sexta-feira, 5 de julho de 2024

O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões

Embora tímido, recuo de Lula é bem-vindo

O Globo

Ele poderia ter evitado as declarações desastradas que fizeram o dólar disparar

Mesmo que acanhada, é bem-vinda a reviravolta aparente do presidente Luiz Inácio Lula da Silva em relação à crise fiscal. O anúncio — tardio — de que o governo congelará recursos ainda neste ano e enviará ao Congresso o Orçamento de 2025 com previsão de corte de R$ 25,9 bilhões em despesas obrigatórias traz, enfim, alguma realidade ao compromisso de equilibrar as contas públicas. Lula determinou o cumprimento “a todo custo” das metas previstas para 2024, 2025 e 2026 no arcabouço fiscal, plano de ajuste do governo que perdia credibilidade dia após dia. Se cumprir as promessas, contribuirá para diminuir o ritmo de aumento da dívida pública, derrubar os juros, atrair mais investimentos e, com isso, impulsionar o crescimento econômico e o bem-estar da população.

Fernando Gabeira - Para que serve hoje o Plano Real

O Estado de S. Paulo

Olhando os rumos do mundo e os do Brasil, podemos sentir como é instável a situação, como é necessário fazer tudo para estabilizá-la e como isso pede também o que existiu no Real

Trinta anos de Plano Real nos levam a pensar em muitas coisas. Uma delas, a mais animadora, é saber que o Brasil é capaz de resolver problemas complexos, como a hiperinflação, que até hoje atormenta nossos hermanos argentinos.

Muitos desdobramentos positivos na história recente do País dependeram da atmosfera criada pelo Plano Real. Um deles é a política social da primeira década do século que garantiu a Lula da Silva uma grande fidelidade dos setores mais vulneráveis da população.

Nem todos os problemas foram resolvidos ali. A reforma tributária que deve ser aprovada neste ano é considerada um passo adiante na trilha aberta pelo Plano Real.

Mas o que se discute com intensidade hoje é o ajuste fiscal.

Lula parece confrontado com duas saídas indigestas. Uma delas é voltar-se para os setores mais pobres, desvincular benefícios previdenciários do salário mínimo, reduzir investimentos na saúde e na educação.

Existe a alternativa de olhar para cima e para o lado: cortar subsídios, acabar com supersalários, rever a aposentadoria dos militares, realizar uma reforma administrativa.

Luiz Carlos Azedo - Carne bovina e frango ficarão de fora da cesta básica

Correio Braziliense

Hoje, estão isentos de impostos federais (como IPI, PIS e Cofins), mas a maioria dos estados, no entanto, cobra o ICMS sobre esses produtos, ou seja, a proteína animal

Promessa de campanha do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a picanha do fim de semana pode ficar mais longe da mesa da maioria dos brasileiros, após a regulamentação da reforma tributária. Hoje, a picanha custa em média R$ 59 o quilo nos supermercados. Nem a carne de segunda, o suíno, o frango e o peixe, na proposta dos relatores da reforma, farão parte da lista de produtos da cesta básica com alíquota zero de tributos. Será uma derrota dos consumidores de mais baixa renda. Músculo, rabo, bucho, mocotó, pé de porco, pescoço de galinha, a tilápia, tudo isso pagará imposto igual ao da picanha.

O relatório do projeto de lei complementar (PLP 68/2024), que regulamenta a reforma tributária, foi apresentado, nesta quinta-feira, pelo grupo de trabalho da Câmara que analisou a proposta original do governo. O presidente da Casa, Arthur Lira (PP-AL), pretende votar a regulamentação na próxima semana. O grupo de trabalho apresentou o relatório e manteve a proteína animal com uma isenção de 60%, como originalmente havia sido encaminhada pelo governo.

Eliane Cantanhêde - Simples e mais barato

O Estado de S. Paulo

Com psicologia haddadiana, Lula parou de falar de BC, assumiu proposta fiscal e dólar caiu

Fernando Haddad vem evoluindo: de professor a político (se isso é exatamente evoluir…), de prefeito a candidato a presidente, de ministro da Educação a ministro da Fazenda, de articulador político a psicólogo do presidente da República, o único capaz de botar o guizo no gato. Como não é fácil driblar adversários no governo, Haddad reuniu uma tropa para convencer o teimoso Lula de que é péssimo negócio guerrear contra a razão.

É real o impacto de fatores externos na disparada do dólar, mas é negacionismo puro desconsiderar o efeito das manifestações de Lula contra corte de gastos, equilíbrio fiscal, BC, política de juros e Roberto Campos Neto. Lula fala, o dólar sobe e depois ele atribui a subida a “ataque especulativo” e cobra intervenção do BC no câmbio.

André Roncaglia - O privatismo sem critério de Tarcísio de Freitas

Folha de S. Paulo

É imperativo evitar privatização da empresa de saneamento do estado mais rico do Brasil

Depois do escândalo da privatização da Eletrobras, a Sabesp é a bola da vez.

