quarta-feira, 18 de setembro de 2024

O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões

Candidatos têm de manter compostura nos debates

O Globo

Depois da cadeirada de Datena em Marçal, baixaria continua a tomar conta dos eventos na TV em SP

Nem o episódio grotesco da cadeirada no debate entre candidatos à Prefeitura de São Paulo realizado pela TV Cultura no fim de semana acalmou os ânimos. Em novo debate realizado pela Rede TV! e pelo portal UOL nesta terça-feira, o candidato Pablo Marçal (PRTB), com uma das mãos enfaixadas, voltou à carga. Ofendeu o prefeito Ricardo Nunes (MDB) e provocou de novo José Luiz Datena (PSDB). Nunes reagiu em tom de voz alterado. Datena respondeu que não bateria em “covarde” duas vezes. O bate-boca continuou. A moderação teve de conceder múltiplos direitos de resposta para conter a baixaria insuflada por Marçal e repercutida pelos adversários.

No domingo, na cena-símbolo do descontrole e da violência que tomaram conta dos debates, Datena respondeu às provocações constantes e malcriadas de Marçal lançando uma banqueta sobre o adversário. Foi um desrespeito ao eleitorado paulistano e uma evidência material de que nenhum dos dois está qualificado para exercer cargo político de qualquer natureza.

Datena argumentou que sua reação foi humana. Pode até ser verdade. Mas não é reação aceitável de alguém que se julga apto a governar a maior cidade brasileira. Que o partido fundado por próceres da democracia, como Fernando Henrique Cardoso ou Franco Montoro, tenha escolhido um candidato capaz de protagonizar incidente tão vexatório é sinal preocupante do nível de decadência a que chegou.

Vera Magalhães - Tarcísio e a aposta em conter Marçal

O Globo

Governador de SP toma a frente de Bolsonaro e Lula na percepção do risco que ex-coach representará para 2026 caso seja eleito

Enquanto à direita e à esquerda sobrava perplexidade e faltava coragem para enfrentar o incêndio Pablo Marçal quando ele começou a se alastrar na política paulistana, o governador Tarcísio de Freitas fez uma jogada de risco: tomar a frente da resistência e apostar num candidato de carisma duvidoso no momento em que ele ardia nas chamas da queda nas pesquisas e da debandada de aliados.

A aposta, de altíssimo risco no momento em que foi feita, será bem-sucedida? O resultado da eleição mostrará, mas, para além das urnas, a decisão do governador de São Paulo de se afastar da orientação de Jair Bolsonaro e assumir a liderança da condução da coalizão de direita na capital do estado pode ter consequências importantes para o rearranjo político posterior ao pleito municipal.

Até esse episódio, Tarcísio vinha evitando divergir da orientação do ex-presidente e padrinho político. Por lealdade ou cautela, não hesitou sequer em comparecer a atos de confronto com o Judiciário como no último 7 de Setembro, algo que não condiz com o estilo negociador que ele vem procurando cultivar, mesmo com o governo federal.

Mas, quando Bolsonaro tremeu na base diante da febre Marçal e se recolheu àquela covardia característica, orientando seu ex-ministro a também tirar o time de campo, Tarcísio ignorou a orientação e colocou um então abatido Ricardo Nunes debaixo do braço para convencer o eleitorado de que o prefeito era a melhor opção.

Fernando Exman - Na eleição municipal, todos de olho em Tarcísio

Valor Econômico

Reforço do governador na campanha à reeleição de Ricardo Nunes é visto como um ponto de inflexão na sua trajetória política

Aliados interessados em futuras parcerias e adversários acompanham com atenção as movimentações do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, no pleito municipal. Seu reforço na campanha à reeleição do prefeito da capital do Estado, Ricardo Nunes (MDB), é visto como um ponto de inflexão na sua trajetória política.

Há dois aspectos em jogo. O primeiro é uma demonstração de como o amplo arco de alianças que ele, filiado ao Republicanos, ajudou Nunes a construir. Onze partidos asseguram ao prefeito um grande tempo de propaganda em rádio e televisão, um instrumento que, na visão de aliados do emedebista, tem sido eficaz na neutralização de ataques feitos nas redes sociais. Na opinião de uma fonte ligada à campanha, esta disputa pode ser vista como uma espécie de “laboratório” para 2026.

Elio Gaspari - Quem se lembra do Enéas?

O Globo

Os herdeiros do rinoceronte Cacareco ganharam só espaço

Desde 1959, quando o rinoceronte Cacareco teve 100 mil votos para uma cadeira de vereador na eleição municipal de São Paulo, os candidatos pitorescos ganharam um espaço inédito. Só na noite de 6 de outubro se saberá se ganharam peso político. As pesquisas de outros estados mostram o contrário. Na vida real, a baixaria é alimentada por dois candidatos, só em São Paulo. No Rio, Recife, Porto Alegre e Belo Horizonte e nas outras capitais a campanha vai bem, obrigado.

