terça-feira, 2 de dezembro de 2025

Na rota de colisão com Alcolumbre, governo Lula corre risco de naufrágio, por Luiz Carlos Azedo

Correio Braziliense

A resistência a Messias reflete a nova correlação de forças do Senado. Alcolumbre tornou-se fiador informal das indicações ao Judiciário e não gostou de ver sua autoridade contrariada

Quando a marcação é constante e a distância diminui, a rota é de colisão, ensinam os velhos navegantes. É mais ou menos o que está acontecendo entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP), por causa da indicação do advogado-geral da União, Jorge Messias, para uma vaga no Supremo Tribunal Federal (STF), em vez do nome do ex-presidente do Senado Rodrigo Pacheco (PSD-MG), que teria amplo apoio dos colegas.

Criou-se uma situação muito complicada, porque Lula não pode recuar — se o fizer, não nomeará mais ninguém que dependa de aprovação do Senado — nem Alcolumbre pode perder a votação, porque isso fragilizaria sua liderança irremediavelmente. Caso o nome de Messias não seja aprovado, o que não acontece desde o governo do presidente Floriano Peixoto, no começo da República, Lula também não indicará Pacheco. Terá de apresentar outro nome, que forme maioria no Senado. É ou não é uma rota de colisão?

Michelle no olho do furacão, por Eliane Cantanhêde

O Estado de S. Paulo

Crise com Michelle confirma que todos brigam e ninguém tem razão no PL e na família

O PL vai meter a colher hoje em mais uma crise na família Bolsonaro, que enveredou ainda mais profundamente por um caminho que pode ser definido como “todos brigam e ninguém tem razão”. Depois de meses de desgaste com as verdades sobre o golpe do patriarca Jair, as graves inconsequências do 03 Eduardo e, por último, o descontrole do até então controlado 01 Flávio, quem entra no olho do furacão é Michelle.

O presidente do partido, Valdemar Costa Neto, cortou o cargo e o salário de R$ 46 mil de Jair no PL depois da prisão definitiva, mas não mexeu nos de Michelle, importante ponte com o eleitorado feminino e evangélico que a leva aos vários cantos do País, à chance de disputar o Senado pelo DF e até – quem diria? – às pesquisas presidenciais de 2026.

Que Alcolumbre é esse? Por Carlos Andreazza

O Estado de S. Paulo

Hipótese 1. Davi Alcolumbre é um governista. Foi assim com Bolsonaro; e com Lula, até aqui. Um governista de oportunidades. Governista condicional, aquele tipo bem-disposto, que pende à facilitação, desde que contemplado a cada votação de interesse do Planalto. Contemplado com lotes de influência na superfície do Estado. Aquele Alcolumbre que, negociando, fez os vales dos rios São Francisco e Parnaíba se estenderem até o Amapá.

Esse mágico, tendo agendado a sabatina de Jorge Messias para o próximo dia 10 como forma de garantir a sua incontornabilidade no processo, estaria agora à espera Lula. Pronto para conversar. Em política, ponto de não retorno é temperatura difícil de alcançar. Alcolumbre, talvez esticando a corda com mais tensão que o habitual, teria estreitado a margem de negociação. Margem estreita não deixa de ser margem. Haveria um caminho.

O mapa ainda indica o caminho, por Jorge J. Okubaro

O Estado de S. Paulo

É preciso estabelecer metas, prazos, condições e responsabilidades para a redução, no ritmo possível, do uso dos combustíveis fósseis para assegurar vida melhor no futuro

A ausência de qualquer referência à expressão “combustíveis fósseis” no documento final da Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP-30), que se reuniu em Belém, dá a sensação de que alguma coisa muito importante para o futuro da humanidade foi deixada de lado. A sensação tem motivos. Um “mapa do caminho”, nome precioso de um roteiro que se pretendia desenhar para a transição energética que levasse à redução do uso de combustíveis fósseis até seu fim em algum momento, chegou a ser discutido com intensidade, mas nada disso apareceu no documento final. Houve, em alguns grupos ativos nas discussões, certa descrença na capacidade dos líderes mundiais de encontrar respostas efetivas para o aquecimento global.

O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões

Derrota ambiental

Folha de S. Paulo

Ao derrubar vetos de Lula, Congresso mina desenvolvimento sustentável e contenção da crise do clima

Flexibilização sem respaldo técnico pode afetar agronegócio, devido a regras internacionais que limitam produtos ligados ao desmatamento

No meio do entrevero político entre Palácio do Planalto e Congresso Nacional, a preservação do ambiente sofreu derrota temerária quando Câmara e Senado, na quinta (27), derrubaram 52 dos 63 vetos de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) na lei que flexibiliza o licenciamento ambiental no país, aprovada pelos parlamentares em julho.

