quinta-feira, 19 de setembro de 2024

O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões

Copom acertou ao aumentar taxa de juros

O Globo

Além de dar recado claro no combate à inflação, movimento dissipa incertezas sobre próxima gestão do BC

Era esperada a decisão do Banco Central (BC) de subir a taxa básica de juros, a Selic, em 0,25 ponto percentual, para 10,75% ao ano. Não faltam evidências de pressão sobre os preços: a economia segue aquecida, o desemprego cai, a política fiscal do governo é expansionista, e o dólar continua alto. Diante disso tudo, não causa surpresa que as expectativas de inflação para 2024 estejam longe do centro da meta (3%). Levando tudo em consideração, o Comitê de Política Monetária (Copom) fez a opção correta ao colocar o pé no freio. Tomada por unanimidade, a decisão também transmite um recado nítido de coesão no Copom — e contribui para afastar incertezas a respeito da próxima gestão no BC, que começa em 2025.

O anúncio marca uma mudança de rota na política monetária. Entre agosto de 2023 e maio deste ano, a Selic caiu de 13,75% para 10,5%. De lá para cá, ficou estacionada. Com a subida gradual de agora, o mais provável é um novo ciclo de alta. Que ninguém se engane. A perspectiva de juro alto nunca é boa. Ao tornar o crédito mais caro, inibe o consumo e o investimento. Mas vale lembrar que adotar uma política monetária contracionista na hora certa evita males maiores no futuro, com escalada de preços e erosão no poder de compra.

Maria Hermínia Tavares - Eleições e disputas no campo das direitas

Folha de S. Paulo

Está em disputa a liderança firmada pelo ex-presidente nas eleições de 2018

Há duas eleições para a Prefeitura de São Paulo. A primeira, ostensiva, definirá o novo ocupante do 14º andar do Edifício Matarazzo, no paulistaníssimo Viaduto do Chá. Em paralelo, como apontou o cientista político Antonio Lavareda, trava-se uma espécie de primárias para decidir a liderança das direitas na Pauliceia.

O prefeito Ricardo Nunes e o autointitulado "ex-coach" Pablo Marçal têm em comum folgada vantagem sobre um grupo mais amplo onde figuram desde o destemperado Datena até uma jovem que, embora envolta na bandeira do novo, mais parece a reencarnação das marchadeiras de 1964 contra o "comunismo ateu".

A queda de braço paulistana tem inegáveis características locais: como não ver em Marçal a versão digital —e ainda mais primitiva— do velho populismo de direita que levou Jânio Quadros a se sentar duas vezes na cadeira de prefeito e alavancou a carreira de Paulo Maluf? Como esquecer do Adhemar ("rouba mas faz") de Barros ao ouvir do prefeito Nunes o quanto "fez, faz e fará" pelos mais pobres?

Merval Pereira - A distopia que vivemos

O Globo

Musk parece um daqueles vilões dos filmes de 007, ou, mais atualmente, das séries de ação de Tom Cruise, que se preparam para dominar o mundo com armas tecnológicas avançadíssimas, mas que sucumbem aos heróis que protegem o mundo

Tudo leva a crer que o ex-presidente Bolsonaro sabia da possibilidade de a rede social X, banida do território nacional pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes, voltar a funcionar em algum momento ontem. Tanto que tinha pronto um texto longo sobre o tema, com críticas à decisão e uma defesa das empresas de Elon Musk. O escrito tinha características de ter sido oriundo de sua defesa jurídica, não de mensagem escrita em português peculiar pelo vereador Carlos Bolsonaro, que manipula as redes sociais para seu pai.

Foi uma clara provocação do bilionário Musk, que assumiu definitivamente o papel de militante da direita internacional. A compra do Twitter, rebatizado X, não foi um investimento financeiro, mas um lance para aumentar o potencial da atividade política de Musk. Sendo assim, o combate ao ativista internacional torna-se também um combate político, embora a base da punição no Brasil tenha sido técnica, pela falta de pagamento de multas e de representante legal no país.

Ruy Castro - A arte de prosperar, ficar rico e ser feliz

Folha de S. Paulo

Para dar o exemplo, coaches são os primeiros a prosperar, ficar ricos e ser felizes

Neste momento, há 101 influenciadores sendo investigados pela polícia no país. Alguma coisa a ver, talvez, com a biografia deles?

Pablo Marçal, 37 anos, chegado a cadeiradas por motivo justo, integrava em jovem uma quadrilha que desviava dinheiro de bancos. Depois, foi guia turístico em excursões de risco sem as devidas precauções, idealizador do imaginário kit gay e criador de um banco fantasma que aceitava depósitos. Até que se tornou coach digital e autor de livros como "A Arte de Prosperar", doutrinando seus seguidores a serem ricos e felizes. Para dar o exemplo, ele próprio prosperou, ficou rico e feliz. Hoje tem 29 empresas, um patrimônio de R$ 193 milhões e é ex-futuro prefeito de São Paulo.