A venda de participação acionária da empresa teve a ampla concorrência... de uma empresa interessada. Indagado a este respeito, o governo Tarcísio reagiu com a novilíngua privatista: "Não é falta de concorrência, é uma aderência ao que a gente vem colocando desde o início".

Especializada em energia elétrica, a Equatorial conta com uma "vasta experiência" de dois anos no setor de saneamento, "conquistada" com a privatização do serviço no Amapá, feita pelo governo Bolsonaro em 2021, sob a batuta do atual governador carioca de São Paulo.

Bruno Boghossian - Cerco da polícia amplia antigo tormento de Jair Bolsonaro

Folha de S. Paulo

Aprofundamento de investigações reduziu espaço de reação do ex-presidente

O cerco da polícia amplia um antigo tormento de Jair Bolsonaro. O ex-presidente costumava desconfiar que poderia ser alvo de uma ordem de prisão preventiva. Ele iria para trás das grades, mas denunciaria a precipitação de seus acusadores. O avanço das investigações, por outro lado, dificulta essa cartada.

Num único dia, a Polícia Federal apresentou novos elementos de dois inquéritos contra Bolsonaro. Pela manhã, agentes deflagraram a segunda fase da operação que revelou a falsificação do cartão de vacina do ex-presidente. No fim da tarde, o capitão e mais 11 pessoas foram indiciadas pela venda ilegal de joias recebidas durante seu governo.

Vinicius Torres Freire - 'Guerra civil' da eleição francesa afeta política aqui e pelo mundo

Folha de S. Paulo

Embora mais fraca, aliança contra ultradireita se recuperou nos últimos dias

O resultado da eleição legislativa da França depende das alianças que se formaram ou ainda vão se formar até o segundo turno, no domingo. Isto é, depende em boa parte da soma dos votos dos eleitores que não querem o partido Reunião Nacional (RN) no poder: do "voto útil".

A frente contra a ultradireita se recuperou nos últimos dias, apesar de bem mais fraca do que em eleições realizadas de 2002 a 2022. Em tese, voltam a diminuir as chances de que o RN, de Marine Le Pen, consiga maioria absoluta na Assembleia, ainda que seja o partido maior.

Pelas últimas projeções, a soma dos eleitos pela esquerda e pelo centro macronista poderia até ser majoritária. Há quem sugira, assim, uma aliança precária, mas bastante para aprovar um ou outro projeto e evitar crise maior, pelo menos até a convocação de outra eleição, possível apenas daqui a um ano.

Jamais houve coalizão de ideologia mista na Quinta República (desde 1958). O presidente Emmanuel Macron detesta o França Insubmissa (LFI), partido maior da aliança de esquerda. O LFI tem dito que apenas entrará em governo de coalizão que siga o seu programa. Hum.

Por que prestar atenção à política francesa? Apesar dos pesares crescentes da França, a aliança franco-alemã é o pilar da enorme União Europeia. Um tumulto político-econômico por lá teria repercussão mundial, até financeira, aqui inclusive.

Thomas L. Friedman - Biden é um bom homem e um bom presidente, mas precisa desistir da reeleição

Folha de S. Paulo

Para dar aos EUA a maior chance de deter a ameaça Trump, democrata deve declarar que não concorrerá à reeleição

Assisti ao debate Biden-Trump sozinho em um quarto de hotel em Lisboa, e ele me fez chorar. Não consigo lembrar de um momento mais angustiante na política da campanha presidencial americana em minha vida —precisamente devido ao que o debate revelou: Joe Biden, um homem bom e um bom presidente, não tem motivos para concorrer à reeleição. E Donald Trump, um homem malicioso e um presidente mesquinho, não aprendeu e não esqueceu nada. Ele é a mesma torneira de mentiras de sempre, obcecado com suas queixas —longe do que será necessário para liderar os Estados Unidos no século 21.

A família Biden e sua equipe política devem se reunir rapidamente e ter as conversas mais difíceis com o presidente, uma conversa de amor, clareza e determinação. Para dar aos EUA a maior chance possível de deter a ameaça Trump em novembro, o presidente deve se adiantar e declarar que não concorrerá à reeleição e que está liberando todos os seus delegados para a Convenção Nacional Democrata.

Maria Cristina Fernandes - Notas de um PT com voto conservador

Valor Econômico

Prefeita de Contagem (MG), maior cidade governada pelos petistas no país, Marília Campos não entra em briga alheia nem fecha alianças pelo retrovisor e defende que partido abra mão de privilégios

Município da Região Metropolitana de Belo Horizonte e segundo maior do estado, com 668 mil habitantes, Contagem foi sede de vitórias históricas do PT iniciadas pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que lá ganhou lá duas vezes, sendo a primeira, em 2002, com 82% dos votos.

