quinta-feira, 27 de outubro de 2022

Merval Pereira - O futuro que nos espera

O Globo

Seja quem for o vencedor no domingo, enfrentará um pais dividido. É preciso encontrar novas lideranças políticas

Com a aproximação do segundo turno da eleição presidencial e a perspectiva de que, seja qual for, o vencedor enfrentará forte oposição que reflete um país dividido, já é hora de analisar as alternativas que se oferecerão ao eleitorado diante da realidade de que, como disse Antonio Gramsci, “o velho está morrendo, e o novo ainda não pode nascer”.

Vencendo Lula, o PT estará diante do fim de uma era sem que esteja claro se haverá algum líder para levar adiante o partido ou se ele se transformará em mais um que vive do passado, às vezes renegando-o, como o PTB de Roberto Jefferson, outras o emulando sem inspiração, como o PDT de Leonel Brizola. Fernando Haddad é a aposta mais forte num futuro petista mais aberto a novas tendências, principalmente se vencer a eleição para governador de São Paulo.

Mesmo que Lula seja derrotado, Haddad, governando São Paulo, será o incontestável novo líder petista. Ainda que perca, porém, será um ministro importante num eventual governo Lula, especula-se talvez mesmo sendo escolhido para o Ministério da Fazenda. O ex-presidente já disse que quer dar a pasta a um político, e não há no partido político melhor do que ele para ajudar a fazer um governo que vá além do PT. A outra possibilidade, o ex-ministro da Saúde Alexandre Padilha, esbarra na falta de influência na máquina petista.

Míriam Leitão - A crise inventada, ou como diria Shakespeare, muito barulho por nada

O Globo

O que se viu nesse episódio da inserções é a mesma forma de atuar de Donald Trump: o método de tumultuar o processo eleitoral

A crise das inserções é inventada. Ela não existe. Ontem, o governo passou o dia criando fumaça e espuma, mas quando se busca saber o que mesmo existe, encontra-se o nada.

O governo anunciou com ares de escândalo que faltavam inserções em rádios do Norte e Nordeste. Mas o fez de uma forma a parecer que a culpa era do TSE.

Como é esta rotina: as candidaturas preparam suas inserções e mandam para as emissoras e fiscalizam. Se há problemas eles recorrem à Procuradoria-Geral Eleitoral e ao TSE. Mas o tribunal não distribui conteúdo, não fiscaliza.

Malu Gaspar - Um olho no golpe e outro na urna

O Globo

Eleição de 2022 inaugura nova versão do ditado: de onde só se espera golpismo, não sai nada além de golpismo mesmo

Não era o barão de Itararé quem dizia que, de onde não se espera nada, daí é que não sai nada mesmo? Pois a eleição de 2022 está inaugurando outra versão do ditado: de onde só se espera golpismo, não sai nada além de golpismo mesmo.

Ninguém duvidava que Jair Bolsonaro não aceitaria outro desfecho para esta eleição além da própria vitória. Mas, depois do fiasco produzido pela auditoria dos militares sobre as urnas eletrônicas — aquela que ninguém viu, mas que todo mundo sabe ter atestado a segurança do sistema eleitoral —, parecia que o presidente havia finalmente aceitado o que seus estrategistas não se cansavam de repetir, com base no que viam nas pesquisas: o brasileiro médio não quer saber de confusão.

Sempre que percebe que alguma ação do chefe do Executivo pode causar instabilidade e tumulto, esse eleitor se afasta dele.

Numa disputa apertada como a que vivemos, qualquer voto conta. Até o “Jefferson Day”, quando o bolsonarista Roberto Jefferson lançou granadas e tiros de fuzil contra uma viatura da Polícia Federal, Bolsonaro parecia endossar o esforço na campanha para repaginar seu comportamento.

