sexta-feira, 23 de fevereiro de 2024

O que a mídia pensa: Editoriais / Opiniões

Retrocesso na PM de São Paulo deve preocupar o país

O Globo

Outrora exemplo para resto do Brasil, corporação paulista sofre reviravolta que traz risco a políticas de sucesso

Num momento em que o Brasil enfrenta crise na segurança pública, a Polícia Militar de São Paulo — outrora exemplo para o país — vive dias turbulentos, dentro e fora dos quartéis. Nesta semana, o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) exonerou, com uma só canetada, o subcomandante da PM e trocou mais da metade dos coronéis da cúpula da corporação. As decisões causaram insatisfação na tropa e foram vistas como reflexo da interferência política do secretário de Segurança Pública, Guilherme Derrite (PL-SP).

É certo que mudanças na PM, explicadas oficialmente por “conveniência de serviço”, podem até se justificar tecnicamente. Mas reviravoltas dessa natureza trazem risco enorme para uma corporação que se profissionalizou nas últimas décadas, especialmente depois do Massacre do Carandiru, em 1992, com resultados incontestáveis.

Vera Magalhães - No STF, Dino reforçará o 'alexandrismo'

O Globo

Novo ministro será um reforço à ala ‘antigolpe’ do STF, que tem referendado decisões de Moraes e deve se manter monolitica por bastante tempo

Foi-se o tempo em que era possível traçar uma risca de giz no chão do plenário do Supremo Tribunal Federal e separar os ministros chamados garantistas dos punitivistas — que, no intervalo entre 2014 e 2019, também ganharam a alcunha de lavajatistas.

O declínio da Lava-Jato, que coincidiu com os anos Jair Bolsonaro, em que o STF foi instado a agir como barreira de contenção não apenas em relação ao golpismo eleitoral, já na reta final, mas também em questões ambientais, sanitárias e direitos dos povos indígenas, entre outros, tornou essa distinção superada, para usar um adjetivo caro aos magistrados em seus debates no plenário.

A necessidade de impor ao Executivo limites que não eram dados pela Procuradoria-Geral da República, na maior parte do período sob o comando de Augusto Aras, ou pelo Congresso, cooptado à base de orçamento secreto, fez sumirem arestas antigas entre integrantes dos dois blocos antes vigentes e surgirem novas alianças e novos líderes.

Luiz Carlos Azedo - Flávio Dino amplia a interlocução de Lula com Supremo

Correio Braziliense

Gilmar e Toffoli foram os principais interlocutores do Supremo com o mundo político, mas Lula tem, agora, outros dois ministros de suas relações de confiança. Há limites éticos para  isso

O ex-governador e ex-senador Flávio Dino, aos 55 anos, novo ministro do Supremo Tribunal, tomou posse, ontem, na vaga de Rosa Weber. Na cerimônia, apenas falou o presidente da Corte, ministro Luís Roberto Barroso: “Me limito a fazer uma brevíssima saudação de boas-vindas ao ministro Flávio Dino, que é uma pessoa recebida por todos nós com muita alegria”. Dino jurou cumprir a Constituição, assinou o termo de posse, depois se retirou para participar de uma missa na Catedral de Brasília. Dispensou a tradicional festa organizada pela Associação dos Magistrados do Brasil (AMB).

À posse minimalista, compareceram o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, os presidentes do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), e da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e 900 convidados. Dino será o ministro mais político da Casa, com muita capacidade de interlocução com o Executivo e o Legislativo. A experiência na gestão dos problemas da sociedade e suas conexões com o Judiciário devem pautar sua atuação na Corte.

Fernando Abrucio* - Políticas para jovens são urgentes

Valor Econômico

Ter uma juventude sem perspectiva na sociedade afeta a produtividade presente e, principalmente, futura da economia brasileira

Tem sido muito raro construir consensos no sistema político brasileiro atual. As relações entre o Executivo e o Legislativo se tornaram mais complicadas desde o segundo governo Dilma, os congressistas estão em constante embate com o STF e a sociedade está fortemente polarizada. Mesmo assim, em determinados temas o conflito dá lugar à cooperação. Esse é o caso da aprovação da poupança para alunos mais pobres do ensino médio público.

