sexta-feira, 3 de junho de 2022

O que a mídia pensa: Editoriais / Opiniões

Editoriais

O PIB de 2023

Folha de S. Paulo

Economia não surpreende no 1º trimestre; cumpre evitar estagnação no próximo ano

O comentário mais comum sobre o desempenho da economia no primeiro trimestre notou que o resultado do Produto Interno Bruto foi melhor do que o esperado no início do ano, mas que é provável uma contração no segundo semestre. Ademais, as primeiras previsões para 2023 são de estagnação.

Entre a discreta melhora e as estimativas pouco animadoras se interpõe o efeito mais relevante da alta das taxas de juros, além do fim dos aumentos transitórios de renda e do processo de normalização da atividade do setor de serviços.

Foi apenas na passagem de 2021 para 2022 que os juros chegaram a um nível que deve ter efeitos de contenção da atividade econômica. O impacto do aperto monetário deve ser mais sentido a partir da segunda metade deste ano.

A recuperação expressiva do nível de emprego contribuiu para o bom resultado do consumo das famílias. Entretanto a média dos salários continua no pior patamar da década —em boa parte por causa da inflação, que permanecerá muito alta, além dos 10% ao ano, até o terceiro trimestre ao menos.

Também em meados do ano devem se exaurir os aumentos de renda derivados do saque parcial do FGTS e da antecipação do 13º pagamento de benefícios do INSS. O setor de serviços, que contribuiu de modo importante para o crescimento de 1% do PIB entre janeiro e março, deve perder ímpeto depois da recuperação propiciada pelo fim das restrições maiores impostas pela epidemia.

Fernando Luiz Abrucio*: O Estado não é inimigo da cidadania

Valor Econômico / Eu & Fim de Semana

Sob a égide de Bolsonaro, ele está se transformando num inimigo feroz da igualdade num país marcado por múltiplas assimetrias desde a escravidão

O Estado deve servir para impulsionar e proteger a cidadania. Essa máxima política foi construída ao longo de séculos na Europa e nos Estados Unidos e só muito recentemente foi incorporada à lógica política brasileira, a partir de 1988 com a chamada (não por acaso) Constituição cidadã. Nos últimos 30 anos essa ideia evoluiu no Brasil e, mesmo com percalços e lacunas, foi a principal bússola do debate público. E aqui entra mais um ineditismo negativo do governo Bolsonaro: sua visão sobre o papel do Estado o torna inimigo da cidadania democrática.

O conceito de cidadão supõe a busca da igualdade como norteadora de todas as dimensões públicas da vida social. É preciso garantir direitos básicos a todos e criar condições para que cada um possa usufruir o máximo possível de sua cidadania. Trata-se de uma ideia com múltiplos pais: republicanos, liberais, democratas, socialistas, social-democratas e ecologistas. Há consensos e nuances nas visões desses grupos, mas todos concordam que a reprodução cotidiana da desigualdade na esfera pública é um mal a ser combatido.

O bolsonarismo é inimigo da ideia de igualdade cidadã. Sua proposta é de manter a desigualdade prévia de cada um, a partir da qual, ilusoriamente, se poderia exercer uma liberdade quase irrestrita, com exceção dos limites impostos pelo exercício do poder do líder maior, o mito - isto é, o presidente da República.

Na via inversa, o igualitarismo democrático é uma construção contínua de direitos e capacidades, o que exige uma ação efetiva do Estado e, concomitantemente, o seu controle. Bolsonaro propõe exatamente o contrário: que o governo seja frágil nas políticas que criam oportunidades e a possibilidade do exercício da cidadania, ao passo que o aparato estatal deve ser forte na garantia das desigualdades prévias e no exercício do poder repressivo, tornando-o incontrolável pela sociedade.

José de Souza Martins*:Avanço da ciência em país de recuos

Valor Econômico / Eu & Fim de Semana

A Fapesp, que completa 60 anos, tem sido responsável pelo decisivo apoio material a pesquisas em todas as áreas do conhecimento

No Brasil, nosso tempo é largamente capturado e consumido pelas irrelevâncias de gente que tem visibilidade, mas não tem o que dizer. Um ignorante profissional recebe aqui mais atenção e respeito do que um professor. E muito mais do que um cientista, aqui confundido com o emblemático professor Pardal. No banheiro de uma faculdade da USP li, nos idos de abril de 1964: “Em terra de cego quem tem um olho emigra”.

