terça-feira, 31 de outubro de 2023

O que a mídia pensa: Editoriais / Opiniões

O impacto da fala desastrada de Lula nos juros

O Globo

Descompromisso com as metas fiscais revelado pelo presidente dificulta a missão do Banco Central

A penúltima reunião de 2023 do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) começa amanhã com o mercado num clima de dúvida. O encontro acontece quatro dias depois de o presidente Luiz Inácio Lula da Silva ter declarado que a meta fiscal de 2024 dificilmente será zero. Ao ser questionado hoje sobre o tema, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, reiterou seu compromisso com a meta assumida pelo governo: “Minha meta está estabelecida: vou buscar o equilíbrio fiscal de todas as formas justas e necessárias para que tenhamos um país melhor”.

A declaração desastrada de Lula vai além de desautorizar publicamente quem ele próprio escolheu para cuidar da economia. Lula volta a agir como se fosse um comentarista econômico, não um ator com poder de influenciar expectativas do mercado. Com isso, só contribui para dificultar o desafio do BC. Haddad tentou aliviar o clima, e a maioria dos analistas acredita que o BC cortará os juros em meio ponto percentual (para 12,25%). Mas cresceu a dúvida sobre quando terminará o ciclo de queda iniciado em agosto.

Defender a democracia, combater desigualdades e promover o desenvolvimento sustentável

Cidadania - Resolução política:

O governo eleito em outubro passado, pelo esforço e cooperação de uma ampla frente política e partidária, está perto de completar um ano de exercício. É tempo de proceder a um balanço de suas ações, para identificar os ganhos obtidos, as dificuldades encontradas e as tarefas necessárias para a realização plena da agenda programática que unifica as forças democráticas no país.

A questão política central, que ainda domina a conjuntura, no Brasil e no mundo, é o embate entre as forças políticas democráticas e o autoritarismo, que aqui foram derrotadas na eleição de 2022 e na tentativa de golpe de 8 de janeiro, cujo fracasso teve como consequência o desbaratamento do grupo golpista, além do alinhamento dos Poderes da República em torno da defesa do Estado de direito democrático.

Está em curso o julgamento dos envolvidos diretamente nesse episódio, condenando-os a severas penas; a Comissão parlamentar Mista de Inquérito que investigou aqueles acontecimentos concluiu seu trabalho e indiciou 61 pessoas, entre as quais o ex-presidente Jair Bolsonaro, oito generais e um almirante, por participação, conivência ou omissão diante dos fatos. Seu relatório já foi incluindo no inquérito que investiga a tentativa de golpe.

No entanto, as forças políticas autoritárias mantêm sua força na opinião pública nacional, com suas lideranças à frente de governos estaduais e nas duas Casas do Congresso Nacional. A presença da extrema-direita na vida política nacional é resiliente e uma variável perene do processo político, com a qual teremos que lidar.

Merval Pereira – Desentrosado

O Globo

Quem acredita que a opinião de Haddad tem importância, quando Lula diz que deficit zero não é necessário?

A tentativa de aparentar entrosamento entre o que disse o presidente Lula sobre a desnecessidade de zerar o déficit fiscal e a meta que persegue o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, só piorou a situação, com consequências óbvias no mercado financeiro. Muita ingenuidade do ministro ao tentar desviar do assunto na apresentação de novos diretores do Banco Central. Era evidente que o interesse geral seria saber como andava a relação dele com o presidente.

O máximo que Haddad conseguiu dizer é que sua meta estava mantida: déficit zero. Mas, se Lula acha desnecessário, quem acredita que a opinião de Haddad tem importância? Lula diz que é a “ganância do mercado” que fixa a necessidade de zerar o déficit, mas demonstra ignorância ao dizer isso. O mercado financeiro é essencialmente, acreditam os economistas liberais, um instrumento democrático como transmissor das expectativas da opinião pública. Nem mesmo o capitalismo de Estado da China, que não se pode classificar de país democrático como entendemos aqui no Ocidente, prescinde do mercado financeiro. Por pragmatismo.

Míriam Leitão - O déficit zero e os tropeços

O Globo

Haddad tentou justificar a fala de Lula, mas, sobre economia, presidentes não improvisam e não deixam dúvidas no ar

Um Fernando Haddad irreconhecível chegou na entrevista coletiva de ontem. “Querida, faça o seu trabalho”, disse a uma jornalista que estava fazendo o seu trabalho. O ministro passaria os 30 minutos da entrevista tentando fugir da pergunta sobre a fala do presidente Lula de que a meta fiscal não será zero. Ele se referiu a vários problemas existentes, a um que tem solução já encaminhada, e os transformou nos motivos pelos quais Lula disse o que disse. Na verdade, Lula criou um problema ao declarar que a meta não seria zero. Eles podem ter superado esse mal-estar, mas a explicação de Haddad não convenceu.