Intitulado Pé de Meia, é um programa fundamental para um grupo essencial para o presente e o futuro do país: a juventude. Trata-se de uma excelente notícia, mas ao mesmo tempo revela uma carência perigosa de ações à população mais jovem.

Não faltam prioridades num país tão complexo e desigual como o Brasil. Mas há temáticas que deveriam merecer mais atenção por conta de quatro fatores. O primeiro diz respeito ao número de pessoas de um determinado grupo que estão numa situação social complicada.

Além disso, deve-se levar em consideração o impacto sistêmico desse problema. Isto é, os vários males causados pela não resolução de determinada questão. Um terceiro ponto também é central: como este tema faz a ponte entre o presente e o futuro do país? Por fim, um aspecto prioritário é aquele que pode modificar a forma de se ver e conduzir a política, gerando um efeito bola de neve na agenda pública.

Segundo dados do IBGE, o número de jovens de 15 a 29 anos que nem estuda nem trabalha é de quase 11 milhões, totalizando cerca de 22% desse grupo populacional (mais de um quinto da população jovem). Num estudo recente da OCDE, o Brasil era o segundo país com mais jovens nem-nem entre 37 nações analisadas. A situação é muito ruim em ambos os gêneros, mas a maior parte dos nem-nem é composta por mulheres e, do ponto de vista social, pelo contingente mais pobre da população.

José de Souza Martins* - Sertanejo, da tradição ao negócio

Valor Econômico

A música sertaneja, surgida após uma trajetória de transformações da música caipira, completa 100 anos, com um precedente histórico que atravessa todo o período colonial

O gênero musical sertanejo ganha nova e diferente notoriedade no upgrade de festival metropolitano que reúne 100 mil pessoas. Nasceu na segunda metade dos anos 1920, na cidade de São Paulo. Está chegando, portanto, ao centenário. Trata-se de uma longa trajetória do gênero que resultou da transformação da música caipira em música sertaneja.

Seu precedente histórico atravessa todo o período colonial, expressando-se através de diferentes e sucessivas categorias sociais. Segundo Antonio Candido, uma das variantes originou-se de uma dança ritual indígena, como o cururu, que os jesuítas converteram na dança da Santa Cruz. Cuja cadência da marcha em dupla atrás dos violeiros, indo de frente e voltando de costas, em direção à porta da igreja e dela se afastando, ainda é claramente indígena.

César Felício -Bolsonaro busca as ruas porque está fraco

Valor Econômico

Ex-presidente está na defensiva, não na ofensiva

“Ninguém ganha uma briga contra o Supremo”. A frase, de um advogado com enorme trânsito nos três Poderes, ganhou ares de alerta nessa quinta-feira, com o depoimento simultâneo de 23 implicados na investigação do Judiciário sobre a conspiração golpista do ex-presidente Jair Bolsonaro, 90 minutos antes da posse de Flávio Dino como ministro do STF.

Nesse domingo, em São Paulo, Bolsonaro recoloca a oposição nas ruas, o que o entorno do presidente Luiz Inácio Lula da Silva sempre temeu. Multidões protestando na rua sempre são uma péssima notícia para qualquer governante de turno, mas o diferencial que diminui o poder de desestabilização da manifestação deste domingo é que Bolsonaro está na defensiva, e não na ofensiva.

Bernardo Mello Franco – Silêncio estratégico

O Globo

Ex-presidente seria pego na mentira se tentasse negar a tentativa de golpe

A defesa de Jair Bolsonaro orientou o capitão a ficar em silêncio na Polícia Federal. Os advogados apresentaram três recursos para tentar adiar o interrogatório de ontem. Como não colou, a saída foi manter o cliente de bico fechado.

Todo investigado tem direito a permanecer calado. No caso de Bolsonaro, exercer o direito era uma necessidade. Ele seria pego na mentira se buscasse negar a tentativa de golpe para se perpetuar no poder.

Na prática, o ex-presidente teria pouco a acrescentar à investigação. A PF já reuniu uma pilha de provas de que ele idealizou e comandou a trama contra a democracia, da qual seria o principal beneficiário.