Malu Gaspar – Hackeando Marçal

O Globo

A principal razão por que Pablo Marçal (PRTB) capturou uma fatia do eleitorado paulistano e se converteu na grande novidade da campanha deste ano foi a transposição, para a política, do método Marçal, que ele mesmo explica ser ancorado na economia da atenção. Nesse método, tudo gira em torno da máxima segundo a qual não importa o que se diz, mas o impacto que se causa. Quanto mais impacto, mais voto.

O que interessa é conseguir que todos falem de você, seja por bancar o palhaço em debates, por inventar propostas mirabolantes ou por abusar da agressividade e de mentiras. O próprio Marçal já disse que precisava se comportar como idiota porque é disso que o eleitor gosta. A pegada antissistema em que ele se enquadrou é um imperativo algorítmico, e não necessariamente consequência de convicções pessoais. De antissistema, afinal, o ex-coach não tem nada.

Maria Cristina Fernandes - Brasil desafia crença de que a catástrofe une

Valor Econômico

O tardio conjunto de propostas do governo em resposta à crise das queimadas na Amazônia e no Pantanal nem chegou ao Congresso mas já desafia a crença de que a catástrofe une

O tardio conjunto de propostas do governo em resposta à crise das queimadas na Amazônia e no Pantanal nem chegou ao Congresso mas já desafia a crença de que a catástrofe une. A começar pelo crédito extraordinário que, autorizado pelo Supremo, será endereçado por medida provisória em curso.

Equivale a 1,2% daquilo que está previsto para compensar o Rio Grande do Sul pelas enchentes. Apesar disso, fez pipocar alardes fiscais desproporcionais ao reduzido volume de gasto face à elevada extensão do dano. Se os R$ 40 bilhões previstos para a tragédia gaúcha são necessários à reconstrução de um Estado agrícola que enterrou 183 vítimas e desabrigou 81 mil pessoas, os R$ 514 milhões de crédito extraordinário também o são para recuperar a Amazônia e o Pantanal.

Suas chamas espalharam fumaça por 60% do território nacional e deixaram localidades onde moram 10 milhões de brasileiros em situação de emergência. Para comer, o país precisa respirar.

Bruno Boghossian - A ciranda da alta burocracia fez fumaça

Folha de S. Paulo

Da sala de situação ao conselho contra desastres, ainda falta tratar a emergência climática como uma emergência

O governo criou em junho uma sala de situação para enfrentar a seca e os incêndios no país. Na primeira reunião, o grupo discutiu formas de facilitar a contratação de brigadistas. No segundo encontro, Marina Silva disse que os órgãos federais operavam "em plenas condições" de ação. "Já sabíamos que este ano seria severo", disse a ministra.

Tudo indica que a turma daquela sala avaliou mal a situação. Nos meses seguintes, o fogo se espalhou e a fumaça tomou boa parte do território nacional. A crise chegou ao Supremo, que determinou o aumento do número de brigadistas em ação. Com quase 700 focos de incêndio registrados no ano, o presidente Lula reuniu autoridades no Planalto e admitiu: "A gente não estava 100% preparado para cuidar dessas coisas".

Eugênio Bucci - Sensações apocalípticas

O Estado de S. Paulo

Os fatos nos põem frente a frente com o exaurimento não dos impérios, não da humanidade, mas do planeta Terra

Na capa do Estado de terça-feira, uma foto mostra Brasília submersa em fumaça densa, quase opaca. Na TV, paredões de fogo se levantam e marcham. A olho nu, a fuligem se derrama sobre a cidade; filamentos de carvão vindos no vento aterrissam como libélulas no capô do automóvel de um milhão de reais. O desastre climático é um desastre social, que castiga antes os de baixo, mas quando se impõe para valer não respeita a segregação entre as classes. Não respeita nada, cobre até os astros no céu. A Lua fica vermelha, como se obedecesse ao Apocalipse (6:12): “Inteira como sangue”.

Sol prata, chuva preta (isso quando chove). Aumentam as internações nos hospitais. Sobem os óbitos por problemas respiratórios. O noticiário dá conta de que um território equivalente ao Estado de Roraima já virou cinza. A realidade se mostra pior do que as previsões da teoria.

