sexta-feira, 7 de novembro de 2025

O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões

Brasil tem de fazer mais para cumprir metas de emissões

Por O Globo

Queda recorde no desmatamento é um alento. Infelizmente, insuficiente para país honrar compromissos

Pela primeira vez, o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente reconheceu oficialmente aquilo que já se sabia: será impossível para a humanidade cumprir a meta de conter o aquecimento global até fim do século a apenas 1,5oC acima da temperatura da Era Pré-Industrial levando em conta as metas traçadas no âmbito do Acordo de Paris. O Relatório da Lacuna de Emissões divulgado nesta semana como subsídio para as discussões na COP30 em Belém estima, a partir da simulação de vários modelos científicos baseada nos compromissos assumidos até agora, um aumento entre 2,3oC e 2,5oC — isso se tais compromissos forem cumpridos. Como não têm sido, a estimativa realista fala em 2,8oC, o equivalente a um quadro climático no limiar do catastrófico. Não há, portanto, tempo a perder.

Segurança tem de superar o dia da marmota, por Fernando Abrucio

Valor Econômico

Sem um plano realmente consistente para lidar com o alastramento das facções do crime organizado, a política para a área volta sempre às mesmas infrutíferas iniciativas

A política de segurança pública no Brasil tem seguido predominantemente a lógica do dia da marmota. Para quem não conhece a metáfora, ela diz respeito à festa americana do dia 2 de fevereiro, quando se tenta prever a duração efetiva do inverno pelo comportamento desse peculiar bicho. Todo ano uma marmota é observada, como um eterno retorno. O filme traduzido para o português como “Feitiço do Tempo” usa esse evento para retratar a vida de um homem que diariamente acorda revivendo que o fez no dia anterior. Parece ser essa a sina da proposta hegemônica para resolver os males da criminalidade brasileira.

O que foi feito no Complexo do Alemão pelo governador Cláudio Castro é a reprodução da mesma estratégia tentada por muitos governadores do Rio de Janeiro e de outros estados desde a redemocratização. Há um dia mágico em que uma comunidade é invadida para acabar com traficantes e afins, pessoas morrem e são presas, sem que sejam pegos os verdadeiros chefes das facções, e se decreta que, a partir de então, um combate duro contra o crime será instalado.

A população local é oprimida pelo crime organizado há décadas - e por vezes pela própria polícia - e anseia pela recuperação de seus direitos básicos. A primeira operação, como o dia da marmota, é comemorada efusivamente como algo redentor, capaz de mudar a vida de toda a comunidade. Parte dos moradores desconfia do eterno retorno nesse jogo, mas aposta inicialmente no sucesso porque, para lembrar da peça de Paulo Pontes, o brasileiro tem a esperança como profissão.

No dia seguinte, comunicadores populares e políticos, especialmente os mais à direita, exploram essa esperança e dizem que é preciso endurecer a estratégia contra o crime, na linha do “tiro, porrada e bomba”, e parar de ouvir o “o pessoal dos direitos humanos”. Surgem várias propostas de alteração legislativa e medidas que terão um efeito salvador e mágico contra a bandidagem. Uma onda da opinião pública se instala abarcando quase todas as classes sociais.

Não é só o crime organizado que aterroriza a população, por José de Souza Martins

Valor Econômico

Tudo indica que a massa das vítimas da criminalidade desorganizada e artesanal não tem defesas para se proteger ou para reagir

As ocorrências trágicas do Rio de Janeiro, em dias passados, com seus numerosos mortos, expõem indícios da gravíssima situação da ordem social, mas também da ordem política, no Brasil.

O país está mergulhado em profundo estado de anomia, regulado por normas sociais que não funcionam e por normas antissociais que funcionam ao contrário do que se necessita para ter ordem.

É equívoco e ilusão pensar que se trata de um embate entre polícia e criminosos do crime organizado. Há outras personagens nesse cenário. Ao dar uma visibilidade meramente repressiva ao seu trabalho, as polícias estão deixando de lado o crime desorganizado. O que se manifesta nas ações criminosas que aterrorizam a população na vida cotidiana, sem letalidade. Para essa vítima, é essa modalidade de crime que mais preocupa.