Nesses bons anos do PT no município, Marília Campos elegeu-se vereadora, duas vezes prefeita e três vezes deputada estadual. Psicóloga formada na UFMG e bancária desde os 18 anos, idade com a qual ajudou a fundar o PT em Uberlândia em 1982, Marília deixou a prefeitura em 2014, rumo à Assembleia Legislativa na disputa em que seus eleitores também deram o segundo mandato à ex-presidente Dilma Rousseff e colocaram Fernando Pimentel no Palácio da Liberdade.

A cidade, antigo entreposto fiscal da coroa portuguesa para contagem de escravos e cabeças de gado, sempre foi cultivada por Lula. Em visita à cidade, em junho, o presidente disse ter ouvido pela primeira vez a menção a Contagem em 1968, quando seus metalúrgicos lideraram, junto com os de Osasco, a primeira grande greve da ditadura.

José de Souza Martins – 1924: A revolução inacabada

Valor Econômico

Os revoltosos não tinham um projeto político. Queriam derrubar o presidente da República e livrar o exército da sujeição às oligarquias

Ainda hoje nos arredores da estação e dos quartéis da Força Pública (atual Polícia Militar), no bairro da Luz, em São Paulo, há marcas dos tiros de obuses disparados na manhã de 5 de julho de 1924 e nos dias seguintes. Na ilha da rua João Teodoro, uma antiga chaminé de usina termoelétrica tem as marcas dos disparos feitos pela Força Pública contra os quartéis a partir da esplanada do Carmo. A torre da igreja e o Liceu Coração de Jesus também têm suas marcas de tiros.

Tratava-se de uma insurreição de tenentes revoltosos do exército e de oficiais da Força Pública contra o governo de Artur Bernardes cuja deposição pretendiam. Do outro lado, o exército legalista e a força pública governista. Logo nas primeiras horas, os revoltosos prenderam o comandante da Força Pública e o general comandante da 2ª Região Militar, que acabara de chegar em casa, em traje de gala, do banquete e do baile do consulado americano, no Hotel Esplanada, para comemorar o aniversário da independência dos EUA.

Bernardo Mello Franco – As joias do capitão

O Globo

Antes de ser indiciado pela PF, ex-presidente havia retomado viagens para pedir votos

A Polícia Federal indiciou Jair Bolsonaro por três crimes no rolo das joias. O capitão foi acusado de peculato, associação criminosa e lavagem de dinheiro. Pelo volume de provas, é questão de tempo até que seja denunciado e enviado ao banco dos réus.

Os investigadores concluíram que o ex-presidente se apropriou indevidamente de bens da União. Depois de surrupiar o patrimônio público, ele resolveu transformar as pedras em dinheiro vivo. Para isso, mobilizou civis e militares num esquema de desvio, contrabando e ocultação de valores.

Flávia Oliveira - Adubar o debate

O Globo

País deixou passar quase despercebido um anúncio de imensa importância para economia

É de pobreza franciscana o debate macroeconômico brasileiro, restrito, quase sempre, às estimativas e análises de operadores do mercado financeiro. Nada contra bancos, corretoras, consultorias nem seus modelos econométricos e dedos nervosos. São agentes econômicos relevantes. Só não são os únicos. Desde a reunião de maio do Comitê de Política Monetária (Copom), quando a taxa básica de juros foi reduzida em 0,25 ponto percentual pelo placar apertado de 5 a 4, inaugurou-se um rali tão indesejado quanto perigoso para a vida real dos brasileiros.

Rogério F. Werneck - Causa e efeito

O Globo

O governo não consegue sair de uma quadro econômico intrincado

Memorável depoimento fez o embaixador Rubens Ricupero na comemoração dos 30 anos do Plano Real promovida pela Fundação FHC, em São Paulo, na tarde de 24 de junho. Era ministro da Fazenda quando o Real entrou em vigor, em 1º de julho de 1994. Vinha exercendo o cargo com admirável competência desde 30 de março daquele ano, quando FHC teve de se afastar para disputar a eleição presidencial.

Sua marcante intervenção no evento tocou num ponto crucial. Serviu de alerta para que, no calor das comemorações do Real, o país não se deixe levar pela ilusão de que as conquistas do esforço de estabilização empreendido a partir de 1994 tornaram-se irreversíveis. Vale a pena reproduzir o que Ricupero teve a dizer sobre isso.

Flávia Barbosa* - Só Trump quer Joe Biden

O Globo

Mesmo pesados os riscos da troca do candidato democrata, ela parece ser a única via para tentar a vitória

Joe Biden faz, nesta noite, um dos últimos grandes atos antes de decidir se mantém ou retira sua candidatura a mais quatro anos na Casa Branca. Concederá entrevista à rede de TV americana ABC, num esforço de mostrar-se capaz de continuar comandando os Estados Unidos. Após a mais dramática semana do Partido Democrata desde a Convenção de 1968, seus correligionários estão virtualmente unidos na avaliação de que Biden deveria jogar a tolha. Mas existe um grande entusiasta de sua campanha à reeleição: Donald Trump.