Depois de Cacareco, vieram fenômenos como Enéas Carneiro e o comediante Tiririca. Enéas disputou três vezes a Presidência da República e chegou a conseguir 1,4 milhão de votos. Em 2002, elegeu-se deputado federal por São Paulo, com a maior votação da época, mais de 1,5 milhão de votos. Reelegeu-se em 2006 e morreu no ano seguinte. Tiririca elegeu-se deputado federal por São Paulo em 2010, também como o mais votado (1,3 milhão de votos), e está até hoje na Câmara.

Bernardo Mello Franco - Política da cadeirada

O Globo

Coach e apresentador apostam na negação da política para seduzir eleitores em SP

"Não sou político", diz Pablo Marçal. "Não quero ser político", repetia José Luiz Datena. Com estilos diferentes, o coach e o apresentador apostam na mesma tática. Negam a política para seduzir o eleitor e conseguir votos.

No domingo, a dupla protagonizou o pior momento da eleição de São Paulo. Até agora. Em debate na TV, Marçal chamou Datena de "arregão" e o desafiou a enfrentá-lo. O apresentador atravessou o cenário e atingiu o rival com uma cadeirada.

A agressão fez a TV Cultura interromper a transmissão ao vivo. Com ar assustado, o mediador Leão Serva incorporou o espírito de Flávio Cavalcanti: "Nossos comerciais, por favor". Para esticar o intervalo, a emissora apelou a um concerto de música clássica.

Às vésperas de escolher o próximo prefeito, São Paulo virou palco de outro tipo de show. A eleição foi capturada pela lógica das redes, que premia o escândalo e o entretenimento.

Bruno Boghossian - A eleição depois da cadeirada

Folha de S. Paulo

Vexame da agressão e reação de Marçal vão forçar eleitor a decidir se o tumulto já foi longe demais

Durou pouco a ilusão de que seria possível trazer a eleição de São Paulo de volta ao mundo real. No primeiro debate após a cadeirada de José Luiz Datena em Pablo Marçal, alguns candidatos acreditaram que o trauma abriria caminho para fazer da campanha uma discussão sobre preparo e equilíbrio. O devaneio evaporou ainda no primeiro bloco.

A permanência da disputa no reino da grosseria é um oferecimento do próprio ex-coach. Marçal provou que tem talento para se manter como protagonista e tentou ditar o tom deste momento pós-cadeirada. Dobrou a aposta no conflito e nas ofensas aos adversários. Quase todos os outros candidatos caíram no golpe.

Mariliz Pereira Jorge - Machulências do Marçal

Folha de S. Paulo

Agressivo, misógino, autocentrado... Não há nada de inofensivo no que ele faz

Não me surpreenderia se os eleitores em São Paulo começassem a partir para as vias de fato. É isso o que Pablo Marçal tem oferecido a quem acompanha os debates: incentivo à violência. Apesar do comportamento típico de adolescente com hormônios demais e cérebro de menos, o candidato do PRTB proporciona mais do que um festival de machulência explícita, é uma amostra do que é festejado em comunidades online que radicalizam homens em tenra idade.

Marçal poderia ser lido só como um baderneiro, mas é o típico "Red Pill’, termo usado para descrever coaches e influenciadores do que há de mais vil na masculinidade. Agressivo, misógino e autocentrado, reforça em rede nacional o estereótipo do homem que ainda resiste à mudança dos tempos. Provoca brigas corporais com adversários, aposta no discurso do homem provedor, na mulher submissa e parideira.

Igor Gielow - Debate mostra dilema da política após Marçal e a cadeirada

Folha de S. Paulo

Baixaria do influenciador e rivais é vitoriosa na campanha; calmos, candidatos têm pouco a dizer

Após o paroxismo atingido com a cadeirada de José Luiz Datena (PSDB) em Pablo Marçal (PRTB) no domingo (15), os espectadores do novo encontro entre os candidatos à Prefeitura de São Paulo dificilmente veriam algo pior.

debate RedeTV!/UOL não chegou lá, mas permitiu algumas conclusões sobre o atual estado da política brasileira. A principal, a contaminação da política tradicional pelo fenômeno Marçal, que é uma mutação ainda mais agressiva e desassombrada do populismo trazido ao poder em 2018 por Jair Bolsonaro (PL).

Basta ver as inserções de todos os candidatos no rádio e TV, para não falar na terminologia de delegacia que domina a retórica de todos. Algo especialmente lamentável em uma campanha em que a "quebrada" e a periferia, marcadas por estigmas preconceituosos associados à violência, são o campo quase único de disputa de votos na propaganda.

Enquanto Guilherme Boulos (PSOL) fazia uma dobradinha com Datena para isolar Marçal, dando ao tucano oportunidade para falar sobre o infame espetáculo no debate de domingo na TV Cultura, Nunes e Marçal foram ao ringue da lama proposto pelo nome do PRTB.