William Waack - O preço amargo

O Estado de S. Paulo

O Fed baixando os juros e o Copom subindo a Selic são o retrato de mais uma oportunidade perdida pelo governo Lula 3. A combinação delas promete um alto preço político e econômico num horizonte próximo ao das eleições de 2026. A principal causa das taxas de juros mais altas por aqui, enquanto descem nos EUA, vem de escolhas políticas do atual governo. A principal delas foi apostar no tratamento das contas públicas via aumento da receita, e pouco empenho em cortar gastos.

A oportunidade de fazer algum ajuste nas contas via cortes foi perdida logo no começo do mandato, quando Lula deixou claro que nem queria ouvir falar disso. Apostou na expansão do gasto público como motor do crescimento e impulso do consumo. Produziu um déficit permanente nas contas – e a desconfiança nos agentes econômicos. Reforçada pelos “atalhos fiscais”, “contabilidade criativa” ou como se queira chamar os truques para dizer que despesas não são despesas.

Alex Ribeiro - Copom indica ciclo de aperto maior

Valor Econômico

Qual é a dose necessária para colocar a inflação na meta? Quem dá a pista é a combinação das projeções do comitê com o balanço de riscos

O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central não assumiu nenhum compromisso firme sobre os seus passos futuros para os juros, mas ainda assim deu indicações indiretas de que o ciclo de aperto iniciado nesta quarta-feira poderá ser maior do que o previsto pelos economistas do mercado – o que, teoricamente, poderia exigir um rimo mais forte de aperto.

O BC subiu a Selic de 10,5% para 10,75% ao ano. A rigor, não há um guidance, ou uma indicação firme, sobre como e quanto vai continuar subindo. O comunicado diz apenas que “o ritmo de ajustes futuros na taxa de juros e a magnitude total do ciclo ora iniciado serão ditados pelo firme compromisso de convergência da inflação à meta”.

E qual é a dose necessária para colocar a inflação na meta? Quem dá a pista é a combinação das projeções de inflação do Copom com o balanço de riscos para a inflação.

Vinicius Torres Freire - O plano óbvio para evitar Selic maior

Folha de S. Paulo

Dólar e commodities mais baratos ajudam, mas remendo no arcabouço fiscal é essencial

Um ano depois de começar a baixar a Selic, o Banco Central começou a dar ré, o que era previsível desde as confusões de abril e maio deste ano. A Selic baixara de 13,5% para 10,5% ao ano. Nesta quarta-feira (18), foi a 10,75%. Sendo otimista, chega a 11,5% no início de 2025. Pelo andar atual da carruagem, vai a 12%. No comunicado em que anunciou a Selic maior, mais seco do que de hábito, o BC não disse mais nada de interesse maior. Melhor assim. Menos confusão.

O que pode contribuir para que a Selic volte a cair logo? O preço do dólar baixar, em parte graças ao aumento da diferença de taxas de juros nos EUA e no Brasil (a "Selic" deles caiu meio ponto percentual também nesta quarta). Nesta quarta, o dólar já ficou menos salgado, mas a taxa de câmbio anda volátil e difícil de prever, para variar.

Celso Ming – Copom volta a aumentar os juros

O Estado de S. Paulo

Novos apertos na Selic são inevitáveis

O mercado financeiro já esperava por esse aumento dos juros básicos (Selic), de 0,25 ponto porcentual para, 10,75% ao ano. Mas o governo Lula, grande parte dos políticos do PT, sindicalistas e empresários voltaram a fulminar a decisão, de resto acompanhada de duras advertências.

Não entendem como os membros do Copom podem ser sádicos a ponto de puxar os juros para cima a fim de combater o aumento de preços, dias depois de a inflação ter apresentado em agosto variação negativa de -0,02%. Além disso, tomaram essa decisão justamente no dia em que o Fed, o banco central dos Estados Unidos, derrubou os juros de lá em 0,5 ponto porcentual pela primeira vez em quatro anos.

Miriam Leitão - Dois rumos da política monetária

O Globo

O BC e o Fed não indicaram quais serão seus próximos passos, mas o caminho está óbvio: aqui inicia-se um ciclo de alta de juros e, lá, de queda

Os bancos centrais fizeram o que os mercados esperavam que eles fizessem. O Fed derrubou a taxa de juros em meio ponto percentual, na primeira queda em quatro anos, e o Copom subiu os juros em 0,25 ponto percentual, na primeira alta em dois anos. Brasil e Estados Unidos agora seguirão caminhos opostos, com a política monetária sendo relaxada lá e ficando mais restritiva aqui. Nenhum dos dois órgãos indicou o que fará nas próximas reuniões, mas está claro que o Fed inicia o ciclo de queda, o Copom, um ciclo de alta. A crítica política ronda os dois órgãos, mas aqui, é bom notar, a alta foi por unanimidade, até os indicados pelo presidente Lula concordaram com a elevação dos juros.