Joseph Stiglitz - Não há dúvida sobre o melhor para os EUA

Valor Econômico

Embora economistas tenham enfatizado a importância do Estado de Direito para o crescimento, Trump, um criminoso condenado, não é exatamente conhecido por sua adesão a ele

Algo ficou faltando na enxurrada de comentários após o debate entre o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, e Donald Trump. Embora as avaliações dos eleitores sobre a personalidade e forças pessoais dos candidatos sejam importantes, todos deveriam lembrar-se do famoso ditado: “É a economia, estúpido”. No mar de mentiras descaradas despejadas por Trump durante o debate, as falsidades mais perigosas referiram-se aos respectivos históricos de política econômica dele e de Biden.

Avaliar a gestão da economia por parte de um presidente é sempre uma tarefa espinhosa, porque muitos dos desenvolvimentos são desencadeados pelos antecessores. Barack Obama precisou lidar com uma profunda recessão porque governos anteriores se empenharam na desregulamentação financeira e não conseguiram evitar a crise que eclodiu no outono americano de 2008. Depois, com os republicanos do Congresso amarrando as mãos do governo Obama e defendendo um aperto de cinto, o país foi privado dos tipos de políticas fiscais que poderiam ter tirado a economia da Grande Recessão com mais rapidez. Quando a economia, enfim, estava em recuperação, Obama estava saindo e Trump, entrando.

Trabalhistas voltam ao poder no Reino Unido após 14 anos

Por O Globo e agências internacionais 

Partido liderado por Keir Starmer volta ao poder após 14 anos, com promessas de recuperar economia e agir de forma eficiente sobre a imigração; extrema direita já surge no retrovisor

LONDRES - Depois de 14 anos na oposição, o Partido Trabalhista retornará ao poder no Reino Unido, de acordo com as projeções divulgadas minutos após o fechamento das urnas, confirmando uma das maiores vitórias em décadas.

Os números apontam que o partido, comandado por Keir Starmer, provável novo primeiro-ministro, conquistou 410 cadeiras na Câmara dos Comuns, equivalente à Câmara dos Deputados, mais do que as 326 necessárias para governar sem precisar formar alianças. As estimativas ainda sinalizam para uma derrota contundente dos conservadores, um "renascimento" dos Liberal-Democratas e um avanço da extrema direita.

"A todos os que fizeram campanha pels trabalhistas nestas eleições, a todos os que votaram em nós e depositaram a sua confiança no nosso novo Partido Trabalhista – obrigado", escreveu Starmer no X, o antigo Twitter, minutos depois do fechamento das urnas. Caso as projeções se confirmem, será um avanço de 209 cadeiras.

Em segundo lugar veio o Partido Conservador, do agora futuro ex-premier Rishi Sunak, com 131 cadeiras, o pior resultado desde o fim da Segunda Guerra Mundial, com 241 assentos a menos. A lista de integrantes do Gabinete de Sunak que podem ficar sem vaga no Legislativo é longa, e inclui Jeremy Hunt, ministro das Finanças, e Grant Shapps, ministro da Defesa. Os números oficiais, alertam comentaristas, podem ser ainda piores, uma vez que estão sujeitos a pequenas diferenças, como houve nas últimas três votações.

quinta-feira, 4 de julho de 2024

O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões

Congresso precisa levar a PEC da Segurança a sério

O Globo

Iniciativa de Lewandowski tem o mérito de tirar a União da letargia para que assuma seu protagonismo

O ministro da Justiça e Segurança Pública, Ricardo Lewandowski, mal entregou ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva o texto da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que amplia a participação do governo federal no combate a organizações criminosas, e as resistências de governadores e da bancada da bala no Congresso já começaram. A iniciativa de Lewandowski tem o mérito de tirar a União de sua letargia e dar-lhe o protagonismo que se exige dela. Por isso deveria ser apoiada pela sociedade.

Entre outros pontos, a PEC da Segurança aumenta atribuições da Polícia Federal (PF) e da Polícia Rodoviária Federal (PRF). Na prática, a PF atuaria em investigações envolvendo facções criminosas e milícias, enquanto a PRF atuaria como polícia ostensiva sob o comando do governo federal. A proposta inclui na Constituição o Sistema Único de Segurança Pública (Susp), semelhante ao SUS. O modelo, criado em 2018, até hoje não está concluído.

Vinicius Torres Freire - A ruína dos conservadores britânicos

Folha de S. Paulo

Até liberais rejeitam o partido, que animou o Brexit e degradou serviços públicos

O Partido Conservador deve apanhar na eleição desta quinta-feira. Não vai apenas ceder o poder para o Partido Trabalhista, alternância costumeira faz um século. Pode ter o pior resultado da história

É difícil estimar o número de cadeiras que caberá a cada partido, pois o voto é distrital. Pelas projeções mais recentes, os conservadores ficariam com 95 cadeiras (tinham 344 quando o Parlamento foi dissolvido). Os trabalhistas, com 452, 70% do total de 650 parlamentares. Os liberal-democratas teriam 60. O Reform UK, com 5.