A dupla de craques em tempos de miséria política, por Andrea Jubé

Valor Econômico

Renan Calheiros e Eduardo Braga vêm tocando de ouvido, em uma parceria rara à política contemporânea

Vale redobrar a atenção para os recentes acontecimentos no Senado, que dialogam com tempos remotos, na era pré-Davi Alcolumbre (União-AP), em que o MDB era hegemônico, e dava as cartas na Casa Alta do Parlamento. Salta aos olhos a atuação de uma dupla de veteranos emedebistas, afinada como há tempos não se via na política nacional, cujas entregas têm feito o Palácio do Planalto e o Ministério da Fazenda sorrirem.

A afinidade da dupla de senadores evoca exemplos de pares citados na música de Adriana Calcanhoto, como “avião sem asa, fogueira sem brasa, Buchecha sem Claudinho, Piu-piu sem Frajola, futebol sem bola...” Evoca o entrosamento de craques da bola como Pelé e Coutinho no Santos nos anos 60. Uma sintonia improvável se o jogo fosse futebol e não política, já que um deles é Botafogo, e outro é Fluminense, dois rivais encarniçados.

COP30 põe Amazônia no epicentro da geopolítica climática, por Luiz Carlos Azedo

Correio Braziliense

A conferência é estratégica para a integração dos países da Bacia Amazônica: Brasil, Colômbia, Peru, Bolívia, Equador, Venezuela, Guiana e Suriname. Essas nações abrigam 60% das florestas tropicais do planeta

A ausência dos presidentes Donald Trump e Xi Jinping na COP30, em Belém, destacou ainda mais o protagonismo do Brasil e da Amazônia no debate climático global. A conferência reposiciona a floresta não apenas como patrimônio natural, mas como ativo estratégico, essencial para a estabilidade climática e a sobrevivência dos ecossistemas do planeta. Pela primeira vez, a Amazônia ocupa o centro político de uma cúpula mundial não como símbolo de vulnerabilidade, mas como valor ambiental e civilizatório.

A floresta amazônica concentra cerca de 20% da água doce superficial do planeta. É responsável por grande parte da reciclagem de chuvas na América do Sul e abriga uma das maiores reservas de biodiversidade da Terra. Ao transformar a Amazônia em tema central da COP30, o Brasil assume o papel de guardião de um bem comum global, redefinindo o equilíbrio entre soberania e responsabilidade planetária.

Muitas guerras e pouca tática, por Vera Magalhães

O Globo

Presidente mistura temas com potencial de ganho de imagem e votos, como IR e COP, com outros propícios a desgaste, como segurança e geopolítica continental

Montar uma aliança pela paz, puxando a crise da segurança para a antessala da Presidência da República; convencer, na base do gogó, países ricos a tirar o escorpião do bolso e financiar um fundo para a preservação de florestas; chamar o Banco Central para uma DR e convencê-lo a começar a baixar os juros e, em meio a tudo isso, pegar um voo até Santa Marta para prestar solidariedade à Colômbia e à Venezuela diante da escalada de intervencionismo militar dos Estados Unidos na América do Sul.

A lista de tarefas assumidas por Lula ou que aliados (sic) querem empurrar para ele é maior que a dos trabalhos de Hércules na mitologia grega. Tirando a necessária e auspiciosa liderança na agenda climática, o resto do roteiro inclui uma série de ciladas evidentes e é impossível de cumprir com êxito sem efeitos colaterais para o Brasil e políticos para o petista.

A profecia de Richard Rorty, por Pablo Ortellado

O Globo

'Eleitorado decidirá que o sistema falhou e começará a procurar um homem forte para votar', afirmou filósofo em 1997

Um grande analista é aquele que observa um fenômeno em sua gênese e consegue extrair dele todas as consequências e também as consequências das consequências, antecipando desdobramentos causais que podem levar anos para se materializar. Farejar algo que emergirá plenamente em algumas décadas é um dom valioso e raro. Aqui mesmo nesta coluna, noutra ocasião, lembrei o historiador cultural Christopher Lasch. No livro “A cultura do narcisismo”, dos anos 1970, ele antecipou traços da cultura contemporânea que atribuímos hoje à influência das redes sociais.