Haddad escolheu um caminho árduo e tem travado um combate duro para corrigir distorções tributárias, fechar brechas pelas quais as empresas deixam de pagar impostos, propor suspensão de benefícios fiscais inaceitáveis. E desta forma ir aumentando a arrecadação, sem ter que simplesmente elevar a alíquota dos impostos.

Luiz Carlos Azedo - Um tiro abaixo da linha d’água no deficit zero

Correio Braziliense

A ambiguidade criada por Lula não contribui para o sucesso da política econômica. O pior dos mundos será uma coalizão do Centrão com o PT para anabolizar as emendas parlamentares

Se a vida do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, já era dura com a meta de deficit zero, ficou mais difícil depois que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva abriu mão desse objetivo, jogando a toalha antes mesmo de começar o segundo tempo, porque essa meta era para 2024. Foi um tiro abaixo da linha d’água na blindagem da política econômica, cujo rombo Haddad tentou tapar, ontem, em entrevista coletiva, sem sucesso, porque não pode desdizer o presidente da República nem prometer o que ainda depende de o Congresso aprovar.

Haddad evitou responder sobre uma nova projeção da meta fiscal para 2024. Nos bastidores, a equipe econômica agora trabalha para conter o deficit entre 0,5% e 1% do Produto Interno Bruto (PIB). Haddad minimizou o desgaste da equipe econômica, tentou responder, mas o maior problema são as interrogações que continuam abertas ao mercado. “A minha meta está mantida”, disse Haddad. Esqueceu ou não quis falar sobre deficit zero, disse apenas que pretende antecipar medidas previstas para 2024 para buscar o equilíbrio fiscal.

Carlos Andreazza – Fazuele

O Globo

Lula decretou a inviabilidade da meta fiscal. Decretada também a inviabilidade do arcabouço fiscal. Sem surpresas.

O presidente foi até comedido ao decretar a inviabilidade da meta fiscal:

— O que eu quero dizer é que nós dificilmente chegaremos à meta zero.

Dificilmente não será robusto o rombo. Decretada também a inviabilidade do arcabouço fiscal. Nenhuma novidade. Formulação para voo curto; como próprio a uma conta que não fecha. Nunca fecharia, se impossível a materialização da sanha arrecadatória. Incompreensível a surpresa. Boa parte da perplexidade com a franqueza de Lula derivada de desinformação sobre o projeto político eleito em 2022.

A democracia venceu e não é barata, conforme explicita o ritmo do Lirão-Express no Parlamento. Pagou, levou. Entregou, votou. Base em construção permanente. Base que, por movediça, estabilidade não oferece. Base que base não é. Que ganhou a Caixa e seu alcance. Em troca de votar medidas arrecadatórias. E que quer o banco — o Planalto prometeu — com porteira fechada; com a vice-presidência que cuida do Minha Casa, Minha Vida. Minha Caixa, Minha Lira, segundo o urbanista Washington Fajardo.

Eliane Cantanhêde = A culpa é sempre dos outros

O Estado de S. Paulo

Haddad sentiu o golpe, mas não deu o braço a torcer e culpou STF e Congresso

Nem parecia o mesmo Fernando Haddad. Ar cansado, contrariado, impaciente e, enfim, mal-humorado, o ministro da Fazenda disse a jornalistas que prometeu déficit zero em 2024, mas sabe-se lá se vai cumprir. E não concordou nem discordou do chefe Lula, que lhe passou uma rasteira e anunciou o fracasso da promessa antes de discutir com ele os vários ângulos de uma questão tão sensível. Pior: no fim do ano, com Haddad correndo contra o tempo para aprovar suas pautas no Congresso.

Sem ter como atacar o presidente, contar a verdade e apontar o dedo para o chefe da Casa Civil, Rui Costa, Haddad descarregou a culpa – ou a raiva? – no Congresso e no Supremo. Segundo ele, não foi Lula quem sabotou o País, foram os dois outros Poderes, que, desde 2017, vêm insuflando privilégios para empresas e secando a arrecadação federal.

Marli Olmos - Nem tudo vai mal na Argentina

Valor Econômico

Multinacionais planejaram fazer de Brasil e Argentina uma estrutura única de manufatura, mas a lógica industrial foi muitas vezes atropelada por crises e caprichos políticos

Há poucos dias, o presidente da Renault do Brasil, Ricardo Gondo, mostrou estar ansioso pelo início das vendas no Brasil de um veículo produzido na Argentina. O Kangoo, um modelo multiuso fabricado em Córdoba, será vendido no mercado brasileiro a partir do próximo ano. Essa importação facilitará o movimento no sentido contrário: o envio, para o mercado argentino, de carros produzidos pela Renault na fábrica do Paraná. A exportação a partir do Brasil ficou prejudicada nos últimos dias, segundo Gondo, pela escassez de divisas no país vizinho.