O setor de fato necessita de uma regulação mais moderna e simplificada, que alie a proteção de biomas ao desenvolvimento sustentável. Contudo, em vez de elaborarem uma abordagem técnica, parlamentares abusaram de dispositivos com viés paroquial ou que atendem a determinados grupos políticos e econômicos.

Quem irá conter o Supremo? Por Joel Pinheiro da Fonseca

Folha de S. Paulo

Quem pode conter o STF por fora é o Congresso, seja pela votação de novos ministros ou outras vias

Na ausência da autocontenção, Legislativo não deve se furtar de agir

Uma série de bons artigos —Malu Gaspar e Pablo Ortellado no Globo, Fernando Schuler no Estadão e Lygia Maria aqui na Folha— tem debatido os possíveis abusos do Supremo no contexto da trama golpista. Agora que Bolsonaro foi condenado, é hora do Supremo conter os abusos que foram necessários para condená-lo e voltar à normalidade. Claro que a própria Justiça não pode jamais aceitar esses termos, pois seria a admissão de uma Justiça parcial e, portanto, injusta, mas é assim que o debate público tem tratado a questão.

Não vi ainda argumento decisivo para a premissa central aí: a de que os "abusos" do Supremo (lembrando que todos têm suas justificativas jurídicas) foram necessários, decisivos, para as condenações.

Em alguns casos isso é obviamente falso. Tanto a decisão de levar o caso para a primeira turma —em vez do plenário— e a decisão de Moraes de não se declarar impedido para julgar o caso são decisões frequentemente apontadas como abusivas. Independentemente de se a crítica é correta ou não, elas foram irrelevantes para o resultado final. Os golpistas terminariam condenados de qualquer jeito. Mas e sem os inquéritos de ofício, mantidos durante a longa omissão da PGR? Sem eles, haveria a denúncia e o caso? Talvez nunca saibamos.

Sem anistias, por Hélio Schwartsman

Folha de S. Paulo

Premiê israelense submete pedido de perdão judicial ao presidente Isaac Herzog

Países em que erosão institucional não foi completa deveriam rejeitar casuísmos

Binyamin Netanyahu, o primeiro-ministro de Israelsolicitou perdão judicial ao presidente do país, Isaac Herzog. Netanyahu responde a três processos criminais por corrupção, fraude e quebra de confiança. Em Israel, o cargo de presidente é essencialmente cerimonial, mas conserva alguns poderes reais, incluindo o de graça.

A exemplo da cogitada anistia a Jair Bolsonaro, esse é um tema que divide o país. Netanyahu, a exemplo do que dizem bolsonaristas, afirma que o perdão é necessário para a reconciliação nacional. Quem é contra a medida pondera que livrar a barra do premiê sem nenhum tipo de punição e sem que ele nem precise admitir culpa seria um incentivo ao vandalismo institucional.

Cacoete não republicano faz a crise, por Dora Kramer

Folha de S. Paulo

Sendo papel do Senado aprovar indicação ao STF, em tese uma recusa não seria razão de conflito

O hábito da sabatina apenas protocolar fez da desaprovação uma derrota do presidente a ser evitada

Qual seria o tamanho, a durabilidade e os efeitos da presumida crise institucional caso o Senado recuse a indicação do advogado-geral da União, Jorge Messias, para o Supremo Tribunal Federal?

Não há resposta precisa, mas há suposições possíveis. A falta do elemento surpresa diminuiria a dimensão; com altos e baixos, o conflito duraria até a eleição do próximo Congresso e a consequência tanto pode ser o acirramento como o apaziguamento pragmático dos ânimos, a depender dos interesses em jogo.

Que segredos Ramagem, ex-chefe da Abin, levou para os EUA? Por Alvaro Costa e Silva

Folha de S. Paulo

Condenado na trama golpista, deputado passou a perna no Judiciário

Decisão de entregá-lo às autoridades brasileiras está nas mãos de Trump

Que segredos e mistérios esconde Alexandre Ramagem? Que tipo de vantagem ou chantagem ele tem na manga?

O arrivista que em 2018 se aproximou de Bolsonaro após a facada em Juiz de Fora e um ano depois foi nomeado diretor-geral da Abin está leve e solto, curtindo a vida adoidado em Miami, enquanto os comparsas do chamado núcleo crucial da trama golpista se veem obrigados a ler "Crime e Castigo", de Dostoiévski, para reduzir a pena e a caprichar nos atestados médicos para mudar de endereço. Eis por que advogados do general Heleno alegaram que seu cliente começou a sofrer de Alzheimer em 2018 —que ano terrível para todos os brasileiros, não?