O boicote do Tio Sam, por Bernardo Mello Franco

O Globo

Lula criticou "forças extremistas" que negam aquecimento global; Boric e Petro atacaram republicano, cuja ausência virou assunto incômodo em Belém

O Tio Sam não quis conhecer o nosso carimbó. Depois de abandonarem o Acordo de Paris, que estabeleceu metas para frear o aquecimento global, os Estados Unidos ignoraram a primeira COP realizada na Amazônia. O boicote transformou Donald Trump num assunto tão incômodo quanto incontornável em Belém.

Além de não vir, o inquilino da Casa Branca se recusou a enviar representantes à capital paraense. A decisão foi recebida como um ato de hostilidade ao multilateralismo e ao esforço coletivo para reduzir as emissões.

União nacional contra o crime organizado, por Fernando Gabeira

O Estado de S. Paulo

Se houver uma concordância de que a questão da segurança pública é uma questão de Estado e implica um trabalho conjunto, as chances de solução são maiores

A questão da segurança pública não é insolúvel, sobretudo quanto à libertação de territórios ocupados pelo crime organizado. Mas ela exige um nível de unidade nacional que não conseguimos obter na pandemia e quase alcançamos nas enchentes no Sul. Existem problemas que são maiores que as divergências políticas. Infelizmente, este é o caso da segurança pública, que, paradoxalmente, acabou acentuando a divisão após a operação policial no Rio de Janeiro. Verdade é que toda esta comoção ocorre próxima de um período eleitoral. Torna-se uma tarefa difícil convencer de que é possível um jogo de ganha-ganha. Mas a verdade é que, isoladamente, nem governo nem oposição conseguem um resultado satisfatório.

Lula e sua montanha-russa, por Eliane Cantanhêde

O Estado de S. Paulo

Governadores fortes e palanques fracos nos Estados são desafios para Lula, agora e depois

O presidente Lula, que adora um palanque, vive em campanha e sobe no salto alto com muita facilidade, é o franco favorito, quase candidato único para 2026, mas enfrenta um obstáculo e tanto: a falta de candidatos competitivos, não apenas do PT, mas da própria esquerda, sobretudo em Estados decisivos como São Paulo, Rio e Minas. Não se trata só de um problema eleitoral, mas também de uma ameaça à governabilidade a partir de 2027.

A ida de Guilherme Boulos para a Secretaria-Geral da Presidência é exemplo de cobertor curto. Reforça o Planalto e o diálogo do governo com os movimentos sociais, mas deixa o chamado campo progressista descoberto em SP. Sem Boulos, que nem é do PT, mas do PSOL, e já perdeu a eleição para a Prefeitura da capital, quem sobra? Fernando Haddad vai de novo para o sacrifício?

O jabuti judicial, por Raphael Di Cunto

Folha de S. Paulo

Ministros do STF aproveitam processos sobre outros temas para julgarem em causa própria

TCU rejeitou investigar Banco Central por omissão no Banco Master, mas reabre processo para apurar se houve irregularidade na rejeição da compra pelo BRB

criação de jabutis se tornou um negócio tão rentável em Brasília que se disseminou até para decisões judiciais, talvez inspiradas nas experiências pregressas de ministros ou nos convescotes com parlamentares.

O simpático réptil é sinônimo na capital do país para assuntos estranhos, incluídos por congressistas em medidas provisórias para acelerar matérias de interesse próprio ou de empresários, mesmo que não tivessem relação com aquela proposta.

Governo 'esquece' que pode ajudar nos juros, por Carolina Mandl

Folha de S. Paulo

Enquanto o BC tenta conter a inflação, o governo despeja bilhões de reais em políticas de estímulo à economia

É a política fiscal em choque com a política monetária às vésperas do ano eleitoral

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, parece ter se esquecido que o governo, do qual faz parte, também contribui para o trabalho do Banco Central. Na terça (4), ele disse que, se fosse diretor, votaria pelo corte da taxa básica de juros. Era uma tentativa de influenciar a decisão do Comitê de Política Monetária, que se reuniria no dia seguinte.

O recado, como todo o mercado já previa, foi ignorado. Na quarta (5), o Copom votou pela manutenção da Selic em 15% ao ano, patamar mais alto em quase 20 anos. Desde fevereiro de 2022, a taxa está em dois dígitos.

No comunicado em que detalha sua decisão de não cortar os juros, o comitê explicou que os riscos para a inflação continuam a rondar, assim como as incertezas trazidas pelas tarifas comerciais impostas pelos EUA ao Brasil.