Muitos não emigraram. Com mais amor à pátria do que os patriotas de profissão e com muito amor à ciência, ficaram. Ficaram porque o Brasil é um país de grandes possibilidades de descobertas na área científica. É um país recoberto de problemas a serem resolvidos e de enigmas a serem explicados. Os europeus que fundaram a USP aceitaram o desafio de fundar uma universidade como ela porque aquilo era como a viagem de Colombo, a da descoberta do novo mundo, nesta terra de uma humanidade diferente. Até as doenças são diferentes.

A Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo) acaba de completar 60 anos. Foi criada pelo governador Carlos Alberto de Carvalho Pinto, grande estadista e cidadão, em 1960, e instalada em 1962.

Dora Kramer: Novidade na pista

Revista Veja

O desafio de Simone Tebet é despertar no eleitor a vontade de acertar, para além do medo de errar

Marqueteiros de variados costados, à esquerda e à direita, têm sido unânimes nas análises aos respectivos contratantes sobre o impacto da entrada de Simone Tebet em cena: é difícil, mas não é impossível que a senadora do MDB escolhida para representar o chamado campo democrático tenha sucesso na presente disputa pela Presidência da República.

Hoje, o êxito é uma dúvida, mas para o futuro, segundo essas avaliações, já se configura a certeza de que na próxima, em 2026, haverá perspectivas inovadoras nas figuras de Simone Tebet e do ex-governador Eduardo Leite. Se não for agora, dizem, será mais à frente.

Para o jogo em curso vale de pouco esse tipo de avaliação, dada a urgência à espreita na esquina, mas ao menos cria uma expectativa de que nem tudo está perdido na política tal como tradicionalmente a conhecemos.

O desafio presente é monumental, embora a senadora detenha ativos promissores. Como mulher, pode atrair o eleitorado feminino, que, além de majoritário, apresenta grau elevado de indecisão entre a intenção do voto e o gesto efetivo a ser feito no momento de cravar a escolha na urna. Seria, de fato, a primeira a postular a Presidência, pois Dilma Rousseff não chegou lá por si. Foi levada por um homem, o poderoso Lula.

Vera Magalhães: O marketing entra em campo

O Globo

A campanha presidencial antecipada começa a testar as estratégias de marketing com que os principais candidatos se digladiarão pelo voto em outubro. Jair Bolsonaro, eleito com uma campanha totalmente tosca na TV, mas muito sofisticada no uso das redes sociais, agora se prepara para mesclar um “lado A” mais tradicional de marketing político com a insistência nesse “lado B” das redes.

Os primeiros filmes da vertente mainstream da campanha reeleitoral começaram a sair do forno. Num deles, um Bolsonaro tentando aparentar ser um sujeito boa-praça, sorridente, conversa com jovens numa arquibancada e os aconselha a ouvir os pais, numa preleção sobre a importância da família na formação dos indivíduos.

É um discurso para atingir não só o público jovem, no qual o capitão tem baixa penetração — e muito permeável à opinião de influenciadores e artistas, com quem ele vive em guerra permanente. A fala visa a atingir também as famílias mais conservadoras, de baixa renda e perfil religioso, pois ele também enaltece, como sempre desde 2018, a importância de Deus, além da família.

Eliane Cantanhêde: Meia-volta, volver

O Estado de S. Paulo

Bolsonaro foca no Nordeste, mas seu desafio é manter o Sul, além do Sudeste

Pressionado pelas pesquisas e pela realidade, o presidente Jair Bolsonaro volta as atenções e despeja dinheiro no Nordeste, onde perde feio, feiíssimo, para o ex-presidente Lula. A melhor estratégia, porém, talvez não seja tentar ganhar o que não tem, mas manter o que já tem. O Sul, por exemplo, que tem em torno de 15% do eleitorado nacional e pode estar lhe escorrendo pelos dedos.

Em 2018, Bolsonaro ganhou do petista Fernando Haddad em todas as regiões, exceto no Nordeste. Massacrado em Pernambuco, Estado de Lula, foi campeão de votos em Santa Catarina.

Hoje, continua na liderança no Estado, mas começa a balançar no Paraná e no Rio Grande do Sul.

O governador Ratinho Jr. (PR), favorito na disputa, é próBolsonaro, mas sem implodir pontes com Lula. No RS, o presidente está entre Onyx Lorenzoni (PL), seu ex-ministro em três pastas, e o senador Luis Carlos Heinze (PP), ferrenho bolsonarista na CPI da Covid. Lorenzoni tem dois trunfos: está na frente nas pesquisas e apoiou Bolsonaro na primeira hora.

Bernardo Mello Franco: Um ministro contra o STF

O Globo

Kassio Nunes Marques já vestiu a toga há um ano e meio, mas continua empenhado em mostrar serviço ao governo. Ontem o ministro do Supremo deu mais uma mãozinha a Jair Bolsonaro. Numa canetada, anulou a cassação de Fernando Francischini, deputado estadual no Paraná.

