelenses têm chamado o ataque do Hamas de “11 de Setembro de Israel”. A analogia é desconcertante. Os americanos fracassaram miseravelmente no Afeganistão. Duas décadas depois da invasão, que custou a vida de 2.402 soldados americanos e US$ 2,3 trilhões, o Taleban voltou ao poder com mais domínio do território e assertividade moral do que antes.

Renata Cafardo - As crianças e o conflito na Faixa de Gaza

O Estado de S. Paulo

Estudos mostram a dificuldade de crianças aprenderem em regiões de conflitos

Em todas as guerras, são as crianças que sofrem primeiro e sofrem mais. A mensagem está em destaque no site do Unicef, o fundo das Nações Unidas para a infância, ao lado de fotos de meninos e meninas em meio aos destroços dos conflitos no Oriente Médio. Desde o dia 7, mais de 1,5 mil crianças morreram na Faixa da Gaza e 4 mil foram feridas.

Mas antes do horrendo ataque do Hamas a Israel e da resposta a ele, as cerca de 1 milhão de crianças da região já viviam uma crise humanitária. Relatório do Unicef do primeiro semestre de 2023 dizia que o aumento da violência na região tinha limitado o acesso a água, alimentos, eletricidade e higiene, impactando a “sobrevivência e o desenvolvimento” das crianças.

Celso Ming - A Argentina e o fator Milei

O Estado de S. Paulo

A possibilidade de que o economista Javier Milei seja eleito presidente da Argentina ainda neste domingo é mais do que uma hipótese remota. Bastará para isso que tenha 45% dos votos ou 40% com vantagem de 10 pontos porcentuais sobre o segundo colocado. Caso essas diferenças não aconteçam, o segundo turno ocorrerá dia 19 de novembro.

Se confirmada a eleição de Milei, no primeiro ou no segundo turno, como apontam as pesquisas, será difícil evitar fortes convulsões no mercado financeiro local. Inflação próxima dos 150% ao ano, desabastecimento, dólar no patamar dos mil pesos e empobrecimento crescente compõem o quadro atual que, então, poderá piorar.

Vinicius Torres Freire - O pânico do argentino comum na véspera do voto e a dolarização

Folha de S. Paulo

Com ou sem a camisa de força da dolarização, conserto básico da economia é o mesmo

Na sexta-feira (20), não havia mercado, preço, para o dólar paralelo em Buenos Aires, relatam jornais e jornalistas argentinos. O receio de uma megadesvalorização do peso e, talvez, de um plano de dolarização oficial desorientava ainda mais as cotações do "dólar blue", o paralelo, entre 950 e 1.500 pesos.

O disparate das cotações, quando havia, piorava com boatos e batidas da Receita Federal deles, entre outras fiscalizações, constantes nas últimas semanas. Nos bancos, os argentinos se livram de ativos em pesos, o que piorou depois do favoritismo de Javier Milei.

Quem não acha dólar caça com estoque. Antecipa compras, até nos supermercados. Nos varejos, as vendas aumentaram em torno de 10% em setembro (em relação a 2022), relata o jornal "La Nación".

Celso Rocha de Barros - É difícil ser tão ruim quanto Bolsonaro, mas Milei tem tentado

Folha de S. Paulo

Quem quiser o título deve ser comparável a catástrofes naturais e pragas bíblicas

Argentina vai às urnas neste domingo eleger seu novo presidente. O primeiro colocado nas pesquisas é Javier Milei, por vezes chamado de "Bolsonaro argentino". O clã Bolsonaro, de fato, apoia Milei com entusiasmo.

É preciso tomar cuidado ao dizer que alguém é o Bolsonaro de outro país. Muito pouca coisa no mundo é tão ruim quanto Jair Bolsonaro.

Graças a Bolsonaro, durante alguns meses de 2021 o Brasil teve um terço das mortes por Covid-19 no mundo, mais de dez vezes nossa proporção da população mundial (2,8%). Segundo cálculos do epidemiologista Pedro Hallal, a recusa de ofertas de vacinas pelo governo Bolsonaro causou, só entre janeiro e junho de 2021, 95 mil mortes.

Muniz Sodré* - Uma massa falida

Folha de S. Paulo

O pentecostalismo é a incubadora de submissos ao retrocesso, e Argentina parecer querer apostar nisso

Maus presságios quanto ao senso político do vizinho povo argentino suscitam alguma reflexão sobre a natureza do conservadorismo brasileiro. A ficha começa a cair onde deveria. Em declaração recente, o secretário de comunicação do PT admite que "a surpresa foi constatar a reação do povo em relação à política e à democracia". Quer dizer: as massas, em grande parte, mostram-se impermeáveis a bens civilizatórios tidos como estáveis pelo pensamento progressista.

