terça-feira, 14 de outubro de 2025

O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões

Persistem dúvidas sobre plano de Trump para Gaza

Por O Globo

Libertação de reféns e cessar-fogo devem ser celebrados, mas futuro da paz está cercado de obstáculos

No seu discurso em Israel logo depois da libertação dos últimos 20 reféns vivos em poder do grupo terrorista Hamas, Donald Trump descreveu o momento atual como “a aurora histórica de um novo Oriente Médio”. “As forças do caos, terror e ruína que amaldiçoam a região há décadas restam agora enfraquecidas, isoladas e totalmente derrotadas”, afirmou diante do Knesset, o Parlamento israelense. “Daqui a gerações, este será lembrado como o momento em que tudo começou a mudar — e a mudar muito para melhor.” As palavras de Trump traduzem o otimismo que tomou conta da região e do mundo depois que Israel e Hamas aceitaram os termos de seu plano de pacificação. É preciso sem dúvida celebrar a libertação dos reféns, o fim da devastação e do morticínio em Gaza e a perspectiva de um acordo duradouro. Mas os obstáculos adiante não serão fáceis de superar.

Diga-me com quem andas, por Merval Pereira

O Globo

Não comentar a escolha de María Corina institucionalmente corresponde a apoiar Maduro Diga-me com quem andas

O silêncio oficial do governo brasileiro diante do Prêmio Nobel da Paz concedido à oposicionista venezuelana María Corina Machado é a expressão da dificuldade que tem em criticar governos de esquerda, mesmo ditaduras como a de Maduro. Essa situação foi criada pelo próprio governo.

Lula enviou para acompanhar as eleições venezuelanas o assessor especial Celso Amorim, que assistiu impávido às irregularidades ocorridas na campanha — quando María Corina foi impedida de se candidatar — e na apuração. Maduro garantiu a ele e a Lula que liberaria os boletins de urna para provar que vencera limpamente as eleições, e isso jamais aconteceu. O governo brasileiro não teve forças para admitir que as eleições foram fraudadas, como fizeram diversos governos democráticos ao redor do mundo, e esquivou-se de romper relações com a ditadura de Maduro.

Uma prisioneira política, por Fernando Gabeira

O Globo

A maneira como se processa, julga e determina a prisão é, na verdade, um palco onde os holofotes estão nos vencedores

Há pouco mais de dois meses, falei dela numa entrevista ao canal MyNews. Falei de modo geral: uma presa política em condições precárias, em Três Corações, Minas Gerais. Fui criticado por me interessar por alguém de direita. Houve quem dissesse que inventei o caso. Hoje, serei um pouco mais específico.

Ela se chama Alexandra Aparecida da Silva, tem 43 anos, é ré primária, bons antecedentes. Usava uma tornozeleira eletrônica em sua pequena cidade de Fama, às margens do Lago de Furnas. De repente, foi levada para a prisão, onde sofre muito. Tem um nódulo na mama, esperando biópsia, um cisto no punho e sangramento retal. Não se trata de anistia, muito menos de dosagem de pena. Ainda não foi julgada.

A Academia Real Sueca manda recado, por Pedro Doria

O Globo

Vencedores se dedicaram à inovação, à relação entre inovar e crescer

O Brasil deveria prestar atenção particular aos ganhadores do Prêmio Nobel de Economia, divulgados ontem. O trabalho de Joel Mokyr, Philippe Aghion e Peter Howitt fala, demais, a respeito dos muitos erros que há várias décadas cometemos. Mokyr, em particular, é bem interessante. Afinal, não é propriamente um teórico da economia. Faz algo similar, porém não igual: é um historiador da economia. Está menos preocupado em modelar para o futuro e mais em compreender por que o passado deu no presente. Os três se dedicaram à inovação, à relação entre inovar e crescer economicamente. Tentam entender a competitividade. Está, ali, a descrição do que fizeram os países que deram certo. Pista: não é o que temos feito há bastante tempo.

O breve alívio no mundo conflituoso, por Míriam Leitão

O Globo

As cenas do reencontro das famílias após o acordo no Oriente Médio geram alívio, mas o futuro da região segue indefinido

Os abraços entre israelenses que chegavam de volta de um doloroso e longo sequestro e a festa palestina ao receber milhares de prisioneiros libertados foram cenas que, por um tempo breve, mas bom, deram às pessoas ontem a sensação de alívio. Foi também impressionante ver reunidos por algumas horas líderes do Oriente Médio e da Europa a chamado do presidente Donald Trump, para celebrar o acordo de paz, mesmo que tenha sido na ausência das duas partes. Hamas não foi convidado, e Benjamin Netanyahu não compareceu. O acordo produziu ontem seus primeiros frutos. Haverá outros? O embaixador Rubens Ricupero definiu a situação como “instável, ainda precária, mas um resultado encorajador, para um dos problemas mais ameaçadores que tínhamos”.