Wilson Gomes - Anistia ou impunidade?

Folha de S. Paulo

Intuito dos sediciosos do 8/1 era tomar o poder pela força e dá-lo ao seu líder

A democracia é um regime político baseado em direitos e liberdades no qual estas são tão amplas e vigorosamente defendidas que não se podem permitir concessões que isentem as pessoas das consequências previsíveis de seus atos e da responsabilidade por suas decisões. A democracia é, essencialmente, um sistema de responsabilidades e responsabilizações —o preço da liberdade em um mundo adulto e emancipado.

Se vivêssemos sob um regime absolutista ou uma ditadura, nossa vontade política estaria submetida à do monarca ou ditador e de forma alguma poderíamos ser responsabilizados pelas consequências de decisões que nunca foram, de fato, nossas. A luta por regimes democráticos, por outro lado, parte da convicção de que todo ser humano é capaz de usar plenamente a razão e encontrar formas negociadas de convivência política, baseadas na liberdade e responsabilidade individuais. Livramo-nos do peso da obediência cega e da impossibilidade de divergir, pois nos consideramos capazes de suportar o fardo da responsabilidade por nossas decisões livres.

Zeina Latif - Fraqueza política, despreparo e negacionismo

O Globo

Nossas políticas habitacionais, ineficientes, não são a solução. Mercado financeiro é mais desenvolvido e dá maior acesso ao crédito

Apesar dos bons resultados na economia, o sentimento dos agentes econômicos não é de maior confiança no governo. Pelo contrário. Destaco duas frentes de preocupação que prejudicam o investimento privado.

A mais recente é a inoperância na questão ambiental, apesar de ser um foco de atenção, inclusive de países interessados no investimento e no comércio com o Brasil. E sem bons programas, como contar com a ajuda financeira de países ricos?

Diante do risco crescente de eventos climáticos extremos, a capacidade dos governos de implementar políticas de adaptação e mitigação — com fonte de financiamento adequada — torna-se, cada vez mais, um fator relevante para atrair o investimento privado. Afinal, como investir em áreas mais vulneráveis a eventos extremos?

No Brasil, não se notam avanços concretos nessa agenda e, pior, as ações emergenciais praticamente inexistem.

Vinicius Torres Freire - Europa contra Brasil no ambiente

Folha de S. Paulo

Norma ambiental barra exportações, mas país teria mais razão se fizesse a coisa certa

União Europeia vai proibir exportações brasileiras de produtos que tiveram origem em áreas desmatadas a partir do início de 2020, tanto faz se legal ou ilegalmente. Vai bater no Brasil por meio de lei que entra em vigor no início de 2025, na prática. A lei é ruim, no fundo hipócrita e serviria ainda como porrete europeu para disputas comerciais (afeta especialmente uma dúzia de países).

O Brasil, porém, sabe por que está apanhando. Além do mais, com ou sem lei europeia, conviria cumprir um programa que satisfizesse parte do teor dessas normas a fim de conter o desastre climático e suas consequências socioeconômicas.

O Regulamento para Produtos Livres de Desmatamento da União Europeia (EUDR), que se tornou lei em abril de 2023, obriga negociantes europeus a se certificar de que não compram e revendem mercadoria que teve origem em área desmatada (ou com ela foi misturada). Por ora, afeta bovinos, cacau, café, dendê, soja, borracha, madeira e certos derivados desses produtos.

Fábio Alves - O Copom na encruzilhada

O Estado de S. Paulo

Analistas apostam que primeira alta da Selic vai ser gradual, como até avisou o presidente do BC

Que o Copom precisa elevar os juros na reunião de hoje já é um consenso no mercado. A maioria dos analistas aposta também que a primeira alta provavelmente vai ser gradual, como até avisou o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto. Ou seja, um aperto de 0,25 ponto porcentual, para 10,75%. Mas, se esse é o ritmo que as condições exigem para entregar uma inflação na meta de 3%, isso já é outra história.

Nos cálculos dos economistas mais experientes, levando-se em conta o balanço de riscos atual e os modelos de projeções do BC, o Copom precisaria aumentar a taxa Selic em um total de 1,5 ponto para garantir que a inflação irá convergir para a meta no horizonte relevante de política monetária. Mas, em um cenário com tantas incertezas externas e domésticas, conseguirá o Copom atingir esse objetivo a um ritmo de seis altas de 0,25 ponto da Selic? Ou seria melhor o BC comprar um seguro, acelerando o passo das elevações dos juros para 0,50 ponto em três altas?

Vera Rosa - De que vale tanto debate sobre baboseira?

O Estado de S. Paulo

Se o País normalizar situações assim, quantos Marçais aparecerão na próxima temporada?

No momento em que o Brasil pega fogo, candidatos à Prefeitura de São Paulo têm protagonizado um espetáculo deprimente em debates na TV, com xingamentos, berros e até cadeiras voando no estúdio. Vale a lógica do algoritmo, o meme, o recorte para as redes sociais. E os problemas da maior cidade da América Latina que esperem a providência divina.