O bolsonarista perdeu o mandato em outubro de 2021. Tornou-se o primeiro político cassado por difundir mentiras contra as urnas eletrônicas. Ao condená-lo, o TSE estabeleceu um precedente para punir a indústria das fake news. Ao anular o julgamento, Nunes Marques voltou a transformar a internet numa terra sem lei.

Francischini conquistou três mandatos de deputado pelo sistema eletrônico de votação. Isso não o impediu de propagar desinformação contra as urnas. No dia do primeiro turno de 2018, ele relatou uma suposta fraude para impedir a vitória de Bolsonaro. Era tudo invenção para minar a credibilidade da Justiça e inflamar a militância de extrema direita.

Ricardo Mendonça: Voto envergonhado e ataque às instituições

Valor Econômico

Eleitores enrustidos de Lula podem decidir a eleição no 1º turno

Algumas semanas atrás, uma empresa de pesquisa contratada por um banco fez um teste curioso. Depois de perguntar aos entrevistados em quem eles pretendiam votar para presidente da República neste ano, perguntou em quem eles achavam que a maioria da outras pessoas da família e da roda de amigos estava disposta a votar.

Constatou que tem mais gente que conhece parentes e amigos interessados em votar no ex-presidente Lula do que o próprio desempenho de Lula na pergunta direta. Com o presidente Jair Bolsonaro ocorre o inverso.

Os resultados são sugestivos.

Na véspera do primeiro turno das eleições de 2018, o Datafolha informava que Bolsonaro tinha 40% dos votos válidos, o Ibope falava em 41%. No domingo, conforme a apuração do Tribunal Superior Eleitoral, Bolsonaro terminou o primeiro turno em primeiro lugar, exatamente como diziam as pesquisas, mas com pouco mais de 46% dos votos válidos.

Hélio Schwartsman: Campanhas importam?

Folha de Paulo

Cientistas políticos costumam ser céticos em relação a elas

Bolsonaro adoraria fugir dos debates, mas, como está muito atrás de Lula, esse talvez seja um luxo ao qual ele não pode se dar. Já o petista afirma que não tem condições de atender a todos os pedidos de debate e sugere que os órgãos de imprensa se organizem num "pool". Qual a real influência de debates, e, num sentido mais amplo, das próprias campanhas eleitorais, no resultado de pleitos?

Candidatos, marqueteiros e jornalistas tendem a ver as campanhas como o front onde se vence ou perde a disputa. Cientistas políticos costumam ser mais céticos. É claro que, numa eleição apertada, daquelas que se decidem milimetricamente, pequenos movimentos podem ter grandes consequências. Aí, incidentes de campanha e eventualmente até um desempenho desastroso num debate podem fazer a diferença. Mas nem todo pleito é decidido no olho eletrônico.

Bruno Boghossian: O destino voto volátil

Folha de S. Paulo

Números do Datafolha mostram perfil de indecisos e eleitores sem candidato na ponta da língua

A disputa pelo que resta de votos no mercado político passa pelas mulheres, pela população de baixa renda e por eleitores que estão em cima do muro em relação aos rumos do país. Entre os indecisos e aqueles que ainda não cravaram a escolha de um candidato, há pistas sobre os caminhos que as principais campanhas deverão seguir até outubro.

Apesar de uma larga fatia dos brasileiros já ter definido um lado, 29% dos eleitores ainda não têm um presidenciável na ponta da língua. São os entrevistados que, na última pesquisa do Datafolha, não souberam declarar seu voto de forma espontânea –antes de ler uma cartela com os nomes dos candidatos.

Reinaldo Azevedo: Outubro o início do 'desgolpe'

Folha de S. Paulo

Não é a carta de Biden que garante a democracia. É o voto. É a escolha.

Tudo indica que Jair Bolsonaro subscreverá uma carta da Cúpula das Américas em defesa da democracia e da presença de observadores internacionais em eleições continente afora, o que inclui as nossas, é claro!, cujo resultado o presidente põe em dúvida de antemão. Joe Biden, com quem ele vai se encontrar, conhece a máxima: "Se eu perder, então houve fraude".

Se a garatuja do "Mito" estiver no documento, estamos livres da virada de mesa? A pergunta está errada. O golpe no Brasil é um "estar sendo", já em curso, e se faz um pouco por dia. Em outubro, temos de começar a "desgolpear" o Brasil. Vamos a uma digressão elucidativa e volto ao ponto.