Acordo tem troca de reféns por prisioneiros e futuro incerto, por Luiz Carlos Azedo

Correio Braziliense

O Hamas se recusa a depor suas armas antes do estabelecimento de um Estado palestino. Netanyahu não aceita nem a presença da Autoridade Palestina na Faixa de Gaza

O que presidente Donald Trump quereria dizer, no Parlamento israelense, ontem, ao afirmar que Benjamin Netanyahu foi o melhor presidente que Israel já teve para a guerra, enaltecendo sua atuação contra o Hamas e o Irã, mas sem falar que poderia sê-lo também para o futuro? Com certeza, não gostou de saber que seu colega não iria mais à “cúpula da paz em Gaza”, na cidade egípcia de Sharm El-Sheik, organizada no Egito, para assinatura do Acordo de Paz entre Israel e o Hamas, à qual havia se comprometido a comparecer..

A escolha é de Lula, mas o aval é de Alcolumbre, por Maria Cristina Fernandes

Valor Econômico

Se pretende emplacar Messias, presidente terá que escolher logo para evitar que resistências se unam contra o AGU

Pelas intrigas que suscita, a indicação presidencial para ministros do Supremo Tribunal Federal é frequentemente associada à escolha de papas. Não há chaminés no Palácio do Planalto, mas sobram reputações a serem queimadas ao longo de processos com alianças inimagináveis e plantação de pretendentes que jamais passaram pela cabeça do presidente. São veiculados para que, num futuro certame, se diga que aquele nome, considerado tantas vezes, já não possa ser preterido.

As convergências param por aí. Nenhum conclave do século 20 chegou aos 58 dias que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva levou para a escolha do ministro Flávio Dino. Desde o início do século passado, a fumaça cinza não demorou mais do que cinco dias para aparecer no telhado da Capela Sistina.

Indústria tende a fazer mais gols contra, por Pedro Cafardo

Valor Econômico

Contrariar princípios liberais é socialmente vergonhoso, algo como negar a lei da gravidade ou defender o terraplanismo

Industriais brasileiros parecem inclinados a continuar atuando contra seus próprios interesses.

Vejamos a razão dessa frase inicial. Em maio do ano passado, um texto com o título “A indústria fez gols contra por três décadas” saiu neste espaço. Era o resumo de um trabalho acadêmico, depois transformado em livro, do pesquisador, economista e vice-presidente do Conselho Regional de Economia da São Paulo (Corecon-SP), Haroldo da Silva.

Há muitos trabalhos importantes sobre a desindustrialização brasileira, mas esse revelou uma compreensão sociológica do problema, além da econômica.

A pesquisa do professor Haroldo partiu de uma questão que o intrigava: por que o processo de desindustrialização no país foi tão intenso nos últimos 30 anos se nesse período houve uma atuação eficiente da Confederação Nacional da Indústria (CNI) na área legislativa?

Lula no palanque, por Eliane Cantanhêde

O Estado de S. Paulo

Presidente subiu no palanque e não vai descer mais

A um ano das eleições, o presidente Lula já subiu no palanque e não vai descer mais. Todos os seus movimentos, decisões, falas, viagens e anúncios são voltados para 2026 e, a cada um deles, ele vai colecionando boas fotos e ótimo material de campanha. Um bom exemplo é o encontro com o Papa Leão XIV, nesta segunda-feira, no Vaticano, mas o mais cobiçado ainda vem aí, com o presidente Donald Trump.

Lula terá de fazer rir, se quiser rir, por Carlos Andreazza

O Estado de S. Paulo

Lula pôs o bloco na rua, a partir da isenção de Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil. Já estão postos também os programas de gás e energia elétrica para todos; e lançadas as promessas de tarifa zero no transporte público e de fim da escala de trabalho 6x1. O discurso está armado; os sonhos, vendidos – e não importa que não haja dinheiros para custeá-los. Arranje-se. O governo disputará politicamente a abertura, a fabricação mesmo, de espaço fiscal para realizá-los. O Orçamento de mentira tem a vantagem de sempre poder abrigar mais bondades.

EUA e Argentina: dois pesos e duas medidas, por Rubens Barbosa

O Estado de S. Paulo

O estabelecimento de um canal direto Lula-Milei poderia ser um indicador importante da prioridade da América do Sul para a política externa brasileira

Profundas diferenças ideológicas separaram Lula de Trump desde a campanha eleitoral e a posse do presidente norte-americano. Ataques pessoais agravaram ainda mais a atitude de estranhamento e de falta de canais de comunicação do Palácio do Planalto com a Casa Branca.