O influenciador Pablo Marçal (PRTB) chegou na manhã de ontem para o debate da RedeTV!/UOL com a mão direita enfaixada, mas deixando de fora o reluzente anel dourado com o símbolo M.

Com domínio da comunicação digital, Marçal chamou várias vezes de “orangotango” o apresentador José Luiz Datena (PSDB), que lhe deu uma cadeirada no domingo, após acalorada discussão na TV Cultura.

José Goldemberg - A geopolítica das mudanças climáticas

O Estado de S. Paulo

A ‘globalização’ do programa de Biden significaria, na prática, um novo Plano Marshall para a redução das emissões nos países em desenvolvimento

Em 1992 foi adotada no Rio de Janeiro a Convenção do Clima cujo objetivo é estabilizar a concentração de gases responsáveis pelo aquecimento global na atmosfera num nível que evite mudanças climáticas perigosas. Mais de cem chefes de Estado assinaram a convenção, numa época em que o fim da guerra fria e a globalização da economia mundial prenunciavam um período de paz e cooperação internacional.

Não há, contudo, penalidades previstas para o descumprimento de resoluções da Conferência das Partes (COP), que inclui mais de 190 países e onde as decisões precisam ser tomadas por unanimidade. A convenção é, portanto, como tratado internacional, considerada “fraca” na linguagem diplomática. Ela é no fundo uma convenção que reflete aspirações, mas não tem os instrumentos para atingi-las.

Luiz Carlos Azedo - Pequeno manual de combate a incêndios

Correio Braziliense

Temperatura acima de 30 graus, num momento em que a umidade seja menor do que 30% e vento acima de 30 km/h, são o ambiente ideal para propagação do fogo. Basta a ignição

O fogo é um tema recorrente na literatura universal. No Brasil, devorou O ateneu (1888), de Raul Pompéia, e pôs fim a'O Cortiço (1890), de Aluísio Azevedo, obras seminais da nossa literatura. Nos dois casos, representavam o fim de uma era, com apagamento do passado. Na vida real, foi o que aconteceu literalmente no Museu Nacional, no Rio de Janeiro, em 2 de setembro de 2018, e na Cinemateca Nacional, em São Paulo, no dia 29 de julho de 2021. E pode estar acontecendo agora com nossos principais biomas.

Fundado em 1818, por dom João VI, o Museu Nacional possuía o mais importante acervo de história natural da América Latina, com 20 milhões de itens, entre os quais, coleções de fósseis de dinossauros do mundo, múmias andinas e egípcias, e 537 mil livros da Coleção Francisco Keller. No galpão da Cinemateca Nacional, arderam quatro toneladas de documentos sobre cinema no Brasil, além de películas e arquivos.

Aylê-Salassie Filgueiras Quintão* - Chuvas ácidas abrirão a primavera nos estados

Uma nuvem de fuligem, visível, espalha-se pelos ares. Já se espera que a primavera será inaugurada, a semana que vem, por um sol laranja e "chuvas ácidas", tóxicas, provocadas não só   pelos    combustíveis fósseis, que dão vida ao modelo industrial e à enorme frota de automóveis, mas pelas queimadas**. O evento está previsto para ocorrer em S. Paulo, Paraná, S. Catarina, M. Grosso do Sul, R. Janeiro e R.G do Sul.

Aparentemente, ninguém detectou ainda, com precisão, a dimensão dos efeitos desse envenamento vagaroso da população pelos incêndios florestais.  As atuais "queimadas controladas" - concepção acadêmica - continuam a destruir tudo desde 14 de agosto de 1963, quando se tomou conhecimento amplo do fenômeno que, nos trópicos, se repete nos meses de julho, agosto e setembro.

Naquele agosto de 1963, um incêndio incontrolável emergiu subitamente   destruindo cerca 20 mil hectares de florestas plantadas, e 500 mil de florestas nativas e matas secundárias., devastando os municípios de Guaravera, Paiquerê e Tamarana, no Paraná, desabrigando centenas de famílias e provocando a morte de   110 pessoas.

 Depois estendeu-se para Ortigueira, Tibagi, Arapoti, Jaguariaíva até Sengés. Cerca de 15 milhões de araucárias de reservas florestais plantadas pelas indústrias Klabin, produtoras de papel e celulose para exportação, foram totalmente destruídas, embora a empresa tivesse um sofisticado projeto de proteção de suas áreas de florestas. 