Ainda que Bolsonaro possa, tudo indica, sonhar com um desfile de tanques na Esplanada dos Ministérios e com as respectivas cabeças de pelo menos nove ministros do STF fincadas em postes —Arthur Lira e Ciro Nogueira estariam na segunda fileira, por motivos diversos—, uma disrupção dessa natureza é improvável.

Ruy Castro: Do bueiro ao Planalto

Folha de S. Paulo

Precisamos não de uma, mas de muitas biografias de Bolsonaro

Leitores opinaram sobre a coluna desta quarta-feira (1°/6), em que propus a urgência de se escrever biografias de Jair Bolsonaro. Para alguns, não se deveria perder esse tempo com ele. Com todo respeito, tal visão é um erro. Ninguém mais que Bolsonaro precisa ser biografado no Brasil. E não uma, mas muitas vezes. Só várias delas nos permitirão entender como foi possível ao réptil expandir-se em segredo e, ao sair do bueiro, chegar ao Planalto.

Calcula-se que, em todas as línguas, Adolf Hitler já tenha tido 10 mil biografias. Todas foram importantes —ajudaram a impedir um novo Hitler. As de Bolsonaro também cumpririam esse papel.

Neste momento, no entanto, há um problema em biografar Bolsonaro. Entre a concepção da ideia, o trabalho de investigação, entrevistas com as fontes, a escrita propriamente dita e sua produção física por uma editora, nenhuma biografia séria levará menos de dois anos para sair. No caso de o biógrafo trabalhar 24 horas por dia, sem perder tempo com comer e dormir, e a editora adotar máxima urgência na composição, revisão de provas, editoração e impressão, isso pode ser reduzido para talvez um ano. É muito tempo, durante o qual Bolsonaro continuará perpetrando monstruosidades. O livro sairá inevitavelmente desatualizado.

Vinicius Torres Freire: Um voto por R$ 1 por litro

Folha de S. Paulo

Donos do governo agora querem estourar os gastos com decreto de calamidade

O desespero é grande entre os políticos aliados de Jair Bolsonaro. Os regentes do governo, os primeiros-ministros desse semiparlamentarismo aloprado, querem agora aprovar um decreto de calamidade, um instrumento legal que liberaria gastos do governo quase em geral, com exceção marcante de reajustes para servidores públicos.

Os regentes são os líderes do centrão, Arthur Lira (PP-AL), presidente da Câmara, e Ciro Nogueira (PP-PI), senador licenciado e ministro da Casa Civil. A medida desesperada ainda é improvável e poderia parar na Justiça. Paulo Guedes, ministro da Economia, é contra, mas já teve de engolir decisões dos regentes do centrão.

Um objetivo da liberação de gastos e do rombo no teto de gastos seria arrumar dinheiro para bancar parte do preço dos combustíveis —para subsidiar diesel e talvez gasolina. Mas o céu é o limite.

O governo federal está praticamente na mão dos regentes desde o trimestre final do ano passado. Eles e turma estavam mais confiantes em vitória de Bolsonaro, com Auxílio Brasil, inflação menor e algum crescimento da economia além da miséria que vemos desde 2017. Por vários motivos, não deu certo.

Armando Castelar Pinheiro*: De furacões, futebol e incertezas

Valor Econômico

É uma época de especial incerteza porque nem as autoridades sabem o quanto apertarão a política monetária

Em seu último Panorama Econômico Global, publicado faz mês e meio, o FMI assim descreve os impactos econômicos da Guerra da Ucrânia: “Os efeitos econômicos da guerra estão se espalhando por toda parte - como ondas sísmicas que emanam do epicentro de um terremoto - principalmente através de mercados de commodities, comércio e ligações financeiras”.

Esta semana foi a vez do CEO do banco JP Morgan, Jamie Dimon, recorrer a fenômenos naturais para pintar, com tintas não menos fortes, na minha visão, o cenário econômico que ele enxerga à frente: “Eu disse que são nuvens de tempestade, são grandes nuvens de tempestade aqui. É um furacão. Aquele furacão está bem ali na estrada vindo em nossa direção. Só não sabemos se é um (furacão) pequeno ou uma super tempestade (como foi o) Sandy... E é melhor você se preparar”. (ver on.ft.com/3x0Ia5G)

O JP Morgan é o maior banco americano, medido pelo valor de ativos. Foi também, dentre os grandes bancos, o que melhor lidou com a crise financeira internacional de 2008-09, não apenas evitando contaminar seu balanço com as famosas “subprimes”, as hipotecas de alto risco, mas adquirindo várias instituições que quebraram com a crise, como o Bear Stearns.

Claudia Safatle: Meta de inflação deve ser adiada para 2024?