Pelas pesquisas de total de votos, o Partido Conservador, com 22%, não ficaria muito longe do Reform UK, do nacionalista xenófobo Nigel Farage, com 17%. Os trabalhistas teriam 39%. Os Liberal-Democratas, 12%.

Maurizio Molinari* - Há ainda uma esperança que vem da França e da Europa

A França, e com ela a Europa, preparam-se para a votação decisiva no domingo, quando as urnas decidirão a extensão da vitória da direita. Pois bem, quando faltam apenas cinco dias para a votação, a notícia é que para evitar que Le Pen obtenha a maioria absoluta, uma onda de pactos de desistência foi registada ontem nas zonas eleitorais onde ocorrerá o segundo turno. 218 candidatos pertencentes às diversas siglas que disputam o voto da direita desistiram de concorrer. A razão é um possível impasse que concretiza o pesadelo destas semanas: um quadro da ingovernabilidade do país. É por isso que Macron começa a avaliar a hipótese de um governo provisório (técnico) que reúna uma maioria politicamente heterogênea, mas necessária para manter Le Pen fora do governo do país.

Maria Hermínia Tavares - Por trás, uma ideia de país

Folha de S. Paulo

É de lembrar que nunca se tratou apenas de devolver valor à moeda

Os brasileiros mais velhos temos nossas lembranças particulares do dia em que o real começou a circular.

E, antes, de quando tivemos de quebrar a cabeça para entender o que era uma URV (Unidade Real de Valor) e da atitude ressabiada diante da nova moeda de muitos de nós que já víramos a inflação resistir a seis —seis!— planos sucessivos, todos incapazes de baixá-la a níveis civilizados.

Na segunda-feira (1°), passaram-se 30 anos daquele dia especial. Foram múltiplas as comemorações: textos, programas de TV, seminários, podcasts. Somando-se a tudo o que fora escrito antes, os festejos permitem uma visão substancial daquela empreitada.

Maria Cristina Fernandes - O dia em que Lula cedeu ao poder real do mercado

Valor Econômico

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, chegou ao Palácio do Planalto às 8h30 desta quarta-feira e só saiu mais de 12 horas depois, quando terminou a reunião da junta orçamentária com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Esteve ao lado de Lula nos eventos do Palácio ao longo do dia, mas foi a conversa que tiveram antes da primeira agenda presidencial, às 10h, que parece ter sido decisiva.

Haddad vinha recebendo cenários os mais catastróficos. Se o governo agisse agora, ainda daria tempo de retomada até 2026. Se continuasse nessa toada, devolveria o chapéu para a extrema direita. O ministro chegou com um arsenal de dados para mostrar o impacto do falatório sobre o dólar, inflação e juro. Desta vez, funcionou. Convergia com os muitos recados de grandes banqueiros e empresários que, por meio de ministros, fizeram chegar, nos últimos dias, suas preocupações ao presidente.

Ao meio-dia e meia, no breve discurso de lançamento do plano safra da agricultura familiar, Haddad era a imagem do entusiasmo. Até um “querida Janja” soltou. Lula foi breve e ponderado. Governo não joga dinheiro fora e tem responsabilidade fiscal. Ponto. Não foi só o gogó, porém, que derrubou o dólar. O palavrão ao longo do dia foi contigenciamento. Na reunião que entrou pela noite, acertaram-se os ponteiros do compromisso fiscal redivivo, com o corte dos R$ 25 bilhões em despesas e o contigenciamento do Orçamento.

Tão importante quanto conhecer as razões pelas quais o presidente reagiu é entender o que o levou à aloprada das últimas semanas. Não era nessa toada que vinha, tanto que seu ministro da Fazenda ganhou credibilidade para tourear as pressões e as dúvidas sobre a sustentabilidade fiscal. A mesma que estava por um fio até a reação desta quarta.

No início de junho, Lula recebeu pesquisas indicando que ele estaria despencando nas redes e que, para reverter esse declínio, seria preciso foco num tema, juros e bancos, e num personagem, Roberto Campos Neto. Chegam ao palácio as pesquisas as mais diversas, sem que o governo as tenha encomendado. Como esta trouxe o que queria ouvir, Lula comprou. O pavio, encurtado pelo flerte do presidente do Banco Central com a política, queimou dias a fio.

Quando Lula chegou à casa de Haddad na noite da última sexta-feira o aguardavam cinco economistas: Luiz Gonzaga Belluzzo, Luciano Coutinho, Guido Mantega, Gabriel Galípolo e Eduardo Moreira. A reunião vinha sendo planejada há muito tempo para tentar dar um norte à política industrial do governo. Lula resistia. Acabou por aceitar, mas, pela conjuntura, o encontro acabou tomando outro rumo.