Ignorando as ofensas e as divergências ideológicas, o presidente Trump, colocando os interesses econômicos e comerciais dos EUA em primeiro lugar, tomou a iniciativa de ligar para o presidente Lula. Esse gesto pragmático, colocando as medidas políticas e ideológicas contra o Brasil em segundo plano, abriu a possibilidade da retomada das negociações comerciais visando superar os impactos negativos para os dois países do tarifaço de julho passado. Por seu lado, o presidente Lula, deixando de lado as sanções políticas contra membros de seu governo e a diferença ideológica, colocou um ponto final na ausência de comunicação com o dignitário norte-americano.

Trump trouxe esperança para a guerra em Gaza, por Joel Pinheiro da Fonseca

Folha de S. Paulo

Tudo ainda pode dar errado, mas o que se conseguiu até agora já é uma vitória

Mesmo com um caminho para a paz, os extremismos de ambos os lados seguirão tentando sabotá-lo

Faço minhas as palavras do presidente Lula: o acordo Israel - Hamas é "um começo muito promissor." Tudo ainda pode dar errado. Mas o que se conseguiu na segunda (13) já é uma vitória. E uma vitória de Trump.

O maior motivo para esperança foi a soltura de todos os reféns vivos que ainda estavam sob o poder do Hamas. Com este ato, o Hamas mostrou uma disposição real de dar fim ao conflito, abrindo mão da sua última cartada. Isso já cria uma situação diferente da que vigorou depois do cessar-fogo fracassado de janeiro, em que a devolução dos reféns seria feita de forma gradual. A devolução integral e imediata muda o tabuleiro.

Perversões seminais, por Hélio Schwartsman

Folha de S. Paulo

Todo sistema carrega as sementes de sua própria distorção e STF não é exceção

É possível aprimorar modelo de escolha de ministros, para reduzir lealdade a quem os indicou

A crer nas colunas de bastidores, o candidato com maiores chances de ser indicado por Lula para o STF é Jorge Messias, não por acaso o mais próximo ao presidente.

Todo sistema carrega em si as sementes de sua perversão futura. O modelo de escolha de magistrados para o STF não é exceção. Ao menos no que diz respeito à independência dos juízes, o desenho já funcionou. O melhor exemplo disso é o julgamento do mensalão. Ali, a cúpula petista foi condenada, apesar de 8 dos 11 ministros terem sido indicados ou por Lula ou por Dilma Rousseff.

Ao perdedor, o descarte, por Dora Kramer

Folha de S. Paulo

Trump não gosta de perdedores; Bolsonaro perdeu ação no STF e passou a integrar a categoria da ojeriza

O americano não teria nada a ganhar humilhando Lula, que só se beneficiou da aversão antes da 'química'

Entre os meses de julho —quando Donald Trump divulgou uma carta dias depois do anúncio do tarifaço, alegando que Jair Bolsonaro (PL) recebia um "terrível tratamento" das mãos de um Judiciário "injusto"— e setembro, quando anunciou na ONU a "boa química" com Luiz Inácio da Silva (PT), a novidade foi a condenação do ex-presidente por tentativa de golpe de Estado.

Como Trump gosta de apregoar, ele tem horror a perdedores. Pois no meio-tempo entre julho e setembro, Bolsonaro perdeu a ação no Supremo Tribunal Federal, a liberdade e passou a integrar a categoria pela qual o presidente americano nutre ojeriza.

No tempo em que Cartola vendia seus sambas a cantores do rádio, por Alvaro Costa e Silva

Folha de S. Paulo

Livro do pesquisador Carlos Didier mapeia o surgimento do gênero no Rio

Mario de Andrade não apreciava a revolução dos jovens pretos de classe baixa

Expoente da alta sociedade carioca, o cantor Mario Reis tinha medo de subir o morro de Mangueira. Mas precisava falar com o pedreiro Cartola, queria lhe comprar um samba. Contratou um intermediário, o guarda municipal Clóvis, que se dizia primo do compositor.

"E eu vou vender música, rapaz? Música se vende? Esse sujeito tá maluco e você é outro", disse Cartola. Conversa vai, conversa vem, acabou cedendo: "Vou pedir 50 mil réis". "Pede 300 mil que ele dá", garantiu o falso parente. Por não se adaptar à voz de Mario Reis, "Que Infeliz Sorte" foi gravado em 1929 por Francisco Alves, outro exímio negociador de sucessos.