Há quatro meses começou, também em Córdoba, a produção experimental da Volkswagen Caminhões e Ônibus. A montadora alemã vende veículos comerciais na Argentina há 25 anos. Mas até aqui eram importados da fábrica de Resende (RJ). Anunciado no fim de 2022, o novo plano, que vai absorver investimento de US$ 50 milhões, prevê produzir, em Córdoba, a partir do início de 2024, cinco modelos para atender o mercado interno. Dessa forma, a empresa deixará de depender da disponibilidade de dólares no país vizinho para vender seus produtos e ainda o ajudará a reduzir o déficit comercial.

Andrea Jubé - A solidão de Lula para escolher nomes para o STF e PGR

Valor Econômico

Indicação para o Supremo pode ser feita em novembro, mas para a Procuradoria-Geral tem data incerta

Depois de afirmar a poucos interlocutores que adiaria a escolha do novo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) para janeiro, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem ponderado que deve anunciar o nome do futuro magistrado ainda neste mês.

Interlocutores que conhecem a fundo a trajetória de Lula atribuem a hesitação do mandatário à famigerada solidão do poder. Neste caso, seria uma solidão segmentada, tocante ao Judiciário.

É um território onde ele perdeu conselheiros do quilate do ex-ministro da Justiça Márcio Thomaz Bastos, morto em 2014, ou com quem manteve uma relação fraterna, como Sigmaringa Seixas, que faleceu em 2018. A morte de Sigmaringa foi um baque estrondoso porque na ocasião, Lula amargava o confinamento em Curitiba.

Lu Aiko Otta - Haddad apresentará “cenários” a Lula e líderes para tentar salvar meta de déficit zero em 2024

Valor Econômico

Ministro foi pressionado por jornalistas após declaração de Lula de que a meta não precisa ser zero

Normalmente paciente em seus contatos com a imprensa, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, interrompeu de forma repentina uma entrevista que concedia, depois de ser questionado diversas vezes sobre o compromisso do governo com o déficit zero no ano que vem.

No máximo, o que o ministro conseguiu afirmar é que ele, sim, seguirá perseguindo o equilíbrio fiscal, por ser algo em que acredita, e não por pressão do mercado. “A minha meta está estabelecida”, afirmou.

Não respondeu, porém, o que lhe teria dito o presidente Luiz Inácio Lula da Silva a respeito do déficit zero na reunião que tiveram na manhã desta segunda-feira (30).

Maria Cristina Fernandes - Debate fiscal pode ser engolido pela sucessão das mesas do Congresso

Valor Econômico

Lula não deve ter facilidade em impor seu jogo orçamentário no Congresso

Ao cerrar fileiras ao lado do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, no debate sobre a meta fiscal, o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), sugere que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva não terá facilidade em impor seu jogo orçamentário no Congresso sem antes se comprometer com a sucessão das mesas das Casas.

Como presidente do Congresso, é Pacheco quem comanda a votação do Orçamento. Lula tem muitas opções para mudar a meta na Lei de Diretrizes Orçamentárias, que ainda não foi aprovada. Pode fazê-lo por mensagem presidencial, emenda do Congresso e até uma conversa com o relator do Orçamento para que ele assuma a mudança como iniciativa sua. Tem até 22 de dezembro para isso. Com LDO e Orçamento aprovados, no passado, já foi possível mudar a meta no ano em curso de sua aplicação. Com o arcabouço fiscal, como o crescimento da despesa está subordinado ao cumprimento da meta fixada no ano anterior, ficou mais difícil.

Joel Pinheiro da Fonseca - Não deixe a Reforma Tributária te fazer de otário

Folha de S. Paulo

Toda isenção ou desconto estendido a um grupo é pago pelos que ficaram de fora

Eu era um membro conformado do grupo dos otários que pagam inteira no cinema. Sim, otário: graças ao desconto concedido a estudantes, idosos e outros, gente como eu pagava mais caro. Mas eis que, neste fim de semana, vim para o lado vantajoso da força: minha operadora de celular tem um convênio com uma rede de salas, o que me valeu o direito à meia. Muito em breve, absolutamente todo frequentador de cinema terá sua meia entrada.

O resultado disso, é claro, não será uma economia para todos, e sim uma entrada que simplesmente custará o dobro. Toda isenção ou desconto estendido a um grupo é pago por aqueles que ficaram de fora. Se ninguém ficar de fora, o benefício se extingue.

Dora Kramer - O inimigo mora em casa

Folha de S. Paulo

Lula faz com Haddad o oposto do que Itamar fez com FHC há 29 anos

Não se espantem, mas é provável que Luiz Inácio da Silva não busque a reeleição em 2026. Ele não pode acenar com essa hipótese agora, sob pena de entregar o governo antes do tempo. É o tal do lugar-comum da expectativa de poder que se retroalimenta e permite governar.