Bruno Boghossian - O pugilista que depende de votos

Folha de S. Paulo

Economistas alertaram que presidente pode brigar com juros, mas inflação fica só na conta do governo

Lula ouviu uma mensagem pragmática durante um jantar com economistas que falam sua língua. Na conversa, nomes como Guido Mantega e Luiz Gonzaga Belluzzo fizeram um alerta: o presidente pode ter razão na crítica a investidores e ao Banco Central, mas o custo do embate ameaça ficar alto demais para o governo.

A pressão do dólar sobre a inflação virou um risco imediato para o petista. O que poderia ser um choque de visões sobre a economia se transformou rapidamente num problema que fatalmente transbordaria para o humor geral dos eleitores.

Em outras palavras: se o preço da comida subir, pouca gente vai ligar para quem tem razão na história. A maioria, sem dúvida, vai procurar culpados por uma crise que não existia antes daquele conflito.

Míriam Leitão - Brasil ameaçado por fogo e água

O Globo

Ministra Marina Silva conta que as ações preventivas começaram em abril no Pantanal e diz que, sem isso, a situação atual seria muito pior

A ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, disse que os municípios no Pantanal que mais desmataram foram os que mais tiveram focos de incêndio. E metade foi no município de Corumbá (MS). Ela conta que o governo agiu com prevenção, do contrário o que estaria acontecendo na região seria “incomparavelmente maior”. Falou que hoje mais de 500 pessoas estão no comando das operações, a maioria na linha do fogo. E voltou a dizer que a Polícia Federal identificou os 18 pontos nos quais a tragédia se iniciou e que contra os responsáveis haverá “aquilo que a lei prevê”.

Merval Pereira - Independência incomoda PT

O Globo

Petistas alegam que as agências reguladoras retiram dos ministérios e secretarias os poderes de gestão

Não é de hoje que o PT não gosta de autarquias autônomas como o Banco Central. Ao herdar o governo dos tucanos, não se deu bem com os dirigentes de agências reguladoras nomeados pelo governo anterior. A ideia de órgãos reguladores autônomos é consequência da privatização de estatais implementada pelos governos tucanos que criaram o Plano Real, hoje festejado como o ponto de partida do que poderia ter sido uma gestão modernizadora do Estado brasileiro, inconclusa até hoje.

Ter agências independentes dos governos foi a base da defesa dos cidadãos diante de um novo cenário que se abria com o Estado abrindo mão de administrar setores como a telefonia para passar essa tarefa ao setor privado, mas sob a supervisão de órgãos governamentais independentes. Terem comandos com mandatos desvinculados do governo é a premissa básica para o funcionamento desses órgãos, e a autonomia do Banco Central (BC) foi um desses avanços alcançados só recentemente, no governo Bolsonaro.

Malu Gaspar - Lula, o dólar e as cascas de banana

O Globo

Pode-se dizer que Luiz Inácio Lula da Silva tem vários defeitos, mas ser um neófito não é um deles. Por isso, muita gente no mercado e no meio político se perguntou por que tanta insistência nos ataques ao presidente do Banco CentralRoberto Campos Neto, nas últimas duas semanas.

Lula é um veterano em turbulências econômicas e sabe o efeito que suas declarações podem ter sobre o mercado em períodos de alta sensibilidade. Mas parece ter dificuldade em entender que o nervosismo que tomou conta do mercado após suas críticas a Campos Neto e às altas taxas de juros não é propriamente uma defesa de seu rival, e sim efeito da dúvida sobre o compromisso do governo de aprofundar o ajuste fiscal para manter as contas públicas equilibradas.

Afinal, entre um ataque e outro, Lula mesclou as menções ao “viés político” de Roberto Campos Neto com frases dúbias sobre sua real disposição para cortar gastos, num momento em que a equipe econômica reconhece que será preciso tomar alguma atitude para ao menos tentar cumprir a meta de déficit zero em 2024.

Luiz Carlos Azedo - Campos Neto entra em férias, e o dólar despenca

Correio Braziliense

As férias de Campos Neto e a reunião de Lula com Haddad deixaram os investidores de orelha em pé, temiam a intervenção do BC no mercado de câmbio

Bastou o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, entrar em férias e o diretor de Política Monetária, Gabriel Galípolo, assumir seu lugar, interinamente, para o dólar despencar. Ex-braço direito do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, Galípolo assumiu a chefia do BC por indicação de Campos Neto. O dólar encerrou a sessão desta quarta-feira em queda de 1,71%, de volta aos R$ 5,56. Galípolo é o mais cotado para a sucessão de Campos Neto, em dezembro, por indicação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O dólar chegou a bater os R$ 5,70 durante a tarde de terça-feira, o maior patamar em dois anos e meio, alta atribuída à cautela do mercado com as recentes críticas de Lula ao BC e a Campos Neto.