Diálogos | Eleições municipais, para que te quero? - com Carlos Melo

 

Poesia | Abdicação, de Fernando Pessoa

 

Música | João e Maria - Chico Buarque e Mónica Salmaso

 

terça-feira, 17 de setembro de 2024

O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões

Governo petista tenta novamente maquiar contas

O Globo

Proliferam tentativas de tirar gastos da regra fiscal ou de implementar políticas por fora do Orçamento

No domingo, o ministro Flávio Dino, do Supremo Tribunal Federal (STF), autorizou o governo federal a emitir créditos extraordinários, fora da meta fiscal, para o combate a incêndios. Ao analisar a decisão, não se pode deixar a fumaça interferir no raciocínio. O fogo tem se espalhado nesta temporada especialmente seca em razão da atuação de criminosos e da resposta tímida do Estado (não apenas do governo federal, mas também dos governos estaduais). Mas a inação resulta de má gestão, não da falta de dinheiro.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez escolhas erradas ao priorizar outras despesas. Diante da emergência atual, o governo ainda tinha margem de manobra para remanejar gastos e reforçar o combate ao fogo. Voluntarista, a decisão do STF terá, mais uma vez, o efeito deletério de permitir o drible nas regras fiscais. Não será a primeira vez que isso ocorre. Nem o governo Lula é o único a manifestar certa aversão por encarar as restrições orçamentárias.

Merval Pereira - A política como não deveria ser

O Globo

A triste realidade que estamos vivendo virou meme de gozação. É sinal de que a nossa democracia está muito malcuidada, mal protegida

O mundo virtual invadiu o mundo real e transformou em memes cenas como as do debate de domingo à noite na TV Cultura, em que a força física e o assédio moral tentaram superar os argumentos que faltaram, ou os projetos que não existiam. A cadeirada que o apresentador de programas policiais José Luiz Datena deu no influencer acusado de picareta Pablo Marçal nos transportou para a realidade pateticamente risível da política brasileira, enquanto eles tentavam levar os eleitores para a realidade virtual que manipulam.

O programa que Datena comandava fez com que ele mesmo acreditasse que era um super-homem combatendo o crime organizado. Por trás das câmeras, fingia que atacava os bandidos, defendia a população e sonhava com a política como concretização de suas fantasias sobre si mesmo. Alguma coisa o avisava de que a realidade era diferente, e ele refugou várias vezes, até que teve de deparar no espelho com o reflexo de si mesmo, não como pedra de atiradeira.

Maria Cristina Fernandes - A violência convoca a Justiça Eleitoral

Valor Econômico

Cadeirada mostra que campanha em SP está contaminada pela estratégia de inocular a violência no debate para minar a política e abrir espaço ao judiciário

A campanha paulistana está irremediavelmente contaminada pela estratégia de inocular a violência no debate para minar a política. O sinal mais claro disso, depois da cadeirada de José Luiz Datena (PSDB) em Pablo Marçal (PRTB), foi a pergunta de Ricardo Nunes (MDB) a Guilherme Boulos (Psol) na retomada do debate do domingo na TV Cultura. “Você cheirou?”, disse Nunes ao responder à indagação de Boulos sobre uma investigação da Polícia Federal, a chamada “máfia das creches”, na Prefeitura de São Paulo.

A aposta num pacto de civilidade parece fadada ao fracasso nos cinco debates que faltam até o fim da campanha. Marçal pautou a violência, impulsionou suas redes e segue disputando a hegemonia da extrema direita. Datena deu ânimo à sua combalida campanha ao partir pra cima do “ironman”. Tabata Amaral (PSB) exagera no discurso mulher-é-diferente mas, assim como Marçal, ainda que por razões opostas, só tem a ganhar nesta campanha. E, finalmente, Nunes e Boulos anteciparam o tom do embate que esperam ter no 2º turno de uma campanha que já parece interminável.

Míriam Leitão – Os incêndios são propositais

O Globo

O Brasil não está pegando sozinho. Criminosos incendeiam o país na certeza da impunidade e de penas brandas

O fogo se espalhava por toda a beira da rodovia, na BR-010, numa propriedade em Conceição do Tocantins, perto da Chapada dos Veadeiros, quando uma equipe do Ibama, com uma viatura descaracterizada, parou e flagrou o dono da fazenda. Era ele mesmo incendiando. Admitiu que havia iniciado o incêndio: “Eu não vou mentir”. Alegou que era um “fogo controlado” para fazer um aceiro. Aceiros são uma faixa sem vegetação feita exatamente para proteger do fogo, e isso não se faz ateando fogo desta forma. O flagrante aconteceu na noite de domingo, quando a equipe do Ibama voltava de uma operação.

Daniela Chiaretti - Alerta de desastres: 20 anos do tsunami e o pavor do cientista

Valor Econômico

O que a Indonésia aprendeu com o tsunami que matou mais de 227 mil e o alerta assustador de Carlos Nobre

O resort em Bali não surpreende apenas pelo acesso à praia pavimentado por flores de frangipani -que conhecemos por jasmin-manga- e leve cheiro de incenso. No quarto, sobre a mesa de cabeceira há uma lanterna no lugar do abajur. Não só: a placa da saída de emergência, com a tradicional figura do homenzinho correndo, é bem mais eloquente na Indonésia. Mostra uma onda enorme e diz “Tsunami Evacuation Route”. Se soar o alarme é pegar a lanterna e correr o mais rápido possível em direção a lugares altos.