Valor Econômico

Demora na decisão pode comprometer parte da credibilidade do Copom

O Banco Central tem resistido, mas é crescente o debate sobre o futuro da taxa de juros e da própria meta de inflação. A questão é se o Comitê de Política Monetária (Copom) deve continuar subindo os juros ou já está chegando a hora de redefinir a meta de inflação para 2023 e 2024, esticando o prazo para a convergência da expectativa de inflação para a meta?

Hoje a situação é de uma meta de 3,5% para uma inflação acumulada em 12 meses de 12,13%. Para alguns economistas de peso, estaria chegando o momento de o Banco Central avisar aos agentes econômicos que a convergência só deverá acontecer em 2024. A meta de 3,25% de variação do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) para 2023 seria elevada ou não se estabelece um objetivo para o próximo ano, trabalhando com a meta para a inflação do ano seguinte.

Flávia Oliveira: A economia não perdoa

O Globo

O governo de Jair Bolsonaro é destruição para onde se olhe — educação em crise aguda, Floresta Amazônica no chão, cruzada armamentista, negação à ciência, ataques à democracia — mas o que, tudo indica, o levará a nocaute é o fracasso econômico. O IBGE exibiu ontem os resultados do PIB no primeiro trimestre. Visto pelo retrovisor, o crescimento de 1% sobre o fim de 2021 sugere recuperação, sobretudo pelo efeito da flexibilização das atividades diante da acomodação do número de casos e de óbitos pela Covid-19 após a imunização em massa. Não por acaso, destacaram-se os serviços de hospedagem, alimentação e transporte (cargas e aéreo, à frente).

O eleitorado, contudo, tem reagido mal às condições do presente nas consultas sobre as eleições de 2022. O ano começou na expectativa de que mercado de trabalho e nível de renda melhorariam com o fim das restrições impostas pela pandemia. A realidade foi de salário mínimo estagnado, desemprego alcançando quase 12 milhões de brasileiros, inflação galopante e Auxílio Brasil insuficiente para cobrir as despesas com alimentos.

Fabio Giambiagi: A questão social do país

O Globo

Seria importante que todas as políticas sociais, tirando as setoriais, estivessem unificadas em um único ministério

Vamos hoje para nosso nono encontro nesta “jornada de debates” com vistas ao programa de governo de quem conduzir o país de 2023 em diante. Uma das lendas urbanas existentes em nossa política diz respeito à interpretação de que o governo seria uma instituição que só trabalharia para “os privilegiados”. Trata-se de um completo equívoco.

Embora seja claramente verdadeiro que o Brasil gasta muito com grupos populacionais numericamente modestos — e o maior exemplo disso é a previdência dos servidores públicos — o fato é que, após a redemocratização de 1985, muitos grupos até então alijados da disputa distributiva passaram, por assim dizer, a fazer parte da mesa do jantar. Tornamo-nos — e isso é bom — uma sociedade, nesse sentido, mais democrática.

Fernando Carvalho*: Gilberto Freyre reformador civilizacional

Gilberto Freyre não é um simples reformador social ele é um reformador civilizacional. Ele é uma espécie de "anti-Hitler". Em 1933 Hitler chega ao poder na Alemanha. E no Brasil Gilberto Freyre publica Casa-Grande & Senzala.

Enquanto Hitler defendia a superioridade da raça branca, nórdica, ariana. Freyre defendia a miscigenação que daria origem a um povo moreno, espécie de "meta raça". Hitler foi derrotado em suas pretensões ao custo de milhões de mortos e do holocausto do povo judeu.

Já Gilberto Freyre foi vitorioso embora ainda não reconhecido internacionalmente. Hitler queria escravizar todos os povos à raça branca, superior. O projeto de Gilberto Freyre é no sentido de "dissolver" as raças por meio da miscigenação.

Costumo dizer, aproveitando um conflito racial que já dura décadas, que se um rapaz narigudo israelense se casa com uma morena palestina. Ou se um moreno palestino se casa com uma ruiva israelense. Os filhos desses casais não serão nem judeus nem palestinos.

E o conflito entre eles perde o sentido. Assim como os filhos de brancos e negros não são nem brancos nem negros como pretende o identitarista "movimento negro brasileiro" que quer somar mestiços e negros para dizer que o Brasil é um país de "maioria negra").

Café com leite não é café nem leite. De modo que a solução para o problema racial e das guerras é a fudelança generalizada proposta por Gilberto Freyre, o crescei e multiplicai-vos de Jesus Cristo ou o façam amor e não a guerra dos hippies.

*Fernando Carvalho é historiador, formado pela Universidade Federal Fluminense (UFF), autor de “Livro Negro do Açúcar