William Waack - Lula e Biden

O Estado de S. Paulo

As ideias antigas do presidente Lula são seu principal problema, não a idade

Apelidar Lula de “Biden da Silva” está ganhando tração nas lacrações na internet, num tipo de ataque por parte de adversários mais habilidosos no espaço digital do que a corrente política do presidente brasileiro. A comparação, porém, é descabida.

Joe Biden é uma vítima clara de senilidade, definida como doença degenerativa crônica que afeta a memória, o raciocínio e o comportamento de pessoas idosas. A enfermidade o obriga a ter de tomar uma única decisão (abandonar ou não a reeleição), pessoal e política, de enormes consequências qualquer que seja.

Salta aos olhos que Lula desfruta de condição física muito melhor do que a de Biden, e não precisa decidir neste momento sobre reeleição. O problema principal para Lula é ser vítima de sua própria visão dos fatos e as ações disso decorrentes, prejudiciais para ele mesmo.

É o caso específico do cenário econômico. Lula não parece entender os mecanismos que pioram ou aliviam o peso das questões fiscais e monetárias que balizam hoje – goste-se ou não disso – a política brasileira. E insiste em posturas que pioram as já precárias condições de governabilidade.

Celso Ming - Lula muda o tom. E o dólar recua e vêm cortes

O Estado de S. Paulo

O presidente Lula mudou seu discurso. Declarou, nesta quarta-feira, que “responsabilidade fiscal não são palavras, mas compromisso do governo”. Pelo que foi decido nesta quarta-feira e anunciado no início da noite, podem ser mais do que meras palavras.

A mudança de tom já fora suficiente para derrubar a cotação do dólar de R$ 5,66 para R$ 5,56. Isso mostra que as intervenções retóricas do presidente Lula a favor da gastança e contra o presidente do Banco Central têm a ver, sim, com a esticada das cotações da moeda estrangeira.

Mais do que o que diz, pesa o que Lula pensa e faz. O anúncio de cortes e de observância do déficit zero no Orçamento de 2025 é um bom começo. O que precisa ser visto é se o dito será observado na prática.

Felipe Salto - O acerto de Lula

O Estado de S. Paulo

Declaração do presidente jogou água na fervura e poderá abrir caminho à necessária agenda de controle de gastos públicos de Haddad

Ontem, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse: “Aqui, nesse governo, a gente aplica o dinheiro que é necessário. A gente gasta com educação e saúde, naquilo que é necessário. Mas a gente não joga dinheiro fora. Responsabilidade fiscal não é uma palavra, é um compromisso desse governo desde 2003. E a gente manterá à risca”.

Karl Marx inicia O 18 Brumário de Luís Bonaparte (1852) assim: “Hegel observa em uma de suas obras que todos os fatos e personagens de grande importância na história do mundo ocorrem, por assim dizer, duas vezes. E esqueceu-se de acrescentar: a primeira vez como tragédia, a segunda como farsa”.

Ele escreve que “os homens conjuram ansiosamente em seu auxílio os espíritos do passado, tomando-lhes emprestado os nomes, os gritos de guerra e as roupagens (...)”. É curioso como as obras clássicas ajudam a compreender e a interpretar a conjuntura, sobretudo quando tudo parece turvo.

quarta-feira, 3 de julho de 2024

O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões

A nova agenda 30 anos depois do Plano Real

O Globo

Brasil precisa promover reformas, confiar nos empreendedores e apostar no aumento da competição

As comemorações dos 30 anos do Plano Real, celebrados nesta semana, fazem jus ao feito histórico. A nova moeda acabou com a hiperinflação crônica, chaga que punia os mais pobres e provocava todo tipo de transtorno na vida de empresas e cidadãos. O principal legado do Real foi ter demonstrado que, quando unem determinação e propósito, os brasileiros têm o poder de resolver questões à primeira vista intratáveis. É com esse mesmo espírito em mente que o país precisa agora encarar um novo ciclo de reformas econômicas. O inimigo a bater desta vez não é mais a inflação, mas o crescimento medíocre da economia, responsável pela miséria renitente. Tal agenda deve ser encarada com a mesma garra. Se fosse possível resumi-la numa frase: o Brasil precisa confiar nos empreendedores e apostar no aumento da competição.

A história do agronegócio demonstra que o vigor empresarial brasileiro é capaz de enfrentar todo tipo de concorrente. Sem proteção tarifária, os empresários do campo adotaram as melhores práticas de plantio e gestão, investiram em tecnologia, exploraram nossas vantagens comparativas, prosperaram e criaram um dínamo de crescimento para o Brasil. Os fatores decisivos que o Estado propiciou para o sucesso não foram os programas de financiamento nem vantagens tributárias, mas o apoio à pesquisa científica, por meio da Embrapa. A revolução do interior não foi concebida num escritório na Esplanada dos Ministérios, na sede de uma estatal ou no BNDES. Como costuma dizer o ex-presidente do Banco Central Pérsio Arida — um dos artífices do Real —, a melhor receita para o êxito do Brasil está na experiência do setor agrícola, com a abertura maior da economia e menos intervenção estatal.