Foi num domingo de manhã há 20 anos que a terra tremeu violentamente debaixo do oceano Índico. Era 26 de dezembro de 2004. O terremoto atingiu 9,1 graus na escala Richter, um sismo dos maiores já registrados, que durou quase dez minutos e, soube-se depois, fez o planeta inteiro vibrar. O fenômeno movimentou água do mar em volumes impressionantes. Calcula-se que tenha liberado energia equivalente a 1.500 bombas atômicas como a que os Estados Unidos jogaram sobre Hiroshima em 1945. O tsunami que surgiu causou destruição em 14 países e matou 227.898 pessoas. Foi a pior tragédia natural já registrada. Os desabrigados superaram 1,7 milhão.

Carlos Andreazza - A goela criativa

O Estado de S. Paulo

O grande plano arrecadador para 2024 falhou

O governo Lula tem contabilidade própria e, pois, rombo fiscal menor. Menor e gigantesco. Fantasioso e gigantesco. Cada um com seu resultado primário – votou o Parlamento. O Tesouro tem o dele. O Banco Central, o dele. E então os dinheiros privados esquecidos em bancos viram receita e passam a servir à conta da meta fiscal. O Tesouro decidiu.

Nenhuma surpresa: Fazenda desesperada por grana opera com goela criativa.

O grande plano arrecadador para 2024 falhou. E nem entraremos na discussão conceitual sobre haver objetivo arrecadatório via condenação administrativa...

Sergio Fausto - Por que votar em Tabata Amaral

O Estado de S. Paulo

O sucesso dela em São Paulo fortalece a articulação de um centro democrático apoiado num programa social-democrata contemporâneo e em princípios republicanos

O título não é uma pergunta, mas uma afirmação. As razões são as que seguem. A tendência à perda de qualidade dos quadros políticos no Brasil é visível. Existem exceções em todo o espectro político, fora dos extremos. Entre as exceções, uma das mais destacadas é Tabata Amaral.

Com apenas 30 anos e uma precoce maturidade pessoal e política, ela já passou pelo batismo de fogo de reeleger-se deputada federal por São Paulo. Em 2022, obteve 340 mil votos, 75 mil a mais do que em 2018. Demonstrou não ser uma “novidade passageira”, tanto assim que foi escolhida pelo PSB para ser a candidata do partido à prefeitura da maior cidade do País.

Eliane Cantanhêde - Machões e estúpidos

O Estado de S. Paulo

Briga de galo em São Paulo mostra bem para que servem os ‘outsiders’ na política

A eleição na principal capital do País se transformou numa briga de galo, numa troca de acusações levianas entre machões totalmente despreparados para a vida pública e a Prefeitura de São Paulo. E assim chegamos ao ponto de um apresentador de programas de crimes e violência dando uma cadeirada ao vivo num “ex-coach” que foi condenado na juventude, ficou milionário muito cedo e decidiu brincar de política.

Um circo e um círculo de horrores: os políticos erram, vem o descrédito da política, surgem “outsiders” e o descrédito só se aprofunda. Quando políticos consagrados ou promissores tentam resistir, são muito elogiados, mas os elogios não se convertem em votos suficientes para elegê-los, ou elegê-las. Exemplos eloquentes: Tabata Amaral na eleição municipal de São Paulo e Simone Tebet na presidencial de 2022.

Luiz Carlos Azedo - Cadeirada mostra que violência política migrou para São Paulo

Correio Braziliense

Bem ao seu estilo, Marçal compara a cadeirada que levou à facada recebida por Jair Bolsonaro na campanha eleitoral de 2018 e ao tiro que Donald Trump levou de raspão, na orelha, num comício

O jornalista, cineasta e escritor Jorge Oliveira acaba de lançar mais um livro-reportagem, Arena de Sangue, disponível na Amazon. Trata da influência dos políticos de Alagoas na vida nacional. Segundo ele, desde o início da Primeira República, o estado "não desgruda do poder como carrapato". Alagoas produziu os dois primeiros presidentes da República, Deodoro da Fonseca e Floriano Peixoto.

Também esteve à frente do complô para matar Prudente de Morais, o primeiro presidente civil da República; influenciou o Estado Novo com o general Góes Monteiro; marcou presença na redemocratização do país com Fernando Collor de Mello, eleito presidente pelo voto direto em 1989; e com o senador Renan Calheiros (MDB), que presidiu o Senado, e os deputados Aldo Rebelo e Arthur Lira (PP), à frente da presidência da Câmara dos Deputados.