Eliane Cantanhêde - O medo da prisão

O Estado de S. Paulo

Posse no STF sem grades e oficiais depondo são parte da normalidade, Forças precisam se acostumar

É a primeira vez na história que militares de alta patente são investigados pela Justiça comum, mas é exatamente isso que a Constituição previa e prevê. A Justiça Militar é para crimes militares, não para indivíduos militares suspeitos de praticar qualquer outro tipo de crime, e o simples reconhecimento dessa norma constitucional é mais um forte indicador da volta à normalidade, com tudo o que ela tem de bom e também de ruim.

Enquanto o ex-presidente Jair Bolsonaro e uma dezena de militares e outros investigados por tentativa de golpe de Estado prestavam depoimentos à Polícia Federal, simultâneos, mas separados, as cúpulas de Executivo, Legislativo e Judiciário compareciam em peso à posse do ex-ministro da Justiça Flávio Dino no Supremo. Já sem as grades medonhas que isolavam a Corte, como o Congresso, por segurança.

André Roncaglia* - Mauro Boianovsky, embaixador do pensamento econômico brasileiro

Folha de S. Paulo

Em sua obra, economista aliou meticulosidade à sua admirável erudição

No dia 21 de fevereiro de 2024, as ciências sociais brasileiras receberam um golpe triplo: Affonso Celso PastoreLuiz Werneck Vianna e Mauro Boianovsky nos deixaram. Destacarei a obra de Mauro Boianovsky, pela sua importância no campo da história das ideias econômicas.

Figura proeminente, com destacada carreira como professor na Universidade de Brasília, Mauro foi um dos pesquisadores mais influentes do mundo, tendo presidido a History of Economics Society (HES) no biênio 2016-17 e recebido inúmeros prêmios por suas contribuições.

Boianovsky atuou como embaixador do pensamento econômico brasileiro no exterior e enriqueceu o diálogo global sobre a evolução da economia como campo do conhecimento. Sua vasta obra abrange o pensamento econômico brasileiro e as contribuições de economistas de renome internacional, bem como a evolução de teorias econômicas, com destaque para a macroeconomia, em contextos históricos variados.

Vinicius Torres Freire - Mais dinheiro, alívio político

Folha de S. Paulo

Arrecadação melhora pelo segundo mês; discussão ruim sobre meta fiscal talvez seja adiada

A arrecadação do governo federal foi muito bem, como adiantado por reportagens desta Folha. Cresceu 6,7% além da inflação, na comparação com janeiro do ano passado.

Não temos os dados do crescimento da economia, do PIB, do final de 2023, e nem mesmo a estimativa mensal do Banco Central para janeiro. Mas certamente o PIB não está crescendo a 6% ao ano ou mesmo à metade desse ritmo.

Em resumo, óbvio, a receita cresceu mais do que o PIB em janeiro, assim como em dezembro. É uma recuperação recentíssima. No ano passado, a receita diminuiu em termos absolutos, ainda mais em relação ao PIB, o que contribuiu para um déficit ainda maior.

Decerto tem dinheiro novo entrando de modo mais regular, como o dos impostos sobre ricos, entre outros resultados das providências da Fazenda a fim de preencher os cofres. Mais importante, por enquanto, é o possível efeito político da (possível) melhora da arrecadação.

Hélio Schwartsman - Triunfo do populismo

Folha de S. Paulo

Por incrível placar de 62 a 2, Senado vota por limitar as saídas temporárias de presos

Um dos problemas da democracia é que ela entrega aos eleitores o que eles querem. E eleitores, como todos os humanos, são poços de vieses cognitivos. Quando lidamos com erros de distribuição aleatória, até que a coisa pode funcionar. Se, numa questão complexa, um bom pedaço dos eleitores ou dos legisladores pende para um lado, e outro, de dimensões comparáveis, para o outro, o desenho da política a ser adotada acabará recaindo sobre os poucos que não têm uma preferência muito clara (os moderados), que tendem a ser mais sensíveis à argumentação racional. Quando, porém, estamos diante de um viés sistemático, isto é, em que a grande maioria exibe a mesma propensão, é quase certo que o erro será imortalizado em política.