Luiz Carlos Azedo - O agronegócio precisa cair na real

Correio Braziliense

Um estudo técnico do Ministério da Agricultura concluiu que 31,8% das exportações brasileiras para a Europa poderão ser afetados por causa do desmatamento

O governo brasileiro estuda recorrer à Organização Mundial de Comércio (OMC) contra as medidas da European Union Deforestation Act (EUDR), a lei antidesmatamento da União Europeia (UE), que considera abusivas e entrarão em vigor a partir de janeiro do próximo ano. O principal objetivo da nova lei é impedir a importação de produtos originários de áreas que foram desmatadas, legalmente ou não, a partir de 2020. Entretanto, com a onda de incêndios florestais no Brasil, o governo terá muitas dificuldades para sustentar o pleito. As circunstâncias políticas na Europa também impedem qualquer possibilidade de abrandamento da nova legislação pela UE.

Na terça-feira, o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), recebeu a presidente do Conselho Federal da Alemanha, Manuela Schwesig, para tratar do assunto. Afirmou que o Senado continuará esse trabalho junto às delegações que virão ao Brasil para a Cúpula de Líderes do G20. O evento está agendado para 18 e 19 de novembro, no Rio de Janeiro.

*Rudá Ricci - Nem educação, nem emprego

Correio Braziliense

O atual mercado de trabalho não valoriza pessoas abaixo de 25 anos. Existe uma crença no Brasil de que jovens até essa faixa etária não têm experiência suficiente para tomar decisões no ambiente de trabalho

A situação dos jovens da chamada geração nem-nem no Brasil — aqueles que nem estudam, nem trabalham — é um retrato claro de uma série de fatores negativos que se entrelaçam e criam um ciclo de exclusão e desesperança. Os recentes dados do relatório Education at a Glance da OCDE apontam que 1 em cada 4 jovens brasileiros está nessa condição. Para além da estatística, essa realidade resulta de alguns fatores pautados por um sistema educacional falido e uma sociedade profundamente desigual.

Começamos pela qualidade do ensino médio que é, sem dúvida, um dos mais problemáticos entraves do nosso sistema educacional. Reformas sequenciais e mal planejadas para esta etapa do ensino só fizeram aumentar a insegurança de alunos e famílias, contribuindo para o descrédito de que esses três anos escolares conseguem garantir um futuro promissor.

Graziela Melo – Poema do medo

Dobrei os becos da vida,
busquei a infância perdida,
no fundo do poço
na escuridão...

Fuji do medo
das trevas,

palmilhando
as tortuosas
trilhas do coração...

Lavei a alma
na chuva,
sequei o pranto
no vento,

na branca
areia da praia
aqueci
o coração!

Caminhei
de encontro
ao sol,
espantando
a solidão...

Pois entre o céu
e a terra

existe
um mar
de paixão!!!

quarta-feira, 18 de setembro de 2024

O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões

Candidatos têm de manter compostura nos debates

O Globo

Depois da cadeirada de Datena em Marçal, baixaria continua a tomar conta dos eventos na TV em SP

Nem o episódio grotesco da cadeirada no debate entre candidatos à Prefeitura de São Paulo realizado pela TV Cultura no fim de semana acalmou os ânimos. Em novo debate realizado pela Rede TV! e pelo portal UOL nesta terça-feira, o candidato Pablo Marçal (PRTB), com uma das mãos enfaixadas, voltou à carga. Ofendeu o prefeito Ricardo Nunes (MDB) e provocou de novo José Luiz Datena (PSDB). Nunes reagiu em tom de voz alterado. Datena respondeu que não bateria em “covarde” duas vezes. O bate-boca continuou. A moderação teve de conceder múltiplos direitos de resposta para conter a baixaria insuflada por Marçal e repercutida pelos adversários.

No domingo, na cena-símbolo do descontrole e da violência que tomaram conta dos debates, Datena respondeu às provocações constantes e malcriadas de Marçal lançando uma banqueta sobre o adversário. Foi um desrespeito ao eleitorado paulistano e uma evidência material de que nenhum dos dois está qualificado para exercer cargo político de qualquer natureza.

Datena argumentou que sua reação foi humana. Pode até ser verdade. Mas não é reação aceitável de alguém que se julga apto a governar a maior cidade brasileira. Que o partido fundado por próceres da democracia, como Fernando Henrique Cardoso ou Franco Montoro, tenha escolhido um candidato capaz de protagonizar incidente tão vexatório é sinal preocupante do nível de decadência a que chegou.