Havendo sentido na probabilidade de Lula não ir a um quarto mandato aos 81 anos de idade e tendo quase perdido o terceiro para uma figura de péssimas credenciais, o primeiro da fila para disputar seria Fernando Haddad.

Alvaro Costa e Silva - Eleições são presente de Natal para políticos

Folha de S. Paulo

Até Arthur Lira sonha em se candidatar a presidente

Numa crônica antiga, Carlos Drummond de Andrade notou que cada vez mais o ano se compõe de dez meses; os dois restantes são dedicados ao Natal. "É possível que, com o tempo, essa divisão se inverta: dez meses de Natal e dois meses de ano vulgarmente dito", previu o poeta. Sem descrédito para a presença entre nós do Papai Noel (que, aliás, já anda de trenó por aí, morrendo de calor dentro da roupa vermelha), quem domina o calendário, hoje, são as eleições.

Os partidos articulam no Congresso um aumento inédito no fundo que bancará a campanha municipal do ano que vem. É um embrulhão, com papel colorido e fita crepom: o valor fica entre R$ 5 bilhões e R$ 6 bilhões. Os recursos seriam retirados da Justiça Eleitoral (que não consegue coibir irregularidades nos pleitos) ou das emendas de bancada no Orçamento.

Hélio Schwartsman - A vida fácil dos arapongas

Folha de S. Paulo

Programas de espionagem só deveriam operar sob supervisão de órgãos de controle

Se há um trabalho que a tecnologia facilitou, é o de araponga. Vivemos numa era em que a privacidade, se não morreu, anda mal das pernas. E não dá para culpar só a multiplicação das câmeras de vigilância e a compulsiva coleta de dados pelas big techs. Grande parte das informações pessoais disponíveis "in silica" são postadas voluntariamente por seus próprios titulares em redes sociais.

Bisbilhotar a vida dos outros se tornou uma atividade tão trivial que a maior parte das informações que serviços de inteligência costumam reunir já aparece em fontes abertas ou semiabertas. Num exemplo concreto, não era necessário quebrar sigilos nem tomar outras medidas invasivas para saber o que os vândalos/golpistas de 8 de janeiro tramavam. Eles próprios escancararam seus planos nas redes sociais —e vários serviços de inteligência captaram a encrenca. Um pouco por sabotagem dos militares, um pouco por falhas na interpretação das informações, as autoridades não se preparam adequadamente.

segunda-feira, 30 de outubro de 2023

O que a mídia pensa: Editoriais / Opiniões

Governo acerta ao corrigir reforma do ensino médio

O Globo

Apesar de imperfeita, proposta aumenta carga horária de disciplinas básicas e inibe aberrações no currículo

O Projeto de Lei (PL) com mudanças para o Novo Ensino Médio enviado ao Congresso pelo governo na semana passada representa um avanço, embora ainda possa ser aperfeiçoado pelos deputados e senadores. Dada a relevância da educação para o Brasil, seja pela dimensão econômica — devido ao impacto na capacitação da mão de obra —, seja pela social — por ser um trampolim para a renda futura dos jovens —, espera-se que os congressistas dediquem o tempo e o esforço necessários.

A questão de fundo levantada pelo PL é a necessidade de transformar o quadro atual. A pontuação média dos alunos do terceiro ano nas provas do Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb) está estagnada desde 2001. Os estudantes com nível de conhecimento adequado em matemática não passam de 10%. Em português a média dos últimos anos é um pouco melhor, mas baixa, inferior a 30%.

Fernando Gabeira -Mensagem das chamas

O Globo

Se o crime no Rio for visto como uma lacuna na democracia, poderíamos mobilizar todas as forças para abordá-lo

Chego ao Rio depois de uma longa viagem: ônibus em chamas, densas nuvens de fumaça pairando sobre a Zona Oeste. Apesar do cansaço, detenho-me ouvindo os debates. Sábios conselhos para combater as milícias. Concordo com todos.

Nem adianta acrescentar mais um tópico à receita de segurança. Preciso talvez responder a uma questão: se o problema não começou ontem, por que ao longo destes anos não foi resolvido?

Há 15 anos, formulamos numa campanha política o mapa do controle territorial do Rio pelas milícias e pelo tráfico de drogas. De lá para cá, muita coisa mudou: traficantes compraram territórios das milícias, houve fusões e um crescimento para o interior, sobretudo cidades médias, como Macaé e Angra dos Reis.

Demétrio Magnoli - Antissemitismo 2.0

O Globo

Os israelenses sionistas não são diferentes dos americanos, dos australianos ou dos brasileiros

O antissemitismo original, de raízes medievais e cristãs, desceu a uma caverna sombria desde o Holocausto e a subsequente criação do Estado de Israel. À luz do sol, no espaço público que ele ocupava, emergiu o antissemitismo 2.0, que se apresenta como antissionismo.