Ricardo Viveiros - A 'democracia bolsonariana'

Folha de S. Paulo

Com a crescente agressividade do debate político, surgiu uma perigosa tendência em relativizar absurdos; fingir estar bem com todos os lados é oportunismo

A mesma Grécia —que deu origem à democracia— criou e permitiu a tirania. Nem todos os democratas foram defensores da paz e da liberdade, como nem todos os tiranos foram violentos e injustos. Ao longo do tempo, a política aconteceu no embate de ideias; a esquerda e a direita surgiram na França (1789) polarizando, confrontando eleitores muito além de imaginários, como hoje acontece.

Pode haver quem pense em não se comprometer, ficar no centro e evitar confrontos. Acreditar em um suposto equilíbrio é um equívoco. O centro caracteriza falta de coragem, de opinião, de comprometimento com os legítimos interesses coletivos. Na falsa imparcialidade, esconde-se o fisiologismo, a prática do ditado popular: "Farinha pouca, meu pirão primeiro!". Fingir estar bem com todos os lados é oportunismo.

Rosane Borges - Até a civilidade entrou em combustão

Folha de S. Paulo

Agressões verbais e físicas tornaram-se uma cifra importante para disputar atenção e votos

Não são apenas as queimadas que vêm deixando a nossa atmosfera irrespirável. Como já disse, a suspensão da civilidade, a inabilidade para o diálogo, as discussões que movem-se aos ventos das escaramuças em fluxo contínuo também alastram-se tal como os incêndios florestais.

Disso dá testemunho o debate eleitoral à Prefeitura de São Paulo. A cada ringue (sic), via-se/ouvia-se a dicção dos candidatos subir progressivamente os decibéis até que a voz mal dita alcançou a estratosfera.

Joel Pinheiro da Fonseca – A virtude da autenticidade

Folha de S. Paulo

O candidato do PSDB fez aquilo que seu coração mandou, sem autocensura

Datena mostrou-se desequilibrado e violento na lamentável cadeirada que desferiu em Pablo Marçal. Há, contudo, um adjetivo positivo que não lhe podemos negar: ele foi autêntico. Fez aquilo que seu coração mandou, sem autocensura.

E não é isso que mais valorizamos em nossos representantes hoje em dia? Só de falar como eu gostaria de falar —sem papas na língua, falando o que sente, sem medo de ofender; ou melhor, querendo ofender— já se torna um herói popular. Se acusar a todos de crimes hediondos sem provas, como faz Marçal, é bonito, por que não também a agressão? Refrear o ato das mãos e forçar-se a verbalizar nossos impulsos é já uma forma de matar nossa reação vital.

Levada à sua conclusão lógica, a autenticidade pura termina justamente na agressão física. Já que nenhum de nós quer que a política dê lugar à guerra (estamos de acordo nisso, não?), precisamos nos indagar sobre os limites da autenticidade. Quais outros valores importam?

Dora Kramer - Vacilou, dançou

Folha de S. Paulo

O líder que oscila, como faz Bolsonaro, arrisca-se a perder seu lugar na fila

Um dos motivos entre os vários que puseram o PSDB na rota do infortúnio foi a ausência de posicionamento nítido desde que deixou o Planalto. E até antes disso, quando na eleição de 2002 os tucanos se dedicaram ao exercício do equilibrismo.

Posto em desassossego na corda bamba, o tucanato saiu derrotado. Em seguida fez oposição tímida aos governos petistas e, depois do impeachment de Dilma Rousseff (PT), apostou na lei do menor esforço, acreditando que na eleição de 2018 seria beneficiário do recall da quase vitória de Aécio Neves em 2014.

Alvaro Costa e Silva - O circo das cadeiradas

Folha de S. Paulo

O antissistema na política é um programa de auditório com baixarias

O chamado antissistema é o próprio sistema em ação. É a maneira de fazer política que conquista eleitores pelo menos de uns 30 anos para cá, oficializando governos liderados por comediantes que se valem da sedução da cultura de massa. Com o avanço das redes sociais, o esquema se fortaleceu: personalidades inventadas, mitos forjados, eventos falsos, mentira passando por informação verdadeira. Circo sem pão.

Ao chamar Datena de "arregão" no debate, Marçal ganhou a cadeirada ao vivo. Cena típica dos mais apelativos programas de auditório. Não por acaso, o apresentador Ratinho convidou os dois para brigarem diante de suas câmeras: "Pode meter o braço".

Marcus Cremonese - Um cacique entre censura e varredura

"Elon Musk tem mais posições sobre liberdade de expressão do que o Kama Sutra [sobre sexo]. Quando o assunto tem a ver com seus interesses comerciais ele é o campeão da liberdade de expressão; e quando ele não gosta da coisa ele tenta jogar tudo para baixo". Esta foi uma declaração feita pelo ministro Bill Shorten ao Canal 9, estação de TV australiana, durante uma entrevista no programa matinal desta sexta-feira, 13 de setembro.

Isso se deveu ao fato de que no dia anterior, o atual governo federal do país (Labor) submeteu ao parlamento um projeto de lei que poderá aplicar às plataformas de internet multas de até 5% do valor total de suas operações globais se elas não agirem e criarem mecanismos para evitar a divulgação de misinformation e disinformation.