Vera Magalhães - Tarcísio e a aposta em conter Marçal

O Globo

Governador de SP toma a frente de Bolsonaro e Lula na percepção do risco que ex-coach representará para 2026 caso seja eleito

Enquanto à direita e à esquerda sobrava perplexidade e faltava coragem para enfrentar o incêndio Pablo Marçal quando ele começou a se alastrar na política paulistana, o governador Tarcísio de Freitas fez uma jogada de risco: tomar a frente da resistência e apostar num candidato de carisma duvidoso no momento em que ele ardia nas chamas da queda nas pesquisas e da debandada de aliados.

A aposta, de altíssimo risco no momento em que foi feita, será bem-sucedida? O resultado da eleição mostrará, mas, para além das urnas, a decisão do governador de São Paulo de se afastar da orientação de Jair Bolsonaro e assumir a liderança da condução da coalizão de direita na capital do estado pode ter consequências importantes para o rearranjo político posterior ao pleito municipal.

Até esse episódio, Tarcísio vinha evitando divergir da orientação do ex-presidente e padrinho político. Por lealdade ou cautela, não hesitou sequer em comparecer a atos de confronto com o Judiciário como no último 7 de Setembro, algo que não condiz com o estilo negociador que ele vem procurando cultivar, mesmo com o governo federal.

Mas, quando Bolsonaro tremeu na base diante da febre Marçal e se recolheu àquela covardia característica, orientando seu ex-ministro a também tirar o time de campo, Tarcísio ignorou a orientação e colocou um então abatido Ricardo Nunes debaixo do braço para convencer o eleitorado de que o prefeito era a melhor opção.

Fernando Exman - Na eleição municipal, todos de olho em Tarcísio

Valor Econômico

Reforço do governador na campanha à reeleição de Ricardo Nunes é visto como um ponto de inflexão na sua trajetória política

Aliados interessados em futuras parcerias e adversários acompanham com atenção as movimentações do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, no pleito municipal. Seu reforço na campanha à reeleição do prefeito da capital do Estado, Ricardo Nunes (MDB), é visto como um ponto de inflexão na sua trajetória política.

Há dois aspectos em jogo. O primeiro é uma demonstração de como o amplo arco de alianças que ele, filiado ao Republicanos, ajudou Nunes a construir. Onze partidos asseguram ao prefeito um grande tempo de propaganda em rádio e televisão, um instrumento que, na visão de aliados do emedebista, tem sido eficaz na neutralização de ataques feitos nas redes sociais. Na opinião de uma fonte ligada à campanha, esta disputa pode ser vista como uma espécie de “laboratório” para 2026.

Elio Gaspari - Quem se lembra do Enéas?

O Globo

Os herdeiros do rinoceronte Cacareco ganharam só espaço

Desde 1959, quando o rinoceronte Cacareco teve 100 mil votos para uma cadeira de vereador na eleição municipal de São Paulo, os candidatos pitorescos ganharam um espaço inédito. Só na noite de 6 de outubro se saberá se ganharam peso político. As pesquisas de outros estados mostram o contrário. Na vida real, a baixaria é alimentada por dois candidatos, só em São Paulo. No Rio, Recife, Porto Alegre e Belo Horizonte e nas outras capitais a campanha vai bem, obrigado.

Depois de Cacareco, vieram fenômenos como Enéas Carneiro e o comediante Tiririca. Enéas disputou três vezes a Presidência da República e chegou a conseguir 1,4 milhão de votos. Em 2002, elegeu-se deputado federal por São Paulo, com a maior votação da época, mais de 1,5 milhão de votos. Reelegeu-se em 2006 e morreu no ano seguinte. Tiririca elegeu-se deputado federal por São Paulo em 2010, também como o mais votado (1,3 milhão de votos), e está até hoje na Câmara.

Bernardo Mello Franco - Política da cadeirada

O Globo

Coach e apresentador apostam na negação da política para seduzir eleitores em SP

"Não sou político", diz Pablo Marçal. "Não quero ser político", repetia José Luiz Datena. Com estilos diferentes, o coach e o apresentador apostam na mesma tática. Negam a política para seduzir o eleitor e conseguir votos.

No domingo, a dupla protagonizou o pior momento da eleição de São Paulo. Até agora. Em debate na TV, Marçal chamou Datena de "arregão" e o desafiou a enfrentá-lo. O apresentador atravessou o cenário e atingiu o rival com uma cadeirada.

A agressão fez a TV Cultura interromper a transmissão ao vivo. Com ar assustado, o mediador Leão Serva incorporou o espírito de Flávio Cavalcanti: "Nossos comerciais, por favor". Para esticar o intervalo, a emissora apelou a um concerto de música clássica.