Luiz Carlos Azedo - Bolsonaro dobra a aposta contra o TSE e recorre ao Supremo

Correio Braziliense

Criou-se um fato jurídico cujos desdobramentos dirão se foi um tiro no pé da campanha de Bolsonaro ou é um pretexto para não aceitar o resultado do pleito, escalando o conflito com a Justiça Eleitoral

O presidente Jair Bolsonaro decidiu recorrer ao Supremo Tribunal Federal (STF) da decisão do presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Alexandre de Moraes, que negou na noite de ontem o pedido para investigar irregularidades em inserções eleitorais por emissoras de rádios, principalmente do Nordeste. O presidente da República voava para o Rio de Janeiro quando soube da decisão do magistrado e mandou o avião voltar para Brasília, onde realizou uma reunião ministerial de emergência no Palácio do Alvorada, após a qual fez um pronunciamento contestando-a e anunciando que recorreria ao Supremo.

Segundo a decisão de Moraes, os dados apresentados pela campanha sobre supostas irregularidades nas inserções de rádio são inconsistentes. O presidente do TSE também determinou que o procurador-geral eleitoral, Augusto Aras, apure “possível cometimento de crime eleitoral com a finalidade de tumultuar o segundo turno do pleito” por parte da campanha de Bolsonaro. Acionou ainda a Corregedoria-Geral Eleitoral para apurar eventual desvio de finalidade no uso do Fundo Partidário para a contratação de uma auditoria que embasou as denúncias. O caso foi encaminhado para o STF, no âmbito do inquérito que apura a atuação de uma milícia digital que atenta contra a democracia, do qual Moraes é o relator.

Vinicius Torres Freire – Bolsonaro e o reajuste do mínimo

Folha de S. Paulo

Plano era acabar com indexação; benefícios sociais são a despesa maior e são indexadas

A ideia de mudar o reajuste do salário mínimo estava mesmo em estudo no governo de Jair Bolsonaro (PL). Apenas videntes poderiam dizer se o estudo viria a ser um projeto. Mas acabar com reajustes automáticos de despesa social, embora não do mínimo, sempre foi um plano de Paulo Guedes.

Desde o início do governo, o ministro da Economia dizia que seu projeto maior para o Orçamento era também desindexar as despesas. Isto é, acabar com o reajuste automático, obrigatório, segundo um indicador qualquer, tal como a inflação passada, por exemplo.

Aposentadorias, pensões e outros benefícios do INSS, seguro-desemprego e abono salarial levam 51,3% da despesa do governo federal. Todos são reajustados pelo menos pela inflação passada, pelo INPC, direta ou indiretamente. A despesa obrigatória com saúde e educação leva pelo menos 6% e é corrigida pelo IPCA. Apenas aí foram 57,3% do Orçamento.

Bruno Boghossian - Em busca de mais um pretexto

Folha de S. Paulo

Campanha do presidente usa suspeitas a conta-gotas para estimular tumulto eleitoral

Para que não restassem dúvidas, Jair Bolsonaro deixou clara a prioridade de sua campanha nos dias finais do segundo turno. Num comício em Minas Gerais, o presidente alertou os eleitores para o que seria "o assunto do momento" e sentenciou: "Sou vítima mais uma vez".

O comitê da reeleição trabalha há três dias para espalhar a ideia de que Bolsonaro é alvo de uma sabotagem na transmissão da propaganda de rádio. O plano vem sendo executado de forma meticulosa para lançar suspeitas a conta-gotas, tumultuar o ambiente eleitoral, desviar atenções e vitimizar o candidato.

Thiago Amparo - Jefferson é o Bolsonaro amanhã

Folha de S. Paulo

Ex-deputado é a expressão literal do que o presidente prega

O grande Ruy Castro nos lembrou certa vez neste mesmo espaço uma frase de Oscar Wilde, na peça "Um Marido Ideal" (1893): "Quando os deuses querem nos punir atendem as nossas preces". Engenhosa e deliciosamente irônica, como toda a obra do irlandês, a frase nos faz rir pelo que não diz: o perigo está no que já esperávamos. Quando o escritor deste roteiro surrealista chamado "Brasil, 2019-2022" quer nos punir, atende as preces de Bolsonaro.

O dia de fúria psicótica de Roberto Jefferson no último domingo (23) não foi um fato isolado: é a reza já feita por Bolsonaro desde o dia 1. Separemos indignação de espanto, aqui cabe a primeira e não o segundo: Roberto Jefferson disparando fuzil e granada em policiais federais é cena revoltante, mas esperada do penúltimo capítulo do roteiro que começou quando normalizamos símbolo de arma fuzilando oponentes e homenagem a torturadores. A granada é a beira do precipício que nos aproxima um passo a mais do fim deste roteiro.