Bruno Boghossian - Braga Netto é a arma fumegante

Folha de S. Paulo

Apesar de silêncio da dupla em depoimento, PF tem fartura de provas sobre tabelinha golpista

Jair Bolsonaro não queria só um companheiro de chapa quando escolheu Braga Netto na campanha à reeleição. "O vice é aquela pessoa que está ao seu lado nos momentos difíceis", disse o presidente, em julho de 2022. "O vice não pode ser aquela pessoa que conspira contra você."

Àquela altura, a virada de mesa era o plano A de um grupo político que tinha pesadelos com uma derrota. Com influência no topo das Forças Armadas, desenvoltura autoritária e interesse direto no golpismo, Braga Netto seria peça central de uma conspiração a favor de Bolsonaro.

Marcos Augusto Gonçalves - Lula e a ordem 'pos-ocidental'

 

Folha de S. Paulo

Ao reforçar tese do genocídio, Brasil abandona mediação e se engaja na diplomacia do mundo 'pós-ocidental'

Os equívocos da declaração do presidente Lula sobre o Holocausto e os ataques a Gaza já foram apontados por analistas equilibrados, além de explorados à exaustão por oportunistas, haters, simpatizantes da extrema direita e apoiadores da política criminosa de Binyamin Netanyahu em sua reação desproporcional ao atentado do Hamas.

A questão talvez mais relevante, do ponto de vista da política externa, já havia sido colocada por Maria Hermínia Tavares em sua coluna na Folha (17/1) por ocasião do apoio do governo brasileiro à tese de genocídio levada pela África do Sul ao Tribunal de Haia. Como sugeriu a professora, estamos assistindo a uma redefinição da política externa brasileira, que se mostra mais aderente à perspectiva da ordem "pós-ocidental", ou seja, a um realinhamento em que o chamado Sul Global se contrapõe aos Estados Unidos e seus aliados, em especial os europeus.

Glenn Greenwald - Lula está certo sobre Gaza e não é antissemita

Folha de S. Paulo

Intelectuais judeus também afirmam que desumanização coletiva que gerou Holocausto está por trás da destruição da Faixa de Gaza agora

Desde que Lula evocou o Holocausto para denunciar a destruição de Gaza por Israel, a grande mídia brasileira se uniu, com raras exceções, para condená-lo. Na segunda-feira (19) à noite, o jornalista William Waack afirmou na CNN Brasil que a declaração de Lula "ofende judeus no mundo inteiro".

Deixando de lado a incongruência que é ver William Waack se colocar como vigilante da intolerância e fiscal do que se pode dizer no discurso público, a pergunta que faço é: com base no que ele se coloca como porta-voz dos "judeus no mundo inteiro"?

É verdade que a declaração de Lula enfureceu o governo do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, que declarou Lula "persona non grata" em Israel. Mas equiparar o governo de Israel a "judeus no mundo inteiro" não é só falso, é também antissemitismo.

Como todos os grupos, os judeus não são um monolito. Qualquer pessoa que, como eu, tenha crescido numa família judaica e imersa nessas tradições sabe que o grupo passa longe de ser homogêneo. Há dentre os judeus discussões e divergências sobre os mais diversos assuntos, inclusive o Estado de Israel, o tratamento desumano dispensado aos palestinos e a abjeta imoralidade da destruição de Gaza.

Um mês antes do ataque do Hamas de 7 de outubro, o ex-chefe do Mossad, agência de inteligência israelense, Tamir Pardo —indicado por Netanyahu— afirmou que Israel impõe "uma forma de apartheid aos palestinos". Muitos líderes Israelenses, incluindo o ex-primeiro Ministro Ehud Barak, já disseram o mesmo.

O jornalista judeu brasileiro Breno Altman vem repetidamente comparando as ações de Israel em Gaza ao nazismo, ao ponto de estar sendo investigado pela Polícia Federal por expressar sua visão. Um grupo de judeus brasileiros, conforme relatado pela Folha, emitiu uma nota para defender as declarações de Lula.