Às vésperas de escolher o próximo prefeito, São Paulo virou palco de outro tipo de show. A eleição foi capturada pela lógica das redes, que premia o escândalo e o entretenimento.

Bruno Boghossian - A eleição depois da cadeirada

Folha de S. Paulo

Vexame da agressão e reação de Marçal vão forçar eleitor a decidir se o tumulto já foi longe demais

Durou pouco a ilusão de que seria possível trazer a eleição de São Paulo de volta ao mundo real. No primeiro debate após a cadeirada de José Luiz Datena em Pablo Marçal, alguns candidatos acreditaram que o trauma abriria caminho para fazer da campanha uma discussão sobre preparo e equilíbrio. O devaneio evaporou ainda no primeiro bloco.

A permanência da disputa no reino da grosseria é um oferecimento do próprio ex-coach. Marçal provou que tem talento para se manter como protagonista e tentou ditar o tom deste momento pós-cadeirada. Dobrou a aposta no conflito e nas ofensas aos adversários. Quase todos os outros candidatos caíram no golpe.

Mariliz Pereira Jorge - Machulências do Marçal

Folha de S. Paulo

Agressivo, misógino, autocentrado... Não há nada de inofensivo no que ele faz

Não me surpreenderia se os eleitores em São Paulo começassem a partir para as vias de fato. É isso o que Pablo Marçal tem oferecido a quem acompanha os debates: incentivo à violência. Apesar do comportamento típico de adolescente com hormônios demais e cérebro de menos, o candidato do PRTB proporciona mais do que um festival de machulência explícita, é uma amostra do que é festejado em comunidades online que radicalizam homens em tenra idade.

Marçal poderia ser lido só como um baderneiro, mas é o típico "Red Pill’, termo usado para descrever coaches e influenciadores do que há de mais vil na masculinidade. Agressivo, misógino e autocentrado, reforça em rede nacional o estereótipo do homem que ainda resiste à mudança dos tempos. Provoca brigas corporais com adversários, aposta no discurso do homem provedor, na mulher submissa e parideira.

Igor Gielow - Debate mostra dilema da política após Marçal e a cadeirada

Folha de S. Paulo

Baixaria do influenciador e rivais é vitoriosa na campanha; calmos, candidatos têm pouco a dizer

Após o paroxismo atingido com a cadeirada de José Luiz Datena (PSDB) em Pablo Marçal (PRTB) no domingo (15), os espectadores do novo encontro entre os candidatos à Prefeitura de São Paulo dificilmente veriam algo pior.

debate RedeTV!/UOL não chegou lá, mas permitiu algumas conclusões sobre o atual estado da política brasileira. A principal, a contaminação da política tradicional pelo fenômeno Marçal, que é uma mutação ainda mais agressiva e desassombrada do populismo trazido ao poder em 2018 por Jair Bolsonaro (PL).

Basta ver as inserções de todos os candidatos no rádio e TV, para não falar na terminologia de delegacia que domina a retórica de todos. Algo especialmente lamentável em uma campanha em que a "quebrada" e a periferia, marcadas por estigmas preconceituosos associados à violência, são o campo quase único de disputa de votos na propaganda.

Enquanto Guilherme Boulos (PSOL) fazia uma dobradinha com Datena para isolar Marçal, dando ao tucano oportunidade para falar sobre o infame espetáculo no debate de domingo na TV Cultura, Nunes e Marçal foram ao ringue da lama proposto pelo nome do PRTB.

Wilson Gomes - Anistia ou impunidade?

Folha de S. Paulo

Intuito dos sediciosos do 8/1 era tomar o poder pela força e dá-lo ao seu líder

A democracia é um regime político baseado em direitos e liberdades no qual estas são tão amplas e vigorosamente defendidas que não se podem permitir concessões que isentem as pessoas das consequências previsíveis de seus atos e da responsabilidade por suas decisões. A democracia é, essencialmente, um sistema de responsabilidades e responsabilizações —o preço da liberdade em um mundo adulto e emancipado.

Se vivêssemos sob um regime absolutista ou uma ditadura, nossa vontade política estaria submetida à do monarca ou ditador e de forma alguma poderíamos ser responsabilizados pelas consequências de decisões que nunca foram, de fato, nossas. A luta por regimes democráticos, por outro lado, parte da convicção de que todo ser humano é capaz de usar plenamente a razão e encontrar formas negociadas de convivência política, baseadas na liberdade e responsabilidade individuais. Livramo-nos do peso da obediência cega e da impossibilidade de divergir, pois nos consideramos capazes de suportar o fardo da responsabilidade por nossas decisões livres.