Maria Cristina Fernandes - O bolsonarismo desistiu do eleitor

Valor Econômico

Frente ampla de poderes ergue-se contra o golpismo

A escalada golpista da reta final da campanha mostra que o presidente parece já ter desistido do eleitor e não quer aguardar para conferir se o inverso é verdadeiro.

Os tiros de Roberto Jefferson atravessaram a Mantiqueira e, como previsto, acertaram o eleitor paulista. Se este eleitor, em defesa da polícia, estava disposto até mesmo a votar em quem quer tirar as câmeras dos uniformes, não aceitaria aliados dessa gente que atira em policial. Luiz Inácio Lula da Silva e Fernando Haddad crescem em São Paulo, a reboque de Jefferson.

Ainda está por ser explicado por que seis agentes, sem colete à prova de bala ou equipamento adequado, se dirigiram à casa de um apenado em regime domiciliar que acumulava armas e munições.

Mas o fato é que, depois de tanto explorar os votos de presidiários em seu adversário, eis que o presidente Jair Bolsonaro chegou à reta final da eleição atingido por um deles.

O fracasso da armação levou a esta cartada final do “radiolão”. A engenharia das inserções pode até demonstrar que falta fiscalização na divulgação, principalmente nas rádios. É uma lacuna que prejudica a todos e não apenas ao reclamante a quem, mais do que propaganda, falta credibilidade.

Cristiano Romero - A última chance de Lula

Valor Econômico

Lula quer novo mandato para salvar sua imagem histórica

Quando afirmou que, se eleito, montará um governo “além do PT”, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva mandou recados às correntes mais à esquerda do partido e, claro, ao mercado. Não se deve esperar, de fato, que Lula, reinstalado no Palácio do Planalto, abra espaço na administração para petistas que provoquem a mínima dúvida sobre o rumo da política econômica num possível terceiro mandato.

Em junho de 2002, quando Lula, líder das pesquisas, lançou a famosa “Carta aos Brasileiros”, em que assumiu compromissos com a disciplina fiscal e o cumprimento dos contratos, muitos viram aquilo como sinalização ao mercado. Ora, este ignorou a carta e seguiu apostando que, uma vez eleito, o petista mudaria radicalmente a política econômica herdada do governo Fernando Henrique Cardoso.

Nas semanas e meses seguintes e até pouco depois da eleição de 20 anos atrás, as condições financeiras do país - taxa de câmbio, juro futuro e mercado acionário - pioraram de forma significativa. A desconfiança de investidores locais e estrangeiros em relação a um governo do PT era tanta que, no espaço de poucos meses o Brasil perdeu divisas em dólar num volume que tornou real o risco de calote no pagamento de seus compromissos com o exterior.

William Waack - Não haverá ‘concertación’

O Estado de S. Paulo

A divisão do País em bolhas herméticas não permite consenso sequer sobre o que são fatos

É difícil imaginar a quatro dias da decisão de domingo que o resultado das urnas “resolva” a disputa política. Ao contrário: a vitória de um lado vai apenas confirmar os piores temores e “certezas” do outro.

Se confirmado o favoritismo de Lula nas pesquisas, triunfa a interpretação da realidade de “trapaça” urdida por tribunais superiores focados em destruir Bolsonaro. E confirma-se a existência de uma “ditadura judicial” tal como percebida por 42% do eleitorado, segundo pesquisa da Atlas Intel.

Para substancial parcela do eleitorado, o combate às fake news com poderes ampliados do TSE não passa de imposição de censura. E seria apenas mais uma ferramenta no arsenal técnico-jurídico com que tribunais superiores atuam em favor de uma candidatura – a de Lula.