Ganhos de produtividade com a exposição à concorrência externa não são teóricos. Nos países com baixa competição, como o Brasil, as empresas não têm incentivo para investir em inovação. Se um artigo pode ser produzido como sempre foi e vendido caro, não há razão para apostar em melhorias. É por isso que a proteção de mercado resulta na perda de investimentos. O Brasil aplica em inovação o mesmo que países com renda per capita similar. Se as condições atuais forem mantidas, pouco mudará. A experiência dos últimos governos do PT mostra que não serão linhas de crédito facilitadas por bancos estatais que transformarão essa realidade. A desindustrialização precoce não será resolvida à base de subsídios. A solução é aumentar a concorrência para que os segmentos mais capazes se desenvolvam e prosperem. Nenhum país escapou da armadilha de crescimento baixo com renda média sem se integrar à economia global.

Paulo Celso Pereira* - A volta do Ministério do Vai Dar M...

O Globo

Episódios nebulosos têm provocado ‘déjà- vu’ em quem acompanhou de perto escândalos das últimas gestões petistas

A ideia foi imortalizada no primeiro governo Lula, por sua pertinência e autoria: deveria ser criado um Ministério do “Vai dar Merda”. A proposta vinha de Chico Buarque, entusiasta da chegada do PT ao poder, temeroso do desgaste que os tropeços poderiam causar ao projeto de esquerda. Passados 18 meses de seu terceiro mandato, Lula deveria pensar seriamente na sugestão.

Nos últimos meses, uma série de episódios nebulosos tem provocado déjà-vu em quem acompanhou de perto os escândalos das últimas gestões petistas. Primeiro, foram as acusações contra o ministro Juscelino Filho, indiciado por organização criminosa, lavagem de dinheiro e corrupção passiva. Trata-se de um clássico do patrimonialismo nacional: quando era deputado, ele destinou emendas para construir estradas no Maranhão que beneficiaram propriedades suas e de sua família.

Luiz Carlos Azedo - Ao atacar Lula, Milei exuma rivalidade argentina

Correio Braziliense

Milei acusou Lula de corrupção e interferência nas eleições argentinas, dias antes de vir ao Brasil, para um encontro com Bolsonaro em Balneário Camboriú

Nem só de carne, vinho e futebol se faz a Argentina: los hermanos também são muito bons de cinema. Seus filmes nos ajudam a entender um pouco a alma dos vizinhos, principalmente as comédias, que ironizam a arrogância e a soberba portenhas. O Homem ao lado, de Mariano Cohen e Gáston Dupra, por exemplo, é uma excelente comédia sobre o comportamento de dois vizinhos. A disputa desnuda o abismo social entre ambos.

A arrogância e a soberba são as características do presidente argentino, Javier Milei, na sua relação com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que voltou a ser atacado pelo chefe de Estado do nosso principal vizinho. As acusações foram feitas no X, direcionada ao "perfeito dinossauro idiota", cujo nome ele não revelou, mas trata-se de uma referência a Lula, que é citado no texto.

Bernardo Mello Franco - Milei quer briga

O Globo

Inquilino da Casa Rosada boicota cúpula do Mercosul e vem ao Brasil encontrar Bolsonaro

Javier Milei não vai à cúpula do Mercosul na segunda que vem, em Assunção. Alegou estar com a agenda lotada. Curiosamente, encontrou tempo para vir ao Brasil dois dias antes. Participará de uma reunião de políticos e influenciadores de extrema direita.

A versão nacional da Cpac ocorrerá em Balneário Camboriú, a Dubai catarinense. A lista de palestrantes é encabeçada por Jair Bolsonaro e pelo filho Zero Três. Quem pagar ingresso de R$ 249 ainda terá direito a ouvir a palavra de Magno Malta e Ricardo Salles.

Milei assumiu o poder em dezembro de 2023. Ainda não visitou o Brasil, principal comprador das exportações argentinas. Agora virá sem agenda oficial para confraternizar com líderes da oposição. Não será sua primeira provocação ao Planalto. Nem a última.

Marcelo Godoy - A conta da briga entre Milei e Lula

O Estado de S. Paulo

A crispação dos dois presidentes submete as relações entre os países aos caprichos pessoais dos líderes

“A mais triste forma de saber é estar ciente.” O verso do poeta Cassiano Ricardo mostra um dos dramas de Lula. O petista não parece ciente das consequências do que fala e faz. Os turiferários que o cercam fingem não enxergar o quanto se esgarça a política, afastando da República a moderação e a procura de consensos.

Busca-se a sobrevivência diante de um mundo exasperado, sem espaço para personagens como o francês Emmanuel Macron. Seu drama não se resume ao cálculo político desastroso ou à vaidade que acabou por destruí-lo. Há outro problema. E ele está no espírito do tempo. Uma nova era política parece condenar partidos e líderes à extinção catastrófica.