— O Estado de Israel é uma vergonha para a humanidade, quem mata criança não merece respeito, não merece ser um Estado — tuitou Gleide Andrade, tesoureira do PT e conselheira de Itaipu, ilustrando a versão mais primitiva do antissemitismo 2.0.

— Sou antissionista, não antissemita — habituou-se a retrucar o antissemita da era pós-Holocausto.

Jogo de palavras, fruto de ignorância ou malícia. O sionismo é o movimento nacional judaico que conduziu à fundação de Israel. Sionista é, simplesmente, o defensor da existência do Estado judeu. Há sionistas de esquerda, de centro e de direita. Entre eles, existem tanto arautos da convivência com os palestinos em dois Estados quanto do “Grande Israel”, com a ocupação permanente dos territórios palestinos. Ser antissionista é pregar a destruição de Israel: antissemitismo 2.0.

Carlos Pereira* - Regular a política é criminalizá-la?

O Estado de S. Paulo

Não existe solução ótima ao se (não) regular a política pela Justiça

Em conferência realizada em Paris, o ministro do STF Gilmar Mendes deixou clara a sua interpretação da relação entre a política e a Justiça. Para ele, “se a política voltou a ter autonomia, eu queria que fizessem justiça, foi graças ao STF (...), se a política deixou de ser judicializada e de ser criminalizada, isso se deve ao STF”. Disse isso ao se referir ao freio colocado pela Suprema Corte na Lava Jato.

É como se, para Gilmar, os atores políticos tivessem a capacidade de se autorregular sem a necessidade de interferências da Justiça, mesmo diante de potenciais riscos de comportamentos desviantes e oportunistas por parte dos políticos, como apontados pelo último relatório da OCDE. A entrada da Justiça regulando a política teria como efeito perverso a sua criminalização, o que seria mais custoso do que deixar que os políticos se autoequilibrassem.

Rachel Maia - Concentração de riqueza e racismo no Brasil

O Globo

A concentração de riqueza e o racismo são dois problemas interligados que persistem no Brasil, alimentando desigualdades profundas e persistentes na sociedade

Na coluna de hoje trago um pouco sobre o bate-papo com o Fernando Maskobi, consultor financeiro estrategista que aborda a concentração de riqueza no Brasil e como isso está interligado ao racismo. A concentração de riqueza e o racismo são dois problemas interligados que persistem no Brasil, alimentando desigualdades profundas e persistentes na sociedade. Essas questões têm raízes históricas que remontam ao período colonial e à escravidão.

Conforme cita Fernando: “Num país onde a metade mais pobre possui menos de 1% da riqueza, fica difícil esperar um Brasil melhor sem encararmos o tema de concentração de riquezas de frente e com maturidade. De onde nasce a desigualdade social e qual a sua relação com o racismo? Qual o custo de viver numa sociedade com tamanha diferença social?

Bruno Carazza* - Políticos no comando das estatais: um ‘revival’

Valor Econômico

Fragilização de lei por Ricardo Lewandowski abriu flanco para reaparelhamento político das estatais

Severino Cavalcanti era um político do baixo clero que, por um desatino da política brasileira, assumiu a Presidência da Câmara dos Deputados em 2005. Segundo os relatos da imprensa na época, o deputado teria pressionado Lula, então em seu primeiro mandato, a lhe dar o direito de nomear um apadrinhado para “aquela diretoria da Petrobras que fura poço e acha petróleo”.

Eduardo Cunha, outro célebre presidente da Câmara, acreditava que indicar um aliado para a diretoria ou a vice-presidência de um banco público, como a Caixa Econômica Federal, lhe daria mais poder e influência do que obter um Ministério.

Diante de tanto interesse no controle das decisões de bancos públicos e estatais, que têm orçamento e flexibilidade de contratação e despesas muito maiores que os órgãos da Administração Direta, não causa surpresa a ampliação do corpo diretivo dessas companhias nos últimos anos. Para se ter uma ideia, em 1994 a diretoria da Caixa era composta por seis integrantes - mesmo número de membros de seu Conselho de Administração. Hoje, além do presidente, são doze vice-presidentes e 25 diretores-executivos; já o conselho tem oito assentos.

Sergio Lamucci - A mudança da meta e a credibilidade do arcabouço

Valor Econômico

Alterar o alvo para as contas públicas em 2024 afeta a percepção sobre a nova regra fiscal, já questionada pela dependência excessiva de receitas incertas

O novo arcabouço fiscal recebeu um golpe importante na sexta-feira, com a afirmação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva de que a meta do resultado primário de 2024 não precisa ser zero. Além de afetar os esforços do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, de tentar conseguir do Congresso receitas para zerar o rombo do governo central no ano que vem, a declaração de Lula tem o potencial de causar estragos na credibilidade da nova regra.