Nesta semana, a escritora judia russa Masha Gessen recebeu o Polk Award, o segundo prêmio mais importante no jornalismo dos EUA, por seu brilhante ensaio na revista New Yorker intitulado "Na Sombra do Holocausto". No texto, Gessen aponta como o Holocausto é frequentemente evocado para silenciar as críticas aos crimes de guerra de Israel.

Gessen cita a filósofa Hannah Arendt, judia que em 1948 comparou grupos sionistas extremistas ao Partido Nazista, tanto em sua mentalidade quando em suas táticas —isso tudo menos de três anos depois do fim da Segunda Guerra.

Luiz Sérgio Henriques* - A morte de Luiz Werneck Vianna

A morte de Luiz Werneck Viana (1938-1924) interrompe a trajetória de um dos mais brilhantes intelectuais da sua geração. Sua obra tem característica ímpar por vários aspectos, entre os quais o de aliar rigor teórico e empenho político em alto grau.

Um segundo aspecto é que o primeiro livro de Werneck Vianna já nasce como obra-prima inconteste e ponto de referência dos estudos que viriam depois: trata-se de "Liberalismo e sindicato no Brasil", publicado originalmente em 1976.

A rigor, embora o autor fosse enveredar por temas distintos no correr dos anos, "Liberalismo e sindicato" é um primeiro movimento que seria retomado sucessivamente em outros livros, sempre em torno dos caminhos da modernização brasileira, do papel do liberalismo e do corporativismo na nossa "revolução burguesa pelo alto" e, muito especialmente, da posição nela havida pelo movimento sindical e político dos "subalternos".

Ricardo José de Azevedo Marinho* - O sorriso esperançoso de Luiz Werneck Vianna

Luiz Werneck Vianna é a redenção do Brasil. Sua grande vida é um exemplo para a hora que vivemos. Ele viveu como quis, isto é, da maneira mais digna. Castigado pela vida e perseguido por quem o temia, nunca conheceu o medo nem o desânimo, por isso foi um vencedor. Ele lutou por cada minuto de toda a sua existência, mesmo quando a morte o atingiu.

Sempre soube abraçar as palavras para se fazer ouvir pelos humildes sobre cujos ombros chegou à última morada. Sua vida heroica foi seu único discurso ouvido até o último canto do país por inúmeros brasileiros que, hoje velando a morte do Mestre, aguardam a sua hora.

Paulo Fábio Dantas Neto* - Luiz Werneck Vianna

Brilhantemente, como pensava;  inconfundivelmente, como escrevia; contundentemente, como falava;  assertivamente, como orientava;  calorosamente, como acolhia; implacavelmente, como advertia,  generosamente, como se doava e intensamente (muito  intensamente) como viveu e plantou vida em todas as pessoas e tempos verbais - nas circunstâncias que teve de encarar e pelas veredas que sua inteligência e lucidez abriram - Luiz Werneck Vianna instala-se agora, espaçosamente, inapelavelmente, definitivamente, na memória de quem o leu, ouviu e conheceu. 

Luiz Eduardo Soares* - Perdemos um gigante: Luiz Werneck Vianna

Amigos e amigas, perdemos, hoje (21.2.2024), um gigante: Luiz Jorge Werneck Vianna, aos 85 anos. Uma vida inteira dedicada a pensar o Brasil e a mudar esse país tão desigual e violento.

Foi ele que me recebeu no partido comunista brasileiro nos anos 70, na clandestinidade. Foi ele quem me ensinou a analisar a conjuntura, distinguir tática e estratégia, reler Marx e Gramsci com os olhos postos no presente, sem dogmatismos.

Sua coragem, sua independência, seu espírito crítico, sua devoção à causa coletiva -sonhando um socialismo renovado, aberto e brasileiro- foram e são exemplos para minha geração e as seguintes. Em tudo que fazia punha toda a sua paixão.

Era lucidez, inteligência, compromisso e paixão. Um erudito discreto, mas transgressor, uma usina exuberante de afeto e generosidade, às vezes disfarçada pela aspereza dos rompantes.