sexta-feira, 7 de novembro de 2025

Muitas guerras e pouca tática, por Vera Magalhães

O Globo

Presidente mistura temas com potencial de ganho de imagem e votos, como IR e COP, com outros propícios a desgaste, como segurança e geopolítica continental

Montar uma aliança pela paz, puxando a crise da segurança para a antessala da Presidência da República; convencer, na base do gogó, países ricos a tirar o escorpião do bolso e financiar um fundo para a preservação de florestas; chamar o Banco Central para uma DR e convencê-lo a começar a baixar os juros e, em meio a tudo isso, pegar um voo até Santa Marta para prestar solidariedade à Colômbia e à Venezuela diante da escalada de intervencionismo militar dos Estados Unidos na América do Sul.

A lista de tarefas assumidas por Lula ou que aliados (sic) querem empurrar para ele é maior que a dos trabalhos de Hércules na mitologia grega. Tirando a necessária e auspiciosa liderança na agenda climática, o resto do roteiro inclui uma série de ciladas evidentes e é impossível de cumprir com êxito sem efeitos colaterais para o Brasil e políticos para o petista.

A profecia de Richard Rorty, por Pablo Ortellado

O Globo

'Eleitorado decidirá que o sistema falhou e começará a procurar um homem forte para votar', afirmou filósofo em 1997

Um grande analista é aquele que observa um fenômeno em sua gênese e consegue extrair dele todas as consequências e também as consequências das consequências, antecipando desdobramentos causais que podem levar anos para se materializar. Farejar algo que emergirá plenamente em algumas décadas é um dom valioso e raro. Aqui mesmo nesta coluna, noutra ocasião, lembrei o historiador cultural Christopher Lasch. No livro “A cultura do narcisismo”, dos anos 1970, ele antecipou traços da cultura contemporânea que atribuímos hoje à influência das redes sociais.

O boicote do Tio Sam, por Bernardo Mello Franco

O Globo

Lula criticou "forças extremistas" que negam aquecimento global; Boric e Petro atacaram republicano, cuja ausência virou assunto incômodo em Belém

O Tio Sam não quis conhecer o nosso carimbó. Depois de abandonarem o Acordo de Paris, que estabeleceu metas para frear o aquecimento global, os Estados Unidos ignoraram a primeira COP realizada na Amazônia. O boicote transformou Donald Trump num assunto tão incômodo quanto incontornável em Belém.

Além de não vir, o inquilino da Casa Branca se recusou a enviar representantes à capital paraense. A decisão foi recebida como um ato de hostilidade ao multilateralismo e ao esforço coletivo para reduzir as emissões.

União nacional contra o crime organizado, por Fernando Gabeira

O Estado de S. Paulo

Se houver uma concordância de que a questão da segurança pública é uma questão de Estado e implica um trabalho conjunto, as chances de solução são maiores

A questão da segurança pública não é insolúvel, sobretudo quanto à libertação de territórios ocupados pelo crime organizado. Mas ela exige um nível de unidade nacional que não conseguimos obter na pandemia e quase alcançamos nas enchentes no Sul. Existem problemas que são maiores que as divergências políticas. Infelizmente, este é o caso da segurança pública, que, paradoxalmente, acabou acentuando a divisão após a operação policial no Rio de Janeiro. Verdade é que toda esta comoção ocorre próxima de um período eleitoral. Torna-se uma tarefa difícil convencer de que é possível um jogo de ganha-ganha. Mas a verdade é que, isoladamente, nem governo nem oposição conseguem um resultado satisfatório.

Lula e sua montanha-russa, por Eliane Cantanhêde

O Estado de S. Paulo

Governadores fortes e palanques fracos nos Estados são desafios para Lula, agora e depois

O presidente Lula, que adora um palanque, vive em campanha e sobe no salto alto com muita facilidade, é o franco favorito, quase candidato único para 2026, mas enfrenta um obstáculo e tanto: a falta de candidatos competitivos, não apenas do PT, mas da própria esquerda, sobretudo em Estados decisivos como São Paulo, Rio e Minas. Não se trata só de um problema eleitoral, mas também de uma ameaça à governabilidade a partir de 2027.

A ida de Guilherme Boulos para a Secretaria-Geral da Presidência é exemplo de cobertor curto. Reforça o Planalto e o diálogo do governo com os movimentos sociais, mas deixa o chamado campo progressista descoberto em SP. Sem Boulos, que nem é do PT, mas do PSOL, e já perdeu a eleição para a Prefeitura da capital, quem sobra? Fernando Haddad vai de novo para o sacrifício?

O jabuti judicial, por Raphael Di Cunto

Folha de S. Paulo

Ministros do STF aproveitam processos sobre outros temas para julgarem em causa própria

TCU rejeitou investigar Banco Central por omissão no Banco Master, mas reabre processo para apurar se houve irregularidade na rejeição da compra pelo BRB

criação de jabutis se tornou um negócio tão rentável em Brasília que se disseminou até para decisões judiciais, talvez inspiradas nas experiências pregressas de ministros ou nos convescotes com parlamentares.

O simpático réptil é sinônimo na capital do país para assuntos estranhos, incluídos por congressistas em medidas provisórias para acelerar matérias de interesse próprio ou de empresários, mesmo que não tivessem relação com aquela proposta.

Governo 'esquece' que pode ajudar nos juros, por Carolina Mandl

Folha de S. Paulo

Enquanto o BC tenta conter a inflação, o governo despeja bilhões de reais em políticas de estímulo à economia

É a política fiscal em choque com a política monetária às vésperas do ano eleitoral

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, parece ter se esquecido que o governo, do qual faz parte, também contribui para o trabalho do Banco Central. Na terça (4), ele disse que, se fosse diretor, votaria pelo corte da taxa básica de juros. Era uma tentativa de influenciar a decisão do Comitê de Política Monetária, que se reuniria no dia seguinte.

O recado, como todo o mercado já previa, foi ignorado. Na quarta (5), o Copom votou pela manutenção da Selic em 15% ao ano, patamar mais alto em quase 20 anos. Desde fevereiro de 2022, a taxa está em dois dígitos.

No comunicado em que detalha sua decisão de não cortar os juros, o comitê explicou que os riscos para a inflação continuam a rondar, assim como as incertezas trazidas pelas tarifas comerciais impostas pelos EUA ao Brasil.

O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões

Brasil tem de fazer mais para cumprir metas de emissões

Por O Globo

Queda recorde no desmatamento é um alento. Infelizmente, insuficiente para país honrar compromissos

Pela primeira vez, o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente reconheceu oficialmente aquilo que já se sabia: será impossível para a humanidade cumprir a meta de conter o aquecimento global até fim do século a apenas 1,5oC acima da temperatura da Era Pré-Industrial levando em conta as metas traçadas no âmbito do Acordo de Paris. O Relatório da Lacuna de Emissões divulgado nesta semana como subsídio para as discussões na COP30 em Belém estima, a partir da simulação de vários modelos científicos baseada nos compromissos assumidos até agora, um aumento entre 2,3oC e 2,5oC — isso se tais compromissos forem cumpridos. Como não têm sido, a estimativa realista fala em 2,8oC, o equivalente a um quadro climático no limiar do catastrófico. Não há, portanto, tempo a perder.

Poesia | William Shakespeare por Fernanda Montenegro | Solilóquio de MacBeth

 

Música | Casuarina - Disritmia