Mas essa percepção é velha. Em meados do século passado, um jurista baiano, agastado com a subserviência popular à ditadura varguista, deplorava em tom elitista: "O povo é uma massa falida". Era o tempo em que também intelectuais europeus se diziam horrorizados com o estado mental do povo alemão. Em "A Linguagem do Terceiro Reich", Victor Klemperer descreve seu sobressalto ao entrar numa agência bancária: "Lá dentro, todos permaneciam de pé, tanto as pessoas defronte dos guichês quanto as detrás, em posição rígida, com o braço estendido, ouvindo uma voz que falava no rádio em tom declamatório". Hitler, claro.

Hélio Schwartsman - Prevendo o futuro

Folha de S. Paulo

Livro defende que é possível modelar a história e assim antecipar crises e evitar o colapso

E se a história fosse uma "ciência dura", capaz de fazer previsões tão precisas quanto as que os astrônomos fazem para os próximos eclipses? A maioria dos historiadores profissionais descarta essa possibilidade. Comportamentos humanos já são de certa forma infensos a modelagens matemáticas. Quando falamos de uma disciplina como a história, que, além de lidar com questões humanas, está sujeita a forças tão variadas como as da economia, cultura, tecnologia, geografia e ao próprio acaso, a pretensão de encontrar uma fórmula objetiva para calcular o futuro soa absurda.

Bruno Boghossian - Democracia oferece um contrapeso à guerra (mas nem sempre)

Folha de S. Paulo

Voto pode mandar radicais para casa, mas conflito também pode ser arma do populismo eleitoral

Quando o Hamas estava prestes a vencer a eleição de 2006, George W. Bush acreditava que havia uma chance de conter o radicalismo do grupo. Os americanos entendiam que, no governo, os extremistas teriam que entregar benefícios e prestar contas aos palestinos. Para isso, seria preciso seguir um caminho pragmático e evitar o isolamento internacional.

A aposta se mostrou furada. Pouco depois da votação, o grupo aprofundou uma disputa com o Fatah, num embate que levou o Hamas a tomar o poder na Faixa de Gaza. Desde então, não houve eleições gerais ou qualquer espaço significativo para a contestação da autoridade dos extremistas pela via democrática.

Marco Antonio Villa* - O extremismo às avessas

É mais confortável a “guerra ideológica” do que refletir e debater democraticamente os problemas nacionais

As recentes declarações da ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, e de sua assessora Marcelle Decothé após a final da Copa do Brasil recolocou o extremismo às avessas no primeiro plano da cena política nacional. Ou seja, questões absolutamente secundárias, que mobilizam “gatos pingados”, deixam de lado os grandes problemas e – aí o perigo é maior ainda – jogam água no moinho do extremismo bolsonarista. Curiosamente, em um momento de enfraquecimento político de Jair Bolsonaro. Certamente, o mandrião deve ter agradecido entusiasticamente tanto à ministra, quanto à sua assessora.

Ricardo Rangel* - O relatório da CPMI (e os militares)

Faltaram propostas concretas para remediar o golpismo

A CPMI chegou ao fim com relatório pedindo o indiciamento de Jair Bolsonaro e de mais sessenta supostos golpistas. Metade são militares, incluindo oito oficiais-generais, sendo seis de quatro estrelas, três ex-comandantes de Forças. É uma página triste e vergonhosa para o Brasil e para as Forças Armadas em particular.

Segundo consta, generais fora da lista não gostaram. Malu Gaspar, do Globo, listou algumas das palavras usadas: “uma fantasia que não para em pé, uma verdadeira pedalada jurídica”, “espetaculoso”, “patético”, “horrível”, “vingança”.

A reação é equivocada. Primeiro, porque indiciamento é só o que o nome diz: há indícios que justificam investigação — e há, mesmo. Segundo, porque, em vez de se preocuparem com o relatório, deveriam se preocupar com o fato de que há, indiscutivelmente, muitos militares envolvidos em crimes contra a República. A solidariedade a colegas de farda não deveria suplantar a solidariedade à pátria. Dito isso, não tem cabimento que G. Dias, o único general “do outro lado”, contra o qual há fortíssimos indícios, tenha ficado fora da lista.

José Casado* - Lula e El Loco

Intervenção do Brasil na guerra eleitoral argentina tem custo

— Ele está mais “louquito” que o Bolsonaro — disse Lula sobre Javier Milei, candidato da extrema direita na eleição presidencial da Argentina. O governista Sergio Massa, ministro da Economia, gostou da ironia sobre o adversário que é conhecido como El Loco.

— Deixa de procurar dólares e vá atrás de votos — insistiu Lula, como relatou Massa a jornalistas na viagem de volta a Buenos Aires naquela quente e seca segunda-feira 28 de agosto.

— Todos estão trabalhando? Eles sabem da importância do que têm pela frente? Se a direita ganhar será um retrocesso de quarenta anos na América Latina…

— Sim, presidente. Estão todos trabalhando — respondeu Massa, anotou a repórter Melisa Molina.

— Faça o que tiver que fazer, mas ganhe — retrucou incisivo, com a experiência de três vitórias em 34 anos de disputas presidenciais.