Poesia | Caminhante não há caminho, de Antonio Machado Ruiz

 

Música | Eduardo Gudin e Paulinho da Viola - Ainda mais

 

segunda-feira, 16 de setembro de 2024

Marco Aurélio Nogueira. A democracia desafiada. Recompor a política para um futuro incerto.

Rio de Janeiro, Ateliê de Humanidades, 2023.

INTRODUÇÃO

O presente livro se propõe a interpelar a sociedade e o modo como vivemos, privilegiando alguns de seus aspectos principais, hoje submetidos a amplo debate público. Não pretende oferecer uma teoria abrangente, que dê conta dos múltiplos aspectos da vida como ela é. Trata-se de um ensaio. Não há nele nenhum estudo de caso. Poderei me deixar sensibilizar pelos fatos que transcorrem em meu país, o Brasil, mas o interesse não estará aí. Meu propósito é assumidamente modesto e circunscrito: chamar atenção para certos gargalos que asfixiam a vida atual e sugerir caminhos para compreendê-los.

No centro dos capítulos que se seguirão está a questão da democracia. Trata-se de uma escolha sustentada pela convicção de que não teremos um futuro promissor sem arranjos democráticos sustentáveis. Podemos e devemos discutir de “qual democracia” estamos a falar, que peso deverão ter nela os princípios liberais e socialistas, de que modo será feita a participação dos cidadãos, se os partidos políticos devem ter maior relevo do que as redes sociais, qual o melhor regime para a tomada de decisões, e assim por diante. Mas não há como renunciar à democracia como valor estratégico. Sem isso estaremos sempre a um passo da escuridão autoritária.

Somos protagonistas de uma grande transição. Ela se estrutura sobre três eixos dominantes: (a) a vida nacional se globalizou; (b) o capitalismo industrial se converteu em capitalismo informacional; e (c) a modernidade se radicalizou e se tornou hipermodernidade. Cada um desses eixos tem repercussões fortíssimas no dia-a-dia, na organização social, nas formas da política, no Estado, na economia e na cultura, no corpo e na alma das pessoas.

Nos diferentes capítulos do livro, pretendo explorar a hipótese de que essa grande transição está se materializando mediante o avanço de alguns processos perturbadores: a fragmentação, que problematiza a coesão e o pacto social; a individualização, que exacerba o distanciamento entre os indivíduos e os grupos de referência; a aceleração, que altera o ritmo existencial; e a digitalização, que modifica o modo como interagimos uns com os outros e nos relacionamos com a tecnologia.

O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões

É imperativo o combate a fraudes no auxílio-doença

O Globo

Explosão na concessão do benefício com novo aplicativo não se explica apenas pela demanda represada

Toda medida para reduzir a burocracia na concessão de serviços à população é bem-vinda. Mas é fundamental que não abra brechas para fraudes. A partir de maio de 2023, a Previdência lançou o Atestmed, um aplicativo que facilita a obtenção de auxílio-doença para segurados do INSS. O novo serviço permitiu a 1,5 milhão obter o benefício apenas com o atestado médico, sem esperar a perícia médica. Em consequência, os gastos com auxílio-doença dispararam. Em 2022, antes do Atestmed, somaram R$ 27,6 bilhões. No ano seguinte, aumentaram para R$ 33,4 bilhões. De dezembro de 2022 a julho de 2024, os benefícios concedidos cresceram 57%, de 1,08 milhão para 1,69 milhão. Mantida a tendência, as despesas com auxílio-doença alcançarão R$ 40 bilhões neste ano.

António Guterres - O relançamento da cooperação global

Valor Econômico

A Cúpula do Futuro é oportunidade para construir instituições e ferramentas mais eficazes e inclusivas para a cooperação internacional, em sintonia com o século XXI e com o nosso mundo multipola

Estão em curso, em Nova York, as negociações finais para a Cúpula do Futuro que acontecerá este mês, durante a qual chefes de Estado irão negociar a reforma dos alicerces da cooperação internacional. As Nações Unidas convocaram esta Cúpula única devido a um fato evidente: os problemas mundiais estão avançando mais rapidamente do que as instituições que foram criadas para resolvê-los.

Basta olhar à nossa volta. Os conflitos ferozes e a violência estão infligindo sofrimentos terríveis; as divisões geopolíticas são abundantes; as desigualdades e as injustiças estão por todo lado, corroendo a confiança, agravando os ressentimentos e alimentando o populismo e o extremismo. Os velhos desafios relacionados à pobreza, à fome, à discriminação, à misoginia e ao racismo estão assumindo novas formas. Entretanto, enfrentamos ameaças novas e existenciais, desde o caos climático descontrolado e a degradação ambiental até as tecnologias, como a Inteligência Artificial, que se desenvolvem num vácuo ético e jurídico.