O arcabouço já tem sido questionado por depender de um crescimento expressivo e incerto da arrecadação, necessário para bancar o aumento das despesas sempre acima da inflação, de 0,6% a 2,5% ao ano. Agora, o presidente indica que deve prevalecer a vontade do PT e da ala política do governo, resistentes a cortes de gastos no ano que vem.

Gustavo Loyola* - Cenário internacional exige prudência

Valor Econômico

Além das questões geopolíticas, há uma persistente preocupação com os rumos da política monetária do Fed

O ataque terrorista do Hamas a Israel e seus desdobramentos agravaram ainda mais o ambiente de incertezas em que já trabalhavam os bancos centrais, tanto nos países desenvolvidos quanto nas economias emergentes. Esse novo cenário deve exigir uma dose de prudência maior na execução da política monetária no âmbito doméstico da economia brasileira, presentes aqui, adicionalmente, as incertezas da gestão macroeconômica e política do governo Lula.

Mesmo antes da eclosão da atual escalada de violência no Oriente Médio, os mercados financeiros preocupavam-se com os riscos de natureza geopolítica aportados pelo conflito na Ucrânia e pelas tensões entre a China e os EUA no que diz respeito à situação de Taiwan. Tais fontes de incerteza têm contribuído para o aumento dos prêmios de risco em escala global, assim como para disrupções na oferta de commodities e de outros insumos, fato que adiciona maior dificuldade para os bancos centrais no processo de redução das pressões inflacionárias via política monetária.

Eduardo Fleury* - Adam Smith, tributação e cashback

Valor Econômico

O sentimento de injustiça decorrente da cobrança de impostos fez com que a “ciência” da tributação evoluísse razoavelmente ao longo da história

Consta no Evangelho de São Marcos que Jesus se reuniu à mesa com cobradores de impostos, entre eles Mateus, que viria a se tornar seu discípulo. Ouvindo reclamação dos escribas por se reunir com este “tipo” de pessoa, Jesus respondeu: “Não vim chamar os justos, mas os pecadores”.

Justiça e tributos parecem não caber na mesma frase (ou mesa) desde os tempos de Cristo. A fim de esclarecer melhor a posição de Jesus na questão tributária, cabe citar o próprio São Mateus. Jesus quando questionado se era lícito pagar “tributo a César, ou não”, respondeu prontamente: “Dai, pois, a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus”.

O sentimento de injustiça decorrente da cobrança de impostos fez com que a “ciência” da tributação evoluísse razoavelmente ao longo da história. Adam Smith há quase 250 anos já definia em seu livro “A Riqueza das Nações” (1776) princípios de tributação que são, ou deveriam ser, a base para um sistema tributário justo e eficiente. É sobre estes princípios que gostaria de fazer comentários e mostrar o quanto são importantes para o Brasil no momento em que estamos discutindo a reforma no sistema de tributação.

Camila Rocha* - Argentina: unidade para enfrentar a crise

Folha de S. Paulo

Segundo pesquisa, 52% são favoráveis à formação de governo de unidade como resposta à crise, enquanto 23% discordam

Javier Milei é sinônimo de caos e instabilidade para boa parte dos argentinos. Daí a vantagem obtida por Sergio Massa no primeiro turno das eleições. Ainda que a radicalidade desvairada de Milei possa excitar os ânimos de quem acredita que o país necessita de um choque profundo para sair da crise, essa não é a opinião da maior parte da população.

De acordo com uma pesquisa divulgada pela consultoria Analogías, no dia 26 de outubro, 52% dos argentinos são favoráveis à formação de um governo de unidade nacional como resposta à crise, enquanto apenas 23% discordam.

Massa já sinalizou que não seguirá qualquer cartilha kirchnerista e fará um governo de união nacional.

Milei e seus apoiadores, Mauricio Macri e Patricia Bullrich, porém, estão mais preocupados em destruir a oposição. Bullrich já explicitou sua intenção de "acabar com o kirchnerismo de uma vez por todas". Em sua visão, o kirchnerismo "é uma ideologia que destruiu a Argentina".

Marcus André Melo* - Argentina e o fim do 'voto econômico'

Folha de S. Paulo

Economia, criminalidade violenta e corrupção afetam apoio à democracia?

Os resultados das eleições na Argentina e na Polônia levaram analistas a decretarem a morte do chamado voto econômico. Na Argentina, Massa logrou sair da terceira posição nas primárias para a primeira em um quadro de inflação de 140%, e expectativas de debacle financeira. Na Polônia, o PiS foi defenestrado, a despeito do PIB per capita ter aumentado inacreditáveis 31% nos últimos 8 anos que governou.