Zeina Latif - Fraqueza política, despreparo e negacionismo

O Globo

Nossas políticas habitacionais, ineficientes, não são a solução. Mercado financeiro é mais desenvolvido e dá maior acesso ao crédito

Apesar dos bons resultados na economia, o sentimento dos agentes econômicos não é de maior confiança no governo. Pelo contrário. Destaco duas frentes de preocupação que prejudicam o investimento privado.

A mais recente é a inoperância na questão ambiental, apesar de ser um foco de atenção, inclusive de países interessados no investimento e no comércio com o Brasil. E sem bons programas, como contar com a ajuda financeira de países ricos?

Diante do risco crescente de eventos climáticos extremos, a capacidade dos governos de implementar políticas de adaptação e mitigação — com fonte de financiamento adequada — torna-se, cada vez mais, um fator relevante para atrair o investimento privado. Afinal, como investir em áreas mais vulneráveis a eventos extremos?

No Brasil, não se notam avanços concretos nessa agenda e, pior, as ações emergenciais praticamente inexistem.

Vinicius Torres Freire - Europa contra Brasil no ambiente

Folha de S. Paulo

Norma ambiental barra exportações, mas país teria mais razão se fizesse a coisa certa

União Europeia vai proibir exportações brasileiras de produtos que tiveram origem em áreas desmatadas a partir do início de 2020, tanto faz se legal ou ilegalmente. Vai bater no Brasil por meio de lei que entra em vigor no início de 2025, na prática. A lei é ruim, no fundo hipócrita e serviria ainda como porrete europeu para disputas comerciais (afeta especialmente uma dúzia de países).

O Brasil, porém, sabe por que está apanhando. Além do mais, com ou sem lei europeia, conviria cumprir um programa que satisfizesse parte do teor dessas normas a fim de conter o desastre climático e suas consequências socioeconômicas.

O Regulamento para Produtos Livres de Desmatamento da União Europeia (EUDR), que se tornou lei em abril de 2023, obriga negociantes europeus a se certificar de que não compram e revendem mercadoria que teve origem em área desmatada (ou com ela foi misturada). Por ora, afeta bovinos, cacau, café, dendê, soja, borracha, madeira e certos derivados desses produtos.

Fábio Alves - O Copom na encruzilhada

O Estado de S. Paulo

Analistas apostam que primeira alta da Selic vai ser gradual, como até avisou o presidente do BC

Que o Copom precisa elevar os juros na reunião de hoje já é um consenso no mercado. A maioria dos analistas aposta também que a primeira alta provavelmente vai ser gradual, como até avisou o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto. Ou seja, um aperto de 0,25 ponto porcentual, para 10,75%. Mas, se esse é o ritmo que as condições exigem para entregar uma inflação na meta de 3%, isso já é outra história.

Nos cálculos dos economistas mais experientes, levando-se em conta o balanço de riscos atual e os modelos de projeções do BC, o Copom precisaria aumentar a taxa Selic em um total de 1,5 ponto para garantir que a inflação irá convergir para a meta no horizonte relevante de política monetária. Mas, em um cenário com tantas incertezas externas e domésticas, conseguirá o Copom atingir esse objetivo a um ritmo de seis altas de 0,25 ponto da Selic? Ou seria melhor o BC comprar um seguro, acelerando o passo das elevações dos juros para 0,50 ponto em três altas?

Vera Rosa - De que vale tanto debate sobre baboseira?

O Estado de S. Paulo

Se o País normalizar situações assim, quantos Marçais aparecerão na próxima temporada?

No momento em que o Brasil pega fogo, candidatos à Prefeitura de São Paulo têm protagonizado um espetáculo deprimente em debates na TV, com xingamentos, berros e até cadeiras voando no estúdio. Vale a lógica do algoritmo, o meme, o recorte para as redes sociais. E os problemas da maior cidade da América Latina que esperem a providência divina.

O influenciador Pablo Marçal (PRTB) chegou na manhã de ontem para o debate da RedeTV!/UOL com a mão direita enfaixada, mas deixando de fora o reluzente anel dourado com o símbolo M.

Com domínio da comunicação digital, Marçal chamou várias vezes de “orangotango” o apresentador José Luiz Datena (PSDB), que lhe deu uma cadeirada no domingo, após acalorada discussão na TV Cultura.

José Goldemberg - A geopolítica das mudanças climáticas

O Estado de S. Paulo

A ‘globalização’ do programa de Biden significaria, na prática, um novo Plano Marshall para a redução das emissões nos países em desenvolvimento

Em 1992 foi adotada no Rio de Janeiro a Convenção do Clima cujo objetivo é estabilizar a concentração de gases responsáveis pelo aquecimento global na atmosfera num nível que evite mudanças climáticas perigosas. Mais de cem chefes de Estado assinaram a convenção, numa época em que o fim da guerra fria e a globalização da economia mundial prenunciavam um período de paz e cooperação internacional.