José Serra* - Eleição: data sagrada para nossa democracia

O Estado de S. Paulo

Comparecer às urnas não significa aprovar os candidatos em disputa, mas legitimar a instituição do voto popular

Faltam três dias para a eleição, uma data sagrada para nossa democracia. É o momento decisivo para o exercício da soberania popular, pois o poder democrático está em jogo nas mãos dos cidadãos. A gravidade do ato de confirmar seu voto na urna eletrônica significa que o eleitor confere ao seu representante, e especialmente ao chefe do Executivo federal, o arbítrio para tomar decisões que afetam não somente a vida de cada um, mas, sobretudo, a sobrevivência do País enquanto nação livre e soberana.

A crise da democracia representativa, que se manifesta na perda da confiança dos cidadãos em seus representantes, provocou um profundo ressentimento em várias partes do mundo. O sentimento de desamparo, diante de uma representação política vista como cega e surda a suas demandas mais urgentes, propicia comportamentos incompatíveis com a expressão de um voto livre e consciente.

Um deles é o voto de protesto, deliberadamente conferindo algum símbolo de menosprezo pelas instituições democráticas, como animais e palhaços que infestaram eleições no Brasil e em países europeus de democracia consolidada. Esse gesto manifesta a ideia de que “este homem é louco, e só um louco é capaz de resolver todos os problemas do país”, e grassou em grande número de votantes nas eleições de 2018.

Sergio Amaral* - Comércio exterior e desmatamento

O Estado de S. Paulo

Novo regulamento deverá ter considerável impacto no acesso de produtos que não sejam ‘deforestation free’ ao mercado europeu. Brasil será um alvo

O cenário da economia mundial, após a pandemia e as crises econômicas que se seguiram, aponta na direção de menos globalização e de mais protecionismo. No caso do Brasil, dois fatores adicionais poderão afetar as exportações: a proliferação das normas privadas e as sanções impostas pelo descumprimento de compromissos ambientais. A demora na ratificação do acordo entre o Mercosul e a União Europeia, por sua vez, impedirá o Brasil de se beneficiar da ampla desgravação tarifária prevista no acordo.

É preciso ter presente que a questão ambiental e o combate às mudanças climáticas mobilizam a opinião pública, sobretudo a sua parcela mais jovem, nos principais mercados consumidores, especialmente os EUA e a Europa.

O que a mídia pensa - Editoriais / Opiniões

Constituição de 1988, caminho de paz

O Estado de S. Paulo

É urgente a tarefa de pacificação nacional, que inclui respeitar as liberdades fundamentais e prover uma mais madura compreensão da independência e harmonia entre os Poderes

Se há uma necessidade consensual para 2023, seja quem for o presidente eleito no domingo, é a pacificação nacional. Para este jornal, não há desenvolvimento social e econômico possível com tanto conflito, com tanta agressividade, com tanto atrito entre os Poderes. O que ocorreu nos últimos quatro anos no País foi absolutamente disfuncional. Por isso, consideramos que o Brasil precisa urgentemente de paz – e isso é uma tarefa de todos; muito especialmente, de quem exerce autoridade no Executivo, no Legislativo e no Judiciário.

A dimensão da tarefa pacificadora pode causar certa perplexidade. Pode-se ter a impressão de ser uma empreitada difícil demais, em que as pontes de diálogo, racionalidade e equilíbrio teriam sido há muito implodidas. Já não teríamos disponíveis as ferramentas necessárias para a reconstrução da paz.

Diante desse panorama desafiador, é preciso lembrar que, apesar de todos os pesares – apesar da crise cívica, social e política em que o País se encontra –, continuamos contando com a Constituição de 1988. Ela tem inúmeros defeitos, tantas vezes criticados neste espaço. Mas dois aspectos muito positivos se sobressaem nesse texto que, resultado de um impressionante trabalho da Assembleia Constituinte, é expressão central das aspirações da sociedade brasileira.

Poesia | Graziela Melo - Saudades

Saudades

dos pássaros

é que vou

sentir,

quando

deste mundo

solitária

me for!!!

Das flores,

dos amigos,

até mesmo

das dores,

das emoções

mais sutis!!!

Parada,

pálida

e fria,

inerte,

sem

qualquer

ação,

debaixo

daqueles

palmos

de terra,

estarei

distante

das maldades,

da guerra,

dos homens

sem compaixão!!!

Enquanto

se desmancha

meu corpo,

no frio,

na escuridão!!!