A relação entre economia e voto é um tópico clássico da pesquisa empírica em ciência política. O conhecimento acumulado é que a economia é o mais importante preditor em qualquer modelo. Mas a questão é complexa. Não se trata apenas da economia real, mas a percebida pelos eleitores, a qual expressa viés partidário. A avaliação da economia por eleitores do governo e da oposição pode variar em mais de 40%. Os eleitores não conseguem distinguir o efeito de políticas de outros fatores (choques).

Sylvia Colombo - Apoio a Milei pode ser tiro no pé para Macri

 

Folha de S. Paulo

Ex-presidente de centro-direita arrisca seu capital político após se aliar a ultradireitista no segundo turno

Muito se pode criticar a gestão de Mauricio Macri (2015-2019), que tentou dar uma espécie de choque neoliberal na Argentina e fracassou, contraiu uma dívida enorme com o FMI (US$ 56 bilhões) e desgastou tão rápido sua imagem que nem sequer conseguiu ir para o segundo turno em sua tentativa de reeleição.

É preciso dizer, porém, que Macri representou, numa década em que o país vinha frustrado com a classe política (os anos 2000), uma renovação à direita do espectro político.

Foi no contexto pós-crise de 2001 que o empresário, um dos mais ricos do país, herdeiro do grupo Socma, criou o PRO (proposta republicana).

A ideia era responder ao grito de guerra das ruas —"que se vayan todos" (que todos vão embora), referindo-se à classe política tradicional— com políticos e empresários jovens e integrantes de think tanks. Eram adeptos do discurso de "desideologização", vestiam-se de modo informal, sem gravata, não raro de sapatênis.

Glenn Greenwald - Israel repete erros dos EUA após 11 de setembro

Folha de S. Paulo

Taxar críticos de bombardeios e massacre de civis de 'pró-Hamas' é ferramenta inaceitável para silenciar dissidentes

O famoso aforismo alerta: "Aqueles que não conhecem o passado estão condenados a repeti-lo". É urgente lembrar as lições da história e aplicá-las à ofensiva militar e ao cerco de Gaza promovidos por Israel em retaliação ao horripilante massacre cometido pelo Hamas.

É difícil ignorar as semelhanças entre os ataques de 11 de setembro de 2001 nos EUA, que mataram 3.000 pessoas, e o ataque sofrido por Israel em 7 de outubro.

reação ao 11 de setembro causaria décadas de guerras, bombardeios, ocupações, tortura, prisões clandestinas e prisioneiros em cativeiros brutais sem sinal de processo legal ou garantias constitucionais. O próprio governo dos EUA acabaria por reconhecer, anos depois, que muitos desses prisioneiros eram inocentes.

Cacá Diegues - O brado dos herdeiros

O Globo

O Cinema Novo iria em busca da razão de nossa existência, do sentido da vida e dos filmes que iríamos fazer

No fim dos anos 1960, eu havia terminado meu terceiro longa-metragem e me preparava para lançá-lo comercialmente quando o golpe civil-militar de 1964, já instalado com todo um acervo de defesas regulares que incluíam uma censura rigorosa, se consolidara.

Eu estava casado com Nara Leão, minha primeira esposa, com quem falava muito sobre o que fazer, e a ouvia ansioso, sabendo de sua experiência na resistência cultural à ditadura. (Só encontrei suporte e afeto parecidos com Renata Magalhães, com quem tive a sorte de casar em seguida). Por sugestão de Nara, entrei em contato sincero com o ministro da Justiça, responsável pela censura no país.

Sérgio Augusto - Miados literários

O Estado de S. Paulo

Depois de alguns anos, quebrei, contrariado, uma promessa, e voltei a ter um gato em casa. Chegou já adulto, hóspede temporário, e foi ficando. É meu primeiro bichano de raça: um siamês, acolhido com os mesmos mimos reservados aos vira-latas que o destino pôs sob minha guarda ao longo da vida.

Devo a meus pais um amor incondicional pelos animais. A elurofilia, sinônimo besta de felinofilia que aprendi com o elurófilo Rubem Fonseca, peguei de minha mãe, que por mais de uma década cuidou de parte dos felinos do Aterro do Flamengo, com o mesmo afinco com que Paul Léautaud cuidava dos seus em Fontenay-aux-Roses.

domingo, 29 de outubro de 2023

O que a mídia pensa: Editoriais / Opiniões

Combater milícias exigirá mais que operações policiais

O Globo

É necessário seguir práticas de sucesso contra máfias do mundo todo: asfixia financeira e inteligência

A semana que passou expôs de modo cruel o poder das milícias no Rio de Janeiro. Depois da morte de um de seus líderes em confronto com a Polícia Civil, a reação semeou o caos: 35 ônibus, quatro caminhões, um trem e automóveis foram incendiados, espalhando tensão por sete bairros, ou mais de 1 milhão de habitantes. Uma série de reportagens publicada pelo GLOBO tem esmiuçado os tentáculos dessas organizações criminosas, salientando a urgência de uma estratégia consistente para desarticulá-las.