Não há, contudo, penalidades previstas para o descumprimento de resoluções da Conferência das Partes (COP), que inclui mais de 190 países e onde as decisões precisam ser tomadas por unanimidade. A convenção é, portanto, como tratado internacional, considerada “fraca” na linguagem diplomática. Ela é no fundo uma convenção que reflete aspirações, mas não tem os instrumentos para atingi-las.

Luiz Carlos Azedo - Pequeno manual de combate a incêndios

Correio Braziliense

Temperatura acima de 30 graus, num momento em que a umidade seja menor do que 30% e vento acima de 30 km/h, são o ambiente ideal para propagação do fogo. Basta a ignição

O fogo é um tema recorrente na literatura universal. No Brasil, devorou O ateneu (1888), de Raul Pompéia, e pôs fim a'O Cortiço (1890), de Aluísio Azevedo, obras seminais da nossa literatura. Nos dois casos, representavam o fim de uma era, com apagamento do passado. Na vida real, foi o que aconteceu literalmente no Museu Nacional, no Rio de Janeiro, em 2 de setembro de 2018, e na Cinemateca Nacional, em São Paulo, no dia 29 de julho de 2021. E pode estar acontecendo agora com nossos principais biomas.

Fundado em 1818, por dom João VI, o Museu Nacional possuía o mais importante acervo de história natural da América Latina, com 20 milhões de itens, entre os quais, coleções de fósseis de dinossauros do mundo, múmias andinas e egípcias, e 537 mil livros da Coleção Francisco Keller. No galpão da Cinemateca Nacional, arderam quatro toneladas de documentos sobre cinema no Brasil, além de películas e arquivos.

Aylê-Salassie Filgueiras Quintão* - Chuvas ácidas abrirão a primavera nos estados

Uma nuvem de fuligem, visível, espalha-se pelos ares. Já se espera que a primavera será inaugurada, a semana que vem, por um sol laranja e "chuvas ácidas", tóxicas, provocadas não só   pelos    combustíveis fósseis, que dão vida ao modelo industrial e à enorme frota de automóveis, mas pelas queimadas**. O evento está previsto para ocorrer em S. Paulo, Paraná, S. Catarina, M. Grosso do Sul, R. Janeiro e R.G do Sul.

Aparentemente, ninguém detectou ainda, com precisão, a dimensão dos efeitos desse envenamento vagaroso da população pelos incêndios florestais.  As atuais "queimadas controladas" - concepção acadêmica - continuam a destruir tudo desde 14 de agosto de 1963, quando se tomou conhecimento amplo do fenômeno que, nos trópicos, se repete nos meses de julho, agosto e setembro.

Naquele agosto de 1963, um incêndio incontrolável emergiu subitamente   destruindo cerca 20 mil hectares de florestas plantadas, e 500 mil de florestas nativas e matas secundárias., devastando os municípios de Guaravera, Paiquerê e Tamarana, no Paraná, desabrigando centenas de famílias e provocando a morte de   110 pessoas.

 Depois estendeu-se para Ortigueira, Tibagi, Arapoti, Jaguariaíva até Sengés. Cerca de 15 milhões de araucárias de reservas florestais plantadas pelas indústrias Klabin, produtoras de papel e celulose para exportação, foram totalmente destruídas, embora a empresa tivesse um sofisticado projeto de proteção de suas áreas de florestas. 

terça-feira, 17 de setembro de 2024

O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões

Governo petista tenta novamente maquiar contas

O Globo

Proliferam tentativas de tirar gastos da regra fiscal ou de implementar políticas por fora do Orçamento

No domingo, o ministro Flávio Dino, do Supremo Tribunal Federal (STF), autorizou o governo federal a emitir créditos extraordinários, fora da meta fiscal, para o combate a incêndios. Ao analisar a decisão, não se pode deixar a fumaça interferir no raciocínio. O fogo tem se espalhado nesta temporada especialmente seca em razão da atuação de criminosos e da resposta tímida do Estado (não apenas do governo federal, mas também dos governos estaduais). Mas a inação resulta de má gestão, não da falta de dinheiro.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez escolhas erradas ao priorizar outras despesas. Diante da emergência atual, o governo ainda tinha margem de manobra para remanejar gastos e reforçar o combate ao fogo. Voluntarista, a decisão do STF terá, mais uma vez, o efeito deletério de permitir o drible nas regras fiscais. Não será a primeira vez que isso ocorre. Nem o governo Lula é o único a manifestar certa aversão por encarar as restrições orçamentárias.