Criadas há quase 20 anos a partir de grupos de policiais organizados para combater o tráfico por conta própria, as milícias rapidamente se constituíram num poder paralelo que hoje controla vastas extensões do Rio. Ao todo, uma área de 284 quilômetros quadrados da Região Metropolitana, onde vive um terço dos 6,2 milhões de cariocas, está sob influência das milícias, de acordo com o Grupo de Estudos dos Novos Ilegalismos (Geni) da Universidade Federal Fluminense (UFF).

Merval Pereira - Cada um por si

O Globo

Com a declaração do presidente em uma coletiva para cerca de 40 jornalistas brasileiros, Lula boicotou seu próprio programa de governo, baseado em promessa inexequível de zerar o déficit público

O Presidente Lula nunca foi cauteloso em suas falas mas, sobretudo em momentos delicados, tinha a preocupação pontual de se conter em situações que poderiam colocar em risco a política econômica de seus governos. No primeiro mandato, contido pelo então ministro da Fazenda Antônio Palocci, conseguiu reverter uma situação delicada mantendo o objetivo de equilíbrio fiscal. No terceiro mandato, parecendo convencido de que tem o direito de dizer o que quer na hora que bem deseja, Lula anuncia ao mundo que seu governo não tem nenhum compromisso com o fim do déficit fiscal.

Ele nem sequer adiou a meta, defendida com unhas e dentes pelo ministro da Fazenda Fernando Haddad. Já se sabia que Haddad enfrentava fortes barreiras dentro do próprio PT, mas esperava-se que tivesse o apoio de Lula. Com a declaração do presidente em uma coletiva para cerca de 40 jornalistas brasileiros, Lula boicotou seu próprio programa de governo, baseado em promessa inexequível de zerar o déficit público.

Míriam Leitão - Governo Lula contrata risco

O Globo

Na semana que completa dez meses, o governo Lula entregou a Caixa ao Centrão e sentiu o peso da crise de segurança do Rio de Janeiro

Aos dez meses do terceiro governo Lula, ele entregou a Caixa Econômica para o Centrão, deu o primeiro passo para permitir ocupação política na Petrobras, recebeu respingos de um caso de espionagem criado no governo Bolsonaro e sente o peso da velha crise de segurança do Rio. Essa é a hora em que a administração deveria corrigir rotas e fazer escolhas para garantir o sucesso nos próximos três anos e dois meses deste mandato.

Aceitar a ocupação política das estatais é contratar riscos. Já houve tantos casos, em diversos governos, em que as indicações dos partidos resultaram em escândalos que é difícil imaginar que será diferente. A troca na Caixa teve ainda outro simbolismo. Mais uma demissão de mulher para dar o cargo a um homem. Lula explicou que precisa dos 100 votos deles. Precisa sim, mas é temerário entregar um banco tão simbólico e importante como esse.

Bernardo Mello Franco - Mãos ao alto, é um acordo!

O Globo

Ao demitir presidente da Caixa, Lula se rende a Lira e cede mais uma vez à chantagem do Centrão

Em setembro, Arthur Lira anunciou as condições para destravar a pauta econômica do governo. O chefão da Câmara havia acabado de emplacar o afilhado André Fufuca no Ministério do Esporte. Apesar disso, não estava satisfeito. Exigia a Caixa Econômica Federal “de porteira fechada”. “Esse foi o acordo”, informou, em entrevista à Folha de S.Paulo.

A cobrança pública irritou Lula, que pôs a troca em banho-maria. “Só eu tenho o direito de colocar, só eu tenho o direito de tirar”, reagiu. Lira segurou a língua, mas continuou a bloquear as votações na Câmara. Na quarta-feira, o deputado venceu o cabo de guerra. O presidente demitiu a presidente da Caixa, Rita Serrano, e entregou o comando do banco ao Centrão.

Elio Gaspari - A empulhação da segurança

O Globo

Pela lógica, os bandidos delinquem, mas não faz sentido que as autoridades federais, estaduais e municipais cultivem a arte de empulhar o público. Depois do que aconteceu no Rio, Lula tirou do baralho a carta dos militares e saiu-se com a seguinte platitude:

“Eu já conversei com o Flávio Dino e vou conversar com o Múcio (Defesa). Vamos usar a estrutura dos Ministérios da Justiça e da Defesa para ajudar a combater o crime organizado e a milícia no Rio”. Se conversa resolvesse, o crime não estaria solto e se as estruturas existentes servissem para alguma coisa, as milícias e as quadrilhas não teriam chegado ao nível em que estão.

Coisas como criar (ou extinguir) o Ministério da Segurança Pública, inventar forças-tarefa ou mudanças nas leis